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9 de julho de 2020

Mortes maternas no contexto da pandemia: que caminho escolheremos?


 

Denise Yoshie Niy e Deborah Rachel Audebert Delage Silva

Integrantes da Parto do Princípio – Mulheres em rede pela maternidade ativa, coordenadoras do Grupo Maternamente e doutoras pela Faculdade de Saúde Pública da USP

Publicado em: https://ptpaulista.com.br/mortes-maternas-no-contexto-da-pandemia-que-caminho-escolheremos/

 

É razoavelmente sabido que o Brasil não atingiu a meta de desenvolvimento do milênio relativa à redução da mortalidade materna. Entre 2000 e 2015, a morte de mulheres por causas relacionadas à gestação e ao parto diminuiu, mas de maneira insuficiente e desproporcional ao aumento da cobertura assistencial.(1) No ciclo dos objetivos de desenvolvimento sustentável, ficaremos para trás novamente nesse quesito – a conta, provavelmente, irá para a pandemia de Covid-19. Pelos dados que têm sido compilados por pesquisadores brasileiros, a doença causada pelo novo coronavírus parece ser um risco para mulheres no ciclo gravídico-puerperal.(2) Não têm sido raras, por exemplo, as notícias na grande mídia de gestantes que subitamente tiveram piora em seu quadro de saúde e faleceram, em alguns casos com a sobrevivência do bebê, extraído por meio de cesariana de urgência.(3–5) Todavia, argumentamos aqui que, para além da Covid-19, outros fatores podem aumentar ainda mais o número de mortes de mulheres no Brasil.

Em um país onde 55% das gestações não são planejadas, é fundamental questionar o que se tem debatido sobre sexualidade e reprodução.(6) Não faz muito tempo, a ministra Damares Alves ganhou os holofotes propondo a abstinência sexual como método para prevenir a gravidez na adolescência – o que é ineficaz (conforme já demonstrado em estudos) e soa quase como uma piada de mau gosto, dada a sua desconexão com a nossa realidade sociocultural.(7)No contexto da pandemia, o acesso a serviços e ações de saúde reprodutiva torna-se um ponto crucial para garantir minimamente o direito das mulheres. Nesse rol incluem-se os serviços que realizam a interrupção da gestação nos casos previstos em lei, de funcionamento historicamente precário, e em alguns casos totalmente interrompido com a instalação da situação de emergência no país.(8) Tanto é que recentemente a coordenação de saúde das mulheres, do Ministério da Saúde, emitiu nota técnica reforçando a importância da manutenção de ações ligadas à saúde sexual e reprodutiva das mulheres no contexto da pandemia.(9) De forma já não surpreendente, porém, a nota foi retirada do ar pelo Ministério da Saúde, que afirmou ser o documento “uma minuta” e por fim exonerou a equipe técnica responsável por sua publicação.(10,11)

Para as mulheres grávidas, o cenário atual é de medo e incerteza. No pré-natal, consultas têm sido adiadas (por meses, em alguns casos, inclusive aqueles classificados como de alto risco) e com a recorrência da “alta do pré-natal”, quando as gestantes simplesmente são abandonadas à própria sorte nas suas últimas semanas de gravidez. Se procurarmos os gestores das redes assistenciais, serão unânimes em afirmar que todas as unidades de saúde continuam funcionando, com seus serviços de pré-natal ativos. Mas infelizmente não é essa a realidade que as mulheres têm relatado. Muitas delas, não encontrando atendimento na unidade onde costumam realizar seu pré-natal (ou com medo de lá irem, pelo fato de não haver atendimento separado para pessoas com suspeita de Covid-19), dirigem-se aos hospitais diante de qualquer alteração em sua saúde e bem-estar, aumentando sua chance de infecção pelo Sars-CoV-2.

