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24 de dezembro de 2011

Apoio a Marcos Dias - Aqui, o texto do elogio público (veja no post anterior a este as formas de prestar apoio)


ELOGIO PÚBLICO

A coalisão de entidades abaixo relacionadas, amigos, companheiros de trabalho, ex-pacientes e clientes atuais, mulheres e suas famílias vimos a público manifestar nosso apreço e admiração pela trajetória profissional no âmbito da assistência, pública e privada, do ensino e da pesquisa do Médico Obstetra DR. MARCOS AUGUSTO BASTOS DIAS, trajetória essa pautada pela ética e pelo compro...misso com a qualidade da atenção e dedicação à saúde das mulheres e crianças. Elogiamos ainda sua disponibilidade para trabalhar em equipe, sua competência técnica e atitude humana, e seu empenho na implementação das políticas públicas, a exemplo da implantação de novos espaços mais humanizados para assistência ao parto, como os Centros de Parto Normal, política emanada pelo Ministério da Saúde através da portaria GM 985/1999, referendada pela RDC 36/2008 da ANVISA e um dos esteios da atual Estratégia Rede Cegonha.
Rede pela Humanização do Parto e Nascimento – ReHuNa
Red Latino Americana y del Caribe por la Humanización del Parto y Nacimiento – Relacahupan
International Breastfeeding Action Network – Ibfan |Brasil
Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos
Rede Parto do Princípio - Mulheres em rede pela maternidade ativa – PP
Rede Nacional de Parteiras Tradicionais
Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO
Associação Paulista de Saúde Pública – APSP
Centro Brasileiro de Estudos sobre Saúde - CEBES
Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras/ Nacional – ABENFO
Associação Nacional de Doulas – ANDO
Associação de Doulas de Minas Gerais - ADMG
Associação Nacional para Educação Pré Natal – Brasil - ANEP
Grupo Curumim Gestação e Parto
C.A.I.S. do Parto
ONG Amigas do Parto
ONG Amigas do Peito
ONG Bem Nascer
Ishtar - Espaço para Gestantes (Belém, Fortaleza, Recife, Brasília, Sorocaba, Rio de Janeiro, Divinópolis e Belo Horizonte)
Instituto de Yoga e Terapias Aurora
Instituto Mulher e Saúde Integral da Bahia- IMAIS
Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação, Ação – CEPIA
Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero
Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde
Coletivo Feminino Plural
Programa de Estudos em Gênero e Saúde - MUSA
Gênero, Maternidade e Saúde – GEMAS
Centro de Atividades Culturais, Econômicas e Sociais - CACES
Grupo de Pesquisa em Políticas e Economia da Informação e da Comunicação – PEIC
Rede de Apoio a Maternidade Ativa do Rio Grande do Norte - RAMA
Grupo MaternaMente - Apoio ao Parto Ativo no ABC Paulista

Apoio a Marcos Dias

A hipocrisia da assistência ao parto NÃO baseada em evidência, firmemente enraizada no Brasil, fez mais uma das suas. Como estamos aqui para apoiar todas as iniciativas que vão na contramão desse tipo de atitude que não serve aos melhores interesses das mulheres que escolhem ser mães, prestamos hoje nosso apoio ao Dr. Marcos Dias.

Marcos é um obstetra carioca que está sendo punido pelo CREMERJ e CFM por ser ideologicamente favorável às casas de parto, mantidas por enfermeiras obstetras. Desde 2004, após ter assinado o óbito de um bebê que já nasceu morto por patologia pré-existente, sofre processo administrativo e teve seu CRM cassado em março deste ano. Marcos recorreu da decisão ao CFM, que considerou a pena excessiva mas decidiu pela publicação de uma censura pública ao Marcos em jornal de grande circulação no RJ.

O texto redigido pelo Marcos explicando tudo com detalhes está em: http://www.facebook.com/pages/Apoio-ao-Marcos-Dias/157690494338227?sk=info

Em resposta a esta atitude do órgão que regula a prática médica, foi produzida uma carta de elogio por iniciativa da REHUNA que vai assinada por diversas entidades. Graças a doações de muitos simpatizantes do movimento, também será publicada no mesmo jornal.

Pedimos a tod@s a gentileza de divulgar essa carta de elogio que foi postada na página do facebook "Apoio ao Marcos Dias": http://www.facebook.com/pages/Apoio-ao-Marcos-Dias/157690494338227

5 de dezembro de 2011

Moção sobre erradicação da Violência Institucional na Atenção Obstétrica



A violência durante o parto é uma prática que já está institucionalizada e é uma violação dos direitos humanos como foram definidos pela ONU. A mulher tem o direito não somente de poder parir aonde ela quiser e como ela quiser, mas tem o direito de ser tratada com dignidade e com respeito durante todo o processo de parto.

A resolução de 2009 emitida pelo Conselho de Direitos Humanos das Organização das Nações Unidas sobre a redução da mortalidade materna e suas causas (entre outras, sabemos hoje que são os modelos de atenção obstétrica inadequados e assistência de baixa qualidade) apela para ações orientadas a reduzir a mortalidade materna e a promover um atendimento de qualidade, sem discriminação de gênero, de raça, ou orientação sexual.

Uma forma de violência são as muitas intervenções desnecessárias, sendo a mais paradigmática a cesárea desnecessária. E sabemos que em 2010 a proporção de cesáreas ultrapassou a de parto normais no Brasil. Em decorrência e à luz da política nacional de qualificação da atenção obstétrica e neonatal intitulada Rede Cegonha


Exigimos
A garantia de uma fiscalização sistemática da qualidade da assistência obstétrica e identificação da violência que existe de maneira endêmica nos hospitais públicos e privados, pela agências governamentais adequadas, assim como a aplicação e fiscalização do respeito à lei 11.108 de garantia da presença de um acompanhante de escolha da mulher durante o trabalho de parto, no parto e no pós-parto.
Ademais, as recomendações do Ministério da Saúde sobre os direitos da Mãe e Bebe não são observadas nos serviços e são uma violação brutal de direitos humanos, assim com uma ameaça para a saúde materna e neonatal.


Exigimos
O direito à informação sobre os procedimentos, com exigência de que haja consentimento da Mulher para as intervenções a que for sujeita no parto como Episiotomia, Cesárea, Indução etc.


Exigimos ainda
A criacão sistemática em cada região de saúde de comitês de morte materna em que as organizações da sociedade civil e governamentais avaliem em conjunto indicadores do acesso e qualidade da atenção obstétrica, incluindo as taxas de cesáreas, alem de estudar cada morte materna observada no município para identificar suas causas e evitabilidade, com efeitos na qualidade da assistência.


O Grupo MaternaMente endossa e apoia a moção, em conjunto com a Conferência de Políticas para Mulheres por RAMA (Rede Feminista de Apoio a Maternidade Ativa do RN), GAMI (Grupo de Afirmação a Mulheres Independentes RN), o Coletivo Leila Diniz RN, o Instituto Nômades Recife, o Grupo Ishtar Recife, a  Parto do Principio, o Grupo Curumim, o CAIS do Parto, a ReHuNa – Rede pela Humanização do Parto e Nascimento, Rede Nacional de Parteiras Traditionais, a Associacao das Parteiras do Agreste Pernambucano, GAMA, Mulheres de Terreiro, Mulheres de Axe, Articulação de Mulheres Negras e o GEMAS (FSP/USP).

25 de novembro de 2011

Mais assistência, menos violência

Profissões, faculdades, pesquisas, hospitais, maternidades... no cenário do nascimento brasileiro contemporâneo, inúmeros saberes estão reunidos em torno de um só objetivo: garantir a melhor assistência à mulher e ao bebê. E o que significa isso? Dar assistência, a meu ver, envolve sobretudo proteger, amparar, auxiliar.

Infelizmente, porém, um complexo e mesmo idiossincrático caldo cultural inundou nossa sociedade, de modo que a assistência transfigurou-se. Com o passar dos anos e, pasmem, o desenvolvimento técnico e tecnológico, hospitais e maternidades tornaram-se péssimos lugares em termos de proteção, amparo e auxílio à parturiente.

Meus dois primeiros parágrafos parecem mais uma viagem a Marte do que uma mensagem em defesa da integridade da mulher, não é mesmo? Pois bem, no Brasil de hoje, essa mudança planetária se faz necessária. Precisamos mudar de perspectiva radicalmente para enxergarmos a violência na assistência ao parto.

O que e como seria essa violência, afinal?

Ainda esta semana os sites e jornais denunciaram que uma mulher teria sido obrigada a dar à luz algemada - pelo fato de estar cumprindo pena de detenção. Essa notícia choca e causa furor, faz pensar sobre o absurdo, sobre o abuso, sobre a violência.

Obviamente essa constituiu uma enorme violência da assistência contra uma mulher que já se encontrava tolhida de seu maior bem, a liberdade, por motivos que pouco nos interessam agora. Violência clara, evidente, objetiva.

Alguns outros casos de violência contra a mulher no momento do parto podem ser facilmente recuperados da memória coletiva. Quem nunca ouviu falar de mulher que teve os braços amarrados, ou as pernas imobilizadas na hora do nascimento de seu filho? Quem nunca ouviu falar de mãe adolescente que foi hostilizada ou mesmo ofendida durante o trabalho de parto, pelo simples fato de ter menos de 18 anos? Casos comuns, por mais que me doa dizer, que fazem parte da nossa realidade.

Ainda assim, por mais sérios e recorrentes que sejam, gostaria de tratar, ainda, de outros casos de violência contra a mulher na assistência ao parto. Casos ainda mais frequentes, comuns e recorrentes do que os narrados anteriormente. Mais triste do que isso, trata-se de casos silenciados, desconhecidos do nosso grande senso comum.

De que falo então? Falo daquele tipo de violência que simplesmente não integra nosso conhecimento coletivo porque não é enxergado como tal. São práticas, rotinas, condutas, posturas tão disseminados e comuns que se incorporaram ao rol de itens “normais” da assistência ao parto. Mas não são. Não podem ser normais, e não podem ser assim aceitos, uma vez que causam dano à mulher e ao bebê.

Como disse anteriormente, precisamos adotar outra perspectiva para enxergar essa cena com mais clareza! Isso porque o caldo cultural em que estamos imersos nos faz acreditar que profissional de saúde sabe o que faz e se o faz é porque tem autoridade para tal. E assim, com essa crença, aceitamos diversas práticas que causam dano à mulher e à criança, pelo simples fato de não as entendermos como atos de violência.

