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6 de maio de 2013

Nascimento da Ester


Por Elis Almeida

Como a maioria sabe engravidei sem planejar qndo meu bebe (Pedro) estava com 4 meses, ai veio a linda Ester que eu queria muito para daqui uns dois anos.Rs.

5 de setembro de 2012

Trocar experiências e tocar corações

Quando estava grávida, um dos meus passatempos margarina favoritos era ler relato de parto. Passatempo margarina porque com os relatos eu sentia a vida mais linda, mais luminosa, mais brilhante, mais ensolarada, como comercial de margarina. E também porque eu me derretia toda, chorava às bicas sem me preocupar com as pessoas que me observavam.

As mulheres e os homens em especial deveriam ser bastante incentivados a buscar e a ler relatos de parto. Por meio desses textos tão emotivos e tão pessoais é possível entender, logo de cara, que o parto é um evento único. Não há um parto sequer que seja igual a outro. Nem gêmeos têm parto iguais - vale lembrar que da mãe só sai uma criança de cada vez...

A particularidade de cada nascimento e as experiências vividas por outras famílias, sejam boas sejam ruins, permitem que enxerguemos com mais clareza o que é da natureza humana e o que advém dos rituais criados por sua cultura. Em outras palavras, por meio desses relatos podemos vislumbrar o que faz parte da fisiologia do parto e o que faz parte da rotina da assistência conforme a conhecemos hoje.

Pequenos detalhes contados cuidadosamente por mulheres que muitas vezes sequer conhecemos são capazes de tocar lá no fundo e fazer uma luz acender. "Puxa, eu quero isso!", pensava às vezes. Ou então, me lembrava de avisar minha mãe de que talvez passasse mais de um dia sentindo contrações ritmadas, "com uma amiga foi assim, e pode ser assim comigo também" - um jeito meio enviesado de tranquilizar a mim mesma diante da possibilidade de 30 ou mesmo 40 horas de trabalho de parto.

Também me recordo de ter avisado meu então companheiro: "olha, se eu xingar você, não fica magoado! algumas mulheres fazem isso". E ainda: "pode ser que eu fique brava, mas não é nada pessoal" e mais: "não se assuste com os gritos, eles fazem parte do processo e ainda ajudam a relaxar" e muito, muito, muito mais.

Esas narrativas têm, igualmente, valor inestimável para quem as produz - uma vez que constituem uma parte da história familiar de cada um. Muitas vezes, têm inclusive valor terapêutico: ao relatar o nascimento de um filho, a mulher (ou o casal) tem a oportunidade de ressignifcar a experiência do parto.


Aliás... Li pouquíssimos relatos de parto escritos por homens, o que me entristece um pouco. Ainda que o parto seja um evento feminino, oras, onde estão os homens que valorosamente acompanham suas mulheres nessa jornada? Gostaria muito que eles também compartilhassem sua experiência - com outros homens e com outras mulheres.

Leia alguns relatos de parto aqui no nosso blog, no livro Parto com Amor, o meu relato no meu livro Lembranças Fecundas ou mesmo na imensa Internet!

18 de junho de 2012

Marcha do Parto em Casa - Clipping rápido

Na TV, nos portais de notícias, nas redes sociais, nos blogs: a Marcha do Parto em Casa ganhou visibilidade em diversas mídias no país!

Eu e todas as 2.500 pessoas que lá estavam adoramos fazer parte de mais essa manifestação em defesa aos direitos da mulher na assistência ao parto. Queremos respeito!

A marcha começou assim, com a galera parando a Paulista!

E se estendeu até o Cremesp, perto da Igreja da Consolação. A caminhada não foi longa, mas suficiente para que um mar de gente bacana tomasse conta de uma faixa da Paulista e da Consolação, duas avenidas superimportantes da cidade. Porque o assunto é superimportante também!

E agora vamos a algumas das repercussões:

Fantástico: http://tinyurl.com/7uz9yjq

Álbum de fotos do uol: http://noticias.uol.com.br/saude/album/2012/06/17/marcha-do-parto-em-casa.htm#fotoNav=1

G1: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2012/06/mulheres-fazem-protesto-pelo-direito-de-fazer-o-parto-em-casa.html

Bom Dia São Paulo: http://globotv.globo.com/rede-globo/bom-dia-sao-paulo/v/passeata-reune-pessoas-que-lutam-pelo-direito-do-parto-em-casa-na-avenida-paulista/1998043/

Estadão: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,manifestantes-vao-as-ruas-defender-medico-que-apoia-parto-em-casa--,887719,0.htm

Folha: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/49548-maes-marcham-na-paulista-em-defesa-do-parto-em-casa.shtml

Folha (nota): http://www1.folha.uol.com.br/fsp/corrida/49466-5-minutos.shtml

Band News: http://bandnewstv.band.com.br/noticias/conteudo.asp?ID=600579&tc=brcsil-em-pcssectcs-mulheres-cobrcm-o-direito-de-fczer-o-pcrto-em-ccsc

Reportagem fotográfica de Cleber Masao: http://www.clicksbyclebermassao.com/2012/06/marcha-do-parto-em-casa-av-paulista-sao.html#more

Agência Brasil: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-06-17/manifestantes-defendem-em-sao-paulo-parto-natural-e-criticam-elevado-numero-de-cesarianas

Diário Online do Pará: http://www.diarioonline.com.br/noticia-206191-em-busca-da-humanizacao-parto-em-casa-vira-opcao.html

Diário Online do Pará: http://www.diarioonline.com.br/noticia-206319-ato-sensibiliza-para-parto-humanizado.html

Jornal do Commercio de Recife: http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/geral/noticia/2012/06/17/recifenses-em-manifestacao-pelo-parto-em-casa-45906.php

Diário de Pernambuco: http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida-urbana/2012/06/17/interna_vidaurbana,379547/mulheres-lutam-pelo-direito-de-decidir-como-e-onde-parir.shtml


Folha de Pernambuco: http://www.folhape.com.br/cms/opencms/folhape/pt/edicaoimpressa/arquivos/2012/junho/18_06_2012/0028.html

Spresso SP: http://www.spressosp.com.br/2012/06/manifestacao-defende-o-direito-da-mulher-escolher-o-local-do-parto/

Terra: http://vilamulher.terra.com.br/elas-defendem-o-parto-em-casa-8-1-53-264.html

ISaúde: http://www.isaude.net/pt-BR/noticia/28606/saude-publica/marcha-do-parto-em-casa-reune-500-em-sp-jorge-kuhn-volta-a-ser-destaque

R7: http://noticias.r7.com/saude/noticias/mulheres-fazem-protesto-em-defesa-do-parto-normal-em-sao-jose-20120616.html 


E tá lá a Deborah pendurada na grade, colando a faixa "Pelo direito de escolha"!

8 de agosto de 2011

Relato do Parto da Elis - por Carol

Pra ser muito sincera, não sei nem por onde começar. Porque hoje, 12 dias depois de tudo ter acontecido, ainda sinto pulsar dentro de mim tudo o que aconteceu como se fosse hoje. Foi muito forte. Muito intenso. Muito especial. Muito lindo. Nem comecei a escrever e já to chorando aqui.

Quero apenas, antes de começar o relato em si, deixar claro que o que aconteceu no dia 13 de junho, pra mim, não caberia em apenas um relato de parto. Porque naquele dia eu não pari apenas a minha pequena. Eu ME pari. Pari a Carol que nem eu mesma conhecia. Nem eu tinha idéia da força que tinha dentro de mim. Apenas confiei. Mas não imaginava que seria tão intenso e forte como foi. E que eu teria a auto-confiança que tive.

De verdade, eu precisava escrever um livro pra contar exatamente tudo o que tenho vontade sobre meu parto. Porque, para eu chegar ali, naquele momento, passei por coisas importantes na minha vida, que precisavam ser contadas, para que, quem lesse o relato, entendesse exatamente o que ele significou para mim. Acredito que na vida nada é “uma coisa separada”. Tudo o que a gente faz tem relação com os acontecimentos seguintes, e anteriores. Por isso acho uma tarefa bem dificil fazer meu relato de parto em “poucas” palavras (que não serão poucas, mas como disse, por mim escreveria um livro rs), mas quero muito que essa historia seja contada, pelo menos para que tenham uma idéia. Porque foi mesmo muito especial e quero que outras mulheres saibam da força que todas temos, e muitas vezes nem sempre percebemos. E quem sabe, com o tempo, vou tecendo ainda mais essa historia? :)

Contextualizando...