Para aquelas que chegam a termo, a angústia não poderia ser maior. Muitos hospitais tornaram-se referência para atendimento de pessoas com Covid-19, fechando os serviços de obstetrícia. A consequência é nossa velha conhecida: a peregrinação por um leito para dar à luz. É certo que há agentes investidos de boas intenções e envolvidos na organização dos serviços e da rede, mas isso não tem se dado em consideração às necessidades dos territórios e muito menos em diálogo com a sociedade. As mulheres, que já estão com acesso ao pré-natal (e aos respectivos exames) prejudicado, estão também às cegas quando se trata da maternidade de referência. O esforço empreendido pela Rede Cegonha(12) para vinculação das mulheres às maternidades se perdeu e, no contexto da pandemia, elas não sabem para onde deverão ir quando a hora do parto chegar, uma vez que isso não está publicado em lugar algum e mesmo as unidades básicas de saúde têm dúvidas a respeito. Vale lembrar que é de 2007 a lei federal que garante à gestante o direito de conhecimento e vinculação prévia à maternidade onde terá seu bebê e onde receberá atendimento nos casos de intercorrência pré-natal.(13) Hoje, a incerteza e o medo combinam-se de uma maneira especialmente cruel para aquelas mulheres que vivem em regiões mais periféricas, onde ir para um serviço “errado” pode significar não chegar a tempo no serviço “correto”. 

Ao adentrar a maternidade, a mulher enfrenta ainda outras provações, como proibição de ter acompanhante (embora seja direito garantido por lei),(14) intervenções desnecessárias, falta de informações sobre seu estado de saúde e do seu bebê, e ainda falta de esclarecimentos sobre puericultura no contexto da pandemia. 

Existem muitas incertezas do ponto de vista científico a respeito do Sars-CoV-2, particularmente na gestação, no parto e no puerpério. Todavia, os conhecimentos gerais acumulados até aqui nos permitem afirmar que muitas mulheres morrerão por causas ligadas à gestação e ao parto no país, e a maior parte dessas mortes poderia ser evitada.(15–17)Nesse sentido, um dos modelos para se estudar a morte materna é o das “três demoras”, a demora na decisão da mulher ou de sua família em procurar cuidados, a demora para se chegar ao estabelecimento de saúde capaz de atender a essa demanda e a demora na prestação dos cuidados adequados.(18) Trata-se de um modelo aceito internacionalmente e adotado pela OMS desde a década de 1990, por sua grande capacidade de explicitar as causas das mortes maternas. Nessa perspectiva, usando a pandemia de Covid-19 como desculpa, estamos reforçando as “três demoras” das mais variadas formas. 

É inaceitável que isso ocorra, em especial entre os municípios mais ricos do país, que conformam a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Se nos mantivermos nesse rumo, estaremos aceitando que muitas mulheres morrerão por falta de um pré-natal adequado, por falta de informação sobre um local seguro para dar à luz, e por uma assistência inadequada no parto e puerpério. Se a morte de uma mulher por causas ligadas à gestação e ao parto é considerada uma tragédia familiar e social, precisamos agir para evitar um extermínio de mulheres – especialmente mulheres pretas e pobres, certamente as que ficarão por último na fila de atendimento.(17,19)

Considerando a situação de emergência da RMSP (em consonância ao que apontam pesquisadores), propomos o estabelecimento de uma regulação com fila única para atendimento a mulheres com gestação de termo, incluindo aí não apenas os equipamentos do SUS, como também os numerosos leitos das maternidades privadas que se espalham por toda a região. Vale destacar que os hospitais privados não experimentaram qualquer crescimento na sua taxa de ocupação, ao passo que as unidades SUS que são exclusivamente de maternidade tiveram aumentos significativos em seus atendimentos nos últimos dois meses, colocando em risco a qualidade e a segurança da assistência. Isso se dá não só pelas maiores chances de contaminação das mulheres por Sars-CoV-2, como também pela sobrecarga de trabalho imposta aos profissionais e pela incompatibilidade do número de atendimentos com a ambiência dessas maternidades. 

