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13 de julho de 2020

Quando a ética não faz parte do negócio: a pediatria e a Nestlé

Indústria de alimentos mantém sua estratégia de conquistar corações e mentes (e bolsos) de profissionais de saúde e famílias


Em plena pandemia de Covid-19, em meio a decisões governamentais pouquíssimo ou nada baseadas na ciência, não é de surpreender a notícia de que a Nestlé e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) se uniram para mais uma ação conjunta, conforme noticiado no site da própria SBP: "SBP e Nestlé lançam programa para capacitar residentes de pediatria em temas de nutrição infantil". Com o disfarce de incentivo à formação acadêmica e reforço na qualidade da atuação de futuros profissionais, essa parceria entre indústria e associação médica nada tem de inocente e benéfica para a sociedade. 

E o que há de mal em entregar para a indústria a formação de milhares de profissionais de saúde? Nesse caso específico, o Programa Jovens Pediatras (J.Pedia), "um curso digital de capacitação em nutrição", segundo o site da SBP, os residentes serão formados por quem tem (fortes) interesses econômicos envolvidos no que acontece dentro dos estabelecimentos de saúde, seja consultório, seja maternidade, seja posto de saúde. Estamos falando de médicos formados, futuros pediatras, que entre outras coisas darão orientações e prescrições para cuidadoras e cuidadores de crianças das mais diversas idades, desde o nascimento. Como se pode imaginar, a prescrição de fórmulas (leite em pó, sendo bem clara) será ainda mais banalizada, com um sem-número de indicações e supostas vantagens. Aconselhamento sobre aleitamento materno? Esqueça. Se hoje são raros os pediatras que realmente conseguem auxiliar uma pessoa com dificuldades em amamentar, daqui a alguns anos esses profissionais serão como cabeça de bacalhau. 

19 de julho de 2016

Cesariana: direito de quem?

Resolução do CFM e projeto de lei desviam atenção para o tempo de gestação e ignoram evidências científicas e direitos da mulher


Faz quase um mês, saiu no Diário Oficial uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) segundo a qual “é ético o médico atender à vontade da gestante de realizar parto cesariano”. Por propor que a cirurgia seja realizada apenas após a 39ª semana de gestação, de início a resolução foi festejada por algumas mulheres, que enxergaram na norma uma forma de proteção ao feto e aos direitos da mulher. A leitura descompromissada e desatenta da resolução pode levar a tal interpretação, contudo, algumas respirações a mais permitem oxigenar a discussão.


Quem determina com que idade gestacional o bebê está pronto para nascer, senão o próprio bebê?


O que diz o CFM
De maneira geral, a resolução do CFM diz que a mulher tem o direito de optar pela cesariana, que a decisão deve ser registrada em um termo de consentimento, que a cesariana só deve ser realizada a partir da 39ª semana de gestação e que se o médico não concordar com a cesariana deverá encaminhar a mulher para que outro profissional a atenda. Tomados isoladamente, os quatro artigos que compõem a resolução do CFM podem parecer benéficos, por estabelecerem a idade gestacional mínima para que se realize a cesariana e ao mesmo tempo garantirem o direito de escolha da mulher.

15 de fevereiro de 2015

A dureza da verdade

Estava em busca de uma imagem para ofertar a uma amiga que está de aniversário hoje. Para ela, feminista como eu, desejava encontrar algo que juntasse meus desejos de uma vida feliz
às nossas ideias libertárias sobre a vida das mulheres no mundo. E foi durante essa procura que encontrei a imagem que ilustra esta postagem, e que também a inspira.

"A verdade te libertará. Mas antes vai te deixar (muito, muito, muito) chateada"
Esta imagem veio daqui

Há alguma controvérsia sobre a autoria original desta frase, mas o fato é que ficou mais famosa por ter sido dita em palestras pela feminista americana Gloria Steinem, que em março completará 81 anos de idade. No momento em que bati o olho na figura, um filme passou na minha cabeça, e me lembrei das minhas próprias sensações de raiva e desencanto nas muitas descobertas de verdades insuspeitadas, mas especialmente daquelas relacionadas com minha vida de mulher em uma sociedade patriarcal. Dentre essas, aquelas verdades duras sobre o nascimento de crianças no Brasil, que a maioria das mulheres só descobre vivenciando-as da pior maneira possível.