Eu nunca fui daquelas pessoas que você olha e fala: nossa essa aqui vai ser médica. Ou, nossa, que grande jornalista ela vai se tornar! Desde pequena. Eu nunca tive uma “vocação” profissional muito clara. Na verdade acho que ninguém tem né, ninguem nasce sabendo nada. rs. São coisas que a gente constroi mesmo. Sempre gostei de varias coisas, me dei bem com varios tipos de pessoas, mas nunca disse: “eu vou ter tal profissão”. Mas, uma coisa eu tinha certeza, desde menina: eu queria ser mãe. Era a unica certeza que eu tinha na vida, desde sempre.

(pausa para um parenteses: neste momento Elis está do meu lado quietinha, com os olhinhos abertos, eu sei que ela não enxerga muito mas parece que tá com os olhos atentos rsrs, coisa mais linda rsrs - olha que mãe babona rsrs)

Por sempre querer ser mãe, sempre conversei com minha mãe sobre parto. Ela sempre me conta de como foi o parto dela. O meu e o de minha irmã foram partos normais. Minha mãe ficou cerca de 12 h em trabalho de parto nos dois casos. Com nossas conversas, eu sempre tive pra mim o parto normal como “normal”. rs. Não seria obvio?? ….

Bem, eis que uma amiga que de inicio era apenas uma professora da pós, grávida dois meses na minha frente, a senhorita Michelle Prazeres, rs - que acabou se tornando uma grande compa e confidente - me indicou um grupo de gestantes, um tal de Gama (clique aqui para ver o site)... eu ja ouvia falar desse grupo por uma outra amiga, que nunca participou do grupo em si mas teve o parto em casa, da filha dela de 5 anos, em Minas.

No inicio da gestação não consegui ir ao grupo, estava de mudança para o ABC. Somos de Santos, Baixada Santista, e meu marido acabara de conseguir um emprego melhor no ABC. Até nos ajeitarmos demorou um pouco, foi um pouco conturbado (imagino que como todo inicio de gestação, principalmente do primeiro filho), mas logo que as coisas se acalmaram fui conhecer o grupo. Ja havia lido algumas coisas e fiquei bem animada, pensava mais em encontrar mulheres que como eu estavam passando por momentos dificeis, a cabeça fica mesmo meio confusa, e eu, longe dos amigos, queria encontrar gente que pudesse trocar experiências e me sentir mais segura.

Outro adendo: A quantidade de asneira que mulher gravida ouve é impressionante, e eu fui meio ingenua, sei lá, no inicio me assustei com várias coisas que ouvia. E o pior é que acreditava. As pessoas acham que barriga de grávida é domínio público e saem falando muita merda. Desculpem a palavra mas é isso mesmo. rs... nunca mais vou me esquecer do que minha amiga Jamila Maia que conheci no Gama me disse: “a primeira coisa a comprar quando a gente se descobre grávida é um par de tampões de ouvidos.” rs... com o tempo aprendi. Aprendi no Gama, mesmo. rs

Pois bem, quando cheguei no Gama, com meu marido Jeff, me deparei muito mais do que com um simples grupo de gestantes. Me deparei com mulheres fortes. Guerreiras. Sábias. Já no primeiro momento, me senti mais confiante. Mas, o que eu não sabia, é do panorama de cesáreas no Brasil. Não sabia que era tão estrondoso o numero de mulheres que sofrem cesáreas desnecessárias. Para mim que tinha o parto normal como “normal”, foi realmente um choque. Ali descobri que não bastava eu querer que fosse parto normal e pronto. Eu precisava lutar por isso. E lutar muito. Pois no Brasil, a cesárea é a regra e o parto normal, excessão. Pensava comigo: tá tudo de ponta cabeça mesmo! Fiquei mesmo assustada.

Foi então que passei a procurar um grupo como o Gama no ABC. Procurei na internet e achei um blog muito legal, o maternamente.blogspot.com, e através dele conheci a Déborah Delage, que coordena os encontros no ABC, e passamos a nos conhecer melhor. Ela passou a me apoiar e me ajudar nas minhas escolhas. Foi essencial te-la ao meu lado, desde o inicio. E com ela conversei muito sobre o que falamos no Gama, sobre a taxa de cesáreas no Brasil, sobre o direito de as mulheres terem seus partos de forma humanizada, sobre a falta de informação.

O sentimento que dá de inicio e que sinto até hoje é raiva. Muita raiva. Raiva de as mulheres não terem o direito de escolha. Conversei com várias mulheres. Descobri que a grande maioria delas tinham feito cesárea desnecessária, e muitas delas não queriam que fosse, mas talvez tenha faltado informação, esse tipo de informação que a gente teve acesso no grupo. Ainda é algo que penso até hoje. Descobri que é algo cultural. Quando eu falava para muitas delas que queria parto normal, era chamada de corajosa. E comecei a me espantar de verdade.

Até que tive a maior prova do que realmente acontece. Comentei com meu médico da UBS que eu e Jeff haviamos nos decidido por ter nosso bebê na Casa de Parto de Sapopemba (CPS)e recebi uma resposta assim: - Mas você não precisa disso! No hospital você terá muito mais recursos. E tem uma UTI do lado caso aconteça alguma coisa.

Fiquei com tanta raiva. Mas tanta. Pensei: eu não preciso do que? de um médico como esse, certo?? Um cara que nem sequer quis conversar sobre o assunto. Já veio falando que não era bom. E onde está o meu direito de escolha?? Fico pensando nas mulheres que não sabem que têm que lutar por isso e se deixam levar pelo que o médico fala. Na minha situação eu fiquei tranquila, pois sabia o que estava fazendo porque tive acesso às informações. Mas nem todas as mulheres têm. Elas acabam achando que precisam falam AMÉM para o que o médico falou. E acabam se tornando vítimas de uma cesárea, mesmo não querendo e não precisando. Essa é uma discussão que vai longe e por mim ficaria aqui escrevendo tudo o que penso sobre isso, mas como aqui o objetivo é contar como Elis nasceu, então vou parar por aqui. rs. Mas só fico pensando o que eu teria perdido se tivesse feito uma cesárea a 12 dias atrás. Porque o que eu vivi devia ser um direito de todas as mulheres.

Com a CPS escolhida, com 37 semanas passamos a ir às consultas semanais. Estava tudo bem com meus exames e tudo indicava que seria um parto humanizado, como nós havíamos sonhado desde o inicio. Foi então que a Déborah me deu uma idéia muito legal. De, no dia do meu parto, ser acompanhada por uma parteira, a Mariane Menezes, ao meu lado, acompanhando o processo, e ir junto comigo para a CP. Mas a idéia era apenas acompanhar mesmo, para me deixar mais tranquila durante o processo. E isso me tranquilizou ainda mais. Estava tudo pronto para o grande dia.

Eu ainda não conhecia a Mari, e perguntei para a Débora se ela tinha email ou perfil no Facebook, ela me passou o nome e eu adicionei. No dia 12 a noite, mandei um recado para ela, dizendo que queria me encontrar com ela, para nos conhecermos melhor e tal, rs... iríamos nos encontrar naquela semana em algum lugar.

No dia seguinte, dia 13 (39 semanas), acordei e passei a mão na barriga, ainda na cama. Conversei com Elis e disse que estávamos loucos para conhece-la. Que estava tudo pronto e que ela podia vir na hora em que ela quisesse.

Ah, me lembrei agora, nesta mesma semana eu mandei e-mail para várias pessoas que estavam longe mas que eram muito especiais pra mim. Pedi para me mandarem energias positivas, para que ela viesse antes das 41 semanas, pois o meu maior medo era que passasse das 41 semanas e eu tivesse que me virar de outro jeito, afinal na Casa de Parto eles já deixaram avisado que a partir desta data eu não poderia ter meu bebê lá. E o medo de acabar tendo que fazer uma cesárea no hospital?? Me bateu um certo medo, me lembro que até comentei na lista do Gama, e algumas meninas me tranquilizaram (by the way, essa lista me ajudou DEMAIS durante toda a gestação e agora a uso para minhas duvidas de mamãe de primeira viagem rs). As palavras dos amigos, mesmo que pela internet, me ajudaram muito a sentir a atmosfera boa que eu sentia. Uma energia muito gostosa, de saber que muita gente que eu amo muito estava pensando em nós, sem pressões, sem desesperos. Apenas mandando coisas boas. Eu senti de verdade.

