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11 de abril de 2021

Nascer e morrer, os números contam

Recentemente publiquei alguns gráficos no Instagram falando do número de residentes no ABC que dão à luz: muitas delas vão para outros municípios na hora de ter o bebê, e sabemos por experiência que isso é verdade. Chamou a atenção na série de gráficos como o número de nascimentos vem diminuindo ao longo dos anos, e provocada pela mana Deborah, prometi que estudaria a respeito para entender melhor essa tendência.

Mal tive tempo de começar, deparei-me com o alerta do Prof. Miguel Nicolelis, de que em abril deste ano o número de óbitos ultrapassaria o número de nascimentos no Brasil, em um resultado inédito na nossa história. Saiu, depois, uma matéria no El País falando sobre isso, e de forma não surpreendente, um município da nossa região é citado já na capa da matéria.



De repente eu me peguei tentando desacreditar nessa informação. Inventei várias desculpas mentais para esse disparate, puxa, talvez o número de nascimentos já estivesse se reduzindo tanto que isso já fosse acontecer mesmo. Precisa ver direito esse dado aí, pensei. Bem, corri para olhar as bases de dados públicas que geralmente consulto, do Ministério da Saúde, para verificar a notícia eu mesma. Ocorre que essas bases demoram muito a ser atualizadas, e obviamente isso não é à toa. Então segui a pista da matéria do El País, e abri o site dos cartórios de registro civil.

A partir desse site é possível consultar números do movimento do registro civil: o que os cartórios registraram de nascimentos, casamentos e óbitos. Na emergência da pandemia, criaram ainda uma consulta específica para a Covid-19. A base das informações são as declarações de nascido vivo (preenchida pelo hospital/maternidade ou pela pessoa que prestou assistência ao parto), de óbitos (a famigerada DO, também fornecida por um estabelecimento ou profissional de saúde) e de casamentos. Não há referência, no site, sobre quando foi a última atualização dos dados (ou tem e eu não vi). De toda forma, é uma possibilidade de consulta, ainda que os dados sejam preliminares. É importante ter isso em mente. Não sei como os dados do registro civil são tratados, mas na área da saúde sabe-se que muitas vezes é preciso retificar algumas informações, passados meses ou mesmo anos da ocorrência. Por exemplo, as mortes de mulheres em idade reprodutiva precisam ser investigadas, para descartar que tenham sido relacionadas à gestação, ao parto ou ao aborto. Isso serve para identificarmos com mais precisão as mortes maternas e, assim, criarmos políticas para seu enfrentamento (o que não necessariamente tem acontecido, diga-se).

Mas voltando aos dados de nascimentos e óbitos... Como a plataforma do registro civil é muito ruim para tabular dados, peguei dela as informações de 2020 e 2021, que não estão disponíveis em outras fontes. Tirei dados de anos anteriores da Fundação Seade, que têm como base também as informações do registro civil, mas que passam por uma análise de consistência antes de irem ao ar. Os dados mais recentes dessa base são de 2019 e mostram que de fato desde 2009 vemos uma pequena tendência de redução de nascimentos. Mas algo muito discreto.

Fonte: Fundação Seade.

E as mortes? Olhando para os números absolutos, elas vêm aumentando desde 2009 – mas não me parece um acréscimo alarmante, pelo menos não à primeira vista. No gráfico abaixo, usei a mesma escala do gráfico de nascimentos, de forma que é possível comparar a magnitude dos números, ou seja, o volume de nascimentos e óbitos entre os anos de 2009 e 2019 – um intervalo de dez anos antes do início da pandemia, portanto.


Fonte: Fundação Seade.


Ok, até aqui, nada muito surpreendente, certo? Número de nascimentos em patamar ainda muito superior ao de mortes. O que significa que a população da região foi crescendo continuamente ao longo desse período, e possivelmente com mais pessoas chegando às idades mais avançadas. (Parêntese. Não faz muito tempo que eu descobri que envelhecer é um privilégio: pessoas pretas e pardas vivem muito menos do que as brancas. E esse é um assunto tão sério que merece ser tratado de maneira bastante cuidadosa, futuramente.)

Mas se até 2019 não havia nada de muito surpreendente entre nascimentos e óbitos, o que aconteceu em 2020? 


Fonte: Portal da Transparência do Registro Civil.