É assim, por exemplo, que nas maternidades brasileiras todo recém-nascido, logo após ter chegado ao mundo, é levado a uma sala de observação, onde permanece por horas e horas, longe da sua família e do aconchego dos seios de sua mãe. A separação acontece simplesmente porque faz parte dos protocolos hospitalares: algum dia, em algum lugar, alguém escreveu que todo recém-nascido deveria ir para a observação logo que o cordão umbilical fosse cortado. E a partir de então a regra passou a ser cumprida, sem qualquer avaliação sobre sua pertinência e validade.
Separar o recém-nascido da mãe causa inúmeros danos à saúde física e mental da dupla. Basta lembrar que a amamentação e o vínculo mãe-bebê começam a se estabelecer já nos primeiros minutos após o nascimento. Tanto é que a campanha de 2007 da Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM) adotou o slogan “Amamentação na primeira hora: proteção sem demora”.
Assim, por causar danos à mulher e à criança e sem qualquer necessidade ou indicação, a separação entre mãe e bebê logo após o nascimento constitui enorme violência - tanto física como emocional. 

Como esse protocolo hospitalar, existem muitas outras práticas corriqueiras da assistência ao parto que configuram violência contra a mulher e contra o bebê. Violência(s) que permanecem invisíveis aos nossos olhos, de tanto que se incorporaram ao cotidiano das maternidades brasileiras.

É por isso que hoje, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, convocamos tod@s para refletir sobre o modelo de assistência ao parto que temos em nosso país. Chega de violência, seja ela velada ou não.

23 de novembro de 2011

O parto é de quem?

A mulher é a principal (sic.) protagonista do parto. Portanto, tem direito a definir como quer ter o filho. A maneira de fazer é através de um plano de parto - uma relação de providências que deseja (ter um quarto semelhante ao seu, não tomar determinadas remédios para acelerar o parto etc).

 É assim que começa o texto de Luis Nassif sobre parto humanizado e o trabalho da Associação Comunitária Monte Azul. Nada mais apropriado para ler nestes dias que antecedem o nosso encontro, quando então discutiremos justamente a elaboração do Plano de Parto!

Não se trata de idealizar uma cena de cinema. Mas de refletir a respeito da assistência que desejamos, do que é realmente importante para nós e para nossa família. Desde as primeiras contrações até os primeiros dias de vida da criança.

E lanço aqui um desafio ainda maior: pensar também nas primeiras semanas de vida do bebê e da família nova. Eu não fiz isso, mas por sorte contei com a ajuda incondicional da minha mãe, que morava muito perto de mim. Ela fez de tudo, lavou roupinhas do meu filhote, fez comida leve e saudável pra mim, limpou a minha casa e ainda embalou o pequeno em alguns momentos do dia para que eu pudesse tirar uma soneca maior ou mesmo tomar um banho decente (de oito minutos, claro!). Parece o inferno de Dante, mas não, foi o paraíso. Mas o paraíso de mãe, né?!

17 de outubro de 2011

Até Madrid!

Deborah está a caminho da Espanha, onde participará do 19º Colóquio da Colaboração Cochrane. O encontro anual começará na quarta-feira, dia 19, e terá como tema "Evidência científica para a qualidade da assistência e segurança do paciente". Nada mais afinado com nosso ideal!

Concomitantemente ao evento da Colaboração Cochrane, acontecerá também a 6ª Conferência Internacional de Segurança do Paciente e ainda ocorrerão outros encontros latinos de relevo, o que só reafirma a importância de trabalhos colaborativos desde a pesquisa de base.

Deborah apresentará pôsteres na sessão sobre usuários e tomada de decisão e participará ainda de outros eventos científicos e sociais. No encontro do ano passado, ela teve de lidar com as agruras da altitude (pois o encontro foi em Keystone, no Colorado) e com outros probleminhas de ordem pessoal. Este ano, eu estou na torcida para que Madrid seja mais receptiva, e para que os obstáculos ultrapassados tenham feito de minha parceira uma atleta ainda mais aguerrida, como acredito que é (e sempre foi).

Vai lá, colega, e depois conta para a gente como foi!

11 de outubro de 2011

Semana da Criança

Um nascimento respeitoso: esse é o maior presente que uma criança pode ganhar!

Com essa ideia na cabeça, diversos blogs estão publicando material de excelente qualidade para comemorar a Semana da Criança. Não deixem de conferir a entrevista com a Ana Paula Caldas, neonatologista que perverteu a ordem e deu à luz em casa.
E amanhã, não se esqueçam, tem o piquenique comunitário! Fiquem atentas ao blog para o caso de chuvas!

10 de outubro de 2011

Escolhas que perduram

Para escolher um caminho, qualquer que ele seja, é preciso ter coragem para abrir mão de outras possibilidades. E se a via trilhada for a mais repleta de obstáculos, necessita-se de perseverança, serenidade e tantos outros atributos.

No que se refere à assistência ao parto, posso dizer com propriedade que vale a pena trilhar o caminho mais difícil. Para fugir das estatísticas, é preciso realmente driblar o sistema. Ou com a assistência de uma equipe de saúde pouco convencional, ou em um parto domiciliar com assistência de obstetriz ou enfermeira obstétrica, ou rumando para uma casa de parto, ou...

Optar por parto normal, no contexto urbano brasileiro, não é uma escolha fugaz Mas ela é apenas uma das primeiras escolhas nesse maravilhoso mundo da maternagem. E em seguida vêm outras escolhas e cada vez mais complexas. E toda vez somos solicitadas a aprender, a buscar informação e a decidir.

Não importa muito o processo pelo qual passamos para tomar as decisões que envolvem nossos filhos - mas se tomamos essas decisões com amor e com respeito às individualidades, é certo que a escolha será bem feita. E recompensadora.

***

Este post faz parte da blogagem coletiva da Parto do Princípio!

Blogagem coletiva da Semana do Respeito à Criança

As mulheres da Parto do Princípio estão mobilizando a Semana do Respeito à Criança, uma semana de divulgação sobre aspectos relevantes da maternidade e paternidade ativa. Queremos ressaltar como o melhor presente que se pode dar à criança é o carinho, desde o seu nascimento.
Próximos posts:
11/10 – Ligia Moreiras - http://www.cientistaqueviroumae.com.br. TEMA: Parto hospitalar convencional x parto domiciliar ou hospitalar respeitoso: o ponto de vista de quem chega ao mundo
Thäis M. Bárrall - www.gestantevita.com.br - tema: Intervenções neo-natais – Como garantir uma recepção respeitosa ao seu bebê
12/10 – Carla Arrudawww.ishtarsorocaba.blogspot.com – tema: depoimento de Lina Mor, uma mãe-Ishtar que sofreu com seu filho intervenções em um hospital em Sorocaba.
Flavia Penido - www.bebedubem.blogspot.com - tema: desnecessariedade do berçario comum das maternidades.
13/10 – Ceila Santos - http://blogdodesabafodemae.blogspot.com/ - tema: Casas de Parto
14/10 - Gabriela Martinshttp://www.wix.com/gabrielamartinsva/enf - TEMA: As vantagens de amamentar nos primeiros 30 minutos do pós-parto.
15 - Cátia Carvalho - http://progestante.blogspot.com/ - TEMA: o impacto que a rotina hospitalar pode ter sobre o estabelecimento da amamentação.
Confira essas postagens, divulgue, participe!
Seja você também parte dessa rede de maternidade (e paternidade) ativa!

Piquenique comunitário

Neste dia queremos conversar sobre o melhor presente que uma criança pode ganhar: um nascimento respeitoso e humanizado! Junte-se a nós nessa conversa sobre opções de parto no Brasil em um delicioso encontro de famílias. Traga sua cesta de quitutes e vamos compartilhar comidinhas e bebidinhas, ideias e ideais!

Pedimos aos participantes, se puderem, estamparem a imagem acima em uma camiseta, de preferência, branca. Caso não seja possível, pedimos para comparecerem de camiseta branca.

E tem mais! A comemoração deste dia contará com muita diversão na Cidade das Crianças. Confira a programação especial com espírito circense.

Piquenique comunitário: ação por um nascimento respeitoso e humanizado
Feriado de 12 de outubro
Cidade da Criança em São Caetano do Sul
Alameda Conde de Porto Alegre, 840 - Bairro Santa Maria
Às 10h, ao lado do Espaço Bebê

2 de outubro de 2011

Prática de exercícios deve ser mantida na gravidez

Do Diário do Grande ABC

Camila Galvez




Praticar atividades físicas durante a gestação garante a saúde do bebê e da mãe e evita doenças como diabetes e hipertensão, além de minimizar o ganho excessivo de peso. Porém, duas em cada três mulheres reduzem o tempo e a intensidade dos exercícios conforme a gravidez avança. Os dados são de pesquisa realizada pela Secretaria Estadual da Saúde e pelo Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano.
Durante o estudo, 127 mulheres grávidas entre 16 e 40 anos utilizaram o pedômetro, aparelho que mede o número de passos dados durante o dia. No início da gravidez, elas faziam exercícios diários por, pelo menos, 30 minutos de forma contínua - tempo recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
Dentre as gestantes que diminuíram a atividade física, o nível de exercícios caiu 34% durante a semana já no segundo trimestre de gravidez. No terceiro trimestre a redução foi ainda maior: 41% em relação ao início da gestação.
Para o presidente do Celafiscs, Timóteo Araújo, fatores como ganho de peso podem influenciar na decisão da mulher em praticar menos atividades. "Elas se sentem mais pesadas, a coluna e as pernas precisam se readaptar para que possam se locomover. Muitas vezes elas se sentem mais cansadas por conta disso".
Araújo destacou que a prática de atividades físicas é um item que deve fazer parte do período pré-natal. "Por isso, o acompanhamento médico é fundamental, inclusive para conscientizar as gestantes das complicações ocasionadas pela falta de exercícios".
Para as mulheres que nunca praticaram atividade física e desejam começar durante o período gestacional, é indicado fazer caminhada. Para aquelas que eram ativas antes da gravidez, é necessário buscar atividade aeróbica, como trotar, pedalar, nadar ou mesmo dançar. "A dança ainda favorece as relações sociais e é capaz de manter mãe e bebê felizes, além do gasto energético". 
MEDO
A educadora perinatal Deborah Delage destacou ainda que a visão popular da gravidez como uma doença também contribui para que a mulher deixe de praticar exercícios. "Ela começa a ouvir dos familiares e amigos que deve descansar para não prejudicar o bebê, como se o corpo da mulher pudesse causar mal à criança".

Deborah explicou que as atividades físicas podem ajudar a mulher a ter um parto mais tranquilo. "Se não há restrições médicas, não há motivo para deixar de lado o exercício físico", indicou.


