Social Icons

29 de setembro de 2011

Das causas

Mandala: Oya of Winds


O trabalho por uma causa costuma nascer do encontro amoroso entre duas características da pessoa: paixão visceral indignada e racionalidade sedenta de conhecimento. Quando confluem, essas qualidades conferem eloquência, brilho nos olhos, entrega, compromisso. Quanto mais conhecimento agregado, seja o do tipo formal, seja aquele que se adquire no encontro com o outro, mais apaixonada costuma se tornar a pessoa que se dedica a uma militância. E vice-versa.

As causas costumam ser, por definição, um caminho por onde se anda na contramão. Ou um caminhar contra a ventania. Ou remar contra a maré. Ou ainda nadar contra a corrente. Os mais eruditos chamam isso de contra-hegemonia.

As pessoas que chegam a este grupo de apoio buscam exatamente isto: força para encarar uma luta árdua, que, quando bem-sucedida, leva a mulher a parir respeitosamente seu bebê e – como diz a Carol Valente – a se parir. Mas por que essas pessoas precisam de apoio? Oras, porque estão na contramão! Tudo a seu redor confirma isso.

No Brasil urbano de hoje, a mulher que deseja ser protagonista de seu parto é por vezes chamada por familiares e amigos de caprichosa, irresponsável e até mesmo louca. Apenas porque um dia descobriu que a linha dominante diz que o corpo feminino é perigoso para si mesmo e para os filhos nele gerados, e isto lhe pareceu um absoluto contrassenso. As amigas, irmãs, vizinhas ou tiveram cesáreas eletivas ou pariram com muitas intervenções dolorosas, muitas vezes com cesárea intraparto como consequência de uma cascata de intervenções.

Na busca por uma assistência alinhada com seu “novo” pensamento, a mulher que deseja parir se vê, digamos, em um mato sem cachorro. Sem água no deserto. Se não houver apoio de outras que já trilharam seus passos nem quem acolha seus pesares e dificuldades na caminhada, pode ser que ela não consiga chegar a seu destino.

Por isso, aqui apoiamos quem está nessa busca. Com entrega apaixonada e curiosidade racional. Todas as mulheres precisam ser acolhidas em suas dúvidas diante do desafio de gestar, parir – ou não – e maternar. Mas de apoio, mesmo, precisa quem está na contramão.

***
Por Deborah, com pitacos da Denise

28 de setembro de 2011

Mais um desserviço da Veja


Mais um desserviço da Veja
publicado em 28 de setembro de 2011 às 19:57
por Denise Niy
Do site Viomundo

Como mulher, mãe e ativista do parto ativo, porém, sinto-me na obrigação de denunciar mais um desserviço prestado pela Veja, na matéria publicada recentemente sob o título “Parto domicilar: quando o risco não é necessário”. Como sempre, a matéria abunda em julgamentos baseados em ignorância e mentiras.
Bem, não preciso me alongar, pois felizmente já foi publicada uma outra matéria que traz excelente contraponto à Veja, com bases firmes na ciência, na informação e na cidadania:
http://guiadobebe.uol.com.br/parto-domiciliar-refletindo-sobre-paradigmas/ Porém, é evidente que o canal de publicação deste contraponto tem muito menos visibilidade que a Veja e por isso sugiro a divulgação desse texto de autoria da Dra. Melania Amorim.
Muito obrigada!
*****
Trecho:
“Quando começamos a escrever esta coluna para o Guia do Bebê, em 2010, nosso primeiro artigo abordou um assunto que começava então a despertar o interesse da mídia brasileira: o parto domiciliar. Na oportunidade, revisamos as evidências científicas disponíveis e concluímos que o parto domiciliar, uma realidade frequente em outros países, como Holanda, Inglaterra e Canadá, representava uma alternativa segura para as gestantes de baixo risco, resultando em menor taxa de intervenções como episiotomia, analgesia, operação cesariana e parto instrumental (fórceps e vácuo-extrator), sem aumento do risco de complicações para mães e bebês. Destacamos a publicação, em 2009, de um grande estudo de coorte comparando mais de 500.000 partos domiciliares ou hospitalares planejados em gestantes de baixo risco, no qual não se verificou diferença significativa no risco de morte fetal intraparto, morte neonatal precoce e admissão em unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal.
Interrompendo temporariamente nossa série de artigos sobre Parto Normal vs. Cesárea, voltamos agora a abordar este tema, que recentemente retoma a atenção da mídia despertando intensa polêmica, depois da publicação de matéria online no site da maior revista de atualidades brasileira, com o título sensacionalista “Parto domiciliar: quando o risco não é necessário”. Depois de publicar uma controvertida matéria sobre os milagrosos efeitos de uma medicação antiobesidade que não é aceita pela comunidade científica com esta finalidade a revista volta a fazer incursões na área de saúde, mas desta vez em paz com os “conselhos de medicina”, ao alertar que o parto domiciliar estaria expondo mulheres e crianças a “complicações que podem ser graves”.
À parte considerações puramente semânticas às quais não iremos nos ater, a matéria presta um desserviço à população com suas afirmações categóricas e sem embasamento científico, em que se confundem mau jornalismo e julgamentos apressados, além de um amontoado de lugares-comuns, como exemplificado no seguinte trecho do primeiro parágrafo: “Depois da revolução pela qual a medicina passou no século 20, hospitais tornaram-se lugares mais seguros e indicados não só para tratamento de doentes, como para o nascimento de crianças. É regra que, dadas as condições, não faz mais sentido realizar um parto dentro casa, sujeito a problemas com consequências potencialmente desastrosas que poderiam ser resolvidas em um hospital. Regra, no entanto, que algumas mulheres moradoras de grandes centros urbanos, com todas as condições de usufruir desses avanços da medicina, questionam e ignoram. Essas mulheres defendem o parto à moda antiga, dentro de casa.”
Ora, quem ditou essa regra que as transgressoras “moradoras de grandes centros urbanos” resolvem agora “questionar e ignorar”, defendendo o “parto à moda antiga”? Por que a revista afirma que hospitais são os “lugares mais seguros e indicados não só para tratamento de doentes, como para o nascimento de crianças”? Por que os representantes de conselhos e sociedades batem tanto na tecla de “riscos eminentes”? Seriam os riscos tão importantes assim ou foi somente um erro de grafia?”