Me levantei para ir ao banheiro e senti que a cabeça dela (da bebê) estava mais baixa. Sentia ela no meu pubis. Achei engraçado porque eu acabara de conversar com ela, e a senti cada vez mais perto de mim. Mas não imaginava que estava tão perto assim. rs

TRABALHO DE PARTO E PARTO

Durante a gestação eu li muuuuuitos relatos de parto e todos eles mostravam 10, 15, 20h de trabalho de parto. Como disse, minha mãe ficou 12h. Então para mim estava meio que certo que pelo menos umas 10h eu ficaria em TP. Nas semanas anteriores, eu e Jeff lemos os relatos juntos, vimos videos de partos, lemos um livro que mostrava as posições legais para o pai ficar junto da mãe no momento (abraçando, fazendo massagem, etc). Ele sempre me dando muito apoio, participando comigo dos grupos, das discussões, super envolvido mesmo. Isso fez toda diferença sem sombra de dúvidas. Estávamos juntos nessa, para o que aparecesse. Queríamos que a nossa filha viesse da forma mais humanizada possível, e com a participação dele. Me lembro que fomos a uma reunião do Gama onde foram dois casais que tiveram bebê em casa, e o mais legal foi ver o relato dos pais (homens). Fora que ver o vídeo do parto em casa emociona demais, e isso vimos bastante lá no Gama e em casa. Eu sabia que ia doer, mas estava tão fascinada pela forma tão natural de uma criança chegar ao mundo, que não pensava na dor. É uma dor necessária para que um nascimento aconteça, e não uma dor de sofrimento. Aliás foi só nessa fase da minha vida que consegui separar dor de sofrimento. Eu já mentalizava a gravidez inteira que nem sempre a dor significa sofrimento. Quer coisa mais linda do que uma dor que trará uma criança ao mundo??? e de fato foi o que aconteceu. :)

Senti essas dores no pubis, era mais ou menos 8:30h e avisei a Débora. Não era uma dor imensa, era apenas uma pressão mesmo. Como se ela tivesse “encaixado” ainda mais. Mas, até o momento era apenas isso e eu não tinha com o que me preocupar.

Tomou conta de mim um sentimento gostoso. Tipo uma felicidade inexplicável. Me lembro disso. Tanto que eu estava na frente do computador, levantei e coloquei uma música no som da sala, e comecei a cantarolar. Estava feliz. Acho que pressenti que ela estava mesmo chegando. Pensei: será hoje que conhecerei esse serzinho que está aqui dentro a tanto tempo? Senti ela muito perto de mim. Um sentimento que tomou conta de mim. Meio inexplicável. ALiás tudo o que to escrevendo aqui pra mim é muito dificil de explicar e de verdade não sei se to conseguindo passar direito o que quero. rs, porque tá tudo muito latente e intenso ainda dentro de mim.

Cerca de uma hora depois voltei ao banheiro e notei um borrão. Tipo borra de café. E fui avisando a Débora. Liguei também na Casa de Parto, e não havia mesmo motivo para grande alerta, apenas continuar observando. Não sentia nenhuma dor.

Dali um tempo olhei novamente e notei que havia outra mancha. Era sangue mas não sangue vivo, era tipo um sangue gelatinoso, meio marrom também. Foi engraçado, levei um susto tremendo, como se fosse a primeira menstruação. rs. Me lembrei da minha primeira menstruação neste momento, levei o mesmo susto na época. Eu tinha 10 anos e sabia o que aquilo significava, pois minha mãe sempre falou disso comigo. A partir daquele momento, meu corpo estava se preparando para que eu fosse mãe. Que louco me lembrar disso neste momento, pensei. rs

Avisei a Dé e ela me disse que poderia ser o tampão que havia começado a sair. Mas sempre muito tranquila e me tranquilizando. Eu havia lido nos relatos que quando o tampão sai, é sinal de que está realmente perto. E aí me bateu uma felicidade ainda maior :)

Comecei a sentir uma pequena colica, tipo colica menstrual. A quanto tempo eu não sentia isso. rs. Já era em torno de umas 12:00. Pensei comigo: vou comer direito porque não sei o que me espera. As dores não estavam grandes e por isso desci e fui no restaurante comprar uma marmita reforçada rs... foi a melhor coisa que eu fiz, pois ia mesmo precisar de muita energia naquela tarde. Quando voltei, liguei para o Jeff, que estava trabalhando e disse a ele que a Elis estava querendo chegar. Ele sempre me passando tranquilidade, e realmente tranquilo, disse que tentaria terminar logo e chegar mais cedo. A Dé havia me dado a dica de avisar ele para trazer comidas que eu gosto, e para ele vir antes para ficar comigo. As dores começavam a aumentar, agora cada vez mais. Já não era apenas uma dor de cólica menstrual. Era essa dor bem aumentada. E vinha mesmo em ondas, eram mesmo as contrações (!!!!).

Entrei no famoso site contractionmaster.com, que li nos relatos das meninas, rs, e fui marcando quando vinham as contrações. Elas duravam cerca de 20 segundos e apareciam de 4 em 4 minutos... 4 em 4???? ups!!!!! Me lembrei que na CP haviam me dito para ir para lá quando elas estivessem de 5 em 5 minutos durante 2 horas!! Só que eu havia começado a sentir fazia menos de uma hora, então achei que ainda demoraria e que daria tempo de ir para a CP. Haviam me dito também que as contrações duravam cerca de 40 segundos, e isso também me fez pensar que ainda faltava muito. Eu precisava avisar meu pai caso estivesse na hora, pois ele me levaria, estava tudo certo, estudamos o caminho, ele me levou nas consultas. Só que a minha preocupação era avisar ele cedo demais, e ele ficar muito ansioso, e eu sabia que a ansiedade dele (completamente normal, lógico!!) talvez me deixasse também ansiosa, então queria avisa-lo na hora certa. Mas como saber a hora certa?? rs

A esta altura, acho que a Dé ja estava pressentindo que a coisa estava mais rapida do que o normal... eu, barriguda de primeira viagem, nunca ia imaginar que estava muito mais perto do que eu imaginava. Mas o ponto chave foi a tranquilidade que ela me passou em todos os momentos, e sabia que tinha pessoas ao meu lado, e isso fez toda a diferença. Ela me ligou e disse que a Mari estava a caminho, que ia chegar antes dela, para ficar comigo.

O Jeff chegou e eu já começara a gemer de dor... era cerca de 15:00. As contrações agora vinham de 3 em 3 minutos e duravam cerca de 30 segundos. Eu deitei na nossa cama, pensei em um lugar que me sentisse a vontade, ou uma posição mais confortável. Queria ficar de cócoras, agachada, mas estava com o joelho todo ferrado pois uma semana antes havia me machucado... então fiquei na cama mesmo. Ele veio ficar ao meu lado e fazia massagem nas minhas costas, na lombar, que é onde doi muito. Em um outro momento me senti melhor em pé, encostada nele. Na hora em que vinham as contrações eu o abraçava.

Então resolvi ir para o chuveiro. Pensei: me sentirei melhor. Água me faz bem. Entrei no box e primeiro coloquei um banquinho pra ver se me sentia melhor sentada ali. Aí vi que o que eu queria mesmo era sentar no chão. O Jeff ficou preocupado de estar muito sujo, mas na hora nem pensei em nada, só pensei que queria ficar no chão. Pois ali sentei, e fiquei deixando a agua quente bater no rosto e na barriga. As contrações vinham, cada vez mais fortes e eu deixava meu corpo falar. Tinha vontade de gritar e gritava, de gemer e gemia, deixei meu corpo dizer o que ele queria e fui fazendo o que dava vontade. O Jeff vinha e voltava, entrava no banheiro para saber se tava tudo bem, e depois de meia hora eu saí. Foi quando o interfone tocou, era a Mari. 16h. Enquanto ela subia eu coloquei uma camiseta e voltei pra cama. A essas horas minhas dores estavam já bem fortes. Mari chegou, eu nunca tinha visto ela na vida, mas mesmo assim fiquei tranquila por ela estar ali. Já na primeira contração ela pegou na minha mão bem forte. Isso fez muita diferença, mesmo sendo um gesto tão simples. E quando paravam as contrações, ela ouvia os batimentos do bebê com um aparelho que não me lembro o nome. rs (é, na hora não me interessou o nome, mas hoje me pergunto rsrs), eu me lembro que perguntei se estava tudo bem e ela me disse quem sim.

(Os horarios Jeff está me ajudando a dizer, porque na hora claro que nem passava pela minha cabeça saber hahahahah).

Mari mediu a dilatação: 5 cm já! Estava tudo acontecendo muito rápido. Muito mais rápido do que normalmente é. Conforme as dores vinham eu focava no pensamento de que eu tinha que passar por aquelas ondas para chegar até a minha filha. Eram ondas que doíam muito, mas que ao final me trariam um presente. Então aguentava firme.

Depois de um certo tempo, senti vontade de fazer o “numero 2”. De tantos relatos que li, sabia também que ao chegar nesse ponto o grau de dilatação está avançado. Olhamos o horario e já eram quase 17h, hora de rush, meu maior medo. Meu medo por ter escolhido a Casa de Parto era justamente que fosse na hora do rush, pois sem transito levavamos cerca de 40 minutos, mas com transito, podia chegar até 2h. Aí sim me bateu um desespero. Não sei se posso considerar este um momento “partolandia” rs, mas me lembro que conforme as contrações mais fortes vinham eu gritava: EU NÃO QUERO IR PRO HOSPITAL! EU NÃO QUERO IR PRO HOSPITAL! Pois eu sabia o que ia acontecer se eu fosse. Pesquisei, conversei com pessoas do hospital que eu iria se precisasse, o mais proximo, durante a gravidez, e fiquei ciente dos procedimentos deles. Nada humanizados. (deixando claro aqui que existem alguns, poucos, bem poucos, médicos e hospitais humanizados, mas existem... mas isso precisa ser MUITO pesquisado e até é bom pedir ajuda a quem entende pra ver se é mesmo!!)

Me bateu um desespero de verdade nesta hora. Foi quando perguntei para a Mari se ela faria meu parto aqui mesmo, em casa (até que eu tava bem ciente das coisas mesmo em TP avançado kkkkkkkkkkkkkk), e ela me disse que sim. Eu pensei: Se eu saisse de casa naquele momento, teria meu bebe em qualquer lugar, no carro, na ambulancia, onde fosse, menos em um lugar seguro, porque eu ja tava sentindo que Elis estava bem perto. E entre todos esses, nada melhor do que minha casa.

Bem... na proxima contração veio mais forte a vontade de “numero 2” e eu quis ir ao banheiro tentar ver se saía alguma coisa. Sentei no vaso e percebi que, ao sentar, fiquei numa posição mais confortável para parir. Acho que até comentei na hora, aqueles banquinhos de parto devem ser bem úteis. Parece que quando sentei a bebê ficou numa posição melhor para sair. As contrações vinham e eu começava a gritar bem alto. Já sentia que ela ia sair em pouco tempo e avisei a Mari. Mari mediu minha dilatação, não me lembro se era 8 ou 9, mas tava muito, muito adiantado. Devia ser ja umas 17:10. Me lembro que eu conversei com Elis e falei pra ela me ajudar. Queria acabar logo com aquilo.

Mari me lembrou que ali no vaso não seria um bom lugar para a bebê sair, por motivos obvios rsrs... então eu escolhi o quarto da Elis para ficarmos. Pedi para o Jeff ficar atras de mim, ele sentou em um banquinho, encostado na parede, e colocou meu colchonete da Yoga no chão (eu quis ficar no chão, denovo), e ali eu sentei entre uma contração e outra.

Foi então que veio mais uma contração e eu fiz bastante força. E então senti Elis saindo. A bolsa estourou e ela saiu de uma vez. Em uma contração só.

Nesta hora não sei o que acontecia racionalmente, só sei que Mari colocou ela no meu braço e eu comecei a chorar. Era muito sangue pelo chão. MUITO mesmo. Mas era a cena mais linda que eu poderia ter vivido na minha vida (to chorando muito agora). Minha filha ali, com o cabelinho cheio de liquido amniotico, no meu colo. Ela nem chorou. Ficou ali quietinha. Estava otima, muito tranquila. Eu olhava pra ela e não acreditava. Senti um misto de alívio, felicidade, missão cumprida. sei la. Até agora não sei o que senti. É muita coisa junta. Só sei que o quarto se encheu com um perfume muito forte, era o perfume dela, que ela ainda tem até hoje. Elis havia chego. Olhei para o Jeff e choravamos juntos. Mari lembrou de olhar no relogio pra ver o horario do nascimento, pegou o celular no bolso e falou: 17:22. Eu ja não sentia mais nenhuma dor. Assim que a bebê saiu, minhas dores todas se foram. Eu havia passado pelas ondas e chegado até minha filha. Estavamos juntos, eu, Jeff e Elis, finalmente.

Elis ficou no meu colo pois o cordão ainda não fora cortado. Queríamos também esperar o cordão parar de pulsar para cortarmos. Detalhe muito doido: não tínhamos como cortar o cordão rs...

Uma coisa que quero deixar bem clara aqui, é que meu parto foi, como define Ana Cris do Gama, um “parto tsunamico”... foi MUITO MAIS RÁPIDO do que imaginávamos e do que normalmente é.

Fiquei sabendo depois que Jeff havia ligado para o meu pai vir, acho que ele pensou por um instante que daria tempo de ir à casa de parto. Então meu pai chegou. Eu ainda estava na posição de parir, esperando cortar o cordão. Meu pai olhou e não sabia se ria ou se chorava. Começou a chorar de emoção. Eu ali no chão com minha filha no colo, e o Jeff atras de mim. Depois de tudo tambem me dei conta de que a Dé não tinha conseguido chegar a tempo, tinha muito transito, e a Mari ligou pra ela e disse: fazem 20 minutos que uma criança nasceu. Imagino como ela deve ter ficado rsrs... Depois me dei conta de que elas se falaram o tempo todo no meu trabalho de parto pelo telefone rsrs, na hora nem me liguei, só quando recobrei a consciencia é que fui saber dos detalhes rs

Bem... meu pai mais ou menos recobrado do susto, desceu na farmácia (que é logo bem baixo do prédio rs) e comprou o que a Mari pediu: fio dental e tesoura. rs. Ele contou que precisou contar na farmácia o que tava acontecendo para passar na fila, na frente, pois a fila estava grande. rs

E eu preocupada com a ansiedade dele... rs. Ele foi sensacional.

Ele voltou e então a Mari cortou o cordão, amarrou o fio dental primeiro e cortou com a tesoura (Mari e Jeff me corrijam se eu estiver errada, tem muito detalhe que ainda não me lembro rs). Só sei que assim que ela cortou, passei Elis para o Jeff segura-la. Ele a pegou no colo emocionado.

Essa tesoura está guardada e eu mostrarei a Elis quando ela crescer. Manchada de sangue do cordão umbilical dela.

Não me lembro se a placenta saiu antes ou depois de cortar o cordão, sei que precisei fazer uma pequena força para ela sair. É um negocio gosmento rsrs, mas muito bonito de pensar que foi o que nutriu minha filha por 9 meses. Guardamos em um pote tipo batedeira de bolo ahuahuahhau (que roots!! - como diz o Jeff - kkkkkkkkkkkkkkkkk), para levarmos para a Casa de Parto.

Resolvemos então que iríamos para a Casa de Parto para fazer os procedimentos de nascimento e tal, e assim fizemos. Mas antes disso, dei de mamar pela primeira vez à pequena. Sentei na cama, em cima do absorvente que a Dé trouxe, e pela primeira vez senti minha filha mamando, e o mais doido é que ela sabia exatamente o que fazer. Parecia que mamava a muito tempo. A natureza é mesmo impressionante. Só sei disso. Como disse para as meninas depois, Dé e Mari, a força da natureza é muito forte. Quando o homem acha que manda em alguma coisa, vem ela e dá um baile. Quem pode com essa força?? Enquanto o homem achar que pode mandar na natureza, o mundo vai continuar sendo essa sujeira. Opinião minha. Porque a natureza é muito sábia. Vi isso também pela amamentação. Eu não tinha nada de leite antes de Elis nascer. Foi ela nascer, que meus seios se prepararam e o leite começou a sair MUITO! Não foi nem muito antes nem muito depois do parto, foi na hora certa. Quem manda na natureza, mesmo??

Depois que Elis mamou, eu levantei (ahh me lembrei que tentei me levantar antes mas fiquei um pouco tonta... as meninas me trouxeram um suco e eu tentei denovo e não me senti mal), e fui tomar um banho. Esqueci de contar que o vovô trocou Elis pela primeira vez, e ficou com ela enquanto eu tomava banho. Meu pai me contou que avisou minha mãe e que ela havia ficado muito surpresa, e ela foi nos encontrar direto na Casa de Parto, pois ela estava em uma reunião fora de SÃO Bernardo rsrs, imagina o susto que ela não deve ter levado quando saiu da reunião e ficou sabendo que a neta havia nascido rs - ah esqueci de avisar que eu cheguei a ligar para minha mae quando ainda não sentia as contrações, apenas as colicas, mas achava que vararia a noite em trabalho de parto nesta hora. Aliás Mari e Dé também achavam que passariam a noite aqui em casa rsrs, ninguem imaginava que em menos de 5 horas a pequena ja haveria chego ao mundo. rs

Por falar em minha mãe, nunca vou me esquecer do abraço que nos demos quando cheguei na casa de parto. Estava emocionada demais. Assim que a vi, abracei-a e chorei muito. Como se falasse: ela está aqui, mãe. Ela chegou. Ela também chorou. Me disse palavras lindas que nunca mais vou esquecer.