A regulação única de vagas de obstetrícia, a exemplo do que sanitaristas têm proposto para os leitos de UTI,(20)contribuiria para reduzir as iniquidades de nossa sociedade, protegendo o direito à saúde, o qual, nunca é demais repetir, está garantido em nossa Constituição. Temos ciência de que essa proposta solitariamente não será capaz de solucionar todos os nós críticos da assistência à saúde sexual e reprodutiva das mulheres, mas com um sistema de regulação e transporte adequados, certamente influirá na redução das “três demoras”, evitando muitas mortes maternas ou casos de morbidade grave de mulheres. Ou agimos agora nesse sentido ou estamos assumindo que não nos importamos com essas vidas. Que caminho escolheremos?

 

 

Referências bibliográficas

1.        Souza JP. A mortalidade materna e os novos objetivos de desenvolvimento sustentável (2016-2030). Rev Bras Ginecol e Obs [Internet]. 2015;37(12):549–51. Available at: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032015001200549&lng=pt&nrm=iso&tlng=en

2.        Ramos Amorim MM, Soligo Takemoto ML, Fonseca EB. Maternal Deaths with Covid19: a different outcome from mid to low resource countries? Am J Obstet Gynecol [Internet]. 2020;2019–20. Available at: https://doi.org/10.1016/j.ajog.2020.04.023

3.        Tostes F. Grávida morre com Covid-19 na Serra e médicos salvam bebê. Tribunaonline [Internet]. 2020; Available at: https://tribunaonline.com.br/gravida-morre-com-covid-19-mas-medicos-salvam-bebe-na-serra

4.        Rouvenat F. Grávida passa por parto de emergência e morre de Covid-19 sem conhecer o fi lho. G1 [Internet]. 2020; Available at: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/05/12/gravida-passa-por-parto-de-emergencia-e-morre-de-covid-19-sem-conhecer-o-filho.ghtml

5.        Istoé. AM : Grávida tem parto prematuro e morre de Covid- 19 sem conhecer o fi lho. Istoé. 2020; 

6.        Brandãos ER, Cabral C da S. Da gravidez imprevista à contracepção: Aportes para um debate. Cad Saude Publica. 2017;33(2). 

7.        Alves CA, Brandão ER. Vulnerabilidades no uso de métodos contraceptivos entre adolescentes e jovens: Interseções entre políticas públicas e atenção à saúde. Cienc e Saude Coletiva. 2009;14(2):661–70. 

8.        Bertho H. Principal hospital de aborto legal de SP interrompe o serviço na crise do coronavírus. Folha de SPaulo. 2020;1–3. 

9.        Ministério da Saúde. Nota técnica no 16/2020. Brasília, DF; 2020 p. 1–5. 

10.      Ministério da Saúde. Ministério da Saúde esclarece nota técnica [Internet]. saude.gov.br. 2020 [citado 8 de junho de 2020]. Available at: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/47009-ministerio-da-saude-esclarece-nota-tecnica

11.      Leitão M. Nota técnica sobre saúde sexual gera exoneração no Ministério da Saúde. Veja [Internet]. 2020; Available at: https://veja.abril.com.br/blog/matheus-leitao/nota-tecnica-sobre-saude-sexual-gera-exoneracao-no-ministerio-da-saude/

12.      Ministério da Saúde. Portaria no 1.459, 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde, a Rede Cegonha. Diário Oficial da União. 2011;Seção 1. 

13.      Brasil. Lei no 11.634, de 27 de dezembro de 2007. Dispõe sobre o direito da gestante ao conhecimento e a vinculação à maternidade onde receberá assistência no âmbito do SUS. Brasília, DF; 2007. 

14.      Brasil. Lei 11.108. Altera a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para garantir às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS. Brasília, DF; 2005. 

15.      Souza J, Tunçalp Ö, Vogel J, Bohren M, Widmer M, Oladapo O, et al. Obstetric transition: the pathway towards ending preventable maternal deaths. BJOG An Int J Obstet Gynaecol [Internet]. 2014;121:1–4. Available at: http://doi.wiley.com/10.1111/1471-0528.12735

16.      Leal C, Granado S, Braga C. Desigualdades raciais, sociodemográficas e na assistência ao pré-natal e ao parto, 1999-2001. Rev Saúde Pública. 2005;39(1):100–7. 