Argentinas

Nossas vizinhas de continente pedem ajuda, com a assinatura da petição "Pelo direito da mulher de escolher como, onde e com quem parir". Isso porque a legislação que regula a atuação das obstetrizes está sendo modificada na Argentina, e há um movimento para que se eliminem as casas de parto e para que as parteiras sejam proibidas de atender partos domiciliares planejados.

Solicitação muito semelhante (para o Brasil) já foi feita por aqui e não faz muito tempo. Não é de se perguntar por que isso vem acontecendo? Falando do nosso país, que é enorme e comporta realidades muito distintas, sabe-se que quase todas as crianças nascem em ambiente hospitalar, com assistência de algum profissional de saúde. Nas cidades (ou seja, excluindo-se o meio rural), quase 100% dos bebês nascem assim. Ao mesmo tempo, porém, a mortalidade materna está estagnada no Brasil, em patamares vergonhosamente elevados. O X da questão já foi apontado diversas vezes e por fontes diferentes: as taxas de cesariana estão muito elevadas!

E o que isso tem a ver com aquilo que coloquei no primeiro parágrafo? Oras, tudo! O "nosso" modelo de atenção ao parto ("nosso", brasileiro, argentino, sul-americano, americano e ocidental, grosseiramente falando) tem como base a hospitalização, ou seja, o nascimento acontece numa instituição inicialmente criada para abrigar moribundos, hoje com assistência técnica e tecnológica de profissionais e aparatos caros e desvinculados do nascimento como processo fisiológico, social e criativo.

Esse é o dado, o hegemônico, o comum, o prático e o fácil. Para aquelas que não se enquadram ou não se conformam ou não se adequam a essa assistência, para algumas poucas sortudas, há a possibilidade de assistência por obstetriz, em casa de parto ou em casa mesmo.

Seria lindo, não fossem as disputas ideológicas, de poder e de mercado que essa convivência implica. E por conta dessas disputas, precisamos a todo tempo reforçar o que nós preferimos, o que nós desejamos e o que nós acreditamos ser o melhor: assistência humanizada baseada em evidências. E casa de parto e obstetriz são as duas tecnologias mais inovadoras e de melhor resultado que conhecemos atualmente.