Ex-jogadora de vôlei troca quadras por caminhada e yoga
A gestora de Recursos Humanos Caroline Manfrin, 26 anos, jogou vôlei até os 18 anos. Teve que parar por causa de lesões no joelho, mas nunca deixou de praticar atividades físicas. Fazia academia e corrida. Ao engravidar, diminuiu a intensidade dos exercícios, mas não parou de praticá-los. "Optei pelas caminhadas e yoga, mas não deixei que a gravidez me tornasse sedentária".
A yoga, inclusive, não traz só benefícios físicos, segundo Caroline, mas ajuda a mantê-la mais calma.
Ela é filha de ex-atletas e profissionais da educação física e sempre soube a importância dos exercícios para ter uma gravidez saudável. Tanto que, aos oito meses de gestação, ganhou apenas oito quilos. "Além dos exercícios, mantive a dieta equilibrada, com consumo de frutas e verduras e muita água".
Se bater aquele desejo de comer um doce, Caroline não deixa o pequeno Matheus passar vontade. "Mas procuro maneirar para que meu filho possa nascer saudável e também para que eu possa me manter assim. Afinal, gravidez não é doença".
A futura mamãe lembrou, porém, que a prática de atividades deve ser orientada pelo médico. "Somente o ginecologista que acompanha a mulher desde o início da gravidez sabe das restrições de cada uma neste período".

29 de setembro de 2011

Das causas

Mandala: Oya of Winds


O trabalho por uma causa costuma nascer do encontro amoroso entre duas características da pessoa: paixão visceral indignada e racionalidade sedenta de conhecimento. Quando confluem, essas qualidades conferem eloquência, brilho nos olhos, entrega, compromisso. Quanto mais conhecimento agregado, seja o do tipo formal, seja aquele que se adquire no encontro com o outro, mais apaixonada costuma se tornar a pessoa que se dedica a uma militância. E vice-versa.

As causas costumam ser, por definição, um caminho por onde se anda na contramão. Ou um caminhar contra a ventania. Ou remar contra a maré. Ou ainda nadar contra a corrente. Os mais eruditos chamam isso de contra-hegemonia.

As pessoas que chegam a este grupo de apoio buscam exatamente isto: força para encarar uma luta árdua, que, quando bem-sucedida, leva a mulher a parir respeitosamente seu bebê e – como diz a Carol Valente – a se parir. Mas por que essas pessoas precisam de apoio? Oras, porque estão na contramão! Tudo a seu redor confirma isso.

No Brasil urbano de hoje, a mulher que deseja ser protagonista de seu parto é por vezes chamada por familiares e amigos de caprichosa, irresponsável e até mesmo louca. Apenas porque um dia descobriu que a linha dominante diz que o corpo feminino é perigoso para si mesmo e para os filhos nele gerados, e isto lhe pareceu um absoluto contrassenso. As amigas, irmãs, vizinhas ou tiveram cesáreas eletivas ou pariram com muitas intervenções dolorosas, muitas vezes com cesárea intraparto como consequência de uma cascata de intervenções.

Na busca por uma assistência alinhada com seu “novo” pensamento, a mulher que deseja parir se vê, digamos, em um mato sem cachorro. Sem água no deserto. Se não houver apoio de outras que já trilharam seus passos nem quem acolha seus pesares e dificuldades na caminhada, pode ser que ela não consiga chegar a seu destino.

Por isso, aqui apoiamos quem está nessa busca. Com entrega apaixonada e curiosidade racional. Todas as mulheres precisam ser acolhidas em suas dúvidas diante do desafio de gestar, parir – ou não – e maternar. Mas de apoio, mesmo, precisa quem está na contramão.

***
Por Deborah, com pitacos da Denise

28 de setembro de 2011

Mais um desserviço da Veja


Mais um desserviço da Veja
publicado em 28 de setembro de 2011 às 19:57
por Denise Niy
Do site Viomundo

Como mulher, mãe e ativista do parto ativo, porém, sinto-me na obrigação de denunciar mais um desserviço prestado pela Veja, na matéria publicada recentemente sob o título “Parto domicilar: quando o risco não é necessário”. Como sempre, a matéria abunda em julgamentos baseados em ignorância e mentiras.
Bem, não preciso me alongar, pois felizmente já foi publicada uma outra matéria que traz excelente contraponto à Veja, com bases firmes na ciência, na informação e na cidadania:
http://guiadobebe.uol.com.br/parto-domiciliar-refletindo-sobre-paradigmas/ Porém, é evidente que o canal de publicação deste contraponto tem muito menos visibilidade que a Veja e por isso sugiro a divulgação desse texto de autoria da Dra. Melania Amorim.
Muito obrigada!
*****
Trecho:
“Quando começamos a escrever esta coluna para o Guia do Bebê, em 2010, nosso primeiro artigo abordou um assunto que começava então a despertar o interesse da mídia brasileira: o parto domiciliar. Na oportunidade, revisamos as evidências científicas disponíveis e concluímos que o parto domiciliar, uma realidade frequente em outros países, como Holanda, Inglaterra e Canadá, representava uma alternativa segura para as gestantes de baixo risco, resultando em menor taxa de intervenções como episiotomia, analgesia, operação cesariana e parto instrumental (fórceps e vácuo-extrator), sem aumento do risco de complicações para mães e bebês. Destacamos a publicação, em 2009, de um grande estudo de coorte comparando mais de 500.000 partos domiciliares ou hospitalares planejados em gestantes de baixo risco, no qual não se verificou diferença significativa no risco de morte fetal intraparto, morte neonatal precoce e admissão em unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal.
Interrompendo temporariamente nossa série de artigos sobre Parto Normal vs. Cesárea, voltamos agora a abordar este tema, que recentemente retoma a atenção da mídia despertando intensa polêmica, depois da publicação de matéria online no site da maior revista de atualidades brasileira, com o título sensacionalista “Parto domiciliar: quando o risco não é necessário”. Depois de publicar uma controvertida matéria sobre os milagrosos efeitos de uma medicação antiobesidade que não é aceita pela comunidade científica com esta finalidade a revista volta a fazer incursões na área de saúde, mas desta vez em paz com os “conselhos de medicina”, ao alertar que o parto domiciliar estaria expondo mulheres e crianças a “complicações que podem ser graves”.
À parte considerações puramente semânticas às quais não iremos nos ater, a matéria presta um desserviço à população com suas afirmações categóricas e sem embasamento científico, em que se confundem mau jornalismo e julgamentos apressados, além de um amontoado de lugares-comuns, como exemplificado no seguinte trecho do primeiro parágrafo: “Depois da revolução pela qual a medicina passou no século 20, hospitais tornaram-se lugares mais seguros e indicados não só para tratamento de doentes, como para o nascimento de crianças. É regra que, dadas as condições, não faz mais sentido realizar um parto dentro casa, sujeito a problemas com consequências potencialmente desastrosas que poderiam ser resolvidas em um hospital. Regra, no entanto, que algumas mulheres moradoras de grandes centros urbanos, com todas as condições de usufruir desses avanços da medicina, questionam e ignoram. Essas mulheres defendem o parto à moda antiga, dentro de casa.”
Ora, quem ditou essa regra que as transgressoras “moradoras de grandes centros urbanos” resolvem agora “questionar e ignorar”, defendendo o “parto à moda antiga”? Por que a revista afirma que hospitais são os “lugares mais seguros e indicados não só para tratamento de doentes, como para o nascimento de crianças”? Por que os representantes de conselhos e sociedades batem tanto na tecla de “riscos eminentes”? Seriam os riscos tão importantes assim ou foi somente um erro de grafia?”

Argentinas

Nossas vizinhas de continente pedem ajuda, com a assinatura da petição "Pelo direito da mulher de escolher como, onde e com quem parir". Isso porque a legislação que regula a atuação das obstetrizes está sendo modificada na Argentina, e há um movimento para que se eliminem as casas de parto e para que as parteiras sejam proibidas de atender partos domiciliares planejados.

Solicitação muito semelhante (para o Brasil) já foi feita por aqui e não faz muito tempo. Não é de se perguntar por que isso vem acontecendo? Falando do nosso país, que é enorme e comporta realidades muito distintas, sabe-se que quase todas as crianças nascem em ambiente hospitalar, com assistência de algum profissional de saúde. Nas cidades (ou seja, excluindo-se o meio rural), quase 100% dos bebês nascem assim. Ao mesmo tempo, porém, a mortalidade materna está estagnada no Brasil, em patamares vergonhosamente elevados. O X da questão já foi apontado diversas vezes e por fontes diferentes: as taxas de cesariana estão muito elevadas!

E o que isso tem a ver com aquilo que coloquei no primeiro parágrafo? Oras, tudo! O "nosso" modelo de atenção ao parto ("nosso", brasileiro, argentino, sul-americano, americano e ocidental, grosseiramente falando) tem como base a hospitalização, ou seja, o nascimento acontece numa instituição inicialmente criada para abrigar moribundos, hoje com assistência técnica e tecnológica de profissionais e aparatos caros e desvinculados do nascimento como processo fisiológico, social e criativo.

Esse é o dado, o hegemônico, o comum, o prático e o fácil. Para aquelas que não se enquadram ou não se conformam ou não se adequam a essa assistência, para algumas poucas sortudas, há a possibilidade de assistência por obstetriz, em casa de parto ou em casa mesmo.

Seria lindo, não fossem as disputas ideológicas, de poder e de mercado que essa convivência implica. E por conta dessas disputas, precisamos a todo tempo reforçar o que nós preferimos, o que nós desejamos e o que nós acreditamos ser o melhor: assistência humanizada baseada em evidências. E casa de parto e obstetriz são as duas tecnologias mais inovadoras e de melhor resultado que conhecemos atualmente.

Então, vai lá, registre-se no abaixo-assinado, é bem rápido. É por uma boa causa. E é importante que nós, latino-americanas, reforcemos nossos laços, em especial na luta pela melhor assistência à gravidez, ao parto e ao pós-parto.

http://www.peticiones24.com/porelderechoaelegirelparto

  Por el derecho de la mujer a elegir cómo, dónde y con quién parir. 
Impulsan esta campaña la Asociación Nacional de Parteras Independientes junto con diversas familias, en busca de la libertad de elección para el parto.
   En el mes de agosto pasado, se realizó el III Congreso de Partería en la Cuidad de La Plata. Bajo este marco, se comunicó los detalles de la reforma y actualización de la ley que regula el ejercicio de la profesión Obstétrica en Argentina. La ley vigente, determina que las parteras pueden tener casas de partos, consultorios propios, pueden ejercer su profesión de forma individual o en equipo con otros profesionales, en hospitales públicos y privados y pueden atender a la mujer en su domicilio.
   Lamentablemente, junto con modificaciones favorables, se ha introducido una que es altamente alarmante: eliminar la posibilidad de las casas de parto, marcando una tendencia que llevará a quitar también del proyecto de ley, la atención y asistencia por parte de las parteras de los partos planificados en domicilio.
   De esta manera se quita la posibilidad de elegir una modalidad de parto con profesionales idóneos, con experiencia en este tipo de partos realizados en un marco de seguridad pertinente, que evalúan con claridad qué mujeres están en condiciones de optar por esta opción, profesionales de la salud que se encuentran equipadas con el equipo necesario para brindar un excelente atención y que cuentan con habilidades para resolver o anticiparse a complicaciones antes, durante o después del parto.
   Los conocimientos que se tiene del parto domiciliario tanto desde las altas esferas públicas, como desde la sociedad en su conjunto y desde los diferentes ámbitos de la medicina misma son vagos y escasos. Países como Canadá y Holanda, ofrecen a sus mujeres embarazadas estas opciones de parto con excelentes resultados.
  Las mujeres que toman la decisión de parir en casa con parteras, lo hacen con información y prudencia. Estas mujeres son atendidas y controladas, durante el embarazo, el parto y postparto por una partera calificada, responsable, preparada y en permanente capacitación. Parir en casa no es una moda, ni una elección irresponsable, ya que parir en casa es seguro siempre y cuando la mujer sea sana, el embarazo normal y se esté debidamente acompañada.
   Elegir cómo, dónde y con quién parir, es parte del derecho sexual y reproductivo de la mujer, es elegir sobre su propio cuerpo, sobre los cuidados y atención que se adecuen a sus necesidades y creencias.
                                                   "LA ELECCION ES PERSONAL, EL DERECHO A ELEGIR ES DE TODAS"
  
     Por favor al firmar es importante que coloquen su D.N.I, pueden optar por hacer o no pública su firma.
    Agradecemos infinitamente el apoyo y la difusión.

