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25 de novembro de 2011

Mais assistência, menos violência

Profissões, faculdades, pesquisas, hospitais, maternidades... no cenário do nascimento brasileiro contemporâneo, inúmeros saberes estão reunidos em torno de um só objetivo: garantir a melhor assistência à mulher e ao bebê. E o que significa isso? Dar assistência, a meu ver, envolve sobretudo proteger, amparar, auxiliar.

Infelizmente, porém, um complexo e mesmo idiossincrático caldo cultural inundou nossa sociedade, de modo que a assistência transfigurou-se. Com o passar dos anos e, pasmem, o desenvolvimento técnico e tecnológico, hospitais e maternidades tornaram-se péssimos lugares em termos de proteção, amparo e auxílio à parturiente.

Meus dois primeiros parágrafos parecem mais uma viagem a Marte do que uma mensagem em defesa da integridade da mulher, não é mesmo? Pois bem, no Brasil de hoje, essa mudança planetária se faz necessária. Precisamos mudar de perspectiva radicalmente para enxergarmos a violência na assistência ao parto.

O que e como seria essa violência, afinal?

Ainda esta semana os sites e jornais denunciaram que uma mulher teria sido obrigada a dar à luz algemada - pelo fato de estar cumprindo pena de detenção. Essa notícia choca e causa furor, faz pensar sobre o absurdo, sobre o abuso, sobre a violência.

Obviamente essa constituiu uma enorme violência da assistência contra uma mulher que já se encontrava tolhida de seu maior bem, a liberdade, por motivos que pouco nos interessam agora. Violência clara, evidente, objetiva.

Alguns outros casos de violência contra a mulher no momento do parto podem ser facilmente recuperados da memória coletiva. Quem nunca ouviu falar de mulher que teve os braços amarrados, ou as pernas imobilizadas na hora do nascimento de seu filho? Quem nunca ouviu falar de mãe adolescente que foi hostilizada ou mesmo ofendida durante o trabalho de parto, pelo simples fato de ter menos de 18 anos? Casos comuns, por mais que me doa dizer, que fazem parte da nossa realidade.

Ainda assim, por mais sérios e recorrentes que sejam, gostaria de tratar, ainda, de outros casos de violência contra a mulher na assistência ao parto. Casos ainda mais frequentes, comuns e recorrentes do que os narrados anteriormente. Mais triste do que isso, trata-se de casos silenciados, desconhecidos do nosso grande senso comum.

De que falo então? Falo daquele tipo de violência que simplesmente não integra nosso conhecimento coletivo porque não é enxergado como tal. São práticas, rotinas, condutas, posturas tão disseminados e comuns que se incorporaram ao rol de itens “normais” da assistência ao parto. Mas não são. Não podem ser normais, e não podem ser assim aceitos, uma vez que causam dano à mulher e ao bebê.

Como disse anteriormente, precisamos adotar outra perspectiva para enxergar essa cena com mais clareza! Isso porque o caldo cultural em que estamos imersos nos faz acreditar que profissional de saúde sabe o que faz e se o faz é porque tem autoridade para tal. E assim, com essa crença, aceitamos diversas práticas que causam dano à mulher e à criança, pelo simples fato de não as entendermos como atos de violência.

É assim, por exemplo, que nas maternidades brasileiras todo recém-nascido, logo após ter chegado ao mundo, é levado a uma sala de observação, onde permanece por horas e horas, longe da sua família e do aconchego dos seios de sua mãe. A separação acontece simplesmente porque faz parte dos protocolos hospitalares: algum dia, em algum lugar, alguém escreveu que todo recém-nascido deveria ir para a observação logo que o cordão umbilical fosse cortado. E a partir de então a regra passou a ser cumprida, sem qualquer avaliação sobre sua pertinência e validade.
Separar o recém-nascido da mãe causa inúmeros danos à saúde física e mental da dupla. Basta lembrar que a amamentação e o vínculo mãe-bebê começam a se estabelecer já nos primeiros minutos após o nascimento. Tanto é que a campanha de 2007 da Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM) adotou o slogan “Amamentação na primeira hora: proteção sem demora”.
Assim, por causar danos à mulher e à criança e sem qualquer necessidade ou indicação, a separação entre mãe e bebê logo após o nascimento constitui enorme violência - tanto física como emocional. 

Como esse protocolo hospitalar, existem muitas outras práticas corriqueiras da assistência ao parto que configuram violência contra a mulher e contra o bebê. Violência(s) que permanecem invisíveis aos nossos olhos, de tanto que se incorporaram ao cotidiano das maternidades brasileiras.

É por isso que hoje, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, convocamos tod@s para refletir sobre o modelo de assistência ao parto que temos em nosso país. Chega de violência, seja ela velada ou não.

23 de novembro de 2011

O parto é de quem?

A mulher é a principal (sic.) protagonista do parto. Portanto, tem direito a definir como quer ter o filho. A maneira de fazer é através de um plano de parto - uma relação de providências que deseja (ter um quarto semelhante ao seu, não tomar determinadas remédios para acelerar o parto etc).

 É assim que começa o texto de Luis Nassif sobre parto humanizado e o trabalho da Associação Comunitária Monte Azul. Nada mais apropriado para ler nestes dias que antecedem o nosso encontro, quando então discutiremos justamente a elaboração do Plano de Parto!

Não se trata de idealizar uma cena de cinema. Mas de refletir a respeito da assistência que desejamos, do que é realmente importante para nós e para nossa família. Desde as primeiras contrações até os primeiros dias de vida da criança.

E lanço aqui um desafio ainda maior: pensar também nas primeiras semanas de vida do bebê e da família nova. Eu não fiz isso, mas por sorte contei com a ajuda incondicional da minha mãe, que morava muito perto de mim. Ela fez de tudo, lavou roupinhas do meu filhote, fez comida leve e saudável pra mim, limpou a minha casa e ainda embalou o pequeno em alguns momentos do dia para que eu pudesse tirar uma soneca maior ou mesmo tomar um banho decente (de oito minutos, claro!). Parece o inferno de Dante, mas não, foi o paraíso. Mas o paraíso de mãe, né?!

 

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