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31 de outubro de 2012

Atrás da barriga existe uma mulher

A certa altura da gravidez, minha barriga era tão pontuda e proeminente que eu dizia que ela sempre chegava antes de mim aonde quer que eu fosse. Era uma brincadeira, mas como tal, tinha sim um fundo de verdade.

Ainda grávida, eu percebi como a mulher é despojada de sua individualidade quando está prestes a se tornar mãe. Tanto é que todo mundo (sim, todo mundo!) dá palpite sobre a vida da grávida. Por exemplo: está se alimentando bem? Você pode comer por dois! Não faça isso, não faça aquilo, ou ainda, faça isso, faça aquilo. E os "carinhos" na barriga, então? Quase diariamente chegava em casa com a blusa suja na barriga - algumas vezes, por não saber medir direito a distância do balcão do bar, na hora do café, mas na maioria das vezes, simplesmente porque tinha recebido muitos "carinhos" na barriga ao longo do dia. Evidentemente, ninguém pedia licença pra fazer isso. E pior, muitas vezes eu sequer conhecia a pessoa. Como bem dizem por aí, barriga de grávida é de domínio público.

Mas e as vontades da grávida? Puxa, essas são mais ocultas que as confidências trocadas pelas bruxas de Eastwick. Ninguém se ocupa dos desejos da grávida, a não ser que sejam desejos por alimentos esdrúxulos, pois isso é o máximo que a grávida pode desejar, além de uma criança viva ao fim dos meses gravídicos.

Se ao acaso a grávida deseja sair à noite para dançar, falar sobre política, dirigir ao longo de toda a gravidez, trabalhar... por vezes, isso é avaliado como egoísmo da parte dela, grávida, que de tudo deveria abrir mão em nome da saúde e do conforto do feto. Mas... sejamos sinceros, nenhuma dessas atitudes põe em risco verdadeiramente a saúde e o conforto do feto. Trata-se, pura e simplesmente, de encheção de saco!

É por esse caminho também que a mulher é colocada em segundo plano na assistência ao parto. Exemplo banal: ao entrar na maternidade, a mulher deixa de ter nome e passa a ser tratada como "mãezinha". Que infelicidade, aquela mulher toda poderosa que está carregando uma vida em seu ventre é tratada sem individualidade e ainda no modo diminutivo! Que desrespeito.

A falta de consideração e de respeito pode ser verificada ainda em outros aspectos da assistência ao parto que é padrão no Brasil. Exemplos rápidos: a mulher nem sempre consegue fazer valer seu direito a um acompanhante de sua escolha durante todo o período em que está no hospital. Na maioria das vezes a mulher não pode se alimentar durante o trabalho de parto, algumas vezes ela sequer pode beber água (e essas recomendações não fazem mais sentido). Os profissonais de saúde muitas vezes entram no quarto onde a mulher está sem pedir licença e sem se apresentarem e ainda fazem exames (como o de toque, para medir a dilatação) mais vezes do que o necessário, sem explicar o motivo para o exame ou para sua repetição.

O parágrafo acima ia ficar grande demais se eu continuasse. Há inúmeros exemplos de desrespeito à mulher e à sua individualidade na assistência ao parto, e muitas vezes a mulher sequer pode manifestar sua insatisfação nesse sentido, pois como disse, tudo o que uma grávida pode desejar é comida esdrúxula e um bebê vivo. Mas a vida no século XXI não é bem assim, certo? Grávida pode querer mais do que uma comida estranha no meio da madrugada. Grávida pode querer e deve receber uma assistência digna, respeitosa, pessoal e centrada nos seus próprios valores e desejos. Amém.

26 de outubro de 2012

Próximos encontros

Todo mês promovemos dois encontros gratuitos para conversar sobre gravidez e parto ativos.
Quer participar da próxima reunião? Veja aqui todas as informações!



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Grupo MaternaMente convida:
encontro gratuito sobre gravidez e parto

27 de outubro • sábado • das 14h às 16h
Em Santo André, na Clínica Spacci

10 de novembro • sábado • das 14h às 16h
Em São Bernardo, no Studio Nena Barros

24 de novembro • sábado • das 14h às 16h
Em Santo André, na Clínica Spacci


mais informações:
Deborah (99201-5245)
Denise (99383-4429)
Carol (98517-3300)
grupomaternamente@gmail.com
http://maternamente.blogspot.com

22 de outubro de 2012

Amar e cuidar

Tem uma coisa que a gente aprende ao ser mãe, que, pelo menos para mim, antes, nunca passou pela minha cabeça. O real significado da palavra "cuidar". O que é cuidar? E como é não só para quem está recebendo o cuidado, mas também para quem pratica o cuidado? Como a pessoa que está cuidando se sente com isso? E esse cuidado, é praticado de forma inteira ou só pela metade? E como se sente a pessoa que recebe o cuidado de alguém que se dá por inteiro ou pela metade? São pensamentos que ultimamente me visitam.
Cheguei a uma conclusão. Eu, antes de ser mãe, nunca entendi o real significado de cuidar. Eu achava que queria "ajudar" aos outros porque eles precisavam dessa ajuda, mas, de verdade, não estava 100% naquele momento. Eu cuidava porque a pessoa precisava, e isso nunca aconteceu com grande frequencia. Mas, agora, depois da maternidade, entendo que cuidar tem um sinônimo. Doar-se. Doar-se sem querer nada em troca. Doar-se tendo como troca a felicidade de alguém. Você já sentiu isso?
Eu confesso, é um exercício muitas vezes. Percebi que nunca me doei de verdade para ninguem, nem para namorados, amigos, ninguém mesmo. Doar-se de verdade para alguém é bastar ver o outro bem. Eu sempre procurei algo em troca. Confesso aqui, no alto dos meus 1 ano e 4 meses de maternidade. E com isso, chego a uma conclusão ainda mais forte: de verdade, acho que estou aprendendo somente agora o que é amar. Acho que nunca amei de verdade a ninguém. Porque percebo agora, amar também é não esperar nada em troca. É doar-se. Mesmo, e o tempo inteiro.
Mas não me sinto culpada por isso, muito pelo contrario, entendo que são fases na vida que temos que passar. Acho que a maternidade veio, para mim, para tirar um um véu, algo assim. Um véu que eu colocava em mim mesma, para me proteger do mundo, com medo de me entregar, medo de mostrar minhas fraquezas, de as pessoas perceberem que sou alguém que erra, e erra feio, como todas as pessoas. Eu tinha medo de admitir para mim mesma, que era um ser errante. 
Porque amar é isso, é escancarar todas as belezas e "podres" presentes em nós sem medo. E não, antes eu não fazia isso. Sim, eu tinha muito medo. Na verdade, eu ainda tenho muito medo, mas faço mesmo assim, porque sinto que essa doação de amor me faz crescer como pessoa, quanto mais me dôo e amo incondicionalmente, sinto que meu coração se purifica. Talvez só mesmo com a maternidade a gente entenda isso. Talvez outras pessoas não precisem da maternidade para entender. Mas para mim, cuidar é amar de verdade, e aprender a se amar ao mesmo tempo. Louco, né?

11 de outubro de 2012

Importancia do auto-conhecimento na maternidade

Penso que nossos bebês são folhas de papel em branco. Penso que não é justo, nossos filhos carregarem as nossas questões mal resolvidas. Penso que, se possivel, façamos terapia e tratemos nossas questões antes de eles virem, mas se desta forma não houver forças, esperemos. Eles virão, e com eles, nossos dias ficarão mais leves e mais pacíficos. Com o tempo, e com calma, olhemos para nós, nossos monstros, nossa sombra.

Não é justo nossos filhos serem espelho das nossas questões mal resolvidas. Façamos terapia, resolvamos nossas amarguras. Nossos pequenos, um dia, não serão mais pequenos, e precisarão ganhar o mundo, e penso que é muito egoismo da nossa parte, querer mante-los debaixo da nossa asa, porque esse mundo tem muita coisa ruim, mas tem também muita coisa linda que precisa ser vista e vivida. Não tenhamos medo de olhar pro que nos assusta, pois isso nos libertará, se olharmos com calma. Nossos filhos não merecem carregar nossa pedra. Pois eles terão as deles.

8 de outubro de 2012

Cesarianas aumentam 11% no ABC - do Diário Regional

Cesarianas aumentam 11% no ABC

Dom, 07 de Outubro de 2012 09:03
Por: Aline Melo



OMS recomenda que apenas 15% dos nascimentos sejam por meio de cirurgia



Na UTI Neonatal, pequenos perdem contato imediato com a mãe


A proporção de nascimentos cirúrgicos realizados no ABC alcançou a taxa de 62,88% em 2010. Dos 36.156 bebês que nasceram vivos nos sistemas públicos e privados de saúde, 22.738 chegaram ao mundo por meio da cirurgia. O número destoa da recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabelece como 15% um número aceitável de nascimentos

via cesárea, e representa aumento de 11% se comparados com a proporção de cirurgias realizadas em 2004, que totalizou 21.912 nascimentos de um total de 38.597 nascidos vivos.

O aumento na taxa de cesáreas é uma realidade em todo o país e o programa Rede Cegonha, lançado pelo Ministério da Saúde em 2011, visa, entre outros objetivos, aumentar a proporção de partos normais no país, garantindo melhor assistência a gestantes e bebês. “A alta no número de cesáreas tem dois motivos principais. Muitas mulheres têm medo da dor do parto normal e, para os médicos, principalmente os particulares, a cirurgia é mais cômoda”, afirmou o professor de Obstetrícia da Faculdade de Medicina do ABC e diretor-técnico do Hospital da Mulher de Santo André, Mauro Sankovski.

O médico explica que por se sentirem sobrecarregados, e para melhor administrar suas agendas, obstetras que atendem planos de saúde veem na cirurgia a oportunidade de não perder as consultas agendadas. “Muitos também não se sentem seguros para acompanhar um trabalho de parto.”

Prematuridade tardia

Os dados da Fundação Sea­de também evidenciam que entre 2004 e 2010 aumentou em 580% o número de bebês que nasceram com mais de 37 semanas, porém, com baixo peso, menos de 2,5 quilos. Foram 33 casos em 2004 contra 225 em 2010. “Não acredito na relação entre uma coisa e outra. Sem dúvida, as cesarianas podem fazer com que os bebês nasçam antes do tempo, mas acredito que isso esteja mais ligado a outros fatores, como algumas patologias durante a gestação”, destacou o médico.

O obstetra e membro do Conselho Consultivo da Rede pela Humanização do Parto e do Nascimento (Rehuna) Ricardo Herbert Jones também afirma que os dados são poucos para estabelecer alguma relação, sendo necessária aplicação de outras metodologias. “No entanto, estudos da Fundação Oswaldo Cruz identificam aumento expressivo nas taxas de prematuridade tardia, bebês que nascem entre 36 e 37 semanas”, afirmou.

O médico destaca que os prejuízos são grandes para esses bebês. “São crianças que perdem o primeiro contato com a mãe, a amamentação na primeira hora. Terão mais predisposição a apresentarem problemas respiratórios, desmame precoce e problemas diversos na qualidade de vida, impossíveis de serem avaliados a curto prazo”, completou.
Bebês que nascem por cesárea têm mais chance de desenvolver problemas de saúde

Dados da Fundação Seade, coletados em 2004 e 2010, indicam que a proporção de cesáreas aumentou 11% no ABC e o número de bebês que nasceram com baixo peso, apesar de já terem completado 37 semanas de gestação também registrou alta de 581%. Especialistas consultados pelo Diário Regional afirmaram ser precipitado estabelecer relação entre os indicadores, mas destacaram que a cesárea eletiva (marcada com antecedência e sem a gestante entrar em trabalho de parto) está diretamente relacionada a bebês com maior propensão a desenvolver problemas de saúde, como desconfortos respiratórios.

O neonatalogista e pediatra Carlos Eduardo Correa destaca que o nascimento, quando ocorrido por via vaginal, é a transição da água (ambiente onde o feto permanece durante a gestação, a bolsa de águas) para o ar. “O pulmão tem de estar pronto para funcionar. Quando a mulher entra em trabalho de parto, é um indício claro de que o bebê está maduro, pronto para nascer.”

Correa cita como complicações decorrentes de cesáreas eletivas (marcadas com antecedência) problemas respiratórios, dificuldade em se estabelecer e manter o aleitamento materno, alergias e dificuldade de vínculo entre mãe e bebê.

A neonatalogista Sandra Gianelo, que já atuou no Hospital Mário Covas, em Santo André, alerta para o fato da unidade hospitalar, enquanto manteve em funcionamento a maternidade, ter recebido muitos casos de gravidez de risco e bebês com malformações, o que pode ter contribuído para o aumento nos dois índices. No entanto, o professor de Obstetrícia da Faculdade de Medicina do ABC e diretor técnico do Hospital da Mulher de Santo André, Mauro Sankovski, reconhece que a cesárea não deveria ser marcada e, caso fosse necessária, para depois das 39 semanas de gestação. “Porém, passadas 38 semanas existe maior chance de trabalho de parto espontâneo”, concluiu.

Obstetras não têm formação adequada, afirmam especialistas

A alta na taxa de cesá­reas, que em 2010 representaram 62,8% dos nascimentos de bebês vivos no ABC é, entre outros fatores, reflexo de formação incompleta dos novos obstetras, avaliam especialistas.

“Antigamente, a formação dos médicos obstetras era mais completa. Estavam aptos a enfrentar diferentes tipos de situação. Hoje, com três anos de residência, e com o movimento intenso nas maternidades, esses novos profissionais não têm tempo de aprender tudo o que era preciso para acompanhar partos normais”, afirmou o professor de Obstetrícia da Faculdade de Medicina do ABC e diretor técnico do Hospital da Mulher de Santo André, Mauro Sankovski.

O obstetra e membro do Conselho Consultivo da Rede pela Humanização do Parto e do Nascimento (Rehuna) Ricardo Herbert Jones explica que as escolas de medicina, de forma implícita, têm formado apenas cirurgiões. “O médico é ensinado durante oito, nove, dez anos, a intervir. Pedir que ele apenas assista, ou intervenha o mínimo possível, como acompanhar um parto normal, para muitos é um contrasenso”, completou.

Sankovski destacou, ainda, que as diferentes situações que podem surgir durante um parto normal intimida muitos profissionais. “Fazer a cirurgia acaba sendo mais simples. Existem manobras e procedimentos necessários em alguns trabalhos de parto que exigem do médico anos de prática. Hoje, eles não têm mais isso”, finalizou.
 

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