14 de setembro de 2011

Meia dúzia de sete

"Hoje é meu aniversário, hoje é meu aniversário!"

Foi assim que o meu guri anunciou sua chegada na escola hoje cedo. Pulando na frente de cada um dos funcionários, ele cobrou os parabéns de todos eles. "É feliz aniversário", dizia ele, para logo em seguida sair correndo em busca de outras parabenizações. Bem, entre tantas coisas impagáveis neste mundo, a alegria do meu filho é, sem dúvida, algo que não tem preço.

É lugar comum demais dizer que, como mãe, faço de tudo por ele. Mas é exatamente assim e assado, desde que me descobri grávida. E é por isso também que tento auxiliar minha parceira Deborah no Grupo MaternaMente. Porque acredito que a maternidade pode ser uma experiência incrivelmente enriquecedora e transformadora, a partir da qual podemos mudar o mundo. Sim, eu ainda acredito que nós podemos mudar o mundo. "Nós" obviamente não quer dizer "eu e Deborah", mas nós, mulheres, mães.

Eu particularmente comecei a enveredar por esse caminho na busca por um parto sem episiotomia. Era tudo o que eu queria. E consegui. Mas verdade seja dita, consegui muito mais do que isso. Consegui amizades, conhecimento, informação, motivação, colaboração, incentivo, toda sorte de força positiva para tomar conta do meu próprio corpo.

Obviamente ainda tenho mil inseguranças e dúvidas. A diferença é que, agora, sinto-me mais à vontade para procurar ajuda e perguntar. Sempre tem alguém disposto ou disposta a ajudar. Isso é simplesmente fantástico. Nesse caminho, a Ana Cris foi a primeira pessoa que me estendeu a mão e disse que era possível dar à luz sem ganhar um corte na vulva, e ela foi honesta ao dizer que "era possível", mas que eu mesma precisaria trabalhar por isso.

Alguns meses depois de dar à luz, estava lendo um livro da Sonia Hirsch, jornalista que entende muito de medicina tradicional chinesa e que é adorada por quase todas as vegetarianas que conheço, quando me deparei com um trecho que falava sobre parto. Dizia o livro que, no parto normal, uma episiotomia poderia ser necessária. Imediatamente escrevi à autora pedindo que alterasse essa passagem, já que há evidências sólidas de que a episiotomia não deve ser praticada de rotina e que há inclusive dúvidas sobre sua eficácia (já que nunca se compararam partos com e sem episiotomia). Qual não foi minha surpresa ao receber sua resposta: segundo ela, o livro dizia claramente que uma episiotomia "poderia" ser necessária, e que isso não quer dizer que o corte deve ou não deve ser feito.

Fiquei chateada com a resposta, porque acreditava que a escritora enxergaria na minha mensagem uma oportunidade de atualizar sua obra. Além de não mudar uma vírgula sequer de seu livro, ela ainda adotou a mesma postura da maioria dos médicos brasileiros. Dizer que uma episiotomia "pode ser necessária" significa, na realidade nacional, dizer que mais de 70% das mulheres que têm filho por via vaginal têm o períneo cortado, segundo dados da PNDS. Necessária ou não, a verdade é que parir no Brasil sem ganhar um corte na vulva e na vagina é coisa para poucas mulheres.

Jamais voltei a escrever para Sonia Hirsch. Mas essa experiência foi marcante. Para mim, o livro reforçava a episiotomia como um procedimento normal e aceitável, desejável até. Ao mesmo tempo, não podia deixar de dar razão à jornalista: não se podia afirmar que ela defendia a realização do famigerado "pique". Desses meandros escorregadios impressos nas entrelinhas de um livro para mulheres nasceu o meu projeto de pesquisa para o mestrado.

Pois bem. Meu filho tem seis anos e a busca por um atendimento respeitoso para o seu nascimento já me rendeu mais algumas crias! Citei aqui o grupo e o mestrado, mas nessa meia dúzia de anos, as mudanças foram tantas e tão significativas que minha gravidez já parece distante no tempo. E olha que ainda ontem eu babava em cima desse banguela lindo!

1 de setembro de 2011

Encontro de agosto

Olha só, a Carol Robortella contou como foi o encontro do grupo. Valeu, Carol, você é uma graça!!

Reunião MaternaMente do dia 27/08
No dia 27, sábado, tivemos mais um encontro do grupo MaternaMente, em São Caetano. Foi muito legal e produtivo. Compareceram um casal, a Maria Carol e o Paulo, a Doula Adriana, eu e Elis e a Débora. Fora a criançada! Ficaram todos brincando enquanto rolava a reunião.

Ma Carol e Paulo estão grávidos e procuram saber mais sobre Parto Humanizado, foi muito legal contar para eles a minha experiência do parto da Elis, e ainda contar com a ajuda da Dé para o relato. Nunca haviamos feito um relato "intercalado", cada uma falando um pouco sobre aquele dia. Foi bem legal, e só de me lembrar, engraçado, já me emociono e me dá vontade de chorar. Adri também é um doce, gostei demais dela e espero encontra-la muito mais vezes!

A conversa rendeu tanto que passamos MUITO do horário de terminar rs, seria para terminar as 16h, mas foi até umas 19h... e se desse, ainda ia mais longe.
Pela primeira vez ouvi todo o relato do parto da Dé, foi uma cesárea muito difícil. Cada vez mais percebo o quanto as mulheres são violentadas ao darem à luz, e o pior, muitas delas sem saber que estão sendo violentadas! Muito triste mesmo.

Bem, vamos aí, seguindo em nossa caminhada. Esses encontros são muito importantes para mim, pois são uma forma de eu exteriorizar e conseguir aos poucos falar dessa experiência que foi tão importante.

Por Carol Robortella

22 de agosto de 2011

Escolhas de vida

Ontem visitei uma amiga que está no fim da gravidez, completou hoje 37 semanas. Eu a conheço há muitos anos, desde que tínhamos 15 anos e sequer pensávamos em formar família. Desde então, muita água rolou, nós fizemos faculdade, arrumamos uma profissão, mudamos... de endereço e de vida.

Ela me recebeu em sua casa com muita alegria e simpatia, como sempre. Mas já foi logo anunciando que a sua cesárea já está marcada para o dia 31, quando então terá 38 semanas e 2 dias. Ela queria muito que o bebê ficasse em sua barriga mais uma semana, mas então será feriado de 7 de setembro, e a maternidade já está lotada para esse dia.

Todas essas novidades em avalanche me tiraram a voz - e agora penso, aliviada, que isso foi providencial. Afinal, minha amiga já fez sua escolha e ela é compartilhada pela médica. Nada mais prático, conveniente e civilizado do que um nascimento com data e hora marcados. Basta pegar a malinha e ir para a maternidade, tranquila e penteada.

Quando consegui me recompor, percebi que deveria preservar a amizada de tão longa data. E para isso era fundamental oferecer apoio, não crítica, à escolha que minha amiga fez. Então, busquei serenidade do fundo do meu coração para selecionar e passar algumas informações que poderiam ser úteis a ela. "Política de redução de danos", eu martelava na minha cabeça. E foi o que tentei fazer.

Saí de lá com o coração muito triste por perceber que algumas mulheres simplesmente não percebem a oportunidade que deixam passar ao agendarem uma cesariana sem qualquer indicação médica. Deixam de viver uma experiência ímpar, indescritível, e muito gratificante, muito construtiva para a vida de mãe. A mistura de alegria, medo e ansiedade quando começa o trabalho de parto... as contrações involuntárias, que tomam conta do corpo e fazem tudo acontecer magicamente... a percepção de que o bebê é um ser humano que quer vir ao mundo, que tem vontade, que tem força...

Mas enfim, essa vontade de viver uma experiência incrível que é o parto eu não posso plantar em ninguém, nem nas minhas amigas que conheço há tanto tempo. Mas eu posso, ao menos, mostrar que:

- cesáreas agendadas não são legais para a saúde do bebê, e ao contrário do que os médicos insistem em dizer, faz muita diferença um bebê nascer de 37, 38, 39 ou 40 semanas;

- a maioria das mulheres é capaz de parir e a maioria dos bebês é capaz de nascer de parto normal. E quando eu digo maioria, é mais de 85% dos casos.

Será que a notícia do New York Times tem poder persuasão maior do que eu? Quem sabe ela importe, além do enxoval e dos brinquedos, um pouco das evidências científicas... o modelo obstétrico americano não é dos melhores, e as críticas a ele são basicamente as mesmas que fazemos ao modelo brasileiro. Quem sabe...

Eu me iludo, eu sei, pois cada pessoa é dona de si para fazer as próprias escolhas...

11 de agosto de 2011

Dúvidas das certezas

Fui uma grávida absolutamente calma, feliz, de bem com a vida. Isso facilitou bastante meu caminho em direção ao empoderamento e meu limite foi: parto normal hospitalar com anestesia mas sem espiotomia. Fiquei satisfeitíssima com o resultado. E foi ótimo. Foi do jeito que eu queria, porque a única certeza que eu tinha dentro de mim era de preferir uma cesárea a uma episiotomia. Cortar a mimosa? Nem pensar! E como era essa a minha verdade e ela foi respeitada, posso dizer de boca cheia e coração leve que fui respeitada em minhas decisões.

Hoje penso que o parto poderia ter sido diferente, de detalhes pequenos até grandes decisões. Mas hoje não vale, afinal, já passei pelo trabalho de parto, pelo parto, pelo pós-parto, meu guri já tem 5 anos, e já tive oportunidade suficiente para repensar e ressignificar a gravidez e o nascimento do meu filhote.

Sou uma felizarda por isso.

Porque para muitas mulheres essa reescrita só se faz com uma nova gravidez, um novo parto, um novo nascimento. Quando isso é possível, e a mulher de fato consegue vivenciar o processo de dar à luz de modo diferente, um milagre acontece - e a mulher transforma-se em sua essência. Mas e quando não há planos de mais filhos? O que fazer?