Ao longo dos últimos nove anos de militância nesta área, conheci muitas mulheres que, como eu, ao se depararem com os fatos, não conseguiram evitar o sentimento de revolta. Para muitas, é tão impactante, que a negação é a saída imediata. Eu, pelo menos, fiquei assim por quase três anos, imersa em tudo que de bom a maternagem trazia, evitando problematizar ou mesmo me lembrar das circunstâncias do nascimento da minha filha. Se tivesse permanecido nesse estado, obviamente não estaria agora compartilhando estes pensamentos. Mas, em algum momento, por alguma razão desconhecida, passei para a raiva e depois para a libertação que a verdade traz.

Então, essa postagem é para lhe dizer que eu prefiro saber que médic@s e hospitais privados do ABC Paulista beiram a marca dos 100% de cesarianas. Que os poucos partos vaginais que ocorrem em hospitais privados são ainda mais violentos que os que acontecem no setor público. Que a única casa de parto do SUS, próxima da nossa região, tem tido dificuldades em se manter como um local com assistência atípica e adequada. Que as taxas de intervenções e cesarianas não têm caído nos hospitais públicos da região. Que a maioria das maternidades do ABC está entregue à gestão da mesma instituição de ensino, o que as torna maternidades-escola, fazendo com que as mulheres e os bebês se tornem mais expostos a intervenções desnecessárias, abusivas e dolorosas. Que as poucas iniciativas de gestões simpáticas a mudanças de paradigma andam como tartarugas, porque se quer fazer omeletes sem quebrar ovos.

Sim, eu prefiro a verdade. O que não quer dizer que goste dela. É que, exposta, inegável, a verdade nua e crua nos deixa com duas alternativas: ou a gente se conforma e aceita passivamente; ou a gente fica movida por uma indignação tal que quer virar de ponta-cabeça o sistema, quer seja só pra nós, quer seja para todas as irmãs. Dando de cara com a verdade em uma esquina, eu poderia correr no sentido oposto, por me julgar incapaz de lidar com ela ou enfrentá-la. Afinal, fui ensinada a ser assim desde pequenina. Interessante que, mesmo que ninguém tenha me "educado" para o parto, eu sabia direitinho que tinha que obedecer ao que me fosse prescrito. Da mesma forma que aprendi que eu não posso fazer xixi na rua mas os homens podem, que "homens são assim mesmo" (sei lá o que isso significa...), que preciso me vestir de forma "segura" etc.

Portanto, não é sem sofrimento que vem a parte da liberdade. Sentir-se livre para olhar na cara de enfermeir@s e médic@s e dizer "não, obrigada" a qualquer coisa que venham lhe impor requer trilhar um caminho árduo, pedregoso, imprevisível, solitário, acidentado e, muitas vezes, sem saída. Da mesma forma que não é nada fácil assentar-se a uma mesa cercada de pessoas poderosas de uma instituição hospitalar e soltar meia dúzia de palavras na contramão.  Sozinha, a sensação de ser inadequada e desobediente pode nos assaltar, e assim nos encarcera. Por isso a imagem acima me inspirou - além da frase, a ideia de luz. Quando a gente sabe o que nos espera, sai do caminho escuro. E o caminho não fica iluminado só pra nós, mas também pra quem segue junto ou perto. E é por isso que se, para você, é difícil demais encarar essas verdades, a gente te diz: você não está só!

PS: minha amiga ganhou uma imagem bem bonita, que pode ser vista aqui

8 de março de 2013

Companheira, a luta é todo dia


Eu não posso, com a minha história e minha vida, fazer uma postagem fofinha nesta data. Acho que nem conseguiria, vocês não me reconheceriam, né? Então, assim de começo, peço perdão. Por não responder, exatamente o que você me perguntou. Por lhe perguntar coisas sobre as quais prefere não falar. Por responder algo que desestabiliza seu conhecimento e lhe causa desconforto. E por quaisquer outras situações...

Desta forma aberta, esta postagem não tem maiores pretensões. Apenas gostaria que você olhasse para si mesma e pensasse um pouco sobre cada luta que empreende após se levantar, todos os dias. Para dar conta, dentro do tempo que tem, de todas as tarefas que se propôs fazer e que seu companheiro não divide com você. Para educar de forma igualitária sua menina e seu menino, contra o que diz todo o seu entorno, e talvez até mesmo o seu companheiro. Para garantir que sua opinião sobre a vida e as coisas tenha o mesmo peso em casa. Para que o seu parto, que acontece no seu corpo, seja só do jeito que você deseja, sem concessões a quem quer que seja. Para que seu trabalho de maternagem seja tão reconhecido como útil para sua família e para a sociedade quanto qualquer trabalho remunerado. Para viver sua sexualidade de forma plena e sobre ela ter total poder de decidir.
 

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