Como se nota, há uma variação no número de nascimentos ao longo do ano, o que é esperado. Isso aconteceu também em anos anteriores – somei os nascimentos registrados na Região do ABC para o gráfico não ficar muito confuso, mas na imagem a seguir dá para perceber a variação ao longo do ano, e também dá para notar que em 2020 houve menos nascimentos em comparação com os dois anos anteriores. Mas algo muito discrepante? Não tanto assim.

Fonte: Portal da Transparência do Registro Civil; Fundação Seade.


E os óbitos? No início da pandemia, o que mais ouvimos foi da importância de frear a disseminação do vírus da Covid-19 para "achatar a curva" da doença, numa referência justamente ao gráfico do número de casos. Sabíamos que muita gente que ficasse doente iria precisar de hospital e que nosso sistema de saúde não daria conta de atender todo mundo se não evitássemos que a doença se espalhasse. Hoje já sabemos muito mais sobre o vírus e a doença que ele causa, mas é fato que não só o número de hospitalizações cresceu, como também o número de mortes. Sem separar os óbitos ligados à Covid, colocando tudo no mesmo balaio, é possível ver que o número total de pessoas que morreram no ano passado aumentou muito em junho – nosso pico de mortes, até então.

Fonte: Portal da Transparência do Registro Civil.


Tenho certeza de que muitas pessoas vão dizer que isso é também uma variação ao longo do ano, como vemos entre os nascimentos, e que portanto não há o que se comentar a respeito. Pois então, fiz com os óbitos o mesmo que fiz para os nascimentos, somei o número de mortes da região por mês, de 2018 a 2020.


Fonte: Portal da Transparência do Registro Civil; Fundação Seade.


A linha cor de laranja, mais clara, mostra o número de mortes no ABC paulista em 2020: vejam como o pico do meio do ano é muito mais acentuado do que nos anos anteriores. A linha até voltou a se aproximar à dos anos anteriores, mas terminou 2020 em ascensão. Isso significa que em 2020 tivemos muito mais mortes na região do que costumávamos observar. E o que veio depois – ou seja, neste ano de 2021 – é realmente assustador. Fiz um gráfico juntando nascimentos e óbitos da região, de janeiro do ano passado até março deste ano.


Fonte: Portal da Transparência do Registro Civil.


A linha azul é dos nascimentos. A cor de laranja, dos óbitos. Não bastasse o pico de junho de 2020, vemos aí um Everest em março deste ano, ultrapassando em muito o pico do ano passado e o número de nascimentos do mesmo mês. Caso não tenha ficado suficientemente visível, vou colocar outro gráfico, que traz os mesmos dados, mas expostos de uma maneira diferente, separando 2020 de 2021. Janeiro, fevereiro e março estão à esquerda.


Fonte: Portal da Transparência do Registro Civil.


O número de óbitos inclui aquelas pessoas que perderam a vida pela Covid-19, mas não só. Há também aquelas que ficaram doentes no ano passado, mas nunca se recuperaram plenamente, e morreram agora por problemas neurológicos ou do coração, por exemplo, com sequelas da Covid-19. Há ainda as mortes de pessoas com problemas diversos, que não foram atendidas no tempo adequado, por falta de vagas no hospital ou porque ficaram com medo de procurar um serviço de saúde. Tem também as mortes "que sempre aconteceram", por outras causas variadas, entre elas a de mulheres que não receberam cuidado adequado na gestação, no parto e no aborto, por exemplo.

Estou dizendo que pela primeira vez na história recente da nossa região registramos mais mortes do que nascimentos. Isso não aconteceu porque o número de nascimentos caiu, ou seja, porque as pessoas estão decidindo ter menos filhos, não! O número de nascidos permanece relativamente estável. Os estudiosos do tema (que são chamados de demógrafos) dizem que o número de mortes só viria a ultrapassar o de nascimentos no Brasil em 2047 – em uma transição lenta e gradual, como aconteceu na maior parte dos países ricos.

Quais as consequências para a nossa sociedade? Se continuarmos tendo muito mais mortes do que nascimentos, a nossa população (o número de pessoas que moram na região) vai diminuir. E de um jeito brusco, inesperado, com muita tristeza, pelo excesso de mortes, e não pela decisão das pessoas de terem menos filhos. De imediato, já podemos sentir esse efeito, no luto das famílias, que perdem uma, duas, três pessoas próximas em um intervalo de tempo muito curto. Como essas famílias se reestruturam? Emocionalmente, é devastador. E financeiramente? Embora mais homens estejam morrendo de Covid-19, as mulheres sofrem o impacto dessa pandemia de maneira devastadora, porque são elas que cuidam de todas e todos, são também a maioria na linha de frente, como profissionais de saúde. A Agência Pública publicou uma reportagem muito competente sobre famílias que perderam sua mãe na pandemia.