Então, vai lá, registre-se no abaixo-assinado, é bem rápido. É por uma boa causa. E é importante que nós, latino-americanas, reforcemos nossos laços, em especial na luta pela melhor assistência à gravidez, ao parto e ao pós-parto.

http://www.peticiones24.com/porelderechoaelegirelparto

  Por el derecho de la mujer a elegir cómo, dónde y con quién parir. 
Impulsan esta campaña la Asociación Nacional de Parteras Independientes junto con diversas familias, en busca de la libertad de elección para el parto.
   En el mes de agosto pasado, se realizó el III Congreso de Partería en la Cuidad de La Plata. Bajo este marco, se comunicó los detalles de la reforma y actualización de la ley que regula el ejercicio de la profesión Obstétrica en Argentina. La ley vigente, determina que las parteras pueden tener casas de partos, consultorios propios, pueden ejercer su profesión de forma individual o en equipo con otros profesionales, en hospitales públicos y privados y pueden atender a la mujer en su domicilio.
   Lamentablemente, junto con modificaciones favorables, se ha introducido una que es altamente alarmante: eliminar la posibilidad de las casas de parto, marcando una tendencia que llevará a quitar también del proyecto de ley, la atención y asistencia por parte de las parteras de los partos planificados en domicilio.
   De esta manera se quita la posibilidad de elegir una modalidad de parto con profesionales idóneos, con experiencia en este tipo de partos realizados en un marco de seguridad pertinente, que evalúan con claridad qué mujeres están en condiciones de optar por esta opción, profesionales de la salud que se encuentran equipadas con el equipo necesario para brindar un excelente atención y que cuentan con habilidades para resolver o anticiparse a complicaciones antes, durante o después del parto.
   Los conocimientos que se tiene del parto domiciliario tanto desde las altas esferas públicas, como desde la sociedad en su conjunto y desde los diferentes ámbitos de la medicina misma son vagos y escasos. Países como Canadá y Holanda, ofrecen a sus mujeres embarazadas estas opciones de parto con excelentes resultados.
  Las mujeres que toman la decisión de parir en casa con parteras, lo hacen con información y prudencia. Estas mujeres son atendidas y controladas, durante el embarazo, el parto y postparto por una partera calificada, responsable, preparada y en permanente capacitación. Parir en casa no es una moda, ni una elección irresponsable, ya que parir en casa es seguro siempre y cuando la mujer sea sana, el embarazo normal y se esté debidamente acompañada.
   Elegir cómo, dónde y con quién parir, es parte del derecho sexual y reproductivo de la mujer, es elegir sobre su propio cuerpo, sobre los cuidados y atención que se adecuen a sus necesidades y creencias.
                                                   "LA ELECCION ES PERSONAL, EL DERECHO A ELEGIR ES DE TODAS"
  
     Por favor al firmar es importante que coloquen su D.N.I, pueden optar por hacer o no pública su firma.
    Agradecemos infinitamente el apoyo y la difusión.

14 de setembro de 2011

Meia dúzia de sete

"Hoje é meu aniversário, hoje é meu aniversário!"

Foi assim que o meu guri anunciou sua chegada na escola hoje cedo. Pulando na frente de cada um dos funcionários, ele cobrou os parabéns de todos eles. "É feliz aniversário", dizia ele, para logo em seguida sair correndo em busca de outras parabenizações. Bem, entre tantas coisas impagáveis neste mundo, a alegria do meu filho é, sem dúvida, algo que não tem preço.

É lugar comum demais dizer que, como mãe, faço de tudo por ele. Mas é exatamente assim e assado, desde que me descobri grávida. E é por isso também que tento auxiliar minha parceira Deborah no Grupo MaternaMente. Porque acredito que a maternidade pode ser uma experiência incrivelmente enriquecedora e transformadora, a partir da qual podemos mudar o mundo. Sim, eu ainda acredito que nós podemos mudar o mundo. "Nós" obviamente não quer dizer "eu e Deborah", mas nós, mulheres, mães.

Eu particularmente comecei a enveredar por esse caminho na busca por um parto sem episiotomia. Era tudo o que eu queria. E consegui. Mas verdade seja dita, consegui muito mais do que isso. Consegui amizades, conhecimento, informação, motivação, colaboração, incentivo, toda sorte de força positiva para tomar conta do meu próprio corpo.

Obviamente ainda tenho mil inseguranças e dúvidas. A diferença é que, agora, sinto-me mais à vontade para procurar ajuda e perguntar. Sempre tem alguém disposto ou disposta a ajudar. Isso é simplesmente fantástico. Nesse caminho, a Ana Cris foi a primeira pessoa que me estendeu a mão e disse que era possível dar à luz sem ganhar um corte na vulva, e ela foi honesta ao dizer que "era possível", mas que eu mesma precisaria trabalhar por isso.