17.      Leal M do C, Gama SGN da, Pereira APE, Pacheco VE, Carmo CN do, Santos RV. A cor da dor: iniquidades raciais na atenção pré-natal e ao parto no Brasil. Cad Saude Publica. 2017;33(suppl 1):1–17.

18.      Combs Thorsen V, Sundby J, Malata A. Piecing Together the Maternal Death Puzzle through Narratives: The Three Delays Model Revisited. PLoS One. 2012;7(12). 

19.      Victora CG, Aquino EML, do Carmo Leal M, Monteiro CA, Barros FC, Szwarcwald CL. Maternal and child health in Brazil: progress and challenges. Lancet [Internet]. 28 de maio de 2011 [citado 9 de junho de 2013];377(9780):1863–76. Available at: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21561656

20.      Bahia L. O Brasil deveria criar uma regulação única de leitos públicos e privados no combate ao coronavírus? SIM. Folha de SPaulo [Internet]. 2020; Available at: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/04/o-brasil-deveria-criar-uma-regulacao-unica-de-leitos-publicos-e-privados-no-combate-ao-coronavirus-sim.shtml

 

19 de março de 2012

Dados ocultos, dados significativos

Nem sempre o mais importante numa comunicação está naquilo que foi dito de fato. Muitas vezes, o não dito é ainda mais revelador. É o caso, por exemplo, do que vem acontecendo no Estado de São Paulo quanto aos dados sobre nascimentos e mortes.

A Fundação Seade é responsável por coletar, processar, analisar e divulgar as "estatísticas vitais" paulistas. Essas informações compreendem os dados sobre os nascimentos, as mortes, os casamentos e as separações. Como se pode imaginar, são de fundamental importância aos gestores públicos, para que possam planejar seus programas, e também à sociedade, para que se mantenha à par da realidade.

Pois bem. Segundo os dados da Fundação Seade, as mulheres têm mais acesso ao pré-natal em todo o Estado. A região que registra a pior assistência tem também maior proporção de mães com menor escolaridade e mais filhos. Surpreendentemente, porém, é nessa região onde ocorrem relativamente mais partos normais (equivocadamente chamados de naturais na publicação do Seade), e menor proporção de nascidos com baixo peso. Surpreendentemente? Que nada...

A Região Administrativa de Registro é das mais pobres do Estado, com problemas em diversas áreas, pouca renda, pouca escolaridade... mas é também a única região do Estado, repito, ÚNICA REGIÃO DO ESTADO MAIS RICO DA NAÇÃO onde a proporção de partos normais supera a de partos cesáreos. E, por isso mesmo, tem também a menor proporção de crianças nascidas com baixo peso. Isso quem conclui sou eu, não o Seade. Mas não é preciso pesquisar muito para descobrir essa associação, há vários estudos sérios e bem conduzidos que chegam a essa conclusão.

Outro dado alarmente por estar ausente diz respeito à mortalidade - materna e neonatal. O boletim do Seade limita-se a indicar a redução da mortalidade infantil no Estado, já sabida e conhecida e amplamente divulgada. Aborda rapidamente a mortalidade perinatal, ou seja, os nascidos mortos e aqueles que morrem com até seis dias de vida. Não destaca, desse modo, a crescente participação das mortes neonatais, especialmente as mortes neonatais precoces, na mortalidade infantil. Atenção, São Paulo, a mortalidade infantil diminuiu bastante por aqui, mas só continuará descrescendo se as mortes neonatais receberem a atenção devida. Felizmente, ano a ano, menos crianças morrem por diarreia ou desnutrição, por exemplo, o que indica melhoria das condições gerais de saúde e saneamento. Mas as mortes dos pequeninos, com menos de 28 dias, e especialmente daqueles com menos de uma semana, só serão evitadas se maior atenção for dada à assistência pré-natal, ao parto e ao puerpério. Com mais da metade dos partos ocorrendo por via cirúrgica, vai ser bem difícil reduzir essa fatia das mortes infantis.