Mas para além dos reflexos nas vidas individuais de quem fica, precisamos pensar também nos significados dessas mortes em excesso para a nossa sociedade. Em uma perspectiva coletiva, de uma hora para outra vimos uma geração de pessoas mais velhas ser dizimada. Aos poucos, o Brasil vinha conquistando uma maior expectativa de vida, com melhores condições de sobrevivência para a população, mas isso se perdeu em questão de meses, e ao fim de 2020 já havia quem apontasse a redução na expectativa de vida em dois anos. Isso é muito significativo, especialmente se pensarmos que para muitos grupos o impacto deve ter sido ainda maior, por exemplo, para pretas e pardas e para povos indígenas. Em um contexto de crise como o que já vivíamos, isso é muito relevante, visto que muitas famílias tinham como única renda a pensão ou aposentadoria da pessoa idosa com quem viviam. Era a vó ou o vô que tinha um dinheirinho todo mês para garantir a feira. E agora, ela ou ele, ou os dois, se foram. Para um governo federal que não se importa com as pessoas que estão padecendo, isso é uma ótima notícia, pois significa a "economia" de algum dinheiro no pagamento desses direitos. Isso é de uma perversidade terrível, e tem até nome, chama-se necropolítica, quando o Estado (o governo da nação) efetivamente escolhe quem vai morrer, por meio de suas políticas ou pela omissão, por permanecer sem qualquer ação quando deveria tomar alguma atitude.

Se do ponto de vista das finanças familiares essas perdas são já sentidas, na perspectiva cultural e histórica talvez demoremos um pouco mais para compreendê-las. Embora não tenhamos o costume de valorizar os saberes das pessoas mais velhas, são elas a carregar nossas raízes, nossas origens, as histórias de nossas vidas antes mesmo que nascêssemos. As memórias, as práticas, as lutas, e mesmo os carinhos e afetos se foram, de maneira irrecuperável.

Ainda falando da necropolítica, mesmo com as festas das elites ricas sendo noticiadas na TV, sabemos que quem mais sofre com a Covid-19 são as pessoas que precisam sair para trabalhar todos os dias. Quem fica vivo tem de se virar no meio da pandemia, sem auxílio governamental, sem políticas que permitam o trabalho seguro, com uma perspectiva muito longínqua de tomar vacina.  São essas pessoas que se expõem no transporte público vergonhoso (sempre lotado, nunca alvo de melhorias, nem mesmo na pandemia), no trabalho sem carteira assinada ou com direitos precariamente garantidos, sem equipamentos de proteção, sem adequação do ambiente de trabalho e sem orientações adequadas sobre como se proteger, com moradias superlotadas, sem infraestrutura e sem possibilidade de isolamento de familiares com quem moram... Nesses contextos, sobreviver é mesmo um ato de resistência.

Agora, falando de um aspecto mais biológico, vemos que cada vez pessoas mais jovens estão se infectando e morrendo de Covid-19. Sobre isso, é importante dizer que o vírus que causa a doença não se manteve o mesmo desde o início da pandemia, ao contrário, como um bichinho muito esperto que é, tem se modificado para infectar cada vez mais pessoas e de maneira mais avassaladora. E nós estamos contribuindo para isso, pois quanto mais o vírus circula, mais propenso ele fica a se modificar (sofrer mutações). Isso quer dizer que depois de acabar com a memória de muitas famílias, e de ameaçar a subsistência de outras tantas, matando os idosos, agora estamos vendo a pandemia ameaçar a força de trabalho ativa, aquelas pessoas que estão no batente todos os dias, que saem para ganhar o pão. Se as famílias perderam avós e avôs no ano passado, agora estão perdendo mães e pais. 