Infelizmente só passamos a duvidar de algumas certezas quando a vida exige. Só então conseguimos enxergar que algumas certezas não são tão certas assim, que as dúvidas são benéficas, que as incertezas nos fazem refletir e procurar caminhos alternativos, elaborar "planos B" para o caso de os "planos A" falharem...

Hoje acredito que isso faz parte da lição de humildade que a maternidade nos dá. Mas é uma pena que às vezes a lição chega tarde e a mulher perde a oportunidade de parir, por exemplo.

Planos são feitos por seres humanos e, por isso mesmo, são falíveis. Trabalhando com essa possibilidade vamos ter a oportunidade de conhecer atalhos e caminhos alternativos que poderão nos levar até o destino final do mesmo modo. Então, se podemos saber de antemão onde estão esses caminhos, por que não conhecê-los?

Duvidar das certezas é um exercício árduo. Mas que pode fazer toda a diferença.

8 de agosto de 2011

Relato do Parto da Elis - por Carol

Pra ser muito sincera, não sei nem por onde começar. Porque hoje, 12 dias depois de tudo ter acontecido, ainda sinto pulsar dentro de mim tudo o que aconteceu como se fosse hoje. Foi muito forte. Muito intenso. Muito especial. Muito lindo. Nem comecei a escrever e já to chorando aqui.

Quero apenas, antes de começar o relato em si, deixar claro que o que aconteceu no dia 13 de junho, pra mim, não caberia em apenas um relato de parto. Porque naquele dia eu não pari apenas a minha pequena. Eu ME pari. Pari a Carol que nem eu mesma conhecia. Nem eu tinha idéia da força que tinha dentro de mim. Apenas confiei. Mas não imaginava que seria tão intenso e forte como foi. E que eu teria a auto-confiança que tive.

De verdade, eu precisava escrever um livro pra contar exatamente tudo o que tenho vontade sobre meu parto. Porque, para eu chegar ali, naquele momento, passei por coisas importantes na minha vida, que precisavam ser contadas, para que, quem lesse o relato, entendesse exatamente o que ele significou para mim. Acredito que na vida nada é “uma coisa separada”. Tudo o que a gente faz tem relação com os acontecimentos seguintes, e anteriores. Por isso acho uma tarefa bem dificil fazer meu relato de parto em “poucas” palavras (que não serão poucas, mas como disse, por mim escreveria um livro rs), mas quero muito que essa historia seja contada, pelo menos para que tenham uma idéia. Porque foi mesmo muito especial e quero que outras mulheres saibam da força que todas temos, e muitas vezes nem sempre percebemos. E quem sabe, com o tempo, vou tecendo ainda mais essa historia? :)

Contextualizando...

Eu nunca fui daquelas pessoas que você olha e fala: nossa essa aqui vai ser médica. Ou, nossa, que grande jornalista ela vai se tornar! Desde pequena. Eu nunca tive uma “vocação” profissional muito clara. Na verdade acho que ninguém tem né, ninguem nasce sabendo nada. rs. São coisas que a gente constroi mesmo. Sempre gostei de varias coisas, me dei bem com varios tipos de pessoas, mas nunca disse: “eu vou ter tal profissão”. Mas, uma coisa eu tinha certeza, desde menina: eu queria ser mãe. Era a unica certeza que eu tinha na vida, desde sempre.

(pausa para um parenteses: neste momento Elis está do meu lado quietinha, com os olhinhos abertos, eu sei que ela não enxerga muito mas parece que tá com os olhos atentos rsrs, coisa mais linda rsrs - olha que mãe babona rsrs)

Por sempre querer ser mãe, sempre conversei com minha mãe sobre parto. Ela sempre me conta de como foi o parto dela. O meu e o de minha irmã foram partos normais. Minha mãe ficou cerca de 12 h em trabalho de parto nos dois casos. Com nossas conversas, eu sempre tive pra mim o parto normal como “normal”. rs. Não seria obvio?? ….

Bem, eis que uma amiga que de inicio era apenas uma professora da pós, grávida dois meses na minha frente, a senhorita Michelle Prazeres, rs - que acabou se tornando uma grande compa e confidente - me indicou um grupo de gestantes, um tal de Gama (clique aqui para ver o site)... eu ja ouvia falar desse grupo por uma outra amiga, que nunca participou do grupo em si mas teve o parto em casa, da filha dela de 5 anos, em Minas.

No inicio da gestação não consegui ir ao grupo, estava de mudança para o ABC. Somos de Santos, Baixada Santista, e meu marido acabara de conseguir um emprego melhor no ABC. Até nos ajeitarmos demorou um pouco, foi um pouco conturbado (imagino que como todo inicio de gestação, principalmente do primeiro filho), mas logo que as coisas se acalmaram fui conhecer o grupo. Ja havia lido algumas coisas e fiquei bem animada, pensava mais em encontrar mulheres que como eu estavam passando por momentos dificeis, a cabeça fica mesmo meio confusa, e eu, longe dos amigos, queria encontrar gente que pudesse trocar experiências e me sentir mais segura.

Outro adendo: A quantidade de asneira que mulher gravida ouve é impressionante, e eu fui meio ingenua, sei lá, no inicio me assustei com várias coisas que ouvia. E o pior é que acreditava. As pessoas acham que barriga de grávida é domínio público e saem falando muita merda. Desculpem a palavra mas é isso mesmo. rs... nunca mais vou me esquecer do que minha amiga Jamila Maia que conheci no Gama me disse: “a primeira coisa a comprar quando a gente se descobre grávida é um par de tampões de ouvidos.” rs... com o tempo aprendi. Aprendi no Gama, mesmo. rs

Pois bem, quando cheguei no Gama, com meu marido Jeff, me deparei muito mais do que com um simples grupo de gestantes. Me deparei com mulheres fortes. Guerreiras. Sábias. Já no primeiro momento, me senti mais confiante. Mas, o que eu não sabia, é do panorama de cesáreas no Brasil. Não sabia que era tão estrondoso o numero de mulheres que sofrem cesáreas desnecessárias. Para mim que tinha o parto normal como “normal”, foi realmente um choque. Ali descobri que não bastava eu querer que fosse parto normal e pronto. Eu precisava lutar por isso. E lutar muito. Pois no Brasil, a cesárea é a regra e o parto normal, excessão. Pensava comigo: tá tudo de ponta cabeça mesmo! Fiquei mesmo assustada.

Foi então que passei a procurar um grupo como o Gama no ABC. Procurei na internet e achei um blog muito legal, o maternamente.blogspot.com, e através dele conheci a Déborah Delage, que coordena os encontros no ABC, e passamos a nos conhecer melhor. Ela passou a me apoiar e me ajudar nas minhas escolhas. Foi essencial te-la ao meu lado, desde o inicio. E com ela conversei muito sobre o que falamos no Gama, sobre a taxa de cesáreas no Brasil, sobre o direito de as mulheres terem seus partos de forma humanizada, sobre a falta de informação.

O sentimento que dá de inicio e que sinto até hoje é raiva. Muita raiva. Raiva de as mulheres não terem o direito de escolha. Conversei com várias mulheres. Descobri que a grande maioria delas tinham feito cesárea desnecessária, e muitas delas não queriam que fosse, mas talvez tenha faltado informação, esse tipo de informação que a gente teve acesso no grupo. Ainda é algo que penso até hoje. Descobri que é algo cultural. Quando eu falava para muitas delas que queria parto normal, era chamada de corajosa. E comecei a me espantar de verdade.

Até que tive a maior prova do que realmente acontece. Comentei com meu médico da UBS que eu e Jeff haviamos nos decidido por ter nosso bebê na Casa de Parto de Sapopemba (CPS)e recebi uma resposta assim: - Mas você não precisa disso! No hospital você terá muito mais recursos. E tem uma UTI do lado caso aconteça alguma coisa.

Fiquei com tanta raiva. Mas tanta. Pensei: eu não preciso do que? de um médico como esse, certo?? Um cara que nem sequer quis conversar sobre o assunto. Já veio falando que não era bom. E onde está o meu direito de escolha?? Fico pensando nas mulheres que não sabem que têm que lutar por isso e se deixam levar pelo que o médico fala. Na minha situação eu fiquei tranquila, pois sabia o que estava fazendo porque tive acesso às informações. Mas nem todas as mulheres têm. Elas acabam achando que precisam falam AMÉM para o que o médico falou. E acabam se tornando vítimas de uma cesárea, mesmo não querendo e não precisando. Essa é uma discussão que vai longe e por mim ficaria aqui escrevendo tudo o que penso sobre isso, mas como aqui o objetivo é contar como Elis nasceu, então vou parar por aqui. rs. Mas só fico pensando o que eu teria perdido se tivesse feito uma cesárea a 12 dias atrás. Porque o que eu vivi devia ser um direito de todas as mulheres.

Com a CPS escolhida, com 37 semanas passamos a ir às consultas semanais. Estava tudo bem com meus exames e tudo indicava que seria um parto humanizado, como nós havíamos sonhado desde o inicio. Foi então que a Déborah me deu uma idéia muito legal. De, no dia do meu parto, ser acompanhada por uma parteira, a Mariane Menezes, ao meu lado, acompanhando o processo, e ir junto comigo para a CP. Mas a idéia era apenas acompanhar mesmo, para me deixar mais tranquila durante o processo. E isso me tranquilizou ainda mais. Estava tudo pronto para o grande dia.

Eu ainda não conhecia a Mari, e perguntei para a Débora se ela tinha email ou perfil no Facebook, ela me passou o nome e eu adicionei. No dia 12 a noite, mandei um recado para ela, dizendo que queria me encontrar com ela, para nos conhecermos melhor e tal, rs... iríamos nos encontrar naquela semana em algum lugar.

No dia seguinte, dia 13 (39 semanas), acordei e passei a mão na barriga, ainda na cama. Conversei com Elis e disse que estávamos loucos para conhece-la. Que estava tudo pronto e que ela podia vir na hora em que ela quisesse.

Ah, me lembrei agora, nesta mesma semana eu mandei e-mail para várias pessoas que estavam longe mas que eram muito especiais pra mim. Pedi para me mandarem energias positivas, para que ela viesse antes das 41 semanas, pois o meu maior medo era que passasse das 41 semanas e eu tivesse que me virar de outro jeito, afinal na Casa de Parto eles já deixaram avisado que a partir desta data eu não poderia ter meu bebê lá. E o medo de acabar tendo que fazer uma cesárea no hospital?? Me bateu um certo medo, me lembro que até comentei na lista do Gama, e algumas meninas me tranquilizaram (by the way, essa lista me ajudou DEMAIS durante toda a gestação e agora a uso para minhas duvidas de mamãe de primeira viagem rs). As palavras dos amigos, mesmo que pela internet, me ajudaram muito a sentir a atmosfera boa que eu sentia. Uma energia muito gostosa, de saber que muita gente que eu amo muito estava pensando em nós, sem pressões, sem desesperos. Apenas mandando coisas boas. Eu senti de verdade.