O apoio dos meus pais em todos esses momentos foi também essencial para que acontecesse como aconteceu. Desde o inicio eles estiveram ao meu lado em nossa escolha. Pois não queríamos apenas um parto normal, queriamos um parto humanizado, o que seria possivel apenas em casa ou na casa de parto, e nunca em um hospital. E eu sei que muitas mulheres passam por grandes problemas neste sentido, porque não basta voce resolver que quer ter um parto humanizado, muitas vezes a mulher tem que convencer o marido e os pais de que este é o melhor caminho, e nem sempre isso é fácil. Conheci no Gama mulheres que sofrem muito por seus maridos não entenderem porque querem um parto natural. Por isso mesmo, muitas delas nem contam para a família, pois sabem que realmente elas podem não entender e tornar as coisas ainda mais dificeis. No meu caso eu sabia que meus pais entenderiam, mas nem todos são assim. Tenho consciencia de que estava tudo ao meu favor.

Só o que tenho a dizer disso tudo, é que só consegui toda essa força porque estava ao lado de mulheres que me deram força. Coincidentemente, antes de ir ao Gama pela primeira vez, li um livro chamado “A Ciranda das Mulheres Sábias”, da Clarissa Pinkola Estes, indicado pela minha Mulher Sábia mãe, é um livro pequeno mas muito especial. Acho que toda mulher deveria ler este livro. É um resgate da força da mulher. Até em meu blog, antes de ler o livro, escrevi como me sentia grávida, e neste texto me comparei com uma árvore e sua força interior. E coincidentemente, dias depois, comecei a ler este livro, que fazia exatamente esta comparação. O livro fala de apoio e união de mulheres sábias, que torna outras mulheres sábias, e assim a força passa de uma para outra. Pois para mim, o que levo disso tudo são as mulheres que estiveram ao meu lado direta ou indiretamente até o dia do nascimento da minha filha. Meninas e casais do Gama, minha mãe, amigas, Débora e Mari. Dando força. Trocando experiências sábias.

Quem teve a maior força de todas se chama Elis Robortella Santos Valente. Nascida em 13 de junho de 2011 às 17:22, com 3.365kg e 49cm, em parto domiciliar, em São Bernardo do Campo, SP, com a ajuda da querida parteira-anjo Mariane Menezes e do pai participando ativamente. Elis. A menina-mulher sábia. Que me ajudou a traze-la ao mundo e juntou suas forças comigo. Estávamos juntas desde o inicio. E eu só tive forças porque senti a força dela.

Creio que daqui a algum tempo meu relato será diferente, talvez menos emotivo, talvez mais consciente. Mas precisava neste momento colocar os pensamentos no lugar. Na verdade, mais do que para outras mulheres, escrevi para mim mesma. Para que EU nunca me esqueça da força que tenho. E quero levar pra vida inteira.

Só um adendo, Jeff leu meu relato e disse que falta uma coisa muito importante rsrs

De contar que no final de tudo, depois de tomada banho e antes de ir para a Casa de Parto, bateu a fome, né? rs... pois então, meu pai havia comprado uma pizza... e eu depois de tomar meu banho, fui comer pizza de queijo!! uma hora após o parto... hahahhahahaha... ficamos juntos em volta da mesa eu, Jeff, a querida Dé e a Mari... Jeff me zoando pra variar, hahahah, fazendo caretas me imitando no momento da contração.... e todos rindo muito!!

Com certeza o dia mais surreal da minha vida, de um parto que foi muito mais especial do que eu poderia sequer imaginar!

E viva Elis!!!!!!!!!!!!!!!!!

***
Carolina Robortella Valente
mãe da Elis

23 de março de 2010

Relato de parto do Pedro - por Aline

Numa tarde chuvosa de segunda-feira, com uns 7 meses de gravidez, eu e o Davi, nosso filho de 2 anos, recebemos duas visitas queridas. Uma delas veio me ajudar a relembrar respiração e relaxamento para o trabalho de parto, a outra veio trazer um mosaico com o nome do Pedro. Tinha torta de banana com chocolate e um chazinho. Estava um clima muito gostoso, mas só me dei conta dele quando escutei: “que delícia aqui, tá... um cheiro de lar!”. Fiquei muito feliz e emocionada, porque eu sabia exatamente o que era isso, de tantas vezes ter sentido em casas de avós - em lares de avós.
Posso dizer que foi aí que eu me rendi ao parto domiciliar. Eu não percebi na hora, mas foi esse momento que me fez passar a desejar que o Pedro nascesse aqui em casa. Alguns dias depois, na consulta com a homeopata da família, que recomendava o parto domiciliar desde o início da gestação, se assim quiséssemos, perguntei muito e me pus a chorar. Estava convencida. Os próximos dias foram para ir revelando ao Rodrigo, meu amado esposo, que eu já tinha uma decisão, já tinha elegido um plano A dentre as várias opções que havíamos desenhado. Por amor ele me ouviu, por amor ele se abriu, por amor ele e eu continuamos avaliando os prós e contras. Até que a decisão passou a ser nossa.
Retomamos contato com a parteira que já havíamos conhecido há alguns meses e fizemos mais mil perguntas a nossa homeopata, que se dispôs a acompanhar o parto também. Ficamos ainda mais confortáveis com tudo. Preferimos não revelar nossas intenções à família, apenas minha mãe e meu pai souberam antes do dia D. Imaginávamos que as tensões e medos de todos poderiam interferir no conforto da decisão. Não sei se teria sido assim. Depois que o Pedro nasceu a idéia foi tão bem recebida, os familiares e amigos ficaram tão tocados, tão admirados e tão agradecidos! Mas desde o nascimento do Davi, parto normal hospitalar, achamos mais confortável evitar as pressões que acabam acontecendo perto da hora P.
O Pedro tem o nome do meu avô, uma homenagem. A data prevista para o parto era 4 de novembro e eu queria muito que ele nascesse no dia 5, data natalícia do meu outro avô. Mas pelas minhas contas as 40 semanas se completariam dia 7.
Estava combinado com meu GO que, se “nada acontecesse” até dia 4, eu deveria ligar para ele. Dia 4 fiz uma bela caminhada, dia 5 caminhei de manhã e só liguei para ele à tarde. Ele disse que eu fosse à maternidade para uma amnioscopia. Não gostei nada da idéia: já sabia que estava com dilatação de 3 para 4 dedos (porque minha parteira tinha verificado), talvez quisessem me segurar por lá. Além disso, não me convenci da necessidade desse exame. E foi a sorte, porque houve mecônio no nascimento, e se já houvesse no momento do exame, poderia apavorar a equipe e pôr em risco inclusive um parto normal. Não fui. Andei por mais uma hora no entardecer do dia 5. Nesses últimos dias, de vez em quando eu tinha umas contrações doloridinhas.
Dia 6, sexta-feira, amanheci decidida a conversar com meu GO. Liguei para ele e disse que não ficasse na expectativa da minha amnioscopia, porque eu não iria. Falei também que queria muito entrar em trabalho de parto em casa e que se tudo estivesse bem, poderia ficar por aqui mesmo e dar à luz em casa. Ele estava esperando assistir ao parto no hospital em conjunto com a parteira. Foi uma conversa muito boa, pude agradecer sua atenção e cuidado durante o pré-natal e antes de desligar perguntei se poderia passar no consultório na segunda-feira, caso nada acontecesse. Na verdade foi um telefonema libertador e acho que a partir daí as coisas engrenaram mesmo.
Fui ao parque com minha mãe e o Davi. Eles ficaram jogando bola e eu andando com o Pedro na barriga. Foi um momento inesquecível, delicioso, lindo. Quando pensava em parar, eu dava uma volta mais. Enquanto andava eu cantava baixinho:
“Espero por Ti / Sou sede de Ti / Ouve meu grito / Quero liberdade/ Quero meu pé na estada que me leva a Ti...” e
“A voz do anjo sussurrou no meu ouvido / E eu não duvido, já escuto teus sinais / Que tu virias num amanhã de domingo / Eu te anuncio nos sinos das catedrais / Tu vens, tu vens, eu já escuto teus sinais”.
Depois fiquei alongando, soltando o quadril, como minha parteira tinha me ensinado. Passamos a tarde na casa da minha mãe, brinquei muito com o Davi no quintal, com o barrigão de fora, agachando para aliviar as contrações. Uma delícia não ter nenhum problema em “exagerar”, “carregar peso”, etc: já estava na hora de nascer, mesmo...
Algumas contrações pareciam mais “definidas”, eu liguei para minha parteira umas duas ou três vezes, um pouco preocupada com o trânsito do horário de pico. Ela me disse que daria tempo e que eu não ficasse racionalizando, medindo as contrações, mas que deixasse meu corpo se entregar, que eu iria perceber a evolução mesmo sem cronometrar. Segui a risca essa sugestão. Estava um dia bem quente, no início da noite fui tomar banho, pensando “será o último banho grávida?”. Umas oito e pouco tive uma contração definida e senti uma umidade, não sei bem o que era. Estava meio alheia às conversas da família, na sala. O Rodrigo chegou para nos buscar. Eu tinha ido dirigindo, mas fui falando com ele à tarde por telefone e decidimos deixar o carro lá e pegar no dia seguinte (rsrs, o carro ficou lá por um bom tempo!).
Fui embora certa de que o Pedro nasceria naquela noite. O Davi dormiu no carro. Ao chegar em casa, separei umas fraldas, toalhas, e deixei em cima da mesa. Parecia tudo pronto. Na verdade, ainda tinha muita coisa para ser feita, mas é como se nada importasse, o essencial estava lá. Assisti um pouco de televisão, era tão estranho pensar que supostamente alguns instantes antes do parto tudo estava tão normal, sem cerimônia nenhuma... brinquedos no chão, roupas espalhadas, louça na cozinha (até que a casa estava arrumadinha, porque passamos o dia fora!). E por outro lado não havia escândalo nenhum nisso. É o fluxo da vida mesmo.
As contrações silenciaram. Fui deitar por volta das dez com uma sensação de “parou“. Liguei para minha mãe dizendo que dormisse tranqüila, porque pelo jeito não estava acontecendo mais nada. Fiquei deitada, mas não peguei no sono logo, fiquei rezando e adormeci mais de onze horas. Meia noite e vinte acordei com uma contraçãaaaao. Fui ao banheiro, voltei e deitei mais um pouquinho para descansar, mas não cairia no erro de ficar deitada como fiz durante o trabalho de parto do Davi (como era madrugada, minha intenção era dormir entre as contrações). Como mudei nesses dois anos! Como aprendi sobre gestação, parto, nascimento, e sobre mim!
Tentei ir para a sala, mas o resto da casa me parecia “impessoal”, quis ficar no quarto mesmo. Fui para a cozinha e comi alguma coisa, voltei para o quarto com a bola suíça. Fiquei sentada na bola rebolando, com o rosto apoiado na cama, numa almofadinha. Fui ao banheiro várias vezes.
Por volta da 1:30h. chamei o Rodrigo e decidimos ligar para a parteira. Ele foi buscar o telefone, eu mesma falei. Ela me perguntou a freqüência das contrações e eu disse “mas você me falou para não medir...”. Ela me orientou a ir para o chuveiro e eu perguntei se isso não relaxaria e faria as contrações pararem. Ela falou bem sério comigo perguntando o que eu queria. Em nenhum momento eu tive dúvidas de que ficaria em casa, na verdade para mim já estava acontecendo e assim continuaria, mas entendo esse questionamento dela como mais um convite a parar de racionalizar (se no chuveiro o processo parasse, era porque não era trabalho de parto, senão continuaria e pronto. Deixa fluir.). Nem registrei detalhes da conversa, porque as contrações estavam fortes. Quando vi que ela ia desligar, eu disse que durante o telefonema tinha tido três contrações (tempos depois, quando a conta de telefone chegou, vi que essa chamada teve 4 minutos e 20! E eu tive três contrações! Foi bom mesmo não ter medido).
Fui para o chuveiro. Muitas vezes, quando eu imaginava o trabalho de parto, pensava que seria bem humorado subir na balança imediatamente antes e imediatamente depois do parto. Mas naquela hora olhei para a balança e não tive humor nenhum para fazer isso, rsrs... Engraçado que pensei “daqui a pouco, quando a dor melhorar, eu subo”. Até parece...
Fiquei em pé com a água morna caindo nas minhas costas por um tempo. Foi bom porque aliviou o calor, mas logo comecei a ficar com frio. O Rodrigo fechou a janela do banheiro e começou a derreter... Resolvi ficar de quatro, rebolando, no chão da banheira, mas logo meus joelhos e cotovelos começaram a doer bastante por causa do meu peso. O Rodrigo foi buscar o tapete de EVA do Davi para eu me apoiar, mas não deu muito certo porque as partes começaram a boiar e ficar arrumando me irritava. Pedi umas toalhas de rosto e o Rodrigo me ajudou a colocá-las sob os braços e joelhos. Aliviou por pouco tempo, mas em alguns momentos essa dor era mais incômoda do que as próprias contrações. Lembrei que soltando a mandíbula a gente solta a pelve também e comecei a abrir e fechar a boca, emitindo um gemido como um /gzangzangzan/ mal articulado, especialmente durante as contrações.
“Daqui a pouco” escutei a voz da minha parteira, Vilma: “pra frente e pra trás” (minha tendência era sempre rebolar para os lados). Eu sorri, disse “oooi”. Perguntei as horas, eram 2:30h. Não acreditei que uma hora havia se passado, parecia muito menos! Perguntei se ela queria que eu avisasse sobre as contrações, e eu logo disse “acabou de acabar uma” e uns cinco segundos depois “não, só está acabando agora”, ela riu. Eu mesma não ia conseguir avisar e logo percebi que com a experiência dela ficava mais do que nítido quando começava e acabava a contração, então desisti. A Vilma perguntou se tínhamos ligado para a médica, então eu pedi que ela fizesse isso. Ao voltar ela não disse nada. Depois perguntou se eu queria verificar a dilatação. Eu aceitei. Tive que mudar de posição na banheira para me aproximar dela e percebi como estava difícil comandar meus movimentos. Sete centímetros! Que alegria! Fiquei muito satisfeita, comemorei com o Rodrigo, “uaaau!”, mas logo pensei “ai, e os outros três?!”.
Uma vez, conversamos sobre nossa vontade de que o Pedro nascesse na água. A Vilma fechou a tampinha da banheira para já ir enchendo, acho que ela viu que estava progredindo rápido. Fiquei mais um pouco ali, rebolando, movimentando a mandíbula, gemendo. A sensação térmica indefinida e variável estava muito incômoda. Por causa da dor nos apoios, fiquei em pé novamente, embaixo do chuveiro, com a cabeça tombada para o lado direito. A Vilma me sugeriu retificar a cabeça e perguntou se eu estava evitando molhar o cabelo. Não era isso, eu não sei por que estava torta, mas era muito custoso comandar o movimento de arrumar a cabeça.
Em algum momento perguntei se eles tinham conseguido falar com a médica, só para ter uma idéia de quando ela chegaria, mas a Vilma disse que não. Eu estranhei e ela disse que o celular deu caixa postal, se estava tudo bem pra mim. Olhei pro Rodrigo e fiz que sim com a cabeça, na verdade na hora não me importei nem um pouco com isso, não dei espaço para me importar, quis “continuar meu trabalho” sem gastar energia lidando com esse inesperado.
Não consigo lembrar com exatidão a cronologia desse pedaço, mas sei que quando eu estava mergulhada na água da banheira senti vontade de ir ao banheiro. Com muita dificuldade (começar a falar era difícil também) disse isso. A Vilma disse que eu podia fazer ali mesmo, depois era só remover. Num instante vi o Rodrigo chegar no banheiro com um balde e uma pazinha de lixo. Ri, olhei para a Vilma e ela riu também. Achei isso lindo, essa passagem tão boba ilustra muito bem como o Rodrigo estava ali presente, completamente disponível. Mas eu ainda estava tentando entender se era mesmo vontade de ir ao banheiro. A Vilma disse “depois a gente troca a água”, mas aquilo me deu uma preguiça tremenda, encher tudo de novo? Ia demorar, minha vontade era “agilizar”. Não falei nada, acho que só acenei “não” com a cabeça. Ela me disse para não segurar a vontade, porque quem segura uma coisa segura outra – no caso, o bebê! – também. Então eu me superei e saí dali, apoiada pelo Rodrigo. Sentei no vaso e a pressão foi muito forte, como se estivesse sentando numa cadeira. Eles colocaram uma toalha nas minhas costas, porque o frio aumentou muito nessa hora. Vi que não ia acontecer nada e resolvi ficar de cócoras no chão. Segurei bem firme na pia e comecei a transferir o peso de uma perna para outra, com o quadril bem baixo.
A parteira tinha escutado o coraçãozinho do Pedro umas duas vezes na banheira e nesse momento escutamos de novo e ela me mostrou como estava posicionando o aparelho bem mais para baixo, sinal que ele estava encaixando cada vez mais. Ouvimos o coraçãozinho dele por um bom tempo, perguntei se estava tudo bem, ela me garantiu que estava tudo ótimo e que seria a primeira a dizer caso não gostasse de alguma coisa. A partir daí nem pensei em me preocupar com isso, apenas confiei.
Foi muito bom sair da banheira, acho que estava cansada da posição. Mas a dor continuava muito forte, só a posição estava melhor. Quando eu estava de cócoras foi a única vez que fiquei contrariada pelo fato da médica não estar lá, porque me lembrei que tínhamos providenciado uns remédios homeopáticos para o parto e certamente algum deles poderia aliviar aquela dor. Dias depois comentei isso com a parteira e ela falou que eu podia ter dito isso a ela; realmente podia, mas falar dava tanto trabalho...
O Rodrigo ficou sentado na tampa do vaso, atrás de mim, me sustentando pelas axilas. E eu balançando de cócoras. O contato físico com o Rodrigo durante o trabalho de parto foi impressionantemente confortável. O toque da Vilma também; os dois não ficaram pegando em mim o tempo todo, mas os momentos em que me lembro de ter sentido o toque deles foram de muito alívio. Sempre que eu “aconselho” alguma amiga grávida, eu faço questão de dizer como é fundamental o contato físico do marido no trabalho de parto.
De vez em quando eu choramingava alto, não queria gritar para não acordar o Davi, mas nem senti mesmo vontade de gritar. Estava bem dolorido, nos intervalos entre as contrações doía também, como se houvesse uma dor contínua e picos de dor sobrepostos a ela. Nessa hora me lembrei de Nossa Senhora. Tudo pareceu ficar mais fresco e mais claro. Veio a inspiração de cantar e eu comecei, com uma afinação que não era minha:
“Ó minha Senhora e também minha mãe
Eu me ofereço inteiramente toda a Vós
E em prova da minha devoção eu hoje vos dou meu coração
Consagro a Vós meus olhos, meus ouvidos, minha boca
Tudo o que sou desejo que a Vós pertença
Incomparável Mãe, guardai-me e defendei-me como filha e propriedade vossa. Amém”

Tudo ao redor pareceu parar. Experimentei um alívio muito profundo enquanto cantava. Depois disso, entre as contrações eu simplesmente repousava. Vinha a dor, forte, dura, e depois eu só sentia conforto e paz. Estava num colo de Mãe, no colo de uma Mãe que, há dois mil anos, numa estrebaria, deu à luz a Luz.

A Vilma me perguntou se eu queria comer. Lembrei que tinha lido sobre mel no trabalho de parto e tinha providenciado para essa hora. Pedi ao Rodrigo, mas a Vilma perguntou se eu não queria alguma coisa salgada que tivesse em casa ou uma fruta. Eu pedi manga “cortada” – como se ele fosse e trazer uma inteira... rsrs. Comi uns pedaços e falei “preciso passar fio dental”. A Vilma arregalou os olhinhos , haha, não cheguei nem perto de expressar que estava brincando.
Em algum momento dessa etapa em que eu estava entre vaso/chão, por volta de umas 3:00h., o Davi chorou. Lembro que o Rodrigo não estava no banheiro, então acho que ele tinha ido buscar a manga, e eu pedi à Vilma que verificasse se ele tinha ouvido o Davi. Foi muito ruim ficar sozinha. O Rodrigo atendeu o Davi, que dormiu num instante, e voltou.
De vez em quando a Vilma abaixava para olhar entre minhas pernas, e eu pensava “o que ela está fazendo, não sabe que ainda vai demorar?!”. Ela comentou que eu estava na transição para o expulsivo e eu disse “não, não é assim a transição!” Hahaha, acho que minha expectativa era de uma “solenidade” nessa hora, como se aparecesse um luminoso em algum lugar anunciando a transição. Depois de um tempo resolvi perguntar se estava na transição, só para ouvir de novo, e ela disse que já estava no expulsivo. Muito estranho como é mesmo uma divisão didática, não foi nada “definido”.
Ela viu que meus pés estavam ficando roxos e me sugeriu esticar as pernas ali no chão mesmo (acho que tinham estendido uma toalha antes de eu sair da banheira). Eu demorei muito para responder. Tinha a impressão de que não conseguiria, porque era muita pressão embaixo, parecia que não poderia fechar as pernas para a “manobra”. Comentei que queria deitar na cama, mas um pouco descrente que aquilo fosse possível. Recebi o maior incentivo, a Vilma disse que eu poderia tentar dormir um pouco e o Rodrigo praticamente me carregou , eu fui bem curvada e fiquei de quatro na cama (suíte).
A Vilma foi arrumando uns travesseiros sob minha barriga e me cobriu, o que foi muito ruim, porque nessa hora eu estava com calor. Mas eu não conseguia expressar isso, não estava entendendo direito se tinha algum motivo para me cobrir, até que perguntei se precisava ficar coberta e a Vilma entendeu e tirou as cobertas. Continuei rebolando e fazendo aquele som durante as contrações, mas estava tensa depois da “mudança” para a cama. Tomei consciência disso e tentei relaxar, lembrei que Deus estava cuidando de mim e da presença de Nossa Senhora. Soltei muito meus ombros e meu rosto, de bruços sobre o travesseiro, deu certo, foi muito bom, expirei tranqüila algumas vezes, é como se esses breves momentos de relaxamento entre as contrações tivessem a qualidade de um cochilo. Na dor eu choramingava, nessa hora foi mais alto, e optei por não me preocupar em acordar o Davi, como se tivesse uma clareza que agora ele não acordaria.
A Vilma me pediu para deitar de lado, para que ela pudesse colocar o lençol descartável na cama. O outro lado da cama estava forrado com plástico há algumas semanas, para quando a bolsa estourasse, mas a lucidez desses detalhes não combina com trabalho de parto, eu até pensei nisso, mas deixei pra lá. Continuei deitada do lado esquerdo e pedi a bola para apoiar minha perna direita, estava pesando muito. O Rodrigo deitou atrás de mim, bem pertinho, com a mão meu ombro e me lembrando de abaixar o queixo (minha tendência era hiperestender o pescoço). Sentir o toque do corpo dele foi novamente muito confortante, disse isso e ele se aproximou mais. Tiramos a bola.
Pedi pra Vilma “fala que eu vou conseguir?” e ela imediatamente: “mas você já tá conseguindo! Tá nascendo!”. Perguntou se queria que apagasse a luz, eu aceitei, foi ótimo, porque eu não teria me lembrado disso e ficou muito acolhedor o ambiente com a luz do banheiro acesa e a do quarto apagada.
Então ela disse que quando eu tivesse vontade poderia fazer força. Que bom que ela falou isso, porque pode parecer maluco, mas eu tinha esquecido completamente da força. Até aquele momento nem tinha me passado pela cabeça fazer força! E eu pensava que, indo tudo tão natural assim, seria uma vontade natural também. Na verdade em momento nenhum eu senti os puxos, e, como no parto do Davi - com ocitocina sintética - eles forma muito definidos e intrusos, acho que estava esperando algo assim. Bem, tentei fazer uma força só para ver o que acontecia e o interessante foi que no fim da força, aí sim dava vontade de fazer uma força ainda maior e eu sentia o Pedro descendo.
Não sei quantas forças fiz, acho que umas oito ou dez, talvez mais. A bolsa literalmente explodiu numa força, eu e o Rodrigo tivemos a impressão de ver o contorno do líquido no ar, como nos filmes em câmera lenta. A Vilma ficou toda molhada e eu pedi desculpas, hahaha. Foi gostoso quando toda aquela água quentinha saiu, como se a pressão diminuísse.
A Vilma sugeriu baixinho para eu chamar o Pedro; eu fiquei relutante por uns segundos e quando comecei não parei mais: “Vem, Pedro, vem com a mamãe, filhinho, vem no colo da mamãe!...”
Esse momento na cama deve ter durado uma meia hora. A Vilma insistiu para eu pôr a mão na cabecinha do Pedro quando ele coroou, eu só queria empurrar, queria que nascesse logo; eu estava segurando a minha perna e era muito trabalhoso comandar o movimento do braço para tocar a cabecinha do Pedro. O Rodrigo levou minha mão e eu senti o cabelinho dele. Continuei fazendo força e senti um ardor e só nessa hora lembrei da possibilidade de laceração, mas não dei a menor importância para isso, o ardor ia aumentando e eu fazendo mais força, não tomei cuidado nenhum.
Senti a cabecinha sair, o maior alívio do mundo, uma sensação muito agradável, a Vilma desenrolou uma circular de cordão rapidinho (eu nem percebi direito) e depois mais forças e o corpinho saindo, deu para perceber o corpinho dele “afinando” do bumbunzinho para os pés. 3:56h. Ele fez “ihiii”, baixinho, não chorou. Imediatamente ela o colocou em meu colo, eu disse: “que pequenininho!” e eles dois “não, não é pequenininho não!”. Eu sentia o cordão esticado por fora da minha barriga. A Vilma ajudou o Pedro a abocanhar o peito e ali ele ficou, conectado comigo, mamando, deitado no meu braço esquerdo enquanto eu segurava o bumbunzinho molhado dele com a outra mão. Aquele cheiro de filho, tão especial, que eu sinto agora ao escrever. Não chorei na hora, foi um êxtase, parece que a emoção passou do ponto que faz chorar.
A Vilma colocou uma fralda de pano e uma toalhinha de capuz, bordada pela minha sogra, cobrindo o Pedro no meu colo. Falei um pouquinho com ele, nós três adultos ficamos conversando um pouco. Sem a menor pressa a Vilma pegou a tesoura para cortar o cordão. Deitei de costas, com muito custo. O Rodrigo nunca pensou em cortar o cordão, estava decidido que não cortaria e eu não ia questionar. Mas nessa hora ele tomou a iniciativa como se fosse a coisa mais clara do mundo e cortou. Disse que ficou impressionado com a dureza do cordão.
Só a partir dessa hora lembramos de fotografar. Queria muito ter mais fotos. As que temos não estão estéticas. Mas as lembranças são tão lindas!
Percebi uma movimentação da Vilma e lembrei da placenta... Falei “ah, deixa a placenta pra lá, não quero mais!” mas não tinha jeito... Enquanto o Pedro mamava senti uma bola saindo, foi gostoso, fiquei animada achando que tinha sido a placenta, mas foi só um coágulo, beeem mais fácil. Fiz uma força e senti uma cólica, a placenta saiu, aquela sensação tão boa de alívio, embora a laceração de grau 2, de uns 3 cm, estivesse ardendo. Pedi para ver a placenta, coisa que queria desde o parto do Davi, quando meu pedido, idêntico a esse, foi simplesmente ignorado. A Vilma explicou e mostrou tudinho. Na penumbra não consegui ver com nitidez, mas fiquei satisfeita. Achei a placenta linda. Ela ficou guardada na geladeira e no dia seguinte minha mãe a enterrou num vaso grande onde está plantado um jasmim viçoso e cheiroso. Com o cordão umbilical minha mãe montou um formato de coração.
A Vilma deu uma arrumada na bagunça do quarto, perguntou se estava tudo bem e foi para a sala, para que pais e filho curtissem o momento com privacidade. O Pedro não parava de mamar. Eu e o Rodrigo ficamos reconstituindo tudo, tentando lembrar como tinha acontecido, o Pedro era parte da cena, era estranho falar dele com ele ali, mas ele estar “do lado de fora” era apenas a conseqüência, foi tudo um contínuo. Eu estava eufórica, acordadíssima, aquele momento pós-parto imediato poderia ter durado muito mais. Se não me engano foi nesse período que o Davi deu sua segunda acordada da noite, eu até me animei pensando que ele conheceria o irmãozinho, mas o Rodrigo foi atendê-lo e ele dormiu instantaneamente.
Quando a Vilma voltou, ficou espantada pelo Pedro ainda estar mamando sem parar. Tinham se passado 50 minutos desde que ela saíra. Então ela pediu licença para pesá-lo e vesti-lo. Para isso, o Rodrigo o segurou pela primeira vez. Eu fiquei muito emocionada, chorei rindo, queria abraçá-los, mas não conseguia nem me mexer. Tirei umas fotos borradas, a Vilma tirou umas fotos borradas da gente, sem flash, eu toda esparramada.
Pesamos o Pedro duas vezes, porque esquecemos de tirar foto na primeira pesagem, hahah... parecia que eu queria descontar as fotos perdidas... 3, 680g. Ele chorou na segunda vez, foi muito legal ouvi-lo. A Vilma perguntou onde estava a roupinha que o Pedro vestiria e ela estava na mala “da maternidade”, rsrs, que ficou por semanas no quarto dos meninos. Por um instante pensamos que o Davi acordaria, mas lembrei que antes de deitar eu a trouxe para o nosso quarto. O Rodrigo encontrou lá dentro da mala: body e mijão amarelinho com balinhas e docinhos desenhados em laranja, macacão amarelo com cavalinho “upa, upa!”, escolhido pelo papai, já usado pelo Davi, gorrinho de lã amarelinho. Este deu um pouquinho mais de trabalho para encontrar na mala... A fraldinha descartável minúscula que ele usou, a Vilma disse, rindo, que não daria nem por uma semana. Eu tinha imaginado vestir o Pedro, mas nem considerei essa possibilidade na hora, tinha sido muito exigida fisicamente.
A Vilma perguntou se precisávamos de alguma coisa ou se podia ir, deu algumas orientações, “Aline, descansa, você pariu” (que delícia ouvir isso!). Disse que voltaria no dia seguinte, ou que ligássemos se precisássemos dela à noite. Eram umas 5:30h.
Quando o Pedro voltou para o meu colo, dormiu. O colocamos ao meu lado, na cama, foi aí que eu vi o rostinho dele pela primeira vez. Na verdade, só no meio do dia vi direitinho, mas parecia um rosto tão misterioso, tão desconhecido, tão diferente do meu “parâmetro” (o rosto do Davi), me atraía para examinar cada detalhe, para olhar mais e mais. O Rodrigo não ficou à vontade em ficar deitado na cama, acho que teve medo de “atropelar” o Pedro, e foi para a sala. Logo o Pedro chorou e eu o “arrastei” para meu peito, foi bem difícil ajudá-lo a abocanhar, porque eu não conseguia levantar a minha cabeça, mas nem precisou: ele deitou em mim e dormiu. Lembro nitidamente do sonzinho da sua respiração irregular.
Dei umas cochiladas, mas logo fiquei com vontade de fazer xixi; muita dor nas costas, muita dificuldade para levantar, desisti. Tentei chamar o Rodrigo algumas vezes, mas não queria acordar o Davi. Quando escutei o Davi acordar, por volta das 7:00h., achei ótimo poder chamar bem alto o Rodrigo.
O Davi pediu água de côco e enquanto o pai foi buscar, ele saiu do quarto, coisa que nunca faz. Passou pela porta do meu quarto e eu disse “Davi, sabe o que aconteceu? Olha quem tá aqui!” E ele: “Ah, o Pido! Quero essa água de côco aqui!” (apontando para o cabelinho do irmão). Então eu fiz de conta que entreguei um copo a ele, a partir da cabecinha do Pi, que então já estava sem o gorro, bem quentinho no peito da mamãe. Ele recusou o “copinho”: “Nãaao!” Ficou na pontinha dos pés e fez um carinho na cabecinha do Pi. Saiu correndo atrás de sua água de côco.
Eu poderia continuar relatando os acontecimentos um atrás do outro. Uma das coisas mais impressionantes dessa experiência natural foi o quão contínua ela foi. Até hoje, dia em que o Pedro comemora seus 4 meses, um fato atrás do outro, uma emoção atrás da outra, um desafio atrás do outro, sem interrupções. Nesses quatro meses, os que passaram mais rápido em todos os meus trinta anos, foi ficando mais nítido a cada dia como a vida é feita de imprevistos e como as coisas acontecem “apesar” de nossas previsões: a realidade se impõe.
Agradeço muito a Deus pela nossa saúde; a Nossa Senhora, por ter me acompanhado tão maternalmente; ao Rodrigo, por confiar em mim, por nos amar e querer o melhor para nós; ao Pedro, por ter feito seu trabalho com tanta simplicidade e continuar assim até hoje; ao Davi, pela forma carinhosa como recebeu o irmãozinho e sempre o tratou; a Vilma Nishi pela sensibilidade de fazer apenas o necessário, com tanto respeito.
Escrever este relato foi surpreendentemente bom.

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Aline Elise, mãe do Pedro, nascido de parto domiciliar, e do Davi, nascido de parto normal hospitalar.
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