Quando preparava meu plano de parto, perguntava-me se desejaria uma música especial para a chegada do meu guri. E de tanto pensar no assunto, cheguei à conclusão de que jamais conseguiria selecionar uma música só para um momento tão pleno de significado.
Meu pequeno veio ao mundo num quarto em silêncio, em que tudo o que eu conseguia ouvir era a minha própria respiração. Uns momentos antes de ele coroar, pude ainda correr os olhos ao meu redor, e notei então a lotação da sala de parto. Além de mim, do meu então marido, da doula e da equipe médica, havia ainda algumas enfermeiras que eu não vira até então. Concentradas num canto, elas tinham os olhos arregalados e, em silêncio, quase segurando a respiração, apertavam-se umas contra as outras, como torcida de futebol a observar a jogada que em segundos levará ao gol.
O grito de gol não veio, mas apenas um gemido - meu - e depois outro gemido - do meu filho, que já estava nos meus braços. Segurei-o na frente do meu rosto, observei seus traços, e então ele começou a chorar!
Eu mesma não chorei, e essa foi uma das sensações mais singulares da minha vida. Era tanta emoção que eu não conseguia chorar.
Dias mais tarde, enquanto olhava as fotos que a doula tirara do parto e enquanto pensava em como me senti pequena e ao mesmo tempo poderosa ao acolher meu guri pela primeira vez, ao acaso veio-me uma música na cabeça.
E essa música, sem dúvida, foi a trilha sonora do meu parto, ou melhor, do parto do Murilo, mesmo que ela só tenha tocado na minha cabeça.
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