Depois de olhar esses gráficos, eu não sinto outra coisa, a não ser horror. O horror de pensar que amanhã, dia 12 de abtil, o Estado de São Paulo relaxa suas medidas já nada austeras no combate à pandemia. Com mais pessoas circulando pelas cidades, inclusive estudantes, o que podemos esperar para os próximos meses? Será que prefeitos e secretários do ABC paulista usarão o conhecimento científico? Será que efetivamente tomarão atitudes eficazes para gerir a pandemia? Ou será que continuarão de olhos fechados a esses dados? E que ninguém se iluda com os números absolutos. Nenhuma cidade do ABC paulista se safou do excesso de mortes em março deste ano. Comparando o número de mortes de março deste ano com o de março do ano passado, vejam só quem teve o maior aumento porcentual.


Fonte: Portal da Transparência do Registro Civil.

A cidade que se gaba de ter o maior IDH, de ser um ótimo lugar para viver, de estar vacinando muita gente... São Caetano do Sul, cidade de população e território reduzidos, mas por onde muito dinheiro circula, foi a que teve o maior aumento proporcional de óbitos em março deste ano na comparação com março do ano passado, quando a pandemia ainda não havia se instalado plenamente por aqui. Foram quase três vezes mais mortes. Logo haverá alguém a reclamar, dizendo que o município é pequeno e que, portanto, o número absoluto de mortes é reduzido, contexto em que é fácil ter um aumento de 300%, por exemplo, quando se passa de 2 para 6 óbitos. Argumento semelhante poderia ser usado por Rio Grande da Serra, que em 2020 teve uma média mensal de 19,9 óbitos e, em março de 2021, registrou 34 mortes. Já em São Caetano a média mensal de mortes no ano passado foi de 146,9, com 132 óbitos em março de 2020, e 390 falecimentos em março de 2021. Como se nota, os números têm maior magnitude e, o mais relevante nessa história, o município de São Caetano tem muitas condições de atuar de maneira efetiva contra a Covid-19, se houver vontade política.  

O gráfico a seguir é uma repetição, só com um jeito diferente de mostrar os dados. Uma maneira de dizer vários palavrões ao mesmo tempo, um jeito de repetir, precisamos ouvir o que a ciência diz a respeito de como controlar a pandemia. Do jeito que vai, nós faremos parte dessas estatísticas nos próximos meses. Alguém duvida?


Fonte: Portal da Transparência do Registro Civil.










13 de julho de 2020

Quando a ética não faz parte do negócio: a pediatria e a Nestlé

Indústria de alimentos mantém sua estratégia de conquistar corações e mentes (e bolsos) de profissionais de saúde e famílias


Em plena pandemia de Covid-19, em meio a decisões governamentais pouquíssimo ou nada baseadas na ciência, não é de surpreender a notícia de que a Nestlé e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) se uniram para mais uma ação conjunta, conforme noticiado no site da própria SBP: "SBP e Nestlé lançam programa para capacitar residentes de pediatria em temas de nutrição infantil". Com o disfarce de incentivo à formação acadêmica e reforço na qualidade da atuação de futuros profissionais, essa parceria entre indústria e associação médica nada tem de inocente e benéfica para a sociedade. 

E o que há de mal em entregar para a indústria a formação de milhares de profissionais de saúde? Nesse caso específico, o Programa Jovens Pediatras (J.Pedia), "um curso digital de capacitação em nutrição", segundo o site da SBP, os residentes serão formados por quem tem (fortes) interesses econômicos envolvidos no que acontece dentro dos estabelecimentos de saúde, seja consultório, seja maternidade, seja posto de saúde. Estamos falando de médicos formados, futuros pediatras, que entre outras coisas darão orientações e prescrições para cuidadoras e cuidadores de crianças das mais diversas idades, desde o nascimento. Como se pode imaginar, a prescrição de fórmulas (leite em pó, sendo bem clara) será ainda mais banalizada, com um sem-número de indicações e supostas vantagens. Aconselhamento sobre aleitamento materno? Esqueça. Se hoje são raros os pediatras que realmente conseguem auxiliar uma pessoa com dificuldades em amamentar, daqui a alguns anos esses profissionais serão como cabeça de bacalhau. 

9 de julho de 2020

Mortes maternas no contexto da pandemia: que caminho escolheremos?