Alguns meses depois de dar à luz, estava lendo um livro da Sonia Hirsch, jornalista que entende muito de medicina tradicional chinesa e que é adorada por quase todas as vegetarianas que conheço, quando me deparei com um trecho que falava sobre parto. Dizia o livro que, no parto normal, uma episiotomia poderia ser necessária. Imediatamente escrevi à autora pedindo que alterasse essa passagem, já que há evidências sólidas de que a episiotomia não deve ser praticada de rotina e que há inclusive dúvidas sobre sua eficácia (já que nunca se compararam partos com e sem episiotomia). Qual não foi minha surpresa ao receber sua resposta: segundo ela, o livro dizia claramente que uma episiotomia "poderia" ser necessária, e que isso não quer dizer que o corte deve ou não deve ser feito.

Fiquei chateada com a resposta, porque acreditava que a escritora enxergaria na minha mensagem uma oportunidade de atualizar sua obra. Além de não mudar uma vírgula sequer de seu livro, ela ainda adotou a mesma postura da maioria dos médicos brasileiros. Dizer que uma episiotomia "pode ser necessária" significa, na realidade nacional, dizer que mais de 70% das mulheres que têm filho por via vaginal têm o períneo cortado, segundo dados da PNDS. Necessária ou não, a verdade é que parir no Brasil sem ganhar um corte na vulva e na vagina é coisa para poucas mulheres.

Jamais voltei a escrever para Sonia Hirsch. Mas essa experiência foi marcante. Para mim, o livro reforçava a episiotomia como um procedimento normal e aceitável, desejável até. Ao mesmo tempo, não podia deixar de dar razão à jornalista: não se podia afirmar que ela defendia a realização do famigerado "pique". Desses meandros escorregadios impressos nas entrelinhas de um livro para mulheres nasceu o meu projeto de pesquisa para o mestrado.

Pois bem. Meu filho tem seis anos e a busca por um atendimento respeitoso para o seu nascimento já me rendeu mais algumas crias! Citei aqui o grupo e o mestrado, mas nessa meia dúzia de anos, as mudanças foram tantas e tão significativas que minha gravidez já parece distante no tempo. E olha que ainda ontem eu babava em cima desse banguela lindo!

1 de setembro de 2011

Encontro de agosto

Olha só, a Carol Robortella contou como foi o encontro do grupo. Valeu, Carol, você é uma graça!!

Reunião MaternaMente do dia 27/08
No dia 27, sábado, tivemos mais um encontro do grupo MaternaMente, em São Caetano. Foi muito legal e produtivo. Compareceram um casal, a Maria Carol e o Paulo, a Doula Adriana, eu e Elis e a Débora. Fora a criançada! Ficaram todos brincando enquanto rolava a reunião.

Ma Carol e Paulo estão grávidos e procuram saber mais sobre Parto Humanizado, foi muito legal contar para eles a minha experiência do parto da Elis, e ainda contar com a ajuda da Dé para o relato. Nunca haviamos feito um relato "intercalado", cada uma falando um pouco sobre aquele dia. Foi bem legal, e só de me lembrar, engraçado, já me emociono e me dá vontade de chorar. Adri também é um doce, gostei demais dela e espero encontra-la muito mais vezes!

A conversa rendeu tanto que passamos MUITO do horário de terminar rs, seria para terminar as 16h, mas foi até umas 19h... e se desse, ainda ia mais longe.
Pela primeira vez ouvi todo o relato do parto da Dé, foi uma cesárea muito difícil. Cada vez mais percebo o quanto as mulheres são violentadas ao darem à luz, e o pior, muitas delas sem saber que estão sendo violentadas! Muito triste mesmo.

Bem, vamos aí, seguindo em nossa caminhada. Esses encontros são muito importantes para mim, pois são uma forma de eu exteriorizar e conseguir aos poucos falar dessa experiência que foi tão importante.

Por Carol Robortella
 

Apoio

Aqui você encontra material sobre evidências e boas práticas relativas à saúde e ao bem-estar da dupla mãe-bebê. Fique à vontade e entre em contato, adoramos uma boa conversa! Envie um e-mail para grupomaternamente@gmail.com ou entre no grupo do Facebook.

Território

Atuamos principalmente em Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra (o ABC paulista), mas também na capital paulista e em outros municípios do Estado de São Paulo.

Articulação

Procuramos nos articular com outros movimentos sociais e com as instâncias gestoras, com o fim primordial de defender os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e de instaurar um novo paradigma de assistência à saúde da mulher.