Me levantei para ir ao banheiro e senti que a cabeça dela (da bebê) estava mais baixa. Sentia ela no meu pubis. Achei engraçado porque eu acabara de conversar com ela, e a senti cada vez mais perto de mim. Mas não imaginava que estava tão perto assim. rs

TRABALHO DE PARTO E PARTO

Durante a gestação eu li muuuuuitos relatos de parto e todos eles mostravam 10, 15, 20h de trabalho de parto. Como disse, minha mãe ficou 12h. Então para mim estava meio que certo que pelo menos umas 10h eu ficaria em TP. Nas semanas anteriores, eu e Jeff lemos os relatos juntos, vimos videos de partos, lemos um livro que mostrava as posições legais para o pai ficar junto da mãe no momento (abraçando, fazendo massagem, etc). Ele sempre me dando muito apoio, participando comigo dos grupos, das discussões, super envolvido mesmo. Isso fez toda diferença sem sombra de dúvidas. Estávamos juntos nessa, para o que aparecesse. Queríamos que a nossa filha viesse da forma mais humanizada possível, e com a participação dele. Me lembro que fomos a uma reunião do Gama onde foram dois casais que tiveram bebê em casa, e o mais legal foi ver o relato dos pais (homens). Fora que ver o vídeo do parto em casa emociona demais, e isso vimos bastante lá no Gama e em casa. Eu sabia que ia doer, mas estava tão fascinada pela forma tão natural de uma criança chegar ao mundo, que não pensava na dor. É uma dor necessária para que um nascimento aconteça, e não uma dor de sofrimento. Aliás foi só nessa fase da minha vida que consegui separar dor de sofrimento. Eu já mentalizava a gravidez inteira que nem sempre a dor significa sofrimento. Quer coisa mais linda do que uma dor que trará uma criança ao mundo??? e de fato foi o que aconteceu. :)

Senti essas dores no pubis, era mais ou menos 8:30h e avisei a Débora. Não era uma dor imensa, era apenas uma pressão mesmo. Como se ela tivesse “encaixado” ainda mais. Mas, até o momento era apenas isso e eu não tinha com o que me preocupar.

Tomou conta de mim um sentimento gostoso. Tipo uma felicidade inexplicável. Me lembro disso. Tanto que eu estava na frente do computador, levantei e coloquei uma música no som da sala, e comecei a cantarolar. Estava feliz. Acho que pressenti que ela estava mesmo chegando. Pensei: será hoje que conhecerei esse serzinho que está aqui dentro a tanto tempo? Senti ela muito perto de mim. Um sentimento que tomou conta de mim. Meio inexplicável. ALiás tudo o que to escrevendo aqui pra mim é muito dificil de explicar e de verdade não sei se to conseguindo passar direito o que quero. rs, porque tá tudo muito latente e intenso ainda dentro de mim.

Cerca de uma hora depois voltei ao banheiro e notei um borrão. Tipo borra de café. E fui avisando a Débora. Liguei também na Casa de Parto, e não havia mesmo motivo para grande alerta, apenas continuar observando. Não sentia nenhuma dor.

Dali um tempo olhei novamente e notei que havia outra mancha. Era sangue mas não sangue vivo, era tipo um sangue gelatinoso, meio marrom também. Foi engraçado, levei um susto tremendo, como se fosse a primeira menstruação. rs. Me lembrei da minha primeira menstruação neste momento, levei o mesmo susto na época. Eu tinha 10 anos e sabia o que aquilo significava, pois minha mãe sempre falou disso comigo. A partir daquele momento, meu corpo estava se preparando para que eu fosse mãe. Que louco me lembrar disso neste momento, pensei. rs

Avisei a Dé e ela me disse que poderia ser o tampão que havia começado a sair. Mas sempre muito tranquila e me tranquilizando. Eu havia lido nos relatos que quando o tampão sai, é sinal de que está realmente perto. E aí me bateu uma felicidade ainda maior :)

Comecei a sentir uma pequena colica, tipo colica menstrual. A quanto tempo eu não sentia isso. rs. Já era em torno de umas 12:00. Pensei comigo: vou comer direito porque não sei o que me espera. As dores não estavam grandes e por isso desci e fui no restaurante comprar uma marmita reforçada rs... foi a melhor coisa que eu fiz, pois ia mesmo precisar de muita energia naquela tarde. Quando voltei, liguei para o Jeff, que estava trabalhando e disse a ele que a Elis estava querendo chegar. Ele sempre me passando tranquilidade, e realmente tranquilo, disse que tentaria terminar logo e chegar mais cedo. A Dé havia me dado a dica de avisar ele para trazer comidas que eu gosto, e para ele vir antes para ficar comigo. As dores começavam a aumentar, agora cada vez mais. Já não era apenas uma dor de cólica menstrual. Era essa dor bem aumentada. E vinha mesmo em ondas, eram mesmo as contrações (!!!!).

Entrei no famoso site contractionmaster.com, que li nos relatos das meninas, rs, e fui marcando quando vinham as contrações. Elas duravam cerca de 20 segundos e apareciam de 4 em 4 minutos... 4 em 4???? ups!!!!! Me lembrei que na CP haviam me dito para ir para lá quando elas estivessem de 5 em 5 minutos durante 2 horas!! Só que eu havia começado a sentir fazia menos de uma hora, então achei que ainda demoraria e que daria tempo de ir para a CP. Haviam me dito também que as contrações duravam cerca de 40 segundos, e isso também me fez pensar que ainda faltava muito. Eu precisava avisar meu pai caso estivesse na hora, pois ele me levaria, estava tudo certo, estudamos o caminho, ele me levou nas consultas. Só que a minha preocupação era avisar ele cedo demais, e ele ficar muito ansioso, e eu sabia que a ansiedade dele (completamente normal, lógico!!) talvez me deixasse também ansiosa, então queria avisa-lo na hora certa. Mas como saber a hora certa?? rs

A esta altura, acho que a Dé ja estava pressentindo que a coisa estava mais rapida do que o normal... eu, barriguda de primeira viagem, nunca ia imaginar que estava muito mais perto do que eu imaginava. Mas o ponto chave foi a tranquilidade que ela me passou em todos os momentos, e sabia que tinha pessoas ao meu lado, e isso fez toda a diferença. Ela me ligou e disse que a Mari estava a caminho, que ia chegar antes dela, para ficar comigo.

O Jeff chegou e eu já começara a gemer de dor... era cerca de 15:00. As contrações agora vinham de 3 em 3 minutos e duravam cerca de 30 segundos. Eu deitei na nossa cama, pensei em um lugar que me sentisse a vontade, ou uma posição mais confortável. Queria ficar de cócoras, agachada, mas estava com o joelho todo ferrado pois uma semana antes havia me machucado... então fiquei na cama mesmo. Ele veio ficar ao meu lado e fazia massagem nas minhas costas, na lombar, que é onde doi muito. Em um outro momento me senti melhor em pé, encostada nele. Na hora em que vinham as contrações eu o abraçava.

Então resolvi ir para o chuveiro. Pensei: me sentirei melhor. Água me faz bem. Entrei no box e primeiro coloquei um banquinho pra ver se me sentia melhor sentada ali. Aí vi que o que eu queria mesmo era sentar no chão. O Jeff ficou preocupado de estar muito sujo, mas na hora nem pensei em nada, só pensei que queria ficar no chão. Pois ali sentei, e fiquei deixando a agua quente bater no rosto e na barriga. As contrações vinham, cada vez mais fortes e eu deixava meu corpo falar. Tinha vontade de gritar e gritava, de gemer e gemia, deixei meu corpo dizer o que ele queria e fui fazendo o que dava vontade. O Jeff vinha e voltava, entrava no banheiro para saber se tava tudo bem, e depois de meia hora eu saí. Foi quando o interfone tocou, era a Mari. 16h. Enquanto ela subia eu coloquei uma camiseta e voltei pra cama. A essas horas minhas dores estavam já bem fortes. Mari chegou, eu nunca tinha visto ela na vida, mas mesmo assim fiquei tranquila por ela estar ali. Já na primeira contração ela pegou na minha mão bem forte. Isso fez muita diferença, mesmo sendo um gesto tão simples. E quando paravam as contrações, ela ouvia os batimentos do bebê com um aparelho que não me lembro o nome. rs (é, na hora não me interessou o nome, mas hoje me pergunto rsrs), eu me lembro que perguntei se estava tudo bem e ela me disse quem sim.

(Os horarios Jeff está me ajudando a dizer, porque na hora claro que nem passava pela minha cabeça saber hahahahah).

Mari mediu a dilatação: 5 cm já! Estava tudo acontecendo muito rápido. Muito mais rápido do que normalmente é. Conforme as dores vinham eu focava no pensamento de que eu tinha que passar por aquelas ondas para chegar até a minha filha. Eram ondas que doíam muito, mas que ao final me trariam um presente. Então aguentava firme.

Depois de um certo tempo, senti vontade de fazer o “numero 2”. De tantos relatos que li, sabia também que ao chegar nesse ponto o grau de dilatação está avançado. Olhamos o horario e já eram quase 17h, hora de rush, meu maior medo. Meu medo por ter escolhido a Casa de Parto era justamente que fosse na hora do rush, pois sem transito levavamos cerca de 40 minutos, mas com transito, podia chegar até 2h. Aí sim me bateu um desespero. Não sei se posso considerar este um momento “partolandia” rs, mas me lembro que conforme as contrações mais fortes vinham eu gritava: EU NÃO QUERO IR PRO HOSPITAL! EU NÃO QUERO IR PRO HOSPITAL! Pois eu sabia o que ia acontecer se eu fosse. Pesquisei, conversei com pessoas do hospital que eu iria se precisasse, o mais proximo, durante a gravidez, e fiquei ciente dos procedimentos deles. Nada humanizados. (deixando claro aqui que existem alguns, poucos, bem poucos, médicos e hospitais humanizados, mas existem... mas isso precisa ser MUITO pesquisado e até é bom pedir ajuda a quem entende pra ver se é mesmo!!)

Me bateu um desespero de verdade nesta hora. Foi quando perguntei para a Mari se ela faria meu parto aqui mesmo, em casa (até que eu tava bem ciente das coisas mesmo em TP avançado kkkkkkkkkkkkkk), e ela me disse que sim. Eu pensei: Se eu saisse de casa naquele momento, teria meu bebe em qualquer lugar, no carro, na ambulancia, onde fosse, menos em um lugar seguro, porque eu ja tava sentindo que Elis estava bem perto. E entre todos esses, nada melhor do que minha casa.

Bem... na proxima contração veio mais forte a vontade de “numero 2” e eu quis ir ao banheiro tentar ver se saía alguma coisa. Sentei no vaso e percebi que, ao sentar, fiquei numa posição mais confortável para parir. Acho que até comentei na hora, aqueles banquinhos de parto devem ser bem úteis. Parece que quando sentei a bebê ficou numa posição melhor para sair. As contrações vinham e eu começava a gritar bem alto. Já sentia que ela ia sair em pouco tempo e avisei a Mari. Mari mediu minha dilatação, não me lembro se era 8 ou 9, mas tava muito, muito adiantado. Devia ser ja umas 17:10. Me lembro que eu conversei com Elis e falei pra ela me ajudar. Queria acabar logo com aquilo.

Mari me lembrou que ali no vaso não seria um bom lugar para a bebê sair, por motivos obvios rsrs... então eu escolhi o quarto da Elis para ficarmos. Pedi para o Jeff ficar atras de mim, ele sentou em um banquinho, encostado na parede, e colocou meu colchonete da Yoga no chão (eu quis ficar no chão, denovo), e ali eu sentei entre uma contração e outra.

Foi então que veio mais uma contração e eu fiz bastante força. E então senti Elis saindo. A bolsa estourou e ela saiu de uma vez. Em uma contração só.

Nesta hora não sei o que acontecia racionalmente, só sei que Mari colocou ela no meu braço e eu comecei a chorar. Era muito sangue pelo chão. MUITO mesmo. Mas era a cena mais linda que eu poderia ter vivido na minha vida (to chorando muito agora). Minha filha ali, com o cabelinho cheio de liquido amniotico, no meu colo. Ela nem chorou. Ficou ali quietinha. Estava otima, muito tranquila. Eu olhava pra ela e não acreditava. Senti um misto de alívio, felicidade, missão cumprida. sei la. Até agora não sei o que senti. É muita coisa junta. Só sei que o quarto se encheu com um perfume muito forte, era o perfume dela, que ela ainda tem até hoje. Elis havia chego. Olhei para o Jeff e choravamos juntos. Mari lembrou de olhar no relogio pra ver o horario do nascimento, pegou o celular no bolso e falou: 17:22. Eu ja não sentia mais nenhuma dor. Assim que a bebê saiu, minhas dores todas se foram. Eu havia passado pelas ondas e chegado até minha filha. Estavamos juntos, eu, Jeff e Elis, finalmente.

Elis ficou no meu colo pois o cordão ainda não fora cortado. Queríamos também esperar o cordão parar de pulsar para cortarmos. Detalhe muito doido: não tínhamos como cortar o cordão rs...

Uma coisa que quero deixar bem clara aqui, é que meu parto foi, como define Ana Cris do Gama, um “parto tsunamico”... foi MUITO MAIS RÁPIDO do que imaginávamos e do que normalmente é.

Fiquei sabendo depois que Jeff havia ligado para o meu pai vir, acho que ele pensou por um instante que daria tempo de ir à casa de parto. Então meu pai chegou. Eu ainda estava na posição de parir, esperando cortar o cordão. Meu pai olhou e não sabia se ria ou se chorava. Começou a chorar de emoção. Eu ali no chão com minha filha no colo, e o Jeff atras de mim. Depois de tudo tambem me dei conta de que a Dé não tinha conseguido chegar a tempo, tinha muito transito, e a Mari ligou pra ela e disse: fazem 20 minutos que uma criança nasceu. Imagino como ela deve ter ficado rsrs... Depois me dei conta de que elas se falaram o tempo todo no meu trabalho de parto pelo telefone rsrs, na hora nem me liguei, só quando recobrei a consciencia é que fui saber dos detalhes rs

Bem... meu pai mais ou menos recobrado do susto, desceu na farmácia (que é logo bem baixo do prédio rs) e comprou o que a Mari pediu: fio dental e tesoura. rs. Ele contou que precisou contar na farmácia o que tava acontecendo para passar na fila, na frente, pois a fila estava grande. rs

E eu preocupada com a ansiedade dele... rs. Ele foi sensacional.

Ele voltou e então a Mari cortou o cordão, amarrou o fio dental primeiro e cortou com a tesoura (Mari e Jeff me corrijam se eu estiver errada, tem muito detalhe que ainda não me lembro rs). Só sei que assim que ela cortou, passei Elis para o Jeff segura-la. Ele a pegou no colo emocionado.

Essa tesoura está guardada e eu mostrarei a Elis quando ela crescer. Manchada de sangue do cordão umbilical dela.

Não me lembro se a placenta saiu antes ou depois de cortar o cordão, sei que precisei fazer uma pequena força para ela sair. É um negocio gosmento rsrs, mas muito bonito de pensar que foi o que nutriu minha filha por 9 meses. Guardamos em um pote tipo batedeira de bolo ahuahuahhau (que roots!! - como diz o Jeff - kkkkkkkkkkkkkkkkk), para levarmos para a Casa de Parto.

Resolvemos então que iríamos para a Casa de Parto para fazer os procedimentos de nascimento e tal, e assim fizemos. Mas antes disso, dei de mamar pela primeira vez à pequena. Sentei na cama, em cima do absorvente que a Dé trouxe, e pela primeira vez senti minha filha mamando, e o mais doido é que ela sabia exatamente o que fazer. Parecia que mamava a muito tempo. A natureza é mesmo impressionante. Só sei disso. Como disse para as meninas depois, Dé e Mari, a força da natureza é muito forte. Quando o homem acha que manda em alguma coisa, vem ela e dá um baile. Quem pode com essa força?? Enquanto o homem achar que pode mandar na natureza, o mundo vai continuar sendo essa sujeira. Opinião minha. Porque a natureza é muito sábia. Vi isso também pela amamentação. Eu não tinha nada de leite antes de Elis nascer. Foi ela nascer, que meus seios se prepararam e o leite começou a sair MUITO! Não foi nem muito antes nem muito depois do parto, foi na hora certa. Quem manda na natureza, mesmo??

Depois que Elis mamou, eu levantei (ahh me lembrei que tentei me levantar antes mas fiquei um pouco tonta... as meninas me trouxeram um suco e eu tentei denovo e não me senti mal), e fui tomar um banho. Esqueci de contar que o vovô trocou Elis pela primeira vez, e ficou com ela enquanto eu tomava banho. Meu pai me contou que avisou minha mãe e que ela havia ficado muito surpresa, e ela foi nos encontrar direto na Casa de Parto, pois ela estava em uma reunião fora de SÃO Bernardo rsrs, imagina o susto que ela não deve ter levado quando saiu da reunião e ficou sabendo que a neta havia nascido rs - ah esqueci de avisar que eu cheguei a ligar para minha mae quando ainda não sentia as contrações, apenas as colicas, mas achava que vararia a noite em trabalho de parto nesta hora. Aliás Mari e Dé também achavam que passariam a noite aqui em casa rsrs, ninguem imaginava que em menos de 5 horas a pequena ja haveria chego ao mundo. rs

Por falar em minha mãe, nunca vou me esquecer do abraço que nos demos quando cheguei na casa de parto. Estava emocionada demais. Assim que a vi, abracei-a e chorei muito. Como se falasse: ela está aqui, mãe. Ela chegou. Ela também chorou. Me disse palavras lindas que nunca mais vou esquecer.

O apoio dos meus pais em todos esses momentos foi também essencial para que acontecesse como aconteceu. Desde o inicio eles estiveram ao meu lado em nossa escolha. Pois não queríamos apenas um parto normal, queriamos um parto humanizado, o que seria possivel apenas em casa ou na casa de parto, e nunca em um hospital. E eu sei que muitas mulheres passam por grandes problemas neste sentido, porque não basta voce resolver que quer ter um parto humanizado, muitas vezes a mulher tem que convencer o marido e os pais de que este é o melhor caminho, e nem sempre isso é fácil. Conheci no Gama mulheres que sofrem muito por seus maridos não entenderem porque querem um parto natural. Por isso mesmo, muitas delas nem contam para a família, pois sabem que realmente elas podem não entender e tornar as coisas ainda mais dificeis. No meu caso eu sabia que meus pais entenderiam, mas nem todos são assim. Tenho consciencia de que estava tudo ao meu favor.

Só o que tenho a dizer disso tudo, é que só consegui toda essa força porque estava ao lado de mulheres que me deram força. Coincidentemente, antes de ir ao Gama pela primeira vez, li um livro chamado “A Ciranda das Mulheres Sábias”, da Clarissa Pinkola Estes, indicado pela minha Mulher Sábia mãe, é um livro pequeno mas muito especial. Acho que toda mulher deveria ler este livro. É um resgate da força da mulher. Até em meu blog, antes de ler o livro, escrevi como me sentia grávida, e neste texto me comparei com uma árvore e sua força interior. E coincidentemente, dias depois, comecei a ler este livro, que fazia exatamente esta comparação. O livro fala de apoio e união de mulheres sábias, que torna outras mulheres sábias, e assim a força passa de uma para outra. Pois para mim, o que levo disso tudo são as mulheres que estiveram ao meu lado direta ou indiretamente até o dia do nascimento da minha filha. Meninas e casais do Gama, minha mãe, amigas, Débora e Mari. Dando força. Trocando experiências sábias.

Quem teve a maior força de todas se chama Elis Robortella Santos Valente. Nascida em 13 de junho de 2011 às 17:22, com 3.365kg e 49cm, em parto domiciliar, em São Bernardo do Campo, SP, com a ajuda da querida parteira-anjo Mariane Menezes e do pai participando ativamente. Elis. A menina-mulher sábia. Que me ajudou a traze-la ao mundo e juntou suas forças comigo. Estávamos juntas desde o inicio. E eu só tive forças porque senti a força dela.

Creio que daqui a algum tempo meu relato será diferente, talvez menos emotivo, talvez mais consciente. Mas precisava neste momento colocar os pensamentos no lugar. Na verdade, mais do que para outras mulheres, escrevi para mim mesma. Para que EU nunca me esqueça da força que tenho. E quero levar pra vida inteira.

Só um adendo, Jeff leu meu relato e disse que falta uma coisa muito importante rsrs

De contar que no final de tudo, depois de tomada banho e antes de ir para a Casa de Parto, bateu a fome, né? rs... pois então, meu pai havia comprado uma pizza... e eu depois de tomar meu banho, fui comer pizza de queijo!! uma hora após o parto... hahahhahahaha... ficamos juntos em volta da mesa eu, Jeff, a querida Dé e a Mari... Jeff me zoando pra variar, hahahah, fazendo caretas me imitando no momento da contração.... e todos rindo muito!!

Com certeza o dia mais surreal da minha vida, de um parto que foi muito mais especial do que eu poderia sequer imaginar!

E viva Elis!!!!!!!!!!!!!!!!!

