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24 de setembro de 2012

Primavera: podando nossas folhas mortas

Como todas as mães sabem, na maternidade nem tudo são flores. Aliás, na maioria das vezes é um recriar-se, um perceper-se, um movimento que o pós-parto trás de querer se conhecer e entrar fundo na nossa alma, e isso é muito bom, mas ao mesmo tempo, dolorido. A gente passa a se perguntar: quem era aquela mulher antes de ser mãe? e, quem é essa mesma mulher, agora mãe?

Com o nascimento de um bebê, nasce uma mãe. Mas, para nascer essa mãe, algo precisou morrer. E isso, só entende quem passou. Ao nascer o primeiro filho, morre uma mulher. Mas esse processo de morte interna e renascimento não acontece de uma hora para outra, é um longo processo, e acredito que leve toda a vida para que entendamos, ou talvez até outras vidas, quem sabe...

Mas algumas coisas a gente descobre aqui mesmo, e principalmente nos primeiros dois anos dos nossos filhos, que é o tempo em que ficamos imersas em um mundo paralelo, tentando entender o que esses serezinhos querem nos dizer. O pediatra Harvey Karp diz que eles são "mini-primatas", com sua forma de agir, pedir as coisas e mostrar como veem o mundo. Sua energia a mil, querendo conhecer todos os lugares, olhinhos curiosos pedindo para que você mostre o mundo a eles, faz com que nós, mães, vejamos também o mundo com  novos olhos, olhos de rever cada passo nosso e cada forma de pensar. E com isso, instintivamente, passamos a rever muita coisa dentro de nós.

E aí, começa um processo de poda interna. A gente quer tirar todas as folhas mortas da nossa árvore da vida, e deixar tudo limpo e pronto para receber essa nova vida. A gente passa a rever cada atitude nossa, e repensar se aquilo faz mesmo sentido para nós, se queremos mesmo ser aquela pessoa que agiu de forma imatura, fugindo da vida o tempo todo, ou se dessa vez queremos encarar as coisas de frente.

Chega uma hora que cansa viver das mesmas atitudes doentes. A gente passa a recriar cada gesto, e desta vez se perguntando se aquele gesto é realmente seu, ou da mulher em nós que morreu. Eu realmente acredito que devo tomar essa atitude? devo agir, novamente, dessa forma imatura? porque vou continuar criando dentro de mim um sentimento doentio, que nunca deveria ter estado aqui, mas que de alguma forma antes eu não conseguia me livrar dele? são perguntas constantes que a maternidade traz.

Mas esse processo de poda interna não é simples, porque temos que cortar algumas coisas que estávamos tão acostumados a fazer, mas que nos fazia mal, que despedir-se desta atitude machuca muito. Porque, ao nos despedirmos de uma forma de agir durante muito tempo, sobra um vazio, um vazio dolorido, de algo que morreu que você sabe que devia mesmo ter ido, mas ao mesmo tempo o medo do inesperado, o medo do que vai nascer naquele vazio que você criou ao cortar as folhas mortas.

Essa árvore, que agora aos poucos renasce com as novas folhas, vai trazer novos frutos, com nova vida e novas cores. E você torce para que, o que você precisou reciclar porque realmente precisava, e que teve coisas boas também, volte para você de forma renovada. No fundo, é isso o que a gente quer, talvez por um apego ao passado que ainda teima em ficar, talvez por conta deste medo do que vem pela frente com este vazio do que foi embora.

Mas a verdade é que a vida pede para seguirmos em frente, e sermos sempre verdadeiros conosco, e aos poucos, por mais que doa, as coisas entram em seus lugares, e o que tiver que vir, virá. E o que tiver que morrer de vez, morrerá. E qual seria a graça da vida se tudo fosse sempre igual, se vivessemos como cópias? A busca por si mesmo não é um caminho fácil nem indolor, mas acredito que só assim faremos com que as coisas valham a pena. E venha o que vier. De coração aberto.

Acredito que o pós parto é um momento em que se abre um "portal", como diz Laura Gutman, para que nos conheçamos, e acho sim que temos que aproveitar esta oportunidade para buscar quem realmente somos. Esta busca pode acontecer em qualquer outro momento da vida, mas se temos esta oportunidade, porque não aproveitar? Porque ja já, esses pequenos vão criar asas e ir para o mundo, e nós saberemos deixa-los ir, já que vivemos este momento de forma plena. Bem, é pra isso que eu torço e espero que saiba deixar minha filha ir para o mundo quando for a hora certa. Ai, ser mãe. Um eterno exercício... rs

21 de setembro de 2012

Evento em Santo André discute direitos humanos femininos


Do Diário Regional
Sex, 21 de Setembro de 2012 16:05
Por: Aline Melo




SANTO ANDRÉ - O Sesc Santo André sediou, ontem (20), a premiére mundial do documentário Liberdade para Nascer (Freedom for Birth). Produzido por cineastas ingleses, o filme narra a história da parteira húngara Agnes Gereb, que está em prisão domiciliar desde março de 2012, depois de passar 16 meses presa por assistir partos em domicílio. Ao final da exibição, os participantes discutiram, com mediação de um pediatra, uma psicóloga e uma profissional da área da saúde, as limitações atuais dos direitos humanos femininos.
Na narrativa, que foi exibida ontem em mais de mil comunidades de 50 países diferentes, diversos especialistas da área obstétrica, de direitos humanos e das mulheres, de diversas nacionalidades, falam sobre os abusos e a violência que gestantes sofrem em todos os lugares, por não poder escolher como dar à luz.
Para delimitar legalmente esses direitos, Anna Ternovs­ky, da Hungria, entrou com ação contra o estado na Corte Europeia de Direitos Humanos. Anna venceu o processo. A Corte reforçou o direito supremo da mulher de escolher onde parir. O caso abriu importante precedente para dirimir casos que ocorrem não somente na Hungria, mas também na Holanda, onde parteiras podem ser processadas por assistir partos domiciliares.
“A questão que devemos discutir é o direito de escolha. As discussões sobre partos mais fisiológicos, menos intervencionistas, começou com médicos, profissionais da área, que defendiam mais respeito às escolhas das gestantes. Agora é o momento das mulheres, as principais interessadas se fazerem ouvir”, destacou o neonatalogista Carlos Eduardo Correa, um dos mediadores presentes.
“Encontros como esse são importantes para discutirmos soluções e ações que garantam os direitos reprodutivos das mulheres”, destacou Deborah Delage, profissional de saúde e uma das coordenadoras do grupo de apoio a incentivo à maternidade ativa do ABC, que viabilizou a exibição do filme na região.
 

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