Enfim, mas não menos importante, resta o grande enigma: onde foram parar as mortes maternas? Nada é dito a respeito. Hum... será que é por causa da estagnação dessas mortes em patamar tão elevado que o Estado passará longe de cumprir a meta número 5 dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio ("Reduzir em três quartos, entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade materna")? Em 2008, no Estado de São Paulo, a razão de mortalidade materna equivaleu a 36,1 óbitos por 100 mil nascidos vivos, ao passo que a Organização Mundial da Saúde considera até 20 mortes por 100 mil um número aceitável, embora os países desenvolvidos registrassem, em 2005, 9 mortes maternas por 100 mil. Os gestores paulistas certamente se apressariam a apontar os dados nacionais, ainda mais vergonhosos, mas isso não os exime de responsabilidade. Mais uma vez, com o atual modelo de assistência ao parto, vai ser muito difícil reduzir as mortes maternas. Aliás, nem parece que tem tanta mulher morrendo por causas obstétricas... infelizmente elas deixaram de ser notícia, por ser informação repetida há tantos e tantos anos...

16 de março de 2011

Imagens por uma maternidade mais segura

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS) está promovendo um concurso de fotografia com o tema "Maternidade Segura". Qualquer pessoa pode participar e o prêmio é em dinheiro. Basta entrar no site, preencher o formulário e enviar a foto.

A iniciativa tem como propósito chamar a atenção para os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, em especial para a meta de número 5: melhorar a saúde materna. Essa meta foi traduzida como "Reduzir em três quartos, entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade materna".

O Brasil está muito longe de atingir essa meta e mesmo no Estado de São Paulo - tão rico e "desenvolvido" - nem chegará perto da marca:

"Entre 1990 e 2003, a taxa de mortalidade materna no Estado de São Paulo decresceu 43%: passou de 53,1 para 30,1 mortes por 100 mil nascidos vivos. Em 2002, a taxa de mortalidade materna no Estado (35 óbitos por 100 mil nascidos vivos) já era menor que a metade da registrada no Brasil (73,1). Os índices paulistas, no entanto, ainda encontram-se distantes dos países desenvolvidos, onde se registram no máximo 20 mortes por 100 mil nascidos vivos." (Fundação Seade)

Esse dado torna-se chocante quando se pensa um pouco nas condições de assistência ao parto em nosso país. A maioria dos nascimentos ocorre em hospitais ou outros estabelecimentos de saúde, o que em tese deveria significar maior segurança para a mulher e o bebê. Além disso, a maioria das mulheres tem acesso a um número mínimo de consultas de acompanhamento pré-natal, o que também deveria significar maior segurança para a mulher e o bebê. Por quê, então, as brasileiras continuam morrendo por causas ligadas à gestação e ao parto?

No artigo Gênero, saúde materna e o paradoxo perinatal, a Profa. Simone Grilo Diniz aponta um caminho para compreender as mortes maternas no Brasil. Vale a leitura e vale também participar do concurso da OPAS - tudo em nome de uma maternidade mais segura!

3 de julho de 2009

A morte materna e a crise

Triste coincidência, li hoje esta notícia, que tem tudo a ver com a que divulguei aqui ontem. (Destaque em vermelho meu.)

Publicado em 02/07/2009
500 mil mulheres morrem todo ano durante gravidez ou parto

Relatório da ONU aponta que atual crise econômica dificulta o acesso a financiamentos para programas de saúde reprodutiva

Um relatório conjunto do Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa) e do Banco Mundial lançado quarta-feira (1º) em Washington aponta que a crise econômica mundial tornou mais difícil o acesso a financiamentos para programas de saúde materna.

Segundo o documento, o planejamento familiar e outros serviços de saúde reprodutiva não são prioridade nos programas de desenvolvimento dos países pobres.

Números preliminares divulgados pelo Banco Mundial mostram que a ajuda global para a saúde aumentou de US$ 2,9 bilhões em 1995 para cerca de US$ 15 bilhões em 2007, equivalente a R$ 30 bilhões.

Apesar disso, durante o mesmo período, investimentos em programas de saúde reprodutiva aumentaram um pouco mais de US$ 1 bilhão.

Em comentário sobre o tema, a diretora executiva do Unfpa, Thoraya Obaid, disse que a falta de vontade política para proteger a saúde e os direitos das mulheres impede maiores avanços na área.

Gravidez

O Unfpa estima que mais de 500 mil mulheres morrem todos os anos de problemas médicos que poderiam ser tratados durante a gravidez.

A África é o continente com as mais altas taxas de mortalidade materna. O número de mortes é pelo menos 100 vezes superiores ao dos países ricos.

Fonte: Rádio ONU

2 de julho de 2009

Mortalidade materna

Não chama a atenção, mesmo em níveis elevados. O portal 45 graus, por exemplo, deu a boa notícia sobre a baixa mortalidade infantil em Teresina (PI), mas praticamente ignorou o fato de a mortalidade materna estar mais de três vezes acima do que é considerado aceitável pela OMS. Segue a notícia.


01.07.2009 - 22:03:58
Mortalidade infantil é considerada baixa em Teresina
A Prefeitura de Teresina busca apoio da família para combater mortalidade infantil

Mesmo com a mortalidade infantil considerada baixa em Teresina pela Organização Mundial de Saúde – OMS, a Prefeitura vai buscar um maior envolvimento da família nos cuidados com a mulher e a criança desde a gestação até o pós-parto, como forma de reduzir ainda mais o coeficiente, que, no ano passado, alcançou 17,96 óbitos por cada 1.000 nascidos vivos em no município.

Para a coordenadora de Ações Assistenciais da Fundação Municipal de Saúde, Amariles Borba, a redução da mortalidade, tanto materna quanto infantil, não depende somente de um médico especialista, mas de uma equipe inteira, incluindo, principalmente, a família. “O acompanhamento por parte da família é importante para oferecer à mulher uma situação favorável à gravidez e ao pós-parto”, enfatiza. No caso da criança, a médica recomenda muita atenção a fim de que se possa perceber a gravidade da doença o quanto antes e procurar o médico.

A morte da criança pode ocorrer nos primeiros sete dias e as principais causas são doenças relacionadas à gestação e ao parto, à prematuridade, ao baixo peso de nascimento (menos de 2.500 g) e às doenças respiratórias e infecciosas, além de malformações e pneumonia.

Entre as medidas recomendadas para a redução da mortalidade infantil estão: estímulo às mulheres a procurar um posto de saúde no início da gravidez e, quando mães, procurar o serviço de saúde para o acompanhamento do bebê, participar de grupos de planejamento familiar, fazer o pré-natal, consulta pós-parto, e pós-aborto, cuidados do bebê e vacinação. A gravidez, o parto e o nascimento do bebê devem ser compartilhados pela família, amigos e a comunidade.

A Prefeitura pretende alcançar a meta estabelecida pelo Governo Federal, de redução da mortalidade-infantil em 5% nos próximos dois anos. Segundo Amariles Borba, isso requer a efetivação e estruturação da vigilância de óbitos materno-infantis, fetais e por causas mal definidas, conforme recomenda o Ministério da Saúde para gestores de todo o Nordeste. Teresina já vem fazendo a investigação de óbitos infantis, mesmo com algumas dificuldades, em virtude da quantidade a ser investigada, que gira em torno de 250 óbitos por ano.

Em relação à morte materna, a OMS considera esta uma epidemia silenciosa, que assume níveis inaceitáveis. Em todo o mundo morrem anualmente 500 mil mulheres na faixa etária de 10 a 49 anos. Conforme os números da Organização, isso significa a morte de cerca de 1.410 mulheres por dia. As mortes acontecem, 99% das vezes, em países em desenvolvimento. A OMS considera razoável até 20 mortes maternas por cada 100.000 nascidos vivos. No Brasil o índice ainda é muito elevado com 100 óbitos por cada 100 mil nascidos vivos. Em Teresina, o coeficiente ficou em 64,65 em 2008, com um total de 09 óbitos.

A morte materna é a morte da mulher durante a gestação ou até 42 dias após o término da mesma e pode estar associada a doenças que as mulheres tinham antes de engravidar ou que adquiriram durante a gravidez. As principais causas são: pressão alta, eclampsia, hemorragias, complicações do aborto, problemas cardíacos e infecções pós-parto.
 

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