***
Carolina Robortella Valente
mãe da Elis

5 de agosto de 2011

Verbo transitivo, verbo intransitivo

Hoje, a caminho do trabalho, ouvia a conversa de duas mulheres sobre gravidez e amamentação. Uma delas contou que tinha filhos gêmeos, e que durante a gravidez sentia-se muito inchada, embora não tivesse ganhado muito peso. A surpresa grande veio quando os filhos nasceram e ela precisou amamentá-los. "Nunca tive leite grosso, forte, mas mesmo assim eles mamaram bem. Até que chegou uma hora que eu não dei mais conta, e aí dei leite de supermercado mesmo e eles tomaram tudo. Aí pronto!"

A outra mulher contou então que se sentia muito frustrada por não ter amamentado sua única filha. "Mãe de primeira viagem, sabe como é, e eu ficava chorando na maternidade porque minha filha não queria pegar o peito. O pediatra falou que era assim mesmo, mas que ela tinha reserva, e que não tinha problema. Mas aí eu fui pra casa e ela não queria pegar o peito e chorava e não dormia. Tem reserva? Como assim tem reserva, se ela tá chorando? Então minha mãe veio com uma lata de NAN e eu dei pra ela com aqueles engrossantes e ela dormiu o dia inteiro. Aí minha mãe falou, tá vendo, ela tá com fome, é só dar leite, e pronto. Mas eu ficava assim, chateada, né, eu falava, ai, o leite materno, o leite materno... mas eu não dei o peito pra ela. Ainda bem que eu só tenho uma filha."

Essas duas narrativas acabaram com meu projeto de elaborar, para hoje, um texto poético em comemoração à Semana Mundial de Aleitamento Materno. A Parto do Princípio, a Matrice e outros coletivos formularam algumas ações para incentivar a amamentação. O Ministério da Saúde preparou um material lindo de apoio ao aleitamento (e eu nunca vi a Juliana Paes tão vestida - e nunca a achei tão linda). A Organização Mundial da Saúde há anos propaga a importância do leite materno, assim como Ibfan, La Leche League, entre tantos outros organismos nacionais e internacionais.

Mas vejam só, nossa realidade cruel! Com a tal da cultura e a "evolução" da civilização, nos distanciamos tanto da essência biológica humana e mamífera que perdemos grande parte de nossa capacidade de nos cuidar. Exemplos corriqueiros: febre é indicada pelo termômetro, dente de leite caindo requer consulta ao dentista, do mesmo jeito que menarca só é confirmada pelo ginecologista. Gravidez? Só depois do teste (ou dos testes) e possivelmente com confirmação do ultrassom, porque antes disso é impossível a mulher sentir-se grávida.

Ao mesmo tempo, e paradoxalmente, vivemos uma época em que a saturação de informação midiática acaba por reforçar mitos a respeito de eventos vitais. O parto e a amamentação, por exemplo, cercam-se de historietas que inevitavelmente levam a mulher a ter medo, a se achar incapaz, a duvidar da fisiologia, a enxergar defeitos em seu próprio corpo, a duvidar até mesmo daquilo que seus próprios olhos vêem. Na prática, isso funciona como um grande boicote à vivência da maternidade como experiência corpórea, instintiva e prazerosa.

Tentarei ser mais objetiva, com uma cena extremamente corriqueira nas maternidades do país.

A mulher acabou de receber seu bebê recém-nascido no colo. Mal teve tempo de cheirá-lo, vê-lo, acariciá-lo, curti-lo, enfim. Aí entra a enfermeira encarregada da amamentação. Manda a mãe sentar, colocar o bebê na posição correta, pôr o peito pra fora, e aí começa a esfregar o rosto do bebê no peito da mãe. Se o bebê abre uma bocona de peixinho e passa a sugar, melhor para a dupla. Senão, começa aí o martírio da amamentação. O bebê não quer pegar o peito, ou a pega não está boa, ou o peito não está bom, ou tem bico demais, ou tem bico de menos, ou tem leite demais, ou tem leite de menos, ou o leite não é bom, ou... Inúmeras e indizíveis hipóteses são aventadas para explicar porque, naquele intervalo de tempo, o recém-nascido não mamou ávidamente. E a cena se repete tantas e quantas vezes forem necessárias - necessárias ao estabelecimento da amamentação ou ao desmame completo, uma ou outra opção.

Atualmente, dependemos muito do verbo, da palavra, da ciência comunicada por especialistas, para termos certeza de que podemos, somos capazes, conseguimos. E quando esse apoio não vem, todo e qualquer sinal que diga o contrário é capaz de arruinar nossos planos. Então, basta um olhar torto para entendermos que o seio não tem bico - ainda que a régua mostre mais de 2 centímetros de bico! Basta um desdenho para acharmos que o bico é grande demais - ainda que o bebê mame tão tranquilamente que até pegue no sono durante a mamada. Basta um comentário ao léu para decifrarmos o choro do bebê como fome, falta de leite.

Enfim, para acabar com a amamentação, é preciso muito pouco. Para efetivá-la e levá-la até (pelo menos) os dois anos de idade da criança, é preciso muita, mas muita perseverança. E apoio. E comunicação positiva.

É para isso que estamos aqui!

E é para isso também que tantas outras mulheres dedicaram um tiquinho de seu tempo para falar de amamentação. Porque amamentar combina com amar.

3 de agosto de 2011

Sobre opções e escolhas

Amamentar faz bem para o bebê e para a mãe. Isso, quase todo mundo já sabe e está nos jornais, nas revistas, na TV, nos hospitais, nas maternidades. Está em todo lugar e até parece que só não amamenta a mãe que é desnaturada.

Mas amamentar, além de bom e prazeroso, também pode ser difícil. Porque amamentar consome energia do corpo da mulher, toma o tempo do casal, atrai ollhares muitas vezes impertinentes.

Amamentar também pode ser difícil porque a mulher não entrou em trabalho de parto, os hormônios não inundaram seu corpo, o bebê foi separado da mãe (e passou horas na sala de observação), o pós-parto foi solitário e doloroso.

Amamentar também pode ser difícil porque a mulher e o bebê não puderam experimentar seus primeiros contatos instintivamente, a tensão atrapalhou a postura do dueto, a primeira pega não foi correta, o mamilo fissurou.

Amamentar também pode ser difícil porque não amamentar pode ser mais fácil em uma sociedade pautada pela produtividade, pela felicidade incondicional obrigatória, pela necessidade de prazer rápido, pelo imediatismo, pelo preconceito, pela mercantilização do corpo feminino, pela imbecilização da mulher.

Sempre que uma mulher decide algo, ela decide diante das opções que lhe são oferecidas. Muitas vezes, não há opção possível. E assim é com a amamentação: muitas vezes, a mulher não enxerga opção, a não ser deixar de amamentar. Pressão para que ela enverede por esse caminho há de todo tipo: do patrão (como nesta notícia), do médico, dos conhecidos, da família, do companheiro, da publicidade, entre tantos outros exemplos, como conta também a Renata Penna (veja "Uma escolha que vem de dentro").

Pois é. Amamentar é uma das coisas mais gostosas do mundo. E não faz mal nem engorda (embora faça crescer!). Acho que é por isso que se tenta, ao máximo, dificultar a amamentação. Uma coisa tão boa dessas não pode ser assim, tão fácil de conseguir...

2 de agosto de 2011

Grupo da região incentiva parto natural

Do Diário do Grande ABC
Camila Galvez



Quatro mulheres, dois bebês e um homem. Enquanto as crianças mamam, os adultos conversam sobre parto natural e aleitamento materno. Trata-se de mais uma reunião mensal do Grupo MaternaMente, fundado pela educadora perinatal Deborah Delage e pela ativista Denise Niy.
O objetivo das reuniões, realizadas sempre no Grande ABC, mas em pontos itinerantes, é disseminar informações para que as mulheres e suas famílias possam compreender e viver a gestação e o parto como eventos naturais, que demandam atenção e apoio, e não intervenções desnecessárias.
Segundo Deborah, as mães deixaram de escolher como seus filhos vão nascer. "Os médicos não têm paciência para esperar a hora certa do nascimento. Para eles, é conveniente fazer a cesariana. Para as mulheres, o que sobra são as consequências da anestesia e do pós-operatório", explicou.
A dona de casa Patrícia Mirela de Abreu, 24 anos, viveu isso na pele no parto do primeiro filho. Ela teve sangramento e o médico fez a cesárea sem sequer avaliar se havia condições para o parto normal. "Eu tinha 21 anos, era inexperiente e não discuti", relembrou.
O bebê nasceu com desconforto respiratório e passou cinco dias na UTI. "Quando tentei amamentar, ele não queria pegar o peito", lamentou.
Deborah explicou que o número de mães que não conseguem dar de mamar está ligado ao excesso de cesarianas. "A ocitocina é um hormônio produzido durante o trabalho de parto que estimula a produção de leite. Se não há trabalho de parto, não há ocitocina", destacou.
ara o segundo filho de Patrícia, o pequeno Francisco, presente à reunião aos 20 dias de vida, a amamentação foi mais tranquila. O bebê nasceu no hospital após 21 horas de trabalho de parto. "Assim que dei o peito, ele pegou na hora", comemorou a mãe. 
NATURAL
A jornalista Carolina Robortella Valente, 29, viveu a mesma experiência, mas num parto muito mais rápido: entre a primeira contração e o nascimento de Elis, hoje com quase 2 meses, foram apenas quatro horas e meia. "Nosso plano era ter a Elis na casa de parto, mas não deu tempo de ir até lá", disse o pai, o radialista Jefferson Santos, 30.

Logo que nasceu, Elis procurou o peito sem nenhuma dificuldade. "Ela passou o dia todo mamando. É uma experiência maravilhosa, tanto o parto quanto o aleitamento. Recomendo para todas as mulheres", garantiu.
Qualquer pessoa pode acompanhar as reuniões do grupo, que não tem fins lucrativos. Basta entrar em contato pelos telefones 9201-5245 e 9383-4429, pelo e-mail grupomaternamente@gmail.com ou pelo site maternamente.blogspot.com.

A dentista que virou educadora perinatal 
Deborah Delage planejou ter sua primeira filha de parto normal. Desde pequena convivia com a mãe, enfermeira obstetra, que sempre comentou sobre os benefícios de vir ao mundo por meios naturais.
Deborah formou-se dentista, mas não se esqueceu dos ensinamentos da mãe. Enquanto estava grávida, planejou-se para que seu grande momento pudesse ser realizado da forma que sempre sonhou.
Pequena e magra, Deborah não se importava com a questão física: tinha certeza de que daria conta. No entanto, seu sonho foi barrado por aquilo que ela chama de "sucessão de intervenções desnecessárias". Deborah teve sua filha por meio de uma cesariana.
A experiência fez com que a dentista voltasse seus estudos para outra parte do corpo, essa exclusivamente feminina: o útero. Tornou-se educadora perinatal.
Por meio do Grupo MaternaMente, Deborah ajuda mulheres a entenderem as transformações do corpo e a se colocarem como agentes ativas durante a gravidez e no parto. "A mulher precisa relembrar sua porção animal e ter certeza de que é capaz de parir e amamentar", ressaltou.
 

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