 

Denise Yoshie Niy e Deborah Rachel Audebert Delage Silva

Integrantes da Parto do Princípio – Mulheres em rede pela maternidade ativa, coordenadoras do Grupo Maternamente e doutoras pela Faculdade de Saúde Pública da USP

Publicado em: https://ptpaulista.com.br/mortes-maternas-no-contexto-da-pandemia-que-caminho-escolheremos/

 

É razoavelmente sabido que o Brasil não atingiu a meta de desenvolvimento do milênio relativa à redução da mortalidade materna. Entre 2000 e 2015, a morte de mulheres por causas relacionadas à gestação e ao parto diminuiu, mas de maneira insuficiente e desproporcional ao aumento da cobertura assistencial.(1) No ciclo dos objetivos de desenvolvimento sustentável, ficaremos para trás novamente nesse quesito – a conta, provavelmente, irá para a pandemia de Covid-19. Pelos dados que têm sido compilados por pesquisadores brasileiros, a doença causada pelo novo coronavírus parece ser um risco para mulheres no ciclo gravídico-puerperal.(2) Não têm sido raras, por exemplo, as notícias na grande mídia de gestantes que subitamente tiveram piora em seu quadro de saúde e faleceram, em alguns casos com a sobrevivência do bebê, extraído por meio de cesariana de urgência.(3–5) Todavia, argumentamos aqui que, para além da Covid-19, outros fatores podem aumentar ainda mais o número de mortes de mulheres no Brasil.

Em um país onde 55% das gestações não são planejadas, é fundamental questionar o que se tem debatido sobre sexualidade e reprodução.(6) Não faz muito tempo, a ministra Damares Alves ganhou os holofotes propondo a abstinência sexual como método para prevenir a gravidez na adolescência – o que é ineficaz (conforme já demonstrado em estudos) e soa quase como uma piada de mau gosto, dada a sua desconexão com a nossa realidade sociocultural.(7)No contexto da pandemia, o acesso a serviços e ações de saúde reprodutiva torna-se um ponto crucial para garantir minimamente o direito das mulheres. Nesse rol incluem-se os serviços que realizam a interrupção da gestação nos casos previstos em lei, de funcionamento historicamente precário, e em alguns casos totalmente interrompido com a instalação da situação de emergência no país.(8) Tanto é que recentemente a coordenação de saúde das mulheres, do Ministério da Saúde, emitiu nota técnica reforçando a importância da manutenção de ações ligadas à saúde sexual e reprodutiva das mulheres no contexto da pandemia.(9) De forma já não surpreendente, porém, a nota foi retirada do ar pelo Ministério da Saúde, que afirmou ser o documento “uma minuta” e por fim exonerou a equipe técnica responsável por sua publicação.(10,11)

Para as mulheres grávidas, o cenário atual é de medo e incerteza. No pré-natal, consultas têm sido adiadas (por meses, em alguns casos, inclusive aqueles classificados como de alto risco) e com a recorrência da “alta do pré-natal”, quando as gestantes simplesmente são abandonadas à própria sorte nas suas últimas semanas de gravidez. Se procurarmos os gestores das redes assistenciais, serão unânimes em afirmar que todas as unidades de saúde continuam funcionando, com seus serviços de pré-natal ativos. Mas infelizmente não é essa a realidade que as mulheres têm relatado. Muitas delas, não encontrando atendimento na unidade onde costumam realizar seu pré-natal (ou com medo de lá irem, pelo fato de não haver atendimento separado para pessoas com suspeita de Covid-19), dirigem-se aos hospitais diante de qualquer alteração em sua saúde e bem-estar, aumentando sua chance de infecção pelo Sars-CoV-2.

Para aquelas que chegam a termo, a angústia não poderia ser maior. Muitos hospitais tornaram-se referência para atendimento de pessoas com Covid-19, fechando os serviços de obstetrícia. A consequência é nossa velha conhecida: a peregrinação por um leito para dar à luz. É certo que há agentes investidos de boas intenções e envolvidos na organização dos serviços e da rede, mas isso não tem se dado em consideração às necessidades dos territórios e muito menos em diálogo com a sociedade. As mulheres, que já estão com acesso ao pré-natal (e aos respectivos exames) prejudicado, estão também às cegas quando se trata da maternidade de referência. O esforço empreendido pela Rede Cegonha(12) para vinculação das mulheres às maternidades se perdeu e, no contexto da pandemia, elas não sabem para onde deverão ir quando a hora do parto chegar, uma vez que isso não está publicado em lugar algum e mesmo as unidades básicas de saúde têm dúvidas a respeito. Vale lembrar que é de 2007 a lei federal que garante à gestante o direