3 de dezembro de 2010
Um encontro que vale por dois
Novembro voou e mal tivemos tempo para nos desculpar pela falta do encontro mensal. Eis que dezembro chegou e, com ele, o fim do ano. Para encerrar as atividades de 2010 do grupo MaternaMente, realizaremos nosso encontro fraterno no dia 11, sábado, das 14h às 16h, em São Bernardo.
Na ocasião vamos expor as experiências reunidas ao longo do ano. 2010 foi (está sendo!) muito especial para mim e para Deborah, pelo contato com mulheres maravilhosas proporcionado pelo grupo, pela pós-graduação na área de saúde materno-infantil, pelo aprendizado constante e significativo que tudo isso tem nos proporcionado.
Participe!
22 de outubro de 2010
Evidências em alta... altitude!
Intervalo em Keystone |
Quando o assunto é cuidados em saúde baseados em evidência, algumas questões surgem no horizonte: basta-nos o modelo biomédico de explicação dos agravos em saúde? Se não, como realizar revisões sistemáticas que incluam variáveis dificilmente mensuráveis por meio do modelo biomédico?
O 19.º Colóquio Conjunto das Colaborações Cochrane & Campbell procurou jogar luz sobre essas indagações, juntando em um mesmo evento especialistas que, se trabalharem juntos, farão avançar em muito o conhecimento existente com o potencial de construir evidências em várias áreas de incerteza. A conferência magna de terça-feira, 19/10, apresentou a muitos de nós a Colaboração Campell, e mostrou os caminhos que têm sido trilhados por pesquisadores de ambas organizações na busca do trabalho colaborativo.
Para nós, da PP, o dia começou bem cedo, com a reunião do Grupo de Gestação e Nascimento que começou à 7:30. Em um rápido encontro de 1h30m, foram apresentadas novas orientações editoriais para revisões sistemáticas do grupo. Como não havia tempo ou espaço para novos pontos de pauta, mandei um bilhetinho para Janet Wale - que tem escrito todos os Resumos em Linguagem Leiga (RLL, ou PLS em inglês) das revisões do grupo - com a minha obsessão atual: seria possível ter os RLL de novas revisões e/ou atualizações escritos também em português? Ela respondeu no bilhete: quem sabe um piloto... Bom, eu preferia ter uma resposta mais assertiva, mas essa foi um sim, certo?
Grupo Cochrane de Gestação e Nascimento |
Foi também o primeiro dia de apresentação de pôsteres, e pude notar que nenhum deles veio de organizações de usuários.
Ainda no período da manhã, participei de uma oficina com o tema: Assuntos relacionados a usários e tomada de decisão compartilhada. Taí um assunto que conhecemos bem de perto, não? Um dos palestrantes demonstrou como os achados de um estudo podem ser divulgados de forma positiva ou negativa, dependendo dos interesses envolvidos, e a outra mostrou como ocorre a divulgação científica na mídia comum, às vezes de estudos especialmente enviesados, ou com conteúdo questionável. Hmmmmmm... a gente conhece bem o assunto, não?
Terminei a tarde participando de uma excelente atividade sobre estudos qualitativos com o especialista da Campbell, Michael Saini.
Boas novas: tenho me sentido menos cansada, e fiz nesse dia uma caminhada de 2 km, do Centro de Conferências até o hotel, por uma trilha. Esperava ver um castor no riacho, mas não dei sorte. Todo mundo já viu...
Deborah Delage, de Keystone, Colorado
20 de outubro de 2010
19.º Colóquio das Colaborações Cochrane & Campbell
Sessão de abertura |
O painel de consumidores realizado no domingo, 17/10, deixou saudades. Tanto pelos muitos rostos que ficaram impressos na memória e se foram, quanto pelo sentimento de fraterna proximidade de idéias e necessidades que compartilhamos.
Quando saí do Brasil para vir a este evento, além de apresentar o pôster da PP, tinha um outro foco muito claro: era a hora e a vez de conseguir a publicação dos Resumos em Linguagem Leiga das Revisões Sistemáticas em PORTUGUÊS! Se os últimos cinco meses de trocas de mensagens não tinham dado conta de concretizar esse anseio, o Colóquio teria esse potencial, ou nada mais teria! Por isso foi tão confortante ouvir de tantas vozes, vindas de tantos lugares - e eu também pedi o microfone e falei, yes!!!! - o quanto era crucial para o acesso de usuári@s de saúde que não falam inglês a evidências a tradução de todo o material das duas colaborações disponível na internet.
Com o início do Colóquio em si, nossa busca pela concretização desse objetivo fica mais próxima. O dia de ontem, 18/10, reuniu no Centro de Conferências de Keystone cerca de 800 pessoas. Logo após a abertura, iniciada com uma bêncão de povos nativos americanos que tocou corações e almas, tivemos uma mesa que cruzou assuntos como a sobrevivência da democracia, a tecnologia de informação como aliada do acesso à saúde, e a criação de necessidades pela indústria farmacêutica. Em seguida, todas as entidades puderam ser contactadas em mesas de café, e lá fui eu me apresentar à Sonja, do Grupo de Gestação e Nascimento, com o qual venho colaborando em nome da PP desde 2008. Estava para lá de ansiosa, pois nós duas temos tentado obter uma resposta da editora Wiley a respeito das traduções, sem sucesso. De lá segui para o stand da Wiley e finalmente! Depois de meses, encontrei a xará, Deborah Pentesco-Gilbert, que detém a varinha de condão... Ela me explicou que apenas queria combinar essas traduções agregando o Centro Cochrane do Brasil, e marcamos um almoço para amanhã, portanto, cruzem os dedos! Nesse meio tempo, encontrei também os brasileiros do Centro Cochrane no Brasil, seis acadêmic@s, incluindo o Diretor, Álvaro Atallah.
O restante da tarde foi dedicado ao encontro d@s participantes da Rede de Usuári@as da Cochrane, cujo discussão central foi a necessidade de melhorar as ferramentas de participação de usuári@s na Colaboração.
O restante da tarde foi dedicado ao encontro d@s participantes da Rede de Usuári@as da Cochrane, cujo discussão central foi a necessidade de melhorar as ferramentas de participação de usuári@s na Colaboração.
O dia foi encerrado com um jantar dançante... e putz, eu não pude dançar! Meu corpo está muito desobediente, apesar da medicação, e insiste em ter 80 anos de idade!
Deborah Delage, de Keystone, Colorado
18 de outubro de 2010
Defesa de direitos na era das evidências
Graças a uma bem sucedida iniciativa junto ao Colóquio da Colaboração Cochrane em 2007 em São Paulo, a Parto do Princípio está neste momento iniciando sua participação no evento deste ano, que ocorre entre os dias 18 e 22/10. Não só estamos nos representando, como também estamos nos apresentando, por meio de um pôster aprovado para exposição na próxima quarta-feira.
A presença da PP foi possibilitada pelo subsídio concedido pela Colaboração Cochrane, que custeou inscrição, hospedagem, refeições, passagens aéreas e o deslocamento terrestre desde o aeroporto de Denver, Colorado, até o local do evento em Keystone.
Feitas as devidas apresentações formais, preciso dizer que é um grande privilégio ser a pessoa que representa a PP aqui. Foi uma longa e cansativa viagem, com direito a suplementação com ferro e acetazolamida para prevenir o temido mal de altitude. Mas cada minuto está valendo o dobro do esforço, dos gastos - sim, sempre há outros - e do afastamento temporário da família. Ontem pela manhã, enquanto esperava pelo segundo vôo, ficava imaginando que não estava ali sozinha, mas cercada por todas as pessoas que apoiaram e que serão parceiras na elaboração de novas idéias no retorno.
E, depois de uma noite de sono profundo e longo, o domingo foi muito intenso. A atividade pré-evento, cujo nome vem traduzido no título deste post, foi programada para reunir usuários de saúde - "health consumers" - e coordenada pela organização americana CUE - Consumers United for Evidence-Based Healthcare. Tivemos a oportunidade de participar de três mesas-redondas - uma delas durante o almoço (!!!) e de duas oficinas, de forma intercalada. A oficina da manhã se dedicou ao tema: Avaliação crítica das evidências - estudo de caso de avaliação de tecnologia. A oficina da tarde, cujo título era "Quem é usuário e quem decide?" procurou buscar entre @s participantes a construção do consenso sobre o papel do usuário e do ativista defensor de direitos dos usuários, nos diversos contextos possíveis.
... e a vista é linda! |
Suiça, Brasil, Austrália e EUA |
Deborah Delage, de Keystone, Colorado
4 de outubro de 2010
Isea
Dra. Melânia tem também uma comunidade no Orkut muito bacana, que invariavelmente sofre ataques tecnocratas de origem variada, mas ainda assim se mantém firme e forte, ancorada nas evidências e nas práticas humanizadas.
3 de outubro de 2010
Nas urnas
"Queremos coisas bonitas pra contar!"
Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha!
Que o que vem é Perfeição!...
1 de outubro de 2010
É amanhã!
A reunião de setembro-outubro, não esqueçam!
Comecei a escrever um enorme relato sobre meu choque com a possibilidade de receber uma episio "à revelia". Mas então, choque após choque, não sobrou tempo para terminar o texto... ah, pena!
Comecei a escrever um enorme relato sobre meu choque com a possibilidade de receber uma episio "à revelia". Mas então, choque após choque, não sobrou tempo para terminar o texto... ah, pena!
27 de setembro de 2010
A dita cuja
Uma amiga muito querida está gravidíssima! Não tive oportunidade de visitá-la recentemente, pois que essa vida é sempre uma bagunça sem tempo. Então, preocupada com seu bem-estar durante e após o parto, decidi escrever um texto sobre episiotomia. Pesquisa vai, pesquisa vem, revisitei o site do projeto "Fique amiga dela!", que é simplesmente fantástico. Nenhuma mulher deveria passar dos 30 anos sem ler a cartilha disponibilizada no site, com informações claras e fáceis de ler sobre ninguém mais ninguém menos que... a vagina! É incrível como desconhecemos nosso próprio corpo.
Diante dessa riqueza de informações, duvido alguma mulher deixar que algum(a) médico(a) corte sua vagina impunemente... Pois é, na minha vagina ninguém passa a tesoura (nem o bisturi!). Não quero tomar pontos lá. Não quero cicatriz para a vida inteira. Não quero dor no pós-parto. Não quero risco maior de infecção. Não quero ter problemas para fazer cocô. Não quero dor nas relações sexuais. (É... o "piquezinho" que os gineco-obstetras adoram minimizar pode trazer todas essas consequências, pois afeta o assoalho pélvico.)
E por falar nele, olha aqui uma ilustração bacana dos inúmeros músculos que colaboram para o nosso bem-estar, retirada da cartilha Fique Amiga Dela.
Já imaginou enfiar uma tesoura aí e cortar deliberadamente tanta coisa importante?
Não dá, né? Então corra do seu médico, se ele disser que faz episiotomia em todos (ou quase todos) os partos normais. E se você não sabe se ele faz ou não, corra pra perguntar. E depois (provavelmente) corra dele, porque no Brasil, mais de 80% dos partos normais têm essa intervenção no pacote, única cirurgia do mundo que é praticada sem o consentimento da paciente.
Só de pensar nisso fico indignada, o que explica minha redação pouco controlada.
Diante dessa riqueza de informações, duvido alguma mulher deixar que algum(a) médico(a) corte sua vagina impunemente... Pois é, na minha vagina ninguém passa a tesoura (nem o bisturi!). Não quero tomar pontos lá. Não quero cicatriz para a vida inteira. Não quero dor no pós-parto. Não quero risco maior de infecção. Não quero ter problemas para fazer cocô. Não quero dor nas relações sexuais. (É... o "piquezinho" que os gineco-obstetras adoram minimizar pode trazer todas essas consequências, pois afeta o assoalho pélvico.)
E por falar nele, olha aqui uma ilustração bacana dos inúmeros músculos que colaboram para o nosso bem-estar, retirada da cartilha Fique Amiga Dela.
Já imaginou enfiar uma tesoura aí e cortar deliberadamente tanta coisa importante?
Não dá, né? Então corra do seu médico, se ele disser que faz episiotomia em todos (ou quase todos) os partos normais. E se você não sabe se ele faz ou não, corra pra perguntar. E depois (provavelmente) corra dele, porque no Brasil, mais de 80% dos partos normais têm essa intervenção no pacote, única cirurgia do mundo que é praticada sem o consentimento da paciente.
Só de pensar nisso fico indignada, o que explica minha redação pouco controlada.
17 de setembro de 2010
É isso aí, companheiras!
Meu companheiro atual, embora muito afinado com minha visão de mundo, por vezes questiona minha insistência nessa história de humanização do nascimento. Por que, afinal, militar por uma causa tão inglória? Por que, afinal, manter um grupo que atende tão poucas gestantes? Por que, afinal, tanta dedicação a pessoas que sequer conheço?
Não vou mentir, eu mesma faço esses questionamentos de tempos em tempos. E aí parece que certas coisas precisam acontecer para eu me dar conta das minhas motivações.
O ativismo virtual me permitiu conhecer Deborah, mulher superfantástica que eu tanto admiro e que tanto me apoia mesmo quando ela mesma precisaria de suporte. E por vezes sinto como se ela repousasse as mãos nos meus ombros e me deslocasse de lugar, como que para dar passagem a alguém. E então, com tremenda delicadeza, ela me faz enxergar muitas questões de um ângulo diferente. "Puxa vida", eu digo, "é mesmo!".
Faz poucos meses, outra protagonista de sua própria história veio abençoar a minha existência. Entre um café e outro, de olheiras e cabelos amassados, eu e Heloísa descobrimos afinidades, diferenças e incertezas. Ah, tantas incertezas...
Cheguei a odiar Heloísa por me plantar tantas incertezas. E logo em seguida, coisa inevitável, passei a admirá-la e a adorá-la, como se admira e se adora uma pessoa de inteligência e benevolência superiores. E ainda tem de ser bonita e simpática, a danada!
Semanas atrás, eu me debatia no meu copo d'água e, quando estava prestes a me afogar, Heloísa estendeu sua mão, abriu seus ouvidos, e me deu de presente um colete à prova de balas, com o qual sinto-me segura para prosseguir no meu caminho de mãe. Se a vida fosse um videogame, eu teria ganhado invencibilidade. E eu mal percebi o quanto ela mesma estava vulnerável! Quem tem superpoderes é assim mesmo: drena a própria energia para proteger os mais fracos. Depois, ainda dá um sorrisinho maroto e diz que vai ficar tudo bem.
Pois bem, a proximidade de pessoas como Deborah e Heloísa me faz perserverar nessa história de humanização do nascimento. É assim que, diariamente, renovo minha fé na humanidade. Eu só queria, agora, conseguir retribuir a elas e a suas crias um pouco da serenidade que frequentemente me conferem.
Heloísa, não tenho superpoderes, mas... vai ficar tudo bem, ok?
Não vou mentir, eu mesma faço esses questionamentos de tempos em tempos. E aí parece que certas coisas precisam acontecer para eu me dar conta das minhas motivações.
O ativismo virtual me permitiu conhecer Deborah, mulher superfantástica que eu tanto admiro e que tanto me apoia mesmo quando ela mesma precisaria de suporte. E por vezes sinto como se ela repousasse as mãos nos meus ombros e me deslocasse de lugar, como que para dar passagem a alguém. E então, com tremenda delicadeza, ela me faz enxergar muitas questões de um ângulo diferente. "Puxa vida", eu digo, "é mesmo!".
Faz poucos meses, outra protagonista de sua própria história veio abençoar a minha existência. Entre um café e outro, de olheiras e cabelos amassados, eu e Heloísa descobrimos afinidades, diferenças e incertezas. Ah, tantas incertezas...
Cheguei a odiar Heloísa por me plantar tantas incertezas. E logo em seguida, coisa inevitável, passei a admirá-la e a adorá-la, como se admira e se adora uma pessoa de inteligência e benevolência superiores. E ainda tem de ser bonita e simpática, a danada!
Semanas atrás, eu me debatia no meu copo d'água e, quando estava prestes a me afogar, Heloísa estendeu sua mão, abriu seus ouvidos, e me deu de presente um colete à prova de balas, com o qual sinto-me segura para prosseguir no meu caminho de mãe. Se a vida fosse um videogame, eu teria ganhado invencibilidade. E eu mal percebi o quanto ela mesma estava vulnerável! Quem tem superpoderes é assim mesmo: drena a própria energia para proteger os mais fracos. Depois, ainda dá um sorrisinho maroto e diz que vai ficar tudo bem.
Pois bem, a proximidade de pessoas como Deborah e Heloísa me faz perserverar nessa história de humanização do nascimento. É assim que, diariamente, renovo minha fé na humanidade. Eu só queria, agora, conseguir retribuir a elas e a suas crias um pouco da serenidade que frequentemente me conferem.
Heloísa, não tenho superpoderes, mas... vai ficar tudo bem, ok?
27 de agosto de 2010
Para terminar bem a semana
Uma notícia rápida, que na verdade já está bem disseminada pela grande Internet.
Denúncia da Parto do Princípio motiva ação do Ministério Público Federal
Todas unidas pela proteção dos direitos, da vida e da integridade física e emocional das usuárias de plano de saúde
Em 2006, a Parto do Princípio elaborou um dossiê sobre o atendimento ao parto no Brasil, com 35 páginas e mais de 30 referências a artigos científicos. O documento foi entregue ao Ministério Público Federal, solicitando sua atuação diante do cenário preocupante de abuso de cesáreas, em especial no setor suplementar de saúde, formado pelos seguros de saúde e convênios médicos.
No ano seguinte, ativistas da rede participaram da audiência pública em São Paulo promovida pelo Ministério Público Federal a fim de debater o assunto com representantes do Ministério da Saúde, Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Conselho Federal de Medicina, Associação dos Hospitais Privados, Federação Brasileira de Hospitais, Conselho Federal de Enfermagem, Escola Paulista de Medicina e de planos de saúde.
Com base no dossiê da Parto do Princípio, o MPF agora cobra na justiça a manifestação da ANS, para que esta exerça sua tarefa de regulamentar os planos de saúde. Entre outras questões, exige-se regulamentação que obrigue os convênios a divulgar a taxa de cesárea de seus médicos e hospitais, a credenciar enfermeiras obstetras e a possibilitar o trabalho dessas profissionais no atendimento ao parto.
A rede está em festa com a notícia, e continuará acompanhando o processo para que ele de fato resulte na melhoria da assistência ao parto no Brasil.
Alguns assuntos abordados pelo documento elaborado pela Parto do Princípio em 2006:
Panorama brasileiro
De acordo com os dados do Sistema de Nascidos Vivos em 2004, quase 42% dos nascimentos realizados em todo o Brasil foram cirúrgicos (englobando hospitais públicos e privados).
Na saúde suplementar, a taxa de cesárea em 2004 chegou a 79%.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que o limite aceitável de partos que precisam terminar por via cirúrgica é de 10% a 15%.
Diferenças entre as redes pública e privada
Pesquisas indicam que a maioria (aproximadamente 73%) das mulheres prefere parto normal, inclusive as mulheres que tiveram oportunidade de experimentar os dois tipos (parto normal e cesárea).
A incidência de cesárea é maior nos grupos de melhor condição financeira e melhor acompanhamento pré-natal não correspondendo com o risco obstétrico.
A alegação de que a maioria das mulheres prefere cesárea não se comprova em pesquisas.
Razões da banalização da cesárea na rede de saúde suplementar
1. Preferência médica em indicar a cesárea, podendo planejar suas férias e feriados, não precisando desmarcar consultas ou outros compromissos, ou ir ao hospital nos fins de semana.
2. Valorização da formação cirúrgica do médico obstetra. A formação acadêmica não valoriza a assistência ao parto normal.
3. Remuneração equivalente do médico para assistência ao parto normal e cesárea. Independentemente do tempo dedicado, na saúde suplementar o médico recebe a mesma remuneração por procedimento.
4. Excesso de intervenções desnecessárias e procedimentos desaconselhados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A cascata de procedimentos usados rotineiramente na assistência ao parto nos hospitais dificultam o processo natural do parto, podendo levar uma mulher a necessitar de uma cesárea. Impedir entrada do acompanhante, manter a mulher deitada, o uso rotineiro de ocitócitos, são alguns exemplos de procedimentos usados como rotina que são desaconselhados pela OMS.
5. Cesárea e laqueadura conjuntas. Alguns médicos indicam cesáreas para mulheres que desejam realizar laqueadura. Ou seja, a mulher e o bebê são submetidos a uma cirurgia de grande porte para obter uma laqueadura, que é um procedimento de pequeno porte. Mãe e bebê estão sujeitos a maiores riscos de infecção, entre tantos outros riscos agregados.
6. Cesáreas a pedido. A falta de informação sobre os riscos da cesárea podem levar mulheres a solicitar uma cirurgia sem indicação médica. Seria ético um médico defender a cesárea a pedido?
Processo de convencimento das parturientes
Os mitos sobre indicações de cesáreas são amplamente difundidos pela nossa sociedade, inclusive pela classe médica.
Mitos frequentemente alegados por obstetras e aceitos pelas parturientes sem maiores questionamentos:
“Falta de dilatação”
Tecnicamente não existe falta de dilatação em mulheres normais. Só não acontece quando o médico não espera o tempo suficiente.
“Bacia estreita”
Aproximadamente 5% dos partos estão sujeitos à desproporções em que o bebê é grande demais para a bacia da mulher, ou em que o bebê está em uma posição que não permite o encaixe. Além disso, não é possível saber se o bebê vai passar ou não até que o trabalho de parto aconteça, a dilatação chegue ao seu máximo e o bebê se encaixe.
“Parto seco”, “Bolsa rompida”
Depois que a bolsa se rompe, o líquido amniótico continua a ser produzido. Além disso, há produção de muco que serve de lubrificante natural para o parto.
“Parto demorado”
O parto nunca é rápido demais ou demorado demais enquanto mãe e bebê estiverem bem, com boas condições vitais. Cada parto tem sua duração.Os batimentos cardíacos do bebê são a referência da condição do bebê, e não o tempo de trabalho de parto.
“Cordão enrolado”
O cordão umbilical é preenchido por uma gelatina elástica que dá a capacidade de se adaptar a diferentes formas. O oxigênio vem para o bebê através do cordão direto para a corrente sanguínea. O cordão enrolado no pescoço do bebê não o sufoca.
“Não entrou em trabalho de parto”
A mulher só não vai entrar em trabalho de parto se a operarem antes disso.
“Não tem dilatação no final da gestação”
O trabalho de parto não depende da dilatação verificada no exame de toque nas últimas semanas de gravidez. É possível chegar a 42 semans sem qualquer sinal de dilatação, sem contrações fortes e mesmo assim ter um parto normal seguro.
“Placenta envelhecida”
No exame de ultrassom, o grau da placenta isoladamente não tem significado. A maioria das mulheres têm um “envelhecimento” normal e saudável da placenta no final de gravidez.
Seria ético um médico divulgar falsos motivos para realização de uma cesárea?
Cesárea por conveniência médica – procedimento abusivo e antiético
O Conselho Regional de Medicina de São Paulo reconhece os riscos de cesáreas realizadas sem consistência na indicação.
"As cesáreas, realizadas sem consistência na indicação, podem ser encaradas como procedimentos desnecessários e que impõem riscos aumentados tanto na morbidade quanto na mortalidade materna. O obstetra deve estar qualificado para assistir ao trabalho de parto com toda segurança do bem-estar fetal e apto a terminá-lo de forma conveniente, mesmo que instrumentalizado por fórcipe ou vácuo-extrator quando necessário, evitando a realização da cesárea por insegurança nas suas capacitações em permitir o parto vaginal. A busca do aprimoramento e destreza nos procedimentos obstétricos, ou mesmo um melhor conhecimento da fisiologia do trabalho de parto e do próprio parto, permitirão aumentar a segurança, permitindo um maior número de partos vaginais"
Conseqüências da banalização da cesárea
A cesárea, quando indicada adequadamente, é um avanço para a medicina moderna, permitindo salvar muitas vidas de mulheres e bebês. Mas quando é realizada sem necessidade, oferece muito mais riscos do que o parto normal.
1. Doenças maternas, mortes e uso de antibióticos
2. Complicação em gravidez futura, diminuição da chance de nova gravidez
3. Prematuridade, morbi-mortalidade perinatal, problemas respiratórios em recém-nascidos
4. Risco de cáries em bebês
5. Prejuízo para a amamentação e interação mãe-bebê
6. Os demais consumidores dos planos de saúde acabam arcando com os custos de cesáreas desnecessárias
Propostas de soluções
1. Adoção pelos planos de saúde do paradigma já existente no Sistema Único de Saúde, fixando-se tetos máximos para o pagamento de cesáreas, conforme percentuais decrescentes para cada ano.
2. Aumento do valor pago aos médicos para partos normais e diminuição do valor pago pelas cesáreas.
3. Credenciamento de enfermeiras obstetras para assistência ao parto normal em hospitais particulares.
4. Incentivo à construção de Casas de Parto Particulares anexas ou próximas a hospitais (caso a parturiente tenha necessidade de transferência).
5. Tornar pública as taxas de cesáreas de obstetras e maternidades credenciadas aos planos de saúde.
6. Que o direito ao acompanhante no parto seja estendido à saúde suplementar independente de taxas ou autorizações médicas.
7. Que seja vedado aos planos de saúde a exclusão de cobertura de honorários referentes a partos domiciliares.
Veja a notícia no site do Ministério Público Federal.
Ou então baixe a representação na íntegra.
Várias mídias noticiaram essa primeira conquista da PP, com diferentes abordagens e muita variação de qualidade. Mas o principal está resumidinho aí em cima e no site da Parto do Princípio, em texto da Kiki e com pitacos meus.
Vale lembrar, ainda, que amanhã TEM ENCONTRO DO GRUPO!
Denúncia da Parto do Princípio motiva ação do Ministério Público Federal
Todas unidas pela proteção dos direitos, da vida e da integridade física e emocional das usuárias de plano de saúde
Em 2006, a Parto do Princípio elaborou um dossiê sobre o atendimento ao parto no Brasil, com 35 páginas e mais de 30 referências a artigos científicos. O documento foi entregue ao Ministério Público Federal, solicitando sua atuação diante do cenário preocupante de abuso de cesáreas, em especial no setor suplementar de saúde, formado pelos seguros de saúde e convênios médicos.
No ano seguinte, ativistas da rede participaram da audiência pública em São Paulo promovida pelo Ministério Público Federal a fim de debater o assunto com representantes do Ministério da Saúde, Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Conselho Federal de Medicina, Associação dos Hospitais Privados, Federação Brasileira de Hospitais, Conselho Federal de Enfermagem, Escola Paulista de Medicina e de planos de saúde.
Com base no dossiê da Parto do Princípio, o MPF agora cobra na justiça a manifestação da ANS, para que esta exerça sua tarefa de regulamentar os planos de saúde. Entre outras questões, exige-se regulamentação que obrigue os convênios a divulgar a taxa de cesárea de seus médicos e hospitais, a credenciar enfermeiras obstetras e a possibilitar o trabalho dessas profissionais no atendimento ao parto.
A rede está em festa com a notícia, e continuará acompanhando o processo para que ele de fato resulte na melhoria da assistência ao parto no Brasil.
Alguns assuntos abordados pelo documento elaborado pela Parto do Princípio em 2006:
Panorama brasileiro
De acordo com os dados do Sistema de Nascidos Vivos em 2004, quase 42% dos nascimentos realizados em todo o Brasil foram cirúrgicos (englobando hospitais públicos e privados).
Na saúde suplementar, a taxa de cesárea em 2004 chegou a 79%.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que o limite aceitável de partos que precisam terminar por via cirúrgica é de 10% a 15%.
Diferenças entre as redes pública e privada
Pesquisas indicam que a maioria (aproximadamente 73%) das mulheres prefere parto normal, inclusive as mulheres que tiveram oportunidade de experimentar os dois tipos (parto normal e cesárea).
A incidência de cesárea é maior nos grupos de melhor condição financeira e melhor acompanhamento pré-natal não correspondendo com o risco obstétrico.
A alegação de que a maioria das mulheres prefere cesárea não se comprova em pesquisas.
Razões da banalização da cesárea na rede de saúde suplementar
1. Preferência médica em indicar a cesárea, podendo planejar suas férias e feriados, não precisando desmarcar consultas ou outros compromissos, ou ir ao hospital nos fins de semana.
2. Valorização da formação cirúrgica do médico obstetra. A formação acadêmica não valoriza a assistência ao parto normal.
3. Remuneração equivalente do médico para assistência ao parto normal e cesárea. Independentemente do tempo dedicado, na saúde suplementar o médico recebe a mesma remuneração por procedimento.
4. Excesso de intervenções desnecessárias e procedimentos desaconselhados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A cascata de procedimentos usados rotineiramente na assistência ao parto nos hospitais dificultam o processo natural do parto, podendo levar uma mulher a necessitar de uma cesárea. Impedir entrada do acompanhante, manter a mulher deitada, o uso rotineiro de ocitócitos, são alguns exemplos de procedimentos usados como rotina que são desaconselhados pela OMS.
5. Cesárea e laqueadura conjuntas. Alguns médicos indicam cesáreas para mulheres que desejam realizar laqueadura. Ou seja, a mulher e o bebê são submetidos a uma cirurgia de grande porte para obter uma laqueadura, que é um procedimento de pequeno porte. Mãe e bebê estão sujeitos a maiores riscos de infecção, entre tantos outros riscos agregados.
6. Cesáreas a pedido. A falta de informação sobre os riscos da cesárea podem levar mulheres a solicitar uma cirurgia sem indicação médica. Seria ético um médico defender a cesárea a pedido?
Processo de convencimento das parturientes
Os mitos sobre indicações de cesáreas são amplamente difundidos pela nossa sociedade, inclusive pela classe médica.
Mitos frequentemente alegados por obstetras e aceitos pelas parturientes sem maiores questionamentos:
“Falta de dilatação”
Tecnicamente não existe falta de dilatação em mulheres normais. Só não acontece quando o médico não espera o tempo suficiente.
“Bacia estreita”
Aproximadamente 5% dos partos estão sujeitos à desproporções em que o bebê é grande demais para a bacia da mulher, ou em que o bebê está em uma posição que não permite o encaixe. Além disso, não é possível saber se o bebê vai passar ou não até que o trabalho de parto aconteça, a dilatação chegue ao seu máximo e o bebê se encaixe.
“Parto seco”, “Bolsa rompida”
Depois que a bolsa se rompe, o líquido amniótico continua a ser produzido. Além disso, há produção de muco que serve de lubrificante natural para o parto.
“Parto demorado”
O parto nunca é rápido demais ou demorado demais enquanto mãe e bebê estiverem bem, com boas condições vitais. Cada parto tem sua duração.Os batimentos cardíacos do bebê são a referência da condição do bebê, e não o tempo de trabalho de parto.
“Cordão enrolado”
O cordão umbilical é preenchido por uma gelatina elástica que dá a capacidade de se adaptar a diferentes formas. O oxigênio vem para o bebê através do cordão direto para a corrente sanguínea. O cordão enrolado no pescoço do bebê não o sufoca.
“Não entrou em trabalho de parto”
A mulher só não vai entrar em trabalho de parto se a operarem antes disso.
“Não tem dilatação no final da gestação”
O trabalho de parto não depende da dilatação verificada no exame de toque nas últimas semanas de gravidez. É possível chegar a 42 semans sem qualquer sinal de dilatação, sem contrações fortes e mesmo assim ter um parto normal seguro.
“Placenta envelhecida”
No exame de ultrassom, o grau da placenta isoladamente não tem significado. A maioria das mulheres têm um “envelhecimento” normal e saudável da placenta no final de gravidez.
Seria ético um médico divulgar falsos motivos para realização de uma cesárea?
Cesárea por conveniência médica – procedimento abusivo e antiético
O Conselho Regional de Medicina de São Paulo reconhece os riscos de cesáreas realizadas sem consistência na indicação.
"As cesáreas, realizadas sem consistência na indicação, podem ser encaradas como procedimentos desnecessários e que impõem riscos aumentados tanto na morbidade quanto na mortalidade materna. O obstetra deve estar qualificado para assistir ao trabalho de parto com toda segurança do bem-estar fetal e apto a terminá-lo de forma conveniente, mesmo que instrumentalizado por fórcipe ou vácuo-extrator quando necessário, evitando a realização da cesárea por insegurança nas suas capacitações em permitir o parto vaginal. A busca do aprimoramento e destreza nos procedimentos obstétricos, ou mesmo um melhor conhecimento da fisiologia do trabalho de parto e do próprio parto, permitirão aumentar a segurança, permitindo um maior número de partos vaginais"
Conseqüências da banalização da cesárea
A cesárea, quando indicada adequadamente, é um avanço para a medicina moderna, permitindo salvar muitas vidas de mulheres e bebês. Mas quando é realizada sem necessidade, oferece muito mais riscos do que o parto normal.
1. Doenças maternas, mortes e uso de antibióticos
2. Complicação em gravidez futura, diminuição da chance de nova gravidez
3. Prematuridade, morbi-mortalidade perinatal, problemas respiratórios em recém-nascidos
4. Risco de cáries em bebês
5. Prejuízo para a amamentação e interação mãe-bebê
6. Os demais consumidores dos planos de saúde acabam arcando com os custos de cesáreas desnecessárias
Propostas de soluções
1. Adoção pelos planos de saúde do paradigma já existente no Sistema Único de Saúde, fixando-se tetos máximos para o pagamento de cesáreas, conforme percentuais decrescentes para cada ano.
2. Aumento do valor pago aos médicos para partos normais e diminuição do valor pago pelas cesáreas.
3. Credenciamento de enfermeiras obstetras para assistência ao parto normal em hospitais particulares.
4. Incentivo à construção de Casas de Parto Particulares anexas ou próximas a hospitais (caso a parturiente tenha necessidade de transferência).
5. Tornar pública as taxas de cesáreas de obstetras e maternidades credenciadas aos planos de saúde.
6. Que o direito ao acompanhante no parto seja estendido à saúde suplementar independente de taxas ou autorizações médicas.
7. Que seja vedado aos planos de saúde a exclusão de cobertura de honorários referentes a partos domiciliares.
Veja a notícia no site do Ministério Público Federal.
Ou então baixe a representação na íntegra.
Várias mídias noticiaram essa primeira conquista da PP, com diferentes abordagens e muita variação de qualidade. Mas o principal está resumidinho aí em cima e no site da Parto do Princípio, em texto da Kiki e com pitacos meus.
Vale lembrar, ainda, que amanhã TEM ENCONTRO DO GRUPO!
18 de agosto de 2010
Negócios de mães
Algum tempo atrás, indiquei aqui o site ciadasmães, das fabulosas Dani Buono, Rô Marcinkowski e Kátia Raele. Lugar e não-lugar de compra, venda e troca de inúmeras coisas que ajudam mães e futuras mães.
O sucesso do ciadasmães foi imediato e retumbante, tanto tanto que as gurias - que fugiam da jornada excessiva de trabalho - incorporaram a sua rotina uma boa carga do que fazer: mais trabalho.
E como se isso já não fosse suficiente, agora elas arrumaram mais uma coisinha para seu cotidiano: uma coluna na revista Crescer. Sorte de todas nós, mães brasileiras, que poderemos ler a cada edição dicas valiosas sobre negócios de mãe.
PS: Alguém disse que elas parecem a versão materna da série Sex & the City. Eu concordo, com a ressalva de que "as nossas" mulheres são moooooito mais chiques.
O sucesso do ciadasmães foi imediato e retumbante, tanto tanto que as gurias - que fugiam da jornada excessiva de trabalho - incorporaram a sua rotina uma boa carga do que fazer: mais trabalho.
E como se isso já não fosse suficiente, agora elas arrumaram mais uma coisinha para seu cotidiano: uma coluna na revista Crescer. Sorte de todas nós, mães brasileiras, que poderemos ler a cada edição dicas valiosas sobre negócios de mãe.
PS: Alguém disse que elas parecem a versão materna da série Sex & the City. Eu concordo, com a ressalva de que "as nossas" mulheres são moooooito mais chiques.
12 de agosto de 2010
Eu já sabia!
Leite materno = proteção para o bebê
Se não tiver tempo para ler toda a notícia, pule diretamente para o último parágrafo. E pronto, já terá captado a essência.
11/08/2010 - 18h07
Açúcares do leite materno protegem bebês
NICHOLAS WADE
DO "THE NEW YORK TIMES"
Grande parte do leite humano não pode ser digerida pelos bebês e parece ter uma finalidade bastante distinta da nutrição infantil: influenciar na composição das bactérias nos intestinos do bebê.
Os detalhes dessa relação a três entre mãe, criança e micróbios intestinais estão sendo analisados por três pesquisadores da Universidade da Califórnia, Davis Bruce German, Carlito Lebrilla e David Mills. Junto a colegas, eles descobriram que um tipo específico de bactérias, uma subespécie da Bifidobacterium longum, possui um conjunto especial de genes que possibilita seu desenvolvimento nos componentes indigeríveis do leite.
Essa subespécie é comumente encontrada nas fezes de bebês amamentados. Ela reveste a superfície interior dos intestinos infantis, protegendo contra bactérias nocivas.
Os bebês supostamente adquirem a classe especial de "bifido" de suas mães, mas ela ainda não foi identificada em adultos.
"Estamos todos imaginando onde ela se esconde", disse Mills.
A substância indigerível que favorece a bactéria bifido é uma grande quantidade de açúcares complexos derivados da lactose, o principal componente do leite. Os açúcares complexos consistem de uma molécula de lactose à qual foram acrescentadas cadeias de outras unidades de açúcar. O genoma humano não contém os genes necessários para quebrar os açúcares complexos, mas a subespécie bifido sim, afirmaram os pesquisadores, numa revisão de seu progresso na "Proceedings of the National Academy of Sciences".
Sempre se acreditou que os açúcares complexos não possuíam importância biológica, mesmo constituindo até 21% do leite. Além de promover o crescimento da classe bifido, eles também servem como iscas para bactérias nocivas que possam atacar os intestinos do bebê. Os açúcares são muito parecidos com aqueles encontrados na superfície das células humanas, e são construídos nas mamas pelas mesmas enzimas. Muitas bactérias e vírus tóxicos se unem a células humanas ao se ancorar nos açúcares da superfície. Mas aqui, em vez disso, eles se unem aos açúcares complexos do leite.
"Achamos que as mães evoluíram para transmitir essa substância ao bebê", afirmou Mills.
German considera o leite como "um impressionante produto da evolução", que foi vigorosamente moldado pela seleção natural por ser tão essencial à sobrevivência de mãe e filho.
"Tudo no leite vem da mãe, ela está literalmente dissolvendo seus próprios tecidos para produzi-lo", explicou ele.
Do ponto de vista do bebê, ele nasce num mundo repleto de micróbios hostis, com um sistema imunológico destreinado e sem o cáustico ácido estomacal que, nos adultos, mata a maioria das bactérias. Qualquer elemento no leite capaz de proteger o bebê será fortemente favorecido pela seleção natural.
"Ficamos impressionados que o leite tivesse tanto material indigerível pelo bebê", disse German. "Descobrir que ele seletivamente estimula o crescimento de bactérias específicas, que por sua vez protegem a si mesmo, nos permite enxergar a genialidade da estratégia as mães recrutando outra forma de vida para cuidar de seus filhos".
German e seus colegas estão tentando "desconstruir" o leite, na teoria de que o fluido foi moldado por 200 milhões de anos de evolução mamífera e guarda uma riqueza de informações sobre a melhor forma de alimentar e defender o corpo humano. Embora o leite em si seja projetado para bebês, suas lições podem se aplicar aos adultos.
Os açúcares complexos, por exemplo, são evidentemente uma forma de influenciar a microflora intestinal, então eles podem, em princípio, ser usados para ajudar bebês prematuros, ou aqueles nascidos por cesariana, que não adquirem imediatamente a classe bifido. Sempre se pensou que não existia fonte para os açúcares além do leite humano, mas eles foram recentemente identificados no soro de leite, um subproduto da fabricação de queijos. Os três pesquisadores pretendem testar os açúcares complexos por benefícios a bebês prematuros e idosos.
As proteínas do leite também possuem funções especiais. Uma delas, chamada Alpha- lactalbumin, pode atacar células de tumores e aquelas infectadas por vírus, ao restaurar sua habilidade perdida de cometer suicídio celular. A proteína, que se acumula quando um bebê é desmamado, também é o sinal para que os seios se remodelem de volta ao estado normal.
Essas descobertas deixaram os três pesquisadores bastante cientes de que cada componente do leite possui uma função especial.
"Tudo está ali por um motivo, embora ainda estejamos descobrindo quais são esses motivos", disse Mills. "Então, pelo amor de Deus, amamentem seus filhos".
Se não tiver tempo para ler toda a notícia, pule diretamente para o último parágrafo. E pronto, já terá captado a essência.
11/08/2010 - 18h07
Açúcares do leite materno protegem bebês
NICHOLAS WADE
DO "THE NEW YORK TIMES"
Grande parte do leite humano não pode ser digerida pelos bebês e parece ter uma finalidade bastante distinta da nutrição infantil: influenciar na composição das bactérias nos intestinos do bebê.
Os detalhes dessa relação a três entre mãe, criança e micróbios intestinais estão sendo analisados por três pesquisadores da Universidade da Califórnia, Davis Bruce German, Carlito Lebrilla e David Mills. Junto a colegas, eles descobriram que um tipo específico de bactérias, uma subespécie da Bifidobacterium longum, possui um conjunto especial de genes que possibilita seu desenvolvimento nos componentes indigeríveis do leite.
Essa subespécie é comumente encontrada nas fezes de bebês amamentados. Ela reveste a superfície interior dos intestinos infantis, protegendo contra bactérias nocivas.
Os bebês supostamente adquirem a classe especial de "bifido" de suas mães, mas ela ainda não foi identificada em adultos.
"Estamos todos imaginando onde ela se esconde", disse Mills.
A substância indigerível que favorece a bactéria bifido é uma grande quantidade de açúcares complexos derivados da lactose, o principal componente do leite. Os açúcares complexos consistem de uma molécula de lactose à qual foram acrescentadas cadeias de outras unidades de açúcar. O genoma humano não contém os genes necessários para quebrar os açúcares complexos, mas a subespécie bifido sim, afirmaram os pesquisadores, numa revisão de seu progresso na "Proceedings of the National Academy of Sciences".
Sempre se acreditou que os açúcares complexos não possuíam importância biológica, mesmo constituindo até 21% do leite. Além de promover o crescimento da classe bifido, eles também servem como iscas para bactérias nocivas que possam atacar os intestinos do bebê. Os açúcares são muito parecidos com aqueles encontrados na superfície das células humanas, e são construídos nas mamas pelas mesmas enzimas. Muitas bactérias e vírus tóxicos se unem a células humanas ao se ancorar nos açúcares da superfície. Mas aqui, em vez disso, eles se unem aos açúcares complexos do leite.
"Achamos que as mães evoluíram para transmitir essa substância ao bebê", afirmou Mills.
German considera o leite como "um impressionante produto da evolução", que foi vigorosamente moldado pela seleção natural por ser tão essencial à sobrevivência de mãe e filho.
"Tudo no leite vem da mãe, ela está literalmente dissolvendo seus próprios tecidos para produzi-lo", explicou ele.
Do ponto de vista do bebê, ele nasce num mundo repleto de micróbios hostis, com um sistema imunológico destreinado e sem o cáustico ácido estomacal que, nos adultos, mata a maioria das bactérias. Qualquer elemento no leite capaz de proteger o bebê será fortemente favorecido pela seleção natural.
"Ficamos impressionados que o leite tivesse tanto material indigerível pelo bebê", disse German. "Descobrir que ele seletivamente estimula o crescimento de bactérias específicas, que por sua vez protegem a si mesmo, nos permite enxergar a genialidade da estratégia as mães recrutando outra forma de vida para cuidar de seus filhos".
German e seus colegas estão tentando "desconstruir" o leite, na teoria de que o fluido foi moldado por 200 milhões de anos de evolução mamífera e guarda uma riqueza de informações sobre a melhor forma de alimentar e defender o corpo humano. Embora o leite em si seja projetado para bebês, suas lições podem se aplicar aos adultos.
Os açúcares complexos, por exemplo, são evidentemente uma forma de influenciar a microflora intestinal, então eles podem, em princípio, ser usados para ajudar bebês prematuros, ou aqueles nascidos por cesariana, que não adquirem imediatamente a classe bifido. Sempre se pensou que não existia fonte para os açúcares além do leite humano, mas eles foram recentemente identificados no soro de leite, um subproduto da fabricação de queijos. Os três pesquisadores pretendem testar os açúcares complexos por benefícios a bebês prematuros e idosos.
As proteínas do leite também possuem funções especiais. Uma delas, chamada Alpha- lactalbumin, pode atacar células de tumores e aquelas infectadas por vírus, ao restaurar sua habilidade perdida de cometer suicídio celular. A proteína, que se acumula quando um bebê é desmamado, também é o sinal para que os seios se remodelem de volta ao estado normal.
Essas descobertas deixaram os três pesquisadores bastante cientes de que cada componente do leite possui uma função especial.
"Tudo está ali por um motivo, embora ainda estejamos descobrindo quais são esses motivos", disse Mills. "Então, pelo amor de Deus, amamentem seus filhos".
11 de agosto de 2010
Multiculturas
Todo ser humano nasce. O Admirável Mundo Novo, de Huxley, felizmente ainda não se realizou e não há chocadeiras para a nossa espécie. Contudo, parir e nascer, muito além de fenômenos naturais, são também fenômenos socioculturais. Onde se vive e como se vive influenciam diretamente o modo como uma criança vem ao mundo.
A canadense Sarah foi rápida para notar isso. Grávida de sua primeira filha em terras brasileiras, constatou que teria poucas chances de parir caso permanecesse por aqui. Então, fez as malas e voltou ao seu país, onde deu à luz por meio de um parto natural hospitalar.
Sua cunhada Ana ainda não tem filhos, mas traz de seu país, a Espanha, outras matrizes de referência quando o assunto é nascimento.
Matrizes, aliás, que o casal Carla e Teco está reconstruindo ao longo da gestação de seu primeiro bebê. Com muita conversa, informação e respeito, ambos procuram o melhor caminho para bem acolher uma nova vida. Ela, pronta para um parto domiciliar. Ele, encantado com a Casa de Parto. Imersos que estavam na nossa cultura medicocêntrica, mostram-se felizes de conhecer outras possibilidades além do pacote hospital-anestesia-cesárea.
Parece uma mistura de tudo ao mesmo tempo, e é. Ou melhor, foi. Foi assim o encontro de julho, em São Bernardo, mediado pela tamém multicultural Deborah, que assina seus cheques com vários nomes complicados, finalizados por um ainda mais complexo Silva.
E viva as multiculturas!
Sarah do Canadá, Ana da Espanha, Carla do Brasil: imperatrizes do nosso encontro
Deborah do Brasil, da França, de Minas... e do grupo MaternaMente, dando liga à mistura com o casal grávido
Decisões conjuntas e bem informadas: Carla e Teco constroem as bases de sua nova matriz de referência
A canadense Sarah foi rápida para notar isso. Grávida de sua primeira filha em terras brasileiras, constatou que teria poucas chances de parir caso permanecesse por aqui. Então, fez as malas e voltou ao seu país, onde deu à luz por meio de um parto natural hospitalar.
Sua cunhada Ana ainda não tem filhos, mas traz de seu país, a Espanha, outras matrizes de referência quando o assunto é nascimento.
Matrizes, aliás, que o casal Carla e Teco está reconstruindo ao longo da gestação de seu primeiro bebê. Com muita conversa, informação e respeito, ambos procuram o melhor caminho para bem acolher uma nova vida. Ela, pronta para um parto domiciliar. Ele, encantado com a Casa de Parto. Imersos que estavam na nossa cultura medicocêntrica, mostram-se felizes de conhecer outras possibilidades além do pacote hospital-anestesia-cesárea.
Parece uma mistura de tudo ao mesmo tempo, e é. Ou melhor, foi. Foi assim o encontro de julho, em São Bernardo, mediado pela tamém multicultural Deborah, que assina seus cheques com vários nomes complicados, finalizados por um ainda mais complexo Silva.
E viva as multiculturas!
Sarah do Canadá, Ana da Espanha, Carla do Brasil: imperatrizes do nosso encontro
Deborah do Brasil, da França, de Minas... e do grupo MaternaMente, dando liga à mistura com o casal grávido
Decisões conjuntas e bem informadas: Carla e Teco constroem as bases de sua nova matriz de referência
11 de julho de 2010
30 de maio de 2010
Na TV
O corpo da mulher, exposto e explorado, sem que percebamos, sem que pensemos a respeito. Sinto-me indignada com mulheres frutas ou plantas rebolando pra aumentar a audiência, mas a exposição e a exploração vão muito além disso.
Il corpo delle donne tem 24 minutos, aqui com legendas em português.
Não se assuste com o tempo de duração, afinal, hoje é domingo e você não precisa ficar olhando para as "assistentes de palco" com decotes insinuantes - e mudas, claro. Chame o marido, companheiro, namorado, irmão, pai e mais todas as mulheres que conhecer e clique logo no play.
Il corpo delle donne tem 24 minutos, aqui com legendas em português.
Não se assuste com o tempo de duração, afinal, hoje é domingo e você não precisa ficar olhando para as "assistentes de palco" com decotes insinuantes - e mudas, claro. Chame o marido, companheiro, namorado, irmão, pai e mais todas as mulheres que conhecer e clique logo no play.
27 de maio de 2010
Tudo ao mesmo tempo... na semana que passou!
- Exposição fotográfica na Faculdade de Saúde Pública da USP: Semana Mundial pelo Respeito ao Nascimento. Este ano, o tema escolhido foi Parir e Nascer, do Trauma ao Prazer. Passe lá e confira!
- Seminário na mesma faculdade sobre direitos e saúde materna, especificamente sobre parto e nascimento respeitosos, com presença da Parto do Princípio.
- Enfim cheguei à última aula da primeira disciplina de mestrado. Mas isso não significa refresco, afinal, já estou frequentando outra disciplina e ainda tenho uma monografia a redigir.
- Entre idas e vindas pelos corredores da Faculdade de Saúde Pública e pela grande rede, enfim encontrei um artigo do Prof. Ruy Laurenti a respeito da mortalidade materna. Bastante objetivo e precioso para quem, como eu, está começando a estudar assuntos ligados à saúde da mulher.
- A vida na metrópole está me matando. Quase no estágio de "ou eu acabo com ela ou ela acaba comigo". Antes que isso aconteça, estou tentando melhorar meu cotidiano profissional, maternal, filial, namoradal... Por conta disso e dos inúmeros compromissos assumidos pela polivalente Déborah, este mês, infelizmente, não teremos encontro de apoio à maternidade ativa.
- O que não significa, absolutamente, que o grupo tenha encerrado suas atividades. Então, tratem de sugerir temas e datas para os próximos encontros!
- Seminário na mesma faculdade sobre direitos e saúde materna, especificamente sobre parto e nascimento respeitosos, com presença da Parto do Princípio.
- Enfim cheguei à última aula da primeira disciplina de mestrado. Mas isso não significa refresco, afinal, já estou frequentando outra disciplina e ainda tenho uma monografia a redigir.
- Entre idas e vindas pelos corredores da Faculdade de Saúde Pública e pela grande rede, enfim encontrei um artigo do Prof. Ruy Laurenti a respeito da mortalidade materna. Bastante objetivo e precioso para quem, como eu, está começando a estudar assuntos ligados à saúde da mulher.
- A vida na metrópole está me matando. Quase no estágio de "ou eu acabo com ela ou ela acaba comigo". Antes que isso aconteça, estou tentando melhorar meu cotidiano profissional, maternal, filial, namoradal... Por conta disso e dos inúmeros compromissos assumidos pela polivalente Déborah, este mês, infelizmente, não teremos encontro de apoio à maternidade ativa.
- O que não significa, absolutamente, que o grupo tenha encerrado suas atividades. Então, tratem de sugerir temas e datas para os próximos encontros!
16 de maio de 2010
Dia das Mães extemporâneo
Primeiro bloco do programa Globo Comunidade de Pernambuco, com Júlia Morim, coordenadora do grupo Boa Hora, e uma obstetra que tenta fazer papel de boazinha, mas não se esquiva de disseminar a cultura do medo e do risco.
http://pe360graus.globo.com/videos/cidades/saude/2010/05/09/VID,16477,4,62,VIDEOS,879-1O-BLOCO-GLOBO-COMUNIDADE-HOMENAGEIA-MAES-DOMINGO.aspx
http://pe360graus.globo.com/videos/cidades/saude/2010/05/09/VID,16477,4,62,VIDEOS,879-1O-BLOCO-GLOBO-COMUNIDADE-HOMENAGEIA-MAES-DOMINGO.aspx
14 de maio de 2010
Caderneta da saúde
O médico que acompanha o desenvolvimento do meu guri, que agora tem 4 anos e 8 meses, é o mesmo que cuida de mim, da minha mãe, da família inteira, enfim. Ele nos confortou e nos auxiliou quando minhas avós estavam no fim da vida e orientou também os cuidados com meu querido pai, que se foi há muito tempo, mas viveu com dignidade seus últimos anos por aqui.
Apesar de eu adorar os cuidados do médico da família, que por acaso é também meu primo de segundo grau, lamento o fato de ele não utilizar alguns materiais fornecidos pelo governo.
A Caderneta da Saúde, por exemplo, é muito bacana. Eu sequer a conhecia, mas dia desses, fuçando no site do Ministério da Saúde, acabei me deparando com a Caderneta e com outros materiais do governo, a maioria dos quais pode ser baixada gratuitamente (e sem violação de direitos autorais).
Há duas versões da caderneta, uma para meninas e outra para meninos. Não se trata apenas de mudar a cor da capa tampouco de sexismo, a distinção se explica pelo gráfico para acompanhamento do crescimento.
O médico da família não concorda muito com esse tipo de acompanhamento, uma vez que pode gerar preocupações exageradas quando uma criança está muito abaixo do padrão esperado - segundo ele, é preciso observar, em primeiro lugar, o desenvolvimento individual, e a partir dele considerar a herança familiar.
Contudo, todavia, entretanto... a meu ver, não deixa de ser um bom instrumento para que as próprias mães meçam e visualizem o crescimento de suas crias. Eu, pelo menos, sou uma total ameba para lembrar números. Então, nunca sei quanto meu filho pesa ou mede, quem dirá daqui a seis meses, um ano!
Baixei e imprimi a caderneta da saúde do menino e agora vou guardá-la comigo. Tem um monte de coisa lá que não serve pra mim - o calendário de vacinação, por exemplo, que eu não sigo o do governo. Mas as informações são interessantes e os registros ficarão guardados para quando meu filho for grandinho ou, quem sabe, tiver seus filhotes também.
Vale a pena fuçar nas publicações do Ministério da Saúde. Com um pouco de paciência e mais um tanto de senso crítico, pode-se obter informações úteis e valiosas.
Apesar de eu adorar os cuidados do médico da família, que por acaso é também meu primo de segundo grau, lamento o fato de ele não utilizar alguns materiais fornecidos pelo governo.
A Caderneta da Saúde, por exemplo, é muito bacana. Eu sequer a conhecia, mas dia desses, fuçando no site do Ministério da Saúde, acabei me deparando com a Caderneta e com outros materiais do governo, a maioria dos quais pode ser baixada gratuitamente (e sem violação de direitos autorais).
Há duas versões da caderneta, uma para meninas e outra para meninos. Não se trata apenas de mudar a cor da capa tampouco de sexismo, a distinção se explica pelo gráfico para acompanhamento do crescimento.
O médico da família não concorda muito com esse tipo de acompanhamento, uma vez que pode gerar preocupações exageradas quando uma criança está muito abaixo do padrão esperado - segundo ele, é preciso observar, em primeiro lugar, o desenvolvimento individual, e a partir dele considerar a herança familiar.
Contudo, todavia, entretanto... a meu ver, não deixa de ser um bom instrumento para que as próprias mães meçam e visualizem o crescimento de suas crias. Eu, pelo menos, sou uma total ameba para lembrar números. Então, nunca sei quanto meu filho pesa ou mede, quem dirá daqui a seis meses, um ano!
Baixei e imprimi a caderneta da saúde do menino e agora vou guardá-la comigo. Tem um monte de coisa lá que não serve pra mim - o calendário de vacinação, por exemplo, que eu não sigo o do governo. Mas as informações são interessantes e os registros ficarão guardados para quando meu filho for grandinho ou, quem sabe, tiver seus filhotes também.
Vale a pena fuçar nas publicações do Ministério da Saúde. Com um pouco de paciência e mais um tanto de senso crítico, pode-se obter informações úteis e valiosas.
13 de maio de 2010
Repercussão
Em março, a Parto do Princípio entregou ao Ministério Público Federal inúmeras denúncias de desrespeito à lei do acompanhante no parto. Não por acaso, o assunto virou tema de notícia, como esta aqui do Bom Dia Brasil.
Ressalva: em junho de 2010 entra em vigor a RN 211 da ANS, na qual:
"Art. 19. O Plano Hospitalar com Obstetrícia compreende toda a cobertura definida no artigo 18 desta Resolução, acrescida dos procedimentos relativos ao pré-natal, da assistência ao parto e puerpério, observadas as seguintes exigências:
I – cobertura das despesas, conforme indicação do médico assistente e legislações vigentes, relativas a um acompanhante indicado pela mulher durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, conforme assegurado pela Lei 11.108, de 7 de abril de 2005, ou outra que venha substituí-la;"
Ou seja, as despesas de roupa esterelizada devem ser cobertas pelos planos, e de acordo com as transcrições do GT que elaborou a RN 211, devem cobrir o fornecimento das refeições e a acomodação adequada para o acompanhante pernoitar.
http://g1.globo.com/videos/bom-dia-brasil/v/lei-assegura-a-gravidas-direito-de-ter-um-acompanhante-no-parto/1262503/#/Edi%C3%A7%C3%B5es/20100513/page/2
Dica da Cris Kiki!
Ressalva: em junho de 2010 entra em vigor a RN 211 da ANS, na qual:
"Art. 19. O Plano Hospitalar com Obstetrícia compreende toda a cobertura definida no artigo 18 desta Resolução, acrescida dos procedimentos relativos ao pré-natal, da assistência ao parto e puerpério, observadas as seguintes exigências:
I – cobertura das despesas, conforme indicação do médico assistente e legislações vigentes, relativas a um acompanhante indicado pela mulher durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, conforme assegurado pela Lei 11.108, de 7 de abril de 2005, ou outra que venha substituí-la;"
Ou seja, as despesas de roupa esterelizada devem ser cobertas pelos planos, e de acordo com as transcrições do GT que elaborou a RN 211, devem cobrir o fornecimento das refeições e a acomodação adequada para o acompanhante pernoitar.
http://g1.globo.com/videos/bom-dia-brasil/v/lei-assegura-a-gravidas-direito-de-ter-um-acompanhante-no-parto/1262503/#/Edi%C3%A7%C3%B5es/20100513/page/2
Dica da Cris Kiki!
12 de maio de 2010
Reportagem humanizada
Mães já optam pelo parto humanizado
Publicação: 09 de Maio de 2010 às 00:00
Ellen Rodrigues - Repórter
Elisa Elsie
Humanização do parto passa a ser uma tendência
A luta pela vida começa no parto. Literalmente. De um lado, a ocitocina, hormônio que estimula a expulsão do bebê, confronta a adrenalina, hormônio do medo e da “fuga”. Se o primeiro prevalece, o parto é tranquilo. O estresse da adrenalina, por sua vez, atrapalha, prepara os músculos para o perigo e torna tudo difícil. Esse processo ajuda a entender a importância do parto natural e humanizado, que vem perdendo espaço na “era da cesárea”.
O Ministério da Saúde preconiza que entre 10% e 15% dos partos tenham algum procedimento cirúrgico. Mas o que se vê na rede privada, principalmente, é uma maioria de 90% em cesáreas. A assistência humanizada busca dar segurança e conforto à grávida na hora de ter o bebê, e estimular o parto via vaginal. A paz e a tranquilidade reinam no Hospital da Mulher e Maternidade Professor Leide Morais.
Cada uma das 16 suítes se transformam em um verdadeiro “ninho” temporário de cada família. O nome do bebê e da mãe ficam na porta, para que todos sejam chamados pelo nome. “É preciso bater antes de entrar”, explica Edilza Pinheiro, diretora do Hospital da Mulher e Maternidade Prof. Leide Morais. Tudo se passa no quarto: pré-parto, nascimento e a recuperação.
O modelo previne ainda que o recém-nascido seja trocado ou raptado dentro da maternidade, medo de Maria Jerônimo, 23, que teve a segunda filha na unidade. “Tinha o maior medo que trocassem com outro bebê, mas aqui não tem como”. Isso porque em nenhum momento o bebê sai de perto da mãe, e deixa a unidade já registrado em cartório. “Temos uma pessoa treinada para fazer esse procedimento no Hospital”, diz Edilza.
Acolhimento é palavra essencial no vocabulário da equipe de saúde humanizada. Virgílio Rodrigues e a mulher Maria das Dores ganharam a pequena Maria Fernanda na terça-feira. O pai acompanhou tudo de perto, e se surpreendeu com o carinho recebido no Hospital. “Não esperava que fosse assim”. Edilza Pinheiro defende que o parto humanizado resgata a postura ética dos profissionais. “Eles precisam ser mais sensíveis”, diz.
Para ela, nascer é um ato biológico como dormir, e a grávida deve ter autonomia sobre ele. A Maternidade segue os dez passos da Política Nacional de Humanização do Parto e Nascimento, do MS, onde o programa recebeu o nome de “Bem nascer, eu acolho a vida”. Privacidade, aleitamento ainda na primeira hora de vida e direito a acompanhante no processo de nascimento do bebê até a alta são alguns desses itens.
Dos cerca de 12 partos que acontecem diariamente, nunca se registrou óbito. “Não é preciso de muita tecnologia para se conseguir oferecer essa qualidade à grávida. Isso parte basicamente do recurso humano disponível. Da equipe que faz com que ela se sinta apoiada”, diz a coordenadora de Enfermagem do Hospital, Nívea Jerônimo. “Assim, ela exerce sua cidadania, torna-se protagonista da ação de parir, que não é papel do médico, do enfermeiro nem do técnico”.
O clima é tão familiar que muitas das mães retornam mais tarde com o bebê. “A grávida se sente emponderada, ou seja, capaz de atuar ativamente, não é mera expectadora do processo, ela entende o que está acontecendo” , acrescenta.
“A mulher não pensa na gestação”
Elisa Elsie
Edilza Pinheiro, diretora da Escola Maternidade Januário Cicco, defensora do parto humanizado
Enxoval e pré-natal são o ideal da maioria das gestantes que se preparam para a chegada do bebê. Na opinião da fonoaudióloga Maria do Rosário Bezerra, os itens não são suficientes para que tudo ocorra bem. A correria do dia-a-dia interfere na vida da gestante, que não engravida “psicologicamente”.
“A mulher engravida para procriar mas nem sempre se doa a esse momento, em um curso de gestante, por exemplo. Hoje só se sabe que ela está grávida porque tem a barriga, mas a rotina é a mesma e ela não pensa na gestação em si”, comenta. Para Maria do Rosário, é preciso desmistificar a cultura de que o parto é tratado como doença.
“Será que 90% das mulheres da rede privada têm dificuldade para parir?”, reflete. A enfermeira Nívea Jerônimo ressalta a questão econômica que permeia o crescimento das cesáreas. “É mais fácil também para o médico agendar a hora em que o bebê vai nascer. Assim, ele não precisa esperar, pode agendar dez por dia”, critica.
O projeto “Bem Nascido, eu acolho a vida” tem ainda o objetivo de fazer com que a mulher redescubra sua feminilidade. Segundo Rosário, o ato de parir é um rito de passagem para a nova função de mãe, que deve ser exercida com autonomia. As especialistas acreditam que quanto mais a filosofia do parto humanizado é resgatada, mais bebês terão a chance de nascer em partos normais.
“A cesárea é um ato médico, mas o parto vaginal é fisiológico. A mãe não precisou de ajuda para engravidar, e o parto é o término da relação sexual de amor e prazer”, diz a enfermeira Nívea Jerônimo. Edilza Pinheiro, que é ginecologista e obstetra, lembra que o parto foi transferido ao âmbito residencial para o hospital para proporcionar uma atenção adequada à mulher, o que não significa a intervenção cirúrgica, “a menos que seja necessária”.
Grávidas têm medo de serem mal atendidas
A simples transferência da gestante em trabalho de parto de uma unidade de saúde para outra sem alguém para acompanhá-la pode gerar uma angústia que atrapalha o processo de parir. Um dos maiores medos da grávida é chegar em um local desconhecido e ser mal atendida, faltar vaga. “Se isso acontece, a gestante não se abre para parir, produz pouca ocitocina”, diz Edilza Pinheiro.
Se assustada, o corpo produz adrenalina, que pode desencadear um processo de não parto e até de morte. Nesse contexto, o acompanhante é um fator essencial para um parto tranquilo. “É alguém que vai ajudá-la a ficar mais relaxada”. O ideal é que esse acompanhante seja escolhido no início da gravidez e acompanhe a grávida durante o pré-natal, consultas e visita à maternidade.
As visitas abertas são outra proposta do projeto “Bem Nascer eu acolho a vida”, e ajuda a grávida a se familiarizar com a unidade, sendo realizada a partir dos sete meses de gestação. Ela é promovida pelas equipes de PSF (Programa Saúde da Família), que realizam o pré-natal na rede de atenção básica.
“Isso faz com que ela se sinta acolhida, como se ela tivesse entrando na casa dela”, diz Edilza. Mesmo quando o pré-natal não foi realizado, como é o caso de muitas gestante que chegam do interior do Estado, a assistência é humanizada. “É mais difícil mas mesmo na hora é melhor do que nada”.
Quando acolhida, a equipe orienta a grávida como utilizar os equipamentos que vão ajudar no parto, que é outro diferencial do parto humanizado na unidade. Além da cama em várias, uma espécie de “cavalinho”, e uma bola estão disponíveis. “A grávida é livre para escolher a melhor posição para ter o bebê, seja sentada, em pé, de quatro ou de cócoras”.
Doulas
O acompanhante não é o único que ajuda na hora do parto. As “doulas” também participam de forma ativa no processo. Dentro da humanização do serviço, a doula presta também suporte emocional e psicológico, carregado de alguma competência técnica adquirida por experiência ou um treinamento específico para a função.
“Doula significa mulher que serve,ou seja, fica à disposição de quem está parindo para dar água para abanar, tirar o suor, e a priori, pode ser qualquer pessoa, seja um profissional do hospital ou alguém da comunidade”, explica Edilza Pinheiro. Uma das metas deste ano é que o serviço seja ampliado com as chamadas “doulas comunitárias”.
“Ao longo do ano buscamos inserir cada vez mais a comunidade, com um treinamento, em que as candidatas vão receber orientação sobre a fisiologia da gravidez, como acolhe o parto e como ajudar”.
Publicação: 09 de Maio de 2010 às 00:00
Ellen Rodrigues - Repórter
Elisa Elsie
Humanização do parto passa a ser uma tendência
A luta pela vida começa no parto. Literalmente. De um lado, a ocitocina, hormônio que estimula a expulsão do bebê, confronta a adrenalina, hormônio do medo e da “fuga”. Se o primeiro prevalece, o parto é tranquilo. O estresse da adrenalina, por sua vez, atrapalha, prepara os músculos para o perigo e torna tudo difícil. Esse processo ajuda a entender a importância do parto natural e humanizado, que vem perdendo espaço na “era da cesárea”.
O Ministério da Saúde preconiza que entre 10% e 15% dos partos tenham algum procedimento cirúrgico. Mas o que se vê na rede privada, principalmente, é uma maioria de 90% em cesáreas. A assistência humanizada busca dar segurança e conforto à grávida na hora de ter o bebê, e estimular o parto via vaginal. A paz e a tranquilidade reinam no Hospital da Mulher e Maternidade Professor Leide Morais.
Cada uma das 16 suítes se transformam em um verdadeiro “ninho” temporário de cada família. O nome do bebê e da mãe ficam na porta, para que todos sejam chamados pelo nome. “É preciso bater antes de entrar”, explica Edilza Pinheiro, diretora do Hospital da Mulher e Maternidade Prof. Leide Morais. Tudo se passa no quarto: pré-parto, nascimento e a recuperação.
O modelo previne ainda que o recém-nascido seja trocado ou raptado dentro da maternidade, medo de Maria Jerônimo, 23, que teve a segunda filha na unidade. “Tinha o maior medo que trocassem com outro bebê, mas aqui não tem como”. Isso porque em nenhum momento o bebê sai de perto da mãe, e deixa a unidade já registrado em cartório. “Temos uma pessoa treinada para fazer esse procedimento no Hospital”, diz Edilza.
Acolhimento é palavra essencial no vocabulário da equipe de saúde humanizada. Virgílio Rodrigues e a mulher Maria das Dores ganharam a pequena Maria Fernanda na terça-feira. O pai acompanhou tudo de perto, e se surpreendeu com o carinho recebido no Hospital. “Não esperava que fosse assim”. Edilza Pinheiro defende que o parto humanizado resgata a postura ética dos profissionais. “Eles precisam ser mais sensíveis”, diz.
Para ela, nascer é um ato biológico como dormir, e a grávida deve ter autonomia sobre ele. A Maternidade segue os dez passos da Política Nacional de Humanização do Parto e Nascimento, do MS, onde o programa recebeu o nome de “Bem nascer, eu acolho a vida”. Privacidade, aleitamento ainda na primeira hora de vida e direito a acompanhante no processo de nascimento do bebê até a alta são alguns desses itens.
Dos cerca de 12 partos que acontecem diariamente, nunca se registrou óbito. “Não é preciso de muita tecnologia para se conseguir oferecer essa qualidade à grávida. Isso parte basicamente do recurso humano disponível. Da equipe que faz com que ela se sinta apoiada”, diz a coordenadora de Enfermagem do Hospital, Nívea Jerônimo. “Assim, ela exerce sua cidadania, torna-se protagonista da ação de parir, que não é papel do médico, do enfermeiro nem do técnico”.
O clima é tão familiar que muitas das mães retornam mais tarde com o bebê. “A grávida se sente emponderada, ou seja, capaz de atuar ativamente, não é mera expectadora do processo, ela entende o que está acontecendo” , acrescenta.
“A mulher não pensa na gestação”
Elisa Elsie
Edilza Pinheiro, diretora da Escola Maternidade Januário Cicco, defensora do parto humanizado
Enxoval e pré-natal são o ideal da maioria das gestantes que se preparam para a chegada do bebê. Na opinião da fonoaudióloga Maria do Rosário Bezerra, os itens não são suficientes para que tudo ocorra bem. A correria do dia-a-dia interfere na vida da gestante, que não engravida “psicologicamente”.
“A mulher engravida para procriar mas nem sempre se doa a esse momento, em um curso de gestante, por exemplo. Hoje só se sabe que ela está grávida porque tem a barriga, mas a rotina é a mesma e ela não pensa na gestação em si”, comenta. Para Maria do Rosário, é preciso desmistificar a cultura de que o parto é tratado como doença.
“Será que 90% das mulheres da rede privada têm dificuldade para parir?”, reflete. A enfermeira Nívea Jerônimo ressalta a questão econômica que permeia o crescimento das cesáreas. “É mais fácil também para o médico agendar a hora em que o bebê vai nascer. Assim, ele não precisa esperar, pode agendar dez por dia”, critica.
O projeto “Bem Nascido, eu acolho a vida” tem ainda o objetivo de fazer com que a mulher redescubra sua feminilidade. Segundo Rosário, o ato de parir é um rito de passagem para a nova função de mãe, que deve ser exercida com autonomia. As especialistas acreditam que quanto mais a filosofia do parto humanizado é resgatada, mais bebês terão a chance de nascer em partos normais.
“A cesárea é um ato médico, mas o parto vaginal é fisiológico. A mãe não precisou de ajuda para engravidar, e o parto é o término da relação sexual de amor e prazer”, diz a enfermeira Nívea Jerônimo. Edilza Pinheiro, que é ginecologista e obstetra, lembra que o parto foi transferido ao âmbito residencial para o hospital para proporcionar uma atenção adequada à mulher, o que não significa a intervenção cirúrgica, “a menos que seja necessária”.
Grávidas têm medo de serem mal atendidas
A simples transferência da gestante em trabalho de parto de uma unidade de saúde para outra sem alguém para acompanhá-la pode gerar uma angústia que atrapalha o processo de parir. Um dos maiores medos da grávida é chegar em um local desconhecido e ser mal atendida, faltar vaga. “Se isso acontece, a gestante não se abre para parir, produz pouca ocitocina”, diz Edilza Pinheiro.
Se assustada, o corpo produz adrenalina, que pode desencadear um processo de não parto e até de morte. Nesse contexto, o acompanhante é um fator essencial para um parto tranquilo. “É alguém que vai ajudá-la a ficar mais relaxada”. O ideal é que esse acompanhante seja escolhido no início da gravidez e acompanhe a grávida durante o pré-natal, consultas e visita à maternidade.
As visitas abertas são outra proposta do projeto “Bem Nascer eu acolho a vida”, e ajuda a grávida a se familiarizar com a unidade, sendo realizada a partir dos sete meses de gestação. Ela é promovida pelas equipes de PSF (Programa Saúde da Família), que realizam o pré-natal na rede de atenção básica.
“Isso faz com que ela se sinta acolhida, como se ela tivesse entrando na casa dela”, diz Edilza. Mesmo quando o pré-natal não foi realizado, como é o caso de muitas gestante que chegam do interior do Estado, a assistência é humanizada. “É mais difícil mas mesmo na hora é melhor do que nada”.
Quando acolhida, a equipe orienta a grávida como utilizar os equipamentos que vão ajudar no parto, que é outro diferencial do parto humanizado na unidade. Além da cama em várias, uma espécie de “cavalinho”, e uma bola estão disponíveis. “A grávida é livre para escolher a melhor posição para ter o bebê, seja sentada, em pé, de quatro ou de cócoras”.
Doulas
O acompanhante não é o único que ajuda na hora do parto. As “doulas” também participam de forma ativa no processo. Dentro da humanização do serviço, a doula presta também suporte emocional e psicológico, carregado de alguma competência técnica adquirida por experiência ou um treinamento específico para a função.
“Doula significa mulher que serve,ou seja, fica à disposição de quem está parindo para dar água para abanar, tirar o suor, e a priori, pode ser qualquer pessoa, seja um profissional do hospital ou alguém da comunidade”, explica Edilza Pinheiro. Uma das metas deste ano é que o serviço seja ampliado com as chamadas “doulas comunitárias”.
“Ao longo do ano buscamos inserir cada vez mais a comunidade, com um treinamento, em que as candidatas vão receber orientação sobre a fisiologia da gravidez, como acolhe o parto e como ajudar”.
11 de maio de 2010
Carta Aberta a Alexandre Garcia
Considerações sobre a "bobagem" do Parto Humanizado
Quem está brincando com a saúde?
Caro Sr. Alexandre Garcia,
Somos mulheres ativistas da Rede Parto do Princípio, uma rede nacional, com mais de 100 mulheres por todo o Brasil, que luta para que toda mulher possa ter uma maternidade consciente e ativa através de informação adequada e embasada cientificamente sobre gestação, parto e nascimento.
É com profundo pesar que recebemos em pleno dia das mães uma fala cheia de preconceitos sobre a maternidade em um veículo de comunicação pública.
Diante de sua fala, nota-se o profundo desconhecimento das políticas de controle de infecção hospitalar, como também da legislação que garante a toda mulher o direito à presença de um acompanhante de sua livre escolha no pré-parto, parto e pós-parto imediato. Não é só uma "bobagem" do Ministério da Saúde. É lei (Lei Federal n° 11.108 de 2005). Uma lei que vem sendo sumariamente descumprida por todo o país.
Transcrição realizada a partir do áudio disponível em:
http://cbn.globoradio.globo.com/colunas/mais-brasilia/MAIS-BRASILIA.htm
"[...] eu tô criticando essa bobagem do Ministério da Saúde de parto humanizado... será que vão deixar entrar um pai na sala cirúrgica pra infectar a sala cirúrgica? O pai barbudo, cabeludo, bêbado, sei lá o quê, mas enfim... hã... vestido com... com poeira da rua numa sala cirúrgica? Isso é um absurdo. Ah, mas é o parto de cócoras... tudo bem, peça para sua mulher fazer um parto de cócoras pra ver o que vai acontecer com o joelhos dela, não é índia, nã... vão... vão acabar... É um sofrimento. Ah, porque as cesárias... eu disse olha... que ele mesmo concorda que o... o serviço público as cesárias só é feita [sic] em último caso... é parto normal normalmente... não precisa ficar anunciando que o hospital do Gama vai ter isso [...]"
Existem normas de controle de infecção hospitalar que devem ser cumpridas por toda a equipe de saúde, pelos pacientes e por seus acompanhantes. Independente se são "cabeludos", "carecas" ou "barbudos". Seguidas essas normas, não há porque restringir o acesso do acompanhante. O direito da mulher não pode ser violado a partir de discriminação, de preconceito.
Várias pesquisas comprovaram que a presença do acompanhante no parto proporciona uma série de benefícios como: maior sentimento de confiança, aumento no índice de amamentação, diminuição do tempo de trabalho de parto, menor necessidade de parto cirúrgico, menor necessidade de medicação, menor necessidade de analgesia, menores índices de escores de Apgar abaixo de 7, menor necessidade de parto instrumental, menores taxas de dor, pânico e exaustão, entre vários outros benefícios. Diante desses indícios, a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza, desde 1996, a presença de um acompanhante para a parturiente.
E isso não é bobagem. São pesquisas científicas.
Hoje, existe a possibilidade da mulher escolher a melhor posição para o parto. De posse de evidências científicas, muitos profissionais não mais recomendam uma única posição, mas permitem que a mulher encontre a posição mais confortável para dar à luz. Para a posição de "cócoras", que é como são chamadas algumas posições verticalizadas, existem apoios e banquetas. Há também muitas mulheres que conseguem ficar de cócoras sem comprometer os joelhos, mesmo as não-indígenas.
"[...] O ministério da saúde não fez só isso não. O Ministério da Saúde tá estimulando agora pessoa com HIV a engravidar. Eu duvido que o Ministério da Saúde vá fazer uma... uma cesária pela terceira vez numa mulher com HIV e respingar sangue nele pra ver o que vai acontecer. É uma... é uma maluquice. Tão fazendo uma brincadeira com a saúde... Tá lá escrito na instituição a saúde é direito de todos e dever do Estado. O Estado não está cumprindo seus deveres com a saúde... e os problemas são de gestão, são administrativos.[...]"
Atualmente, diante de assistência médica adequada, nós mulheres podemos ter uma gestação e um parto mais seguros tanto para nós, quanto para os bebês. Inclusive as mulheres HIV positivas. Existem protocolos, embasados cientificamente, para os atendimentos às soro-positivas que evitam a transmissão vertical do HIV. Todos nós temos direito à reprodução. Existem também protocolos de rotinas que protegem a equipe de saúde para que não tenham contato com sangue ou secreções; e de providências caso haja algum acidente. E isso não é maluquice. É biossegurança.
E se o Estado está tomando providências para que o pai mais "barbudo" possa acompanhar sua esposa no nascimento de seu filho, e para que pessoas como eu, como os soro positivos e até como você possam ter fihos e netos em segurança, isso não é "bobagem", isso é dever do Estado.
Mas se o senhor ainda tiver críticas à "bobagem" do Parto Humanizado ou aos partos das mulheres soro positivas, por favor, embase suas considerações com argumentos fundamentados cientificamente. Porque disparar informações incorretas em meios de comunicação pública é anti-ético e um descalabro. E é vergonhoso.
Referências Bibliográficas:
BRÜGGEMANN, O. M.; PARPINELLI, M. A.; OSIS, M. J. D. Evidências sobre o suporte durante o trabalho de parto/parto: uma revisão da literatura. Cadernos de Saúde Pública, 21 (5): 1316-1327, Rio de Janeiro, 2005.
DRAPER, J. Whose welfare in the labour room? A discussion of the increasing trend of fathers’ birth attendance. Midwifery 13, 132-138, 1997.
GUNGOR, I.; BEJI, N. K. Effects of Fathers’ Attendance to Labor and Delivery on the Experience of Childbirth in Turkey. Western Journal of Nursing Research, vol 29; March, 2007.
KLAUS, M. H.; KLAUS, P. H. Seu Surpreendente Recém-Nascido. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria MS/GM nº 2.616 de 12 de maio de 1998. Diário Oficial da União, 13 de maio de 1998.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Protocolo para prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis. Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de DST e Aids. Brasília, Ministério da Saúde, 2006.
NAKANO, A. M. S.; SILVA, L. A.; BELEZA, A. C. S.; STEFANELLO, J.; GOMES, F. A. O suporte durante o processo de parturição: a visão do acompanhante. Acta Paul Enferm 20(2): 131-7, 2007.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, Maternidade Segura, assistência ao parto normal: um guia prático. Genebra, 1996.
STORTI, J. P. L. O papel do acompanhante no trabalho de parto e parto: expectativas e vivências do casal. Dissertação (Mestrado em Enfermagem em Saúde Pública) - Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2004.
ZHANG, J.; BERNASKO, J. W.; LEYBOVICH, E.; FAHS, M.; HATCH, M. C. Continuous labor support from labor attendant for primiparous woman: A meta-analysis. Obstetrics & Gynecology vol. 88 nº 4 (2), 1996.
Quem está brincando com a saúde?
Caro Sr. Alexandre Garcia,
Somos mulheres ativistas da Rede Parto do Princípio, uma rede nacional, com mais de 100 mulheres por todo o Brasil, que luta para que toda mulher possa ter uma maternidade consciente e ativa através de informação adequada e embasada cientificamente sobre gestação, parto e nascimento.
É com profundo pesar que recebemos em pleno dia das mães uma fala cheia de preconceitos sobre a maternidade em um veículo de comunicação pública.
Diante de sua fala, nota-se o profundo desconhecimento das políticas de controle de infecção hospitalar, como também da legislação que garante a toda mulher o direito à presença de um acompanhante de sua livre escolha no pré-parto, parto e pós-parto imediato. Não é só uma "bobagem" do Ministério da Saúde. É lei (Lei Federal n° 11.108 de 2005). Uma lei que vem sendo sumariamente descumprida por todo o país.
Transcrição realizada a partir do áudio disponível em:
http://cbn.globoradio.globo.com/colunas/mais-brasilia/MAIS-BRASILIA.htm
"[...] eu tô criticando essa bobagem do Ministério da Saúde de parto humanizado... será que vão deixar entrar um pai na sala cirúrgica pra infectar a sala cirúrgica? O pai barbudo, cabeludo, bêbado, sei lá o quê, mas enfim... hã... vestido com... com poeira da rua numa sala cirúrgica? Isso é um absurdo. Ah, mas é o parto de cócoras... tudo bem, peça para sua mulher fazer um parto de cócoras pra ver o que vai acontecer com o joelhos dela, não é índia, nã... vão... vão acabar... É um sofrimento. Ah, porque as cesárias... eu disse olha... que ele mesmo concorda que o... o serviço público as cesárias só é feita [sic] em último caso... é parto normal normalmente... não precisa ficar anunciando que o hospital do Gama vai ter isso [...]"
Existem normas de controle de infecção hospitalar que devem ser cumpridas por toda a equipe de saúde, pelos pacientes e por seus acompanhantes. Independente se são "cabeludos", "carecas" ou "barbudos". Seguidas essas normas, não há porque restringir o acesso do acompanhante. O direito da mulher não pode ser violado a partir de discriminação, de preconceito.
Várias pesquisas comprovaram que a presença do acompanhante no parto proporciona uma série de benefícios como: maior sentimento de confiança, aumento no índice de amamentação, diminuição do tempo de trabalho de parto, menor necessidade de parto cirúrgico, menor necessidade de medicação, menor necessidade de analgesia, menores índices de escores de Apgar abaixo de 7, menor necessidade de parto instrumental, menores taxas de dor, pânico e exaustão, entre vários outros benefícios. Diante desses indícios, a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza, desde 1996, a presença de um acompanhante para a parturiente.
E isso não é bobagem. São pesquisas científicas.
Hoje, existe a possibilidade da mulher escolher a melhor posição para o parto. De posse de evidências científicas, muitos profissionais não mais recomendam uma única posição, mas permitem que a mulher encontre a posição mais confortável para dar à luz. Para a posição de "cócoras", que é como são chamadas algumas posições verticalizadas, existem apoios e banquetas. Há também muitas mulheres que conseguem ficar de cócoras sem comprometer os joelhos, mesmo as não-indígenas.
"[...] O ministério da saúde não fez só isso não. O Ministério da Saúde tá estimulando agora pessoa com HIV a engravidar. Eu duvido que o Ministério da Saúde vá fazer uma... uma cesária pela terceira vez numa mulher com HIV e respingar sangue nele pra ver o que vai acontecer. É uma... é uma maluquice. Tão fazendo uma brincadeira com a saúde... Tá lá escrito na instituição a saúde é direito de todos e dever do Estado. O Estado não está cumprindo seus deveres com a saúde... e os problemas são de gestão, são administrativos.[...]"
Atualmente, diante de assistência médica adequada, nós mulheres podemos ter uma gestação e um parto mais seguros tanto para nós, quanto para os bebês. Inclusive as mulheres HIV positivas. Existem protocolos, embasados cientificamente, para os atendimentos às soro-positivas que evitam a transmissão vertical do HIV. Todos nós temos direito à reprodução. Existem também protocolos de rotinas que protegem a equipe de saúde para que não tenham contato com sangue ou secreções; e de providências caso haja algum acidente. E isso não é maluquice. É biossegurança.
E se o Estado está tomando providências para que o pai mais "barbudo" possa acompanhar sua esposa no nascimento de seu filho, e para que pessoas como eu, como os soro positivos e até como você possam ter fihos e netos em segurança, isso não é "bobagem", isso é dever do Estado.
Mas se o senhor ainda tiver críticas à "bobagem" do Parto Humanizado ou aos partos das mulheres soro positivas, por favor, embase suas considerações com argumentos fundamentados cientificamente. Porque disparar informações incorretas em meios de comunicação pública é anti-ético e um descalabro. E é vergonhoso.
Referências Bibliográficas:
BRÜGGEMANN, O. M.; PARPINELLI, M. A.; OSIS, M. J. D. Evidências sobre o suporte durante o trabalho de parto/parto: uma revisão da literatura. Cadernos de Saúde Pública, 21 (5): 1316-1327, Rio de Janeiro, 2005.
DRAPER, J. Whose welfare in the labour room? A discussion of the increasing trend of fathers’ birth attendance. Midwifery 13, 132-138, 1997.
GUNGOR, I.; BEJI, N. K. Effects of Fathers’ Attendance to Labor and Delivery on the Experience of Childbirth in Turkey. Western Journal of Nursing Research, vol 29; March, 2007.
KLAUS, M. H.; KLAUS, P. H. Seu Surpreendente Recém-Nascido. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria MS/GM nº 2.616 de 12 de maio de 1998. Diário Oficial da União, 13 de maio de 1998.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Protocolo para prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis. Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de DST e Aids. Brasília, Ministério da Saúde, 2006.
NAKANO, A. M. S.; SILVA, L. A.; BELEZA, A. C. S.; STEFANELLO, J.; GOMES, F. A. O suporte durante o processo de parturição: a visão do acompanhante. Acta Paul Enferm 20(2): 131-7, 2007.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, Maternidade Segura, assistência ao parto normal: um guia prático. Genebra, 1996.
STORTI, J. P. L. O papel do acompanhante no trabalho de parto e parto: expectativas e vivências do casal. Dissertação (Mestrado em Enfermagem em Saúde Pública) - Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2004.
ZHANG, J.; BERNASKO, J. W.; LEYBOVICH, E.; FAHS, M.; HATCH, M. C. Continuous labor support from labor attendant for primiparous woman: A meta-analysis. Obstetrics & Gynecology vol. 88 nº 4 (2), 1996.
9 de maio de 2010
Mães e filhas
Puxa vida, este blog não pode ficar em branco justamente hoje, Dia das Mães!
Rápido, rápido, pense rápido, o que oferecer neste dia tão simbólico? Uma música, uma poesia, uma reflexão, uma singela homenagem que seja?
Puxa vida, nada me vem, nada em mente, nada, nada, nada...
Nada além da imagem da minha própria mãe, mulher batalhadora, cheia de força e de poder. E tão delicada...
Dia desses me lembrei das minhas roupas de menina, costuradas pela minha vó. Modelitos reduzidos dos looks de festa da minha mãe! E como se não bastassem os vestidos e casacos iguais aos maternos, eu tinha também pijamas e penhoares idênticos aos dela, que eu adorava vestir e exibir diante dos parentes.
Pensando bem, minha mãe é mesmo uma gentileza de pessoa. Devia ser um mico danado andar comigo por aí, nós duas de trajes iguais. Mas como isso me alegrava, vá lá, minha mãe aturava.
E sabia que a minha mãe nunca fez aniversário? Ou melhor, nunca tinha feito, até este ano, quando comemoramos suas sete décadas de vida. Vergonha fraternal, eu e meus irmãos jamais havíamos feito uma festinha para ela. Um bolo, um café da manhã, um doce, nada!
Mãe é assim. Paga mico a vida inteira, luta com unhas e dentes para dar o melhor aos filhos. E os ingratos, o que fazem? Partem para o mundo. E que alegria vê-los voar, não é mesmo?
Rápido, rápido, pense rápido, o que oferecer neste dia tão simbólico? Uma música, uma poesia, uma reflexão, uma singela homenagem que seja?
Puxa vida, nada me vem, nada em mente, nada, nada, nada...
Nada além da imagem da minha própria mãe, mulher batalhadora, cheia de força e de poder. E tão delicada...
Dia desses me lembrei das minhas roupas de menina, costuradas pela minha vó. Modelitos reduzidos dos looks de festa da minha mãe! E como se não bastassem os vestidos e casacos iguais aos maternos, eu tinha também pijamas e penhoares idênticos aos dela, que eu adorava vestir e exibir diante dos parentes.
Pensando bem, minha mãe é mesmo uma gentileza de pessoa. Devia ser um mico danado andar comigo por aí, nós duas de trajes iguais. Mas como isso me alegrava, vá lá, minha mãe aturava.
E sabia que a minha mãe nunca fez aniversário? Ou melhor, nunca tinha feito, até este ano, quando comemoramos suas sete décadas de vida. Vergonha fraternal, eu e meus irmãos jamais havíamos feito uma festinha para ela. Um bolo, um café da manhã, um doce, nada!
Mãe é assim. Paga mico a vida inteira, luta com unhas e dentes para dar o melhor aos filhos. E os ingratos, o que fazem? Partem para o mundo. E que alegria vê-los voar, não é mesmo?
6 de maio de 2010
Foi ontem
O Dia Internacional das Parteiras! A data estabelecida pela ONU visa não apenas homenagear essas mulheres como também chamar a atenção para a importância de sua atuação. Como anuncia a Confederação Internacional de Parteiras, "O mundo precisa de parteiras hoje mais do que nunca".
Algumas conhecidas postaram ontem, em seus respectivos blogs, o mesmo vídeo fofo, Mother of Many (Mãe de muitos), da britânica Emma Lazenby. Para conceber essa animação, Emma inspirou-se em sua mãe, que foi parteira por 30 anos e se aposentou em 2008. O diário do projeto pode ser conferido no blog MoM, no qual Emma escreveu sob o pseudônimo de Elsie Darkwinter. Você também pode ler mais sobre o vídeo na Animator Mag.
Com Mother of Many, Emma arrematou o prêmio Bafta de curta de animação. Embora ela se mostre muito surpresa em seu blog - pela indicação e mais ainda pela premiação -, para quem não sabe, ela é a mãe de um desenho que eu particularmente acho muito fofo e de muita qualidade, Charlie e Lola.
Eu deveria estar escrevendo sobre o papel das parteiras, sobre sua importância e sobre os entreveros com os conselhos de enfermagem no Brasil... Mas enfim, espero que as imagens valham mais do que mil palavras agora.
Algumas conhecidas postaram ontem, em seus respectivos blogs, o mesmo vídeo fofo, Mother of Many (Mãe de muitos), da britânica Emma Lazenby. Para conceber essa animação, Emma inspirou-se em sua mãe, que foi parteira por 30 anos e se aposentou em 2008. O diário do projeto pode ser conferido no blog MoM, no qual Emma escreveu sob o pseudônimo de Elsie Darkwinter. Você também pode ler mais sobre o vídeo na Animator Mag.
Com Mother of Many, Emma arrematou o prêmio Bafta de curta de animação. Embora ela se mostre muito surpresa em seu blog - pela indicação e mais ainda pela premiação -, para quem não sabe, ela é a mãe de um desenho que eu particularmente acho muito fofo e de muita qualidade, Charlie e Lola.
Eu deveria estar escrevendo sobre o papel das parteiras, sobre sua importância e sobre os entreveros com os conselhos de enfermagem no Brasil... Mas enfim, espero que as imagens valham mais do que mil palavras agora.
4 de maio de 2010
Ocitocina x Adrenalina
Curiosa entrevista de Michel Odent à Gazeta do Povo. Curiosa porque mostra o quanto nós mesmas estamos mergulhadas na cultura cesarista. A jornalista pergunta: como convencer as mulheres de que parto normal é melhor (como se todas nós já não tivéssemos essa convicção – como mostram as pesquisas - e como se nós fôssemos pacientes a implorar por uma "cirurgiazinha" abdominal) e se o elevado número de cesáreas no Brasil decorre da cultura ou da escolha médica (ignorando que o problema não está ligado ao número absoluto de procedimentos cirúrgicos, mas à proporção destes no total de partos, desconsiderando a realidade do sistema de atendimento à saúde da mulher no páis e também desconectando a prática médica da cultura hegemônica e das relações de poder, uma quase alienação do parto).
Menos adrenalina e mais ocitocina no parto
Entrevista com Michel Odent, obstetra
Publicado em 02/05/2010 | Daniela Neves
A tecnologia é aliada do homem na Medicina, mas faz com que alguns instintos sejam deixados de lado. Para o obstetra francês Michel Odent, o aparato tecnológico está tornando os partos menos eficazes. Ele defende a “mamiferização” do parto, que é como chama o conjunto de ações que fazem com que o nascimento respeite as condições inatas da mulher. Quanto mais máquinas, especialistas por perto e iluminação, menor a segurança da mulher no momento em que ela precisa estar tranquila para dar à luz, diz Odent. O bebê deveria ficar com a mãe assim que nasce e ser amamentado na primeira hora de vida. Sempre lembrando que somos animais, o obstetra fala sobre a fisiologia do parto, sobre os hormônios e substâncias ligadas ao nascimento e ao medo, que podem causar dor.
Odent ficou conhecido por introduzir no hospital de Pithiviers, na França, o conceito da casa como sala de parto e da utilização das piscinas de parto. Autor de 12 livros publicados em 22 línguas, o médico esteve em Curitiba no início de abril e conversou com o Viver Bem.
No Brasil, preconiza-se o parto humanizado que, além de prever a presença do pai ou acompanhante na sala, propõe que o bebê fique no quarto com a mãe logo depois do nascimento. O que o senhor considera parto humanizado?
Entendo o parto humanizado de uma maneira diferente. É preciso redescobrir o nascimento, libertar-se de tudo quanto é crença e ritual milenar ou cultural, eliminando o que é especificamente humano. A começar pela linguagem, que é o método humano de comunicação. É preciso satisfazer as necessidades universais específicas de mamíferos, como, por exemplo, ter segurança. Na floresta, se uma fêmea está para ter um filhote e percebe que há um predador por perto, vai liberar adrenalina, essencial em uma situação de emergência na necessidade de partir para a luta. Essa adrenalina vai bloquear o parto, postergar o nascimento. A segurança é uma necessidade básica para qualquer mamífero. Outra necessidade básica é não se sentir observado. Então, mais do que humanizar o parto, é preciso “mamiferizar” o nascimento e por isso essa expressão parto humanizado não tem o mesmo significado para mim. Humanizar é usar um número grande de ferramentas, é a cesária.
O Brasil é considerado um dos campeões em números de cesárias. O senhor acha que isso é uma consequência cultural ou uma escolha médica?
O Brasil não é exatamente o campeão em número de cesárias. Encontramos número elevado em todos os países onde existe um grande número de médicos obstetras e nos quais as parteiras desapareceram. Acontece em todas as grandes cidades da América Latina, chinesas, indianas, coreanas, iranianas, ou em qualquer parte do mundo onde o número de médicos especialistas é grande.
Na sua opinião, qual é o principal argumento para convencer as brasileiras de que o parto normal é melhor do que a cesária?
Não sei se o objetivo é convencer. Não gosto de usar essa palavra porque o que busco é compreender qual a necessidade básica da mulher. Tive a oportunidade de conversar com estudantes do Rio de Janeiro, adolescentes, e elas afirmaram que gostariam de ter parto normal. Então, creio que o obstáculo está em entender a necessidade das mulheres.
O medo da dor no parto e as facilidades de equipamentos encontradas hoje nos hospitais faz com que muitas mulheres, principalmente das classes média e alta, optem pelo parto cesáreo. O que diria a elas?
Quanto mais difícil é o parto, maior a dor. É preciso aprender a ter partos fáceis. Quando são fáceis, o sistema fisiológico protege a mulher da dor porque o nascimento é eficaz. É o parto que libera uma boa quantidade de endorfina pelo cérebro, assim como a ocitocina, fazendo com que a dor fique de lado. Ou pelo menos ela não é tão percebida. Quando existe esse equilíbrio, mesmo que haja dor, as mulheres a esquecem logo em seguida ao parto, ao contrário de quando há uma quantidade desequilibrada desses hormônios, quando há presença da adrenalina. Para que esse parto mais tranquilo aconteça, é preciso que o ambiente seja propício. O que aprendi em 50 anos acompanhando partos, seja em casa ou no hospital, é que o ambiente facilita o procedimento e reduz a dor. Esse ambiente deve ser silencioso, sem tanta gente em volta observando, sem tanta luz. Quanto mais simples, mais eficaz é o parto. Para isso é preciso compreender a fisiologia do parto e redescobrir o que é mais simples.
Recentemente, a modelo Brasileira Gisele Bündchen teve um parto em casa, em uma banheira, o que despertou curiosidade sobre esse modelo de parto. Está se tornando comum? Quais as condições para esse tipo de parto, em casa?
A mulher que vai ter o bebê necessita se sentir segura e para isso não há uma regra para todas. Ela pode se sentir segura em casa, com uma parteira, ou perto de máquinas. São mulheres diferentes, mas que têm a mesma necessidade de segurança. Hoje o parto domiciliar é possível em uma sociedade urbana na qual as mulheres vivem perto dos melhores hospitais. O ideal seria combinar o que há de bom em casa com o que há de bom no hospital.
Menos adrenalina e mais ocitocina no parto
Entrevista com Michel Odent, obstetra
Publicado em 02/05/2010 | Daniela Neves
A tecnologia é aliada do homem na Medicina, mas faz com que alguns instintos sejam deixados de lado. Para o obstetra francês Michel Odent, o aparato tecnológico está tornando os partos menos eficazes. Ele defende a “mamiferização” do parto, que é como chama o conjunto de ações que fazem com que o nascimento respeite as condições inatas da mulher. Quanto mais máquinas, especialistas por perto e iluminação, menor a segurança da mulher no momento em que ela precisa estar tranquila para dar à luz, diz Odent. O bebê deveria ficar com a mãe assim que nasce e ser amamentado na primeira hora de vida. Sempre lembrando que somos animais, o obstetra fala sobre a fisiologia do parto, sobre os hormônios e substâncias ligadas ao nascimento e ao medo, que podem causar dor.
Odent ficou conhecido por introduzir no hospital de Pithiviers, na França, o conceito da casa como sala de parto e da utilização das piscinas de parto. Autor de 12 livros publicados em 22 línguas, o médico esteve em Curitiba no início de abril e conversou com o Viver Bem.
No Brasil, preconiza-se o parto humanizado que, além de prever a presença do pai ou acompanhante na sala, propõe que o bebê fique no quarto com a mãe logo depois do nascimento. O que o senhor considera parto humanizado?
Entendo o parto humanizado de uma maneira diferente. É preciso redescobrir o nascimento, libertar-se de tudo quanto é crença e ritual milenar ou cultural, eliminando o que é especificamente humano. A começar pela linguagem, que é o método humano de comunicação. É preciso satisfazer as necessidades universais específicas de mamíferos, como, por exemplo, ter segurança. Na floresta, se uma fêmea está para ter um filhote e percebe que há um predador por perto, vai liberar adrenalina, essencial em uma situação de emergência na necessidade de partir para a luta. Essa adrenalina vai bloquear o parto, postergar o nascimento. A segurança é uma necessidade básica para qualquer mamífero. Outra necessidade básica é não se sentir observado. Então, mais do que humanizar o parto, é preciso “mamiferizar” o nascimento e por isso essa expressão parto humanizado não tem o mesmo significado para mim. Humanizar é usar um número grande de ferramentas, é a cesária.
O Brasil é considerado um dos campeões em números de cesárias. O senhor acha que isso é uma consequência cultural ou uma escolha médica?
O Brasil não é exatamente o campeão em número de cesárias. Encontramos número elevado em todos os países onde existe um grande número de médicos obstetras e nos quais as parteiras desapareceram. Acontece em todas as grandes cidades da América Latina, chinesas, indianas, coreanas, iranianas, ou em qualquer parte do mundo onde o número de médicos especialistas é grande.
Na sua opinião, qual é o principal argumento para convencer as brasileiras de que o parto normal é melhor do que a cesária?
Não sei se o objetivo é convencer. Não gosto de usar essa palavra porque o que busco é compreender qual a necessidade básica da mulher. Tive a oportunidade de conversar com estudantes do Rio de Janeiro, adolescentes, e elas afirmaram que gostariam de ter parto normal. Então, creio que o obstáculo está em entender a necessidade das mulheres.
O medo da dor no parto e as facilidades de equipamentos encontradas hoje nos hospitais faz com que muitas mulheres, principalmente das classes média e alta, optem pelo parto cesáreo. O que diria a elas?
Quanto mais difícil é o parto, maior a dor. É preciso aprender a ter partos fáceis. Quando são fáceis, o sistema fisiológico protege a mulher da dor porque o nascimento é eficaz. É o parto que libera uma boa quantidade de endorfina pelo cérebro, assim como a ocitocina, fazendo com que a dor fique de lado. Ou pelo menos ela não é tão percebida. Quando existe esse equilíbrio, mesmo que haja dor, as mulheres a esquecem logo em seguida ao parto, ao contrário de quando há uma quantidade desequilibrada desses hormônios, quando há presença da adrenalina. Para que esse parto mais tranquilo aconteça, é preciso que o ambiente seja propício. O que aprendi em 50 anos acompanhando partos, seja em casa ou no hospital, é que o ambiente facilita o procedimento e reduz a dor. Esse ambiente deve ser silencioso, sem tanta gente em volta observando, sem tanta luz. Quanto mais simples, mais eficaz é o parto. Para isso é preciso compreender a fisiologia do parto e redescobrir o que é mais simples.
Recentemente, a modelo Brasileira Gisele Bündchen teve um parto em casa, em uma banheira, o que despertou curiosidade sobre esse modelo de parto. Está se tornando comum? Quais as condições para esse tipo de parto, em casa?
A mulher que vai ter o bebê necessita se sentir segura e para isso não há uma regra para todas. Ela pode se sentir segura em casa, com uma parteira, ou perto de máquinas. São mulheres diferentes, mas que têm a mesma necessidade de segurança. Hoje o parto domiciliar é possível em uma sociedade urbana na qual as mulheres vivem perto dos melhores hospitais. O ideal seria combinar o que há de bom em casa com o que há de bom no hospital.
2 de maio de 2010
Na virada
Da São João para a Ipiranga, 16 de maio, às 15h30, tem show do Pequeno Cidadão, de grátis e na faixa. O projeto musical tem as assinaturas de Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra, Taciana Barros e Antonio Pinto, tá bom pra você? Pra mim tá bom demais, e queria que os músicos parassem com essa história recente, de fazer música boa apenas pra criança, o que é isso, minha gente? Toda gente merece música de qualidade, e música de qualidade serve para toda a gene, independentemente da idade!
A tempo: para o próximo ano, a organização poderia pensar em um espaço dedicado à família, não é mesmo? À noitão, artistas circenses poderiam dominar o lugar com suas artes e estripulias, até a manhãzinha do domingo, quando então recepcionariam os pequenos e suas famílias.
Veja aqui a programação da Virada Cultural 2010.
A tempo: para o próximo ano, a organização poderia pensar em um espaço dedicado à família, não é mesmo? À noitão, artistas circenses poderiam dominar o lugar com suas artes e estripulias, até a manhãzinha do domingo, quando então recepcionariam os pequenos e suas famílias.
Veja aqui a programação da Virada Cultural 2010.
27 de abril de 2010
Por que tanta pressa?
É o que me pergunto toda vez que fico sabendo de bebês nascidos de cesárea antes de a mãe entrar em trabalho de parto ou mesmo antes de a gravidez chegar a 40 semanas. A impressão que eu tinha - de bebês sendo retirados da barriga da mãe cada vez mais cedo - confirma-se por dados de uma pesquisa da Unifesp.
E a velha balela de que é a mãe ou a família que pressionam o médico para fazer a cesárea continua sendo usada como justificativa para o parto cirúrgico. O que diz o Dr. Renato de Sá, no fim da matéria, é a mais pura e vergonhosa mentira, conforme diversos estudos sérios já comprovaram.
Atenção, senhores doutores, nós queremos ter parto normal. Atenção, famílias grávidas, não se deixem operar sem justificativa embasada cientificamente. Afinal, tudo o que queremos é o melhor para nossas crias, não é mesmo? E nada mais justo que elas possam nascer no dia em que estiverem prontas, não na próxima quarta, porque no fim de semana o médico viaja para um congresso na conxinxina.
23/04/2010 - 08h37
Maioria das cesáreas é marcada para antes da hora no Brasil
GABRIELA CUPANI
da Reportagem Local
Cresce no Brasil a prática de marcar o parto para assim que a gestação completa 37 semanas, momento em que o bebê deixa de ser considerado prematuro.
Um estudo da Unifesp mostra que cerca de 60% dos nascimentos acontecem com 37 ou 38 semanas de gestação --quando a gravidez dura cerca de 40 semanas. Segundo consensos internacionais, o ideal é esperar no mínimo 39 semanas. Antes disso, aumentam as chances de complicação para o recém-nascido, como desconforto respiratório e icterícia.
"A tendência é mundial. Está havendo uma antecipação do parto. Antes, os bebês nasciam com 39 ou 40 semanas", diz Cecília Draque, neonatologista do departamento de pediatria e neonatologia da Unifesp, uma das autoras do estudo.
Segundo a pesquisa, o número crescente de cesáreas eletivas (aquelas em que é possível escolher a data) tem levado ao aumento dos partos com idade gestacional inferior à ideal.
"Hoje não se espera a mulher entrar em trabalho de parto", diz o obstetra Marcos Tadeu Garcia, diretor da clínica de ginecologia, obstetrícia e neonatologia do Hospital Ipiranga. "Médicos e mães optam pelo conforto da agenda. Isso nos assusta, porque esses bebês nascem sem estarem prontos."
Bebês que nascem antes do término da trigésima-nona semana têm mais risco de precisarem de intervenções terapêuticas do que os que nascem bem no fim da gravidez. O estudo mostra que ficam mais dias internados e vão mais para a UTI. "A interrupção da gestação antes de 39 semanas só deve ser feita com estritas indicações médicas", diz Draque.
A pesquisa seguiu mais de 6.000 recém-nascidos em uma maternidade particular de São Paulo. Os bebês não tinham anomalias congênitas e as mães passaram por pré-natal.
"Conheço casos de médicos que marcam até para a 35ª semana. Qualquer coisa é desculpa: ou vão viajar para algum congresso, ou não querem que a mãe encha a paciência deles ligando às duas da manhã. A mulher também pode insistir, às vezes a avó manda marcar, ou a mulher não aguenta mais o fim da gravidez... enfim. O bebê vai precisar de um atendimento, mas o médico já passou a responsabilidade para o berçário", diz Renato Kalil, obstetra do Hospital Albert Einstein. Segundo Kalil, 12% dos bebês não prematuros nascidos de cesárea passam pela UTI. De parto normal, só 3%. "O parto normal está mais falado, mas a indicação de cesárea continua a mesma baixaria", afirma.
"Muitas vezes a própria família pressiona o médico", afirma Renato Augusto Moreira de Sá, presidente da comissão de perinatologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.
Antecipar o parto também é perigoso porque há chance de erro de cálculo da idade gestacional. Se a mulher não fez um ultrassom no início, que estima com maior precisão essa idade, ela pode estar grávida há menos tempo do que pensa.
E a velha balela de que é a mãe ou a família que pressionam o médico para fazer a cesárea continua sendo usada como justificativa para o parto cirúrgico. O que diz o Dr. Renato de Sá, no fim da matéria, é a mais pura e vergonhosa mentira, conforme diversos estudos sérios já comprovaram.
Atenção, senhores doutores, nós queremos ter parto normal. Atenção, famílias grávidas, não se deixem operar sem justificativa embasada cientificamente. Afinal, tudo o que queremos é o melhor para nossas crias, não é mesmo? E nada mais justo que elas possam nascer no dia em que estiverem prontas, não na próxima quarta, porque no fim de semana o médico viaja para um congresso na conxinxina.
23/04/2010 - 08h37
Maioria das cesáreas é marcada para antes da hora no Brasil
GABRIELA CUPANI
da Reportagem Local
Cresce no Brasil a prática de marcar o parto para assim que a gestação completa 37 semanas, momento em que o bebê deixa de ser considerado prematuro.
Um estudo da Unifesp mostra que cerca de 60% dos nascimentos acontecem com 37 ou 38 semanas de gestação --quando a gravidez dura cerca de 40 semanas. Segundo consensos internacionais, o ideal é esperar no mínimo 39 semanas. Antes disso, aumentam as chances de complicação para o recém-nascido, como desconforto respiratório e icterícia.
"A tendência é mundial. Está havendo uma antecipação do parto. Antes, os bebês nasciam com 39 ou 40 semanas", diz Cecília Draque, neonatologista do departamento de pediatria e neonatologia da Unifesp, uma das autoras do estudo.
Segundo a pesquisa, o número crescente de cesáreas eletivas (aquelas em que é possível escolher a data) tem levado ao aumento dos partos com idade gestacional inferior à ideal.
"Hoje não se espera a mulher entrar em trabalho de parto", diz o obstetra Marcos Tadeu Garcia, diretor da clínica de ginecologia, obstetrícia e neonatologia do Hospital Ipiranga. "Médicos e mães optam pelo conforto da agenda. Isso nos assusta, porque esses bebês nascem sem estarem prontos."
Bebês que nascem antes do término da trigésima-nona semana têm mais risco de precisarem de intervenções terapêuticas do que os que nascem bem no fim da gravidez. O estudo mostra que ficam mais dias internados e vão mais para a UTI. "A interrupção da gestação antes de 39 semanas só deve ser feita com estritas indicações médicas", diz Draque.
A pesquisa seguiu mais de 6.000 recém-nascidos em uma maternidade particular de São Paulo. Os bebês não tinham anomalias congênitas e as mães passaram por pré-natal.
"Conheço casos de médicos que marcam até para a 35ª semana. Qualquer coisa é desculpa: ou vão viajar para algum congresso, ou não querem que a mãe encha a paciência deles ligando às duas da manhã. A mulher também pode insistir, às vezes a avó manda marcar, ou a mulher não aguenta mais o fim da gravidez... enfim. O bebê vai precisar de um atendimento, mas o médico já passou a responsabilidade para o berçário", diz Renato Kalil, obstetra do Hospital Albert Einstein. Segundo Kalil, 12% dos bebês não prematuros nascidos de cesárea passam pela UTI. De parto normal, só 3%. "O parto normal está mais falado, mas a indicação de cesárea continua a mesma baixaria", afirma.
"Muitas vezes a própria família pressiona o médico", afirma Renato Augusto Moreira de Sá, presidente da comissão de perinatologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.
Antecipar o parto também é perigoso porque há chance de erro de cálculo da idade gestacional. Se a mulher não fez um ultrassom no início, que estima com maior precisão essa idade, ela pode estar grávida há menos tempo do que pensa.
26 de abril de 2010
Cotidiano
Assim é o desrespeito à Lei do Acompanhante. Acontece todo dia, em todo lugar. E não à toa a notícia é publicada no caderno Cotidiano do jornal. Lamentável.
25/04/2010 - 03h00
Maternidades de SP cobram para pai ver parto do filho
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
da Reportagem Local
A administradora de recursos humanos Roberta Meza, 41, não sabia. A secretária-executiva Patrícia Fernandes Lopes Felipe, 32, também não. Antes de ter filhos há alguns meses, as duas percorreram maternidades particulares de São Paulo para conhecer os serviços antes de decidir onde fariam o parto.
* Veja resolução da Anvisa sobre serviços no parto
Por desconhecer a resolução que garante a presença de um acompanhante de livre escolha da mulher, pagaram R$ 147 para que os maridos assistissem ao nascimento dos bebês.
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) e Procon dizem em uníssono que a cobrança é abusiva e claramente ilegal.
Pesquisa da USP mostra que diversos indicadores melhoram com a presença do acompanhante no parto, como diminuição da dor e índices menores de depressão pós-parto.
Ao longo da semana, a reportagem refez os passos de Roberta e Patrícia e visitou cinco maternidades paulistanas: Einstein, Pro Matre, Santa Catarina, Santa Joana e São Luiz.
Todas, menos o Einstein, cobram entre R$ 113 e R$ 147 para presença do pai na hora do parto, o que chamam de "taxa de paramentação" para cobrir os custos do avental cirúrgico.
Com o comprovante de pagamento do parto em mãos, Roberta, mãe dos gêmeos Rute e Miguel, de 11 meses, diz ter pago a taxa para o marido acompanhá-la, mas que a cobrança não foi incluída na nota fiscal emitida pela maternidade Pro Matre. "Não sabia que tinha de pagar a roupa", diz.
"O hospital não pode cobrar pelo acompanhamento do parto, nem mesmo por roupas usadas no centro cirúrgico", afirma a ANS em nota.
"A presença do acompanhante na hora do parto é um direito e é de livre escolha da mulher", diz Andrezza Amorim, técnica da Anvisa.
Segundo a agência, denúncias sobre esse cobrança podem ser feitas à vigilância sanitária local e podem render multas de R$ 2.000 a R$ 1,5 milhão.
"É uma prática abusiva. Qualquer cobrança é considerada um obstáculo à garantia desse direito em lei", diz Robson Campos, diretor do Procon.
Essa taxa é mais um dos serviços do pacote oferecido às mães e um indicativo do negócio que se firmou em torno do parto na rede particular.
Para gravar ou fotografar o nascimento, todas as maternidades exigem que o serviço seja feito por uma única empresa indicada, que cobra R$ 1.298.
Para o Procon, a restrição deve ser previamente justificada e informada às mães e a concorrência deve ser estimulada.
Com medo de que o marido desmaiasse na hora do parto e perdesse as fotos, Patrícia, mãe de Estela, de um ano e três meses, pagou R$ 1.000 a um fotógrafo indicado pelo São Luiz.
"Se eu levasse um fotógrafo próprio, só deixariam fazer as imagens do berçário do lado de fora, pela vidraça. Mas o fotógrafo deles entrou e tirou fotos do primeiro banho. Aceitei e fiquei rendida. Naquele momento tinha outras prioridades, já estava numa fase de muito cansaço", diz Patrícia.
As maternidades também oferecem extensões do teste do pezinho, cuja detecção básica de cinco doenças, por lei, é gratuita. Para o exame de mais cinco são cobrados R$ 118 e, para 41 deficiências, R$ 428.
Gratuitas na rede pública e que devem ser aplicadas nos primeiros dias de vida, as vacinas como BCG e contra a hepatite B são cobradas em alguns hospitais, R$ 95 a dose de cada uma, como no São Luiz, e gratuitas em outras, como no Santa Catarina.
Considerado inócuo por hematologistas e geneticistas, o congelamento do sangue do cordão umbilical, rico em células-tronco, é vendido a R$ 3.500 mais R$ 570 de manutenção anual como promessa de cura de doenças.
Colaborou EDUARDO GERAQUE
25/04/2010 - 03h00
Maternidades de SP cobram para pai ver parto do filho
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
da Reportagem Local
A administradora de recursos humanos Roberta Meza, 41, não sabia. A secretária-executiva Patrícia Fernandes Lopes Felipe, 32, também não. Antes de ter filhos há alguns meses, as duas percorreram maternidades particulares de São Paulo para conhecer os serviços antes de decidir onde fariam o parto.
* Veja resolução da Anvisa sobre serviços no parto
Por desconhecer a resolução que garante a presença de um acompanhante de livre escolha da mulher, pagaram R$ 147 para que os maridos assistissem ao nascimento dos bebês.
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) e Procon dizem em uníssono que a cobrança é abusiva e claramente ilegal.
Pesquisa da USP mostra que diversos indicadores melhoram com a presença do acompanhante no parto, como diminuição da dor e índices menores de depressão pós-parto.
Ao longo da semana, a reportagem refez os passos de Roberta e Patrícia e visitou cinco maternidades paulistanas: Einstein, Pro Matre, Santa Catarina, Santa Joana e São Luiz.
Todas, menos o Einstein, cobram entre R$ 113 e R$ 147 para presença do pai na hora do parto, o que chamam de "taxa de paramentação" para cobrir os custos do avental cirúrgico.
Com o comprovante de pagamento do parto em mãos, Roberta, mãe dos gêmeos Rute e Miguel, de 11 meses, diz ter pago a taxa para o marido acompanhá-la, mas que a cobrança não foi incluída na nota fiscal emitida pela maternidade Pro Matre. "Não sabia que tinha de pagar a roupa", diz.
"O hospital não pode cobrar pelo acompanhamento do parto, nem mesmo por roupas usadas no centro cirúrgico", afirma a ANS em nota.
"A presença do acompanhante na hora do parto é um direito e é de livre escolha da mulher", diz Andrezza Amorim, técnica da Anvisa.
Segundo a agência, denúncias sobre esse cobrança podem ser feitas à vigilância sanitária local e podem render multas de R$ 2.000 a R$ 1,5 milhão.
"É uma prática abusiva. Qualquer cobrança é considerada um obstáculo à garantia desse direito em lei", diz Robson Campos, diretor do Procon.
Essa taxa é mais um dos serviços do pacote oferecido às mães e um indicativo do negócio que se firmou em torno do parto na rede particular.
Para gravar ou fotografar o nascimento, todas as maternidades exigem que o serviço seja feito por uma única empresa indicada, que cobra R$ 1.298.
Para o Procon, a restrição deve ser previamente justificada e informada às mães e a concorrência deve ser estimulada.
Com medo de que o marido desmaiasse na hora do parto e perdesse as fotos, Patrícia, mãe de Estela, de um ano e três meses, pagou R$ 1.000 a um fotógrafo indicado pelo São Luiz.
"Se eu levasse um fotógrafo próprio, só deixariam fazer as imagens do berçário do lado de fora, pela vidraça. Mas o fotógrafo deles entrou e tirou fotos do primeiro banho. Aceitei e fiquei rendida. Naquele momento tinha outras prioridades, já estava numa fase de muito cansaço", diz Patrícia.
As maternidades também oferecem extensões do teste do pezinho, cuja detecção básica de cinco doenças, por lei, é gratuita. Para o exame de mais cinco são cobrados R$ 118 e, para 41 deficiências, R$ 428.
Gratuitas na rede pública e que devem ser aplicadas nos primeiros dias de vida, as vacinas como BCG e contra a hepatite B são cobradas em alguns hospitais, R$ 95 a dose de cada uma, como no São Luiz, e gratuitas em outras, como no Santa Catarina.
Considerado inócuo por hematologistas e geneticistas, o congelamento do sangue do cordão umbilical, rico em células-tronco, é vendido a R$ 3.500 mais R$ 570 de manutenção anual como promessa de cura de doenças.
Colaborou EDUARDO GERAQUE
25 de abril de 2010
Trilha sonora para bem nascer
Quando preparava meu plano de parto, perguntava-me se desejaria uma música especial para a chegada do meu guri. E de tanto pensar no assunto, cheguei à conclusão de que jamais conseguiria selecionar uma música só para um momento tão pleno de significado.
Meu pequeno veio ao mundo num quarto em silêncio, em que tudo o que eu conseguia ouvir era a minha própria respiração. Uns momentos antes de ele coroar, pude ainda correr os olhos ao meu redor, e notei então a lotação da sala de parto. Além de mim, do meu então marido, da doula e da equipe médica, havia ainda algumas enfermeiras que eu não vira até então. Concentradas num canto, elas tinham os olhos arregalados e, em silêncio, quase segurando a respiração, apertavam-se umas contra as outras, como torcida de futebol a observar a jogada que em segundos levará ao gol.
O grito de gol não veio, mas apenas um gemido - meu - e depois outro gemido - do meu filho, que já estava nos meus braços. Segurei-o na frente do meu rosto, observei seus traços, e então ele começou a chorar!
Eu mesma não chorei, e essa foi uma das sensações mais singulares da minha vida. Era tanta emoção que eu não conseguia chorar.
Dias mais tarde, enquanto olhava as fotos que a doula tirara do parto e enquanto pensava em como me senti pequena e ao mesmo tempo poderosa ao acolher meu guri pela primeira vez, ao acaso veio-me uma música na cabeça.
E essa música, sem dúvida, foi a trilha sonora do meu parto, ou melhor, do parto do Murilo, mesmo que ela só tenha tocado na minha cabeça.
Meu pequeno veio ao mundo num quarto em silêncio, em que tudo o que eu conseguia ouvir era a minha própria respiração. Uns momentos antes de ele coroar, pude ainda correr os olhos ao meu redor, e notei então a lotação da sala de parto. Além de mim, do meu então marido, da doula e da equipe médica, havia ainda algumas enfermeiras que eu não vira até então. Concentradas num canto, elas tinham os olhos arregalados e, em silêncio, quase segurando a respiração, apertavam-se umas contra as outras, como torcida de futebol a observar a jogada que em segundos levará ao gol.
O grito de gol não veio, mas apenas um gemido - meu - e depois outro gemido - do meu filho, que já estava nos meus braços. Segurei-o na frente do meu rosto, observei seus traços, e então ele começou a chorar!
Eu mesma não chorei, e essa foi uma das sensações mais singulares da minha vida. Era tanta emoção que eu não conseguia chorar.
Dias mais tarde, enquanto olhava as fotos que a doula tirara do parto e enquanto pensava em como me senti pequena e ao mesmo tempo poderosa ao acolher meu guri pela primeira vez, ao acaso veio-me uma música na cabeça.
E essa música, sem dúvida, foi a trilha sonora do meu parto, ou melhor, do parto do Murilo, mesmo que ela só tenha tocado na minha cabeça.
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