Se você está grávida e mora na Região do ABC, quais são suas chances de ter um parto normal? De acordo com dados do Sinasc (sistema de informações sobre nascidos vivos do Ministério da Saúde), entre todas as mulheres que residem no ABC e que tiveram bebê em 2018, a taxa de cesariana foi superior a 60% em todos os meses. Essa porcentagem inclui as mulheres que, mesmo morando no ABC, deslocaram-se para maternidades de outras localidades, por exemplo, São Paulo. Veja no gráfico!
Em 2017, entre as principais maternidades do ABC paulista, apenas seis tiveram taxas de cesariana inferiores a 50%, e apenas três registraram menos de 40% de nascimentos por via cirúrgica. Das quase 32 mil mulheres que deram à luz em nossa região naquele ano, quantas tiveram a real oportunidade de experimentar o início espontâneo do trabalho de parto? Quantas puderam dar à luz em um estabelecimento de saúde com equipe empática e respeitosa, com assistência baseada em evidências? Mesmo considerando riscos obstétricos e fatores de saúde individuais das mulheres, não há nada na literatura científica internacional que justifique esse panorama que encontramos na nossa região. Além disso, se pensarmos um pouquinho mais, veremos que os hospitais privados ou de convênios médicos registraram as taxas mais elevadas de cesarianas - muito embora o consenso científico internacional indique que o nascimento cirúrgico deva ser reservado a casos selecionados, estritamente necessários, pois acarretam em maiores riscos para a saúde de mães e bebês, tanto de imediato quanto no longo prazo.
A cesariana é uma excelente tecnologia - mas deve ser empregada com critério, para que seus benefícios superem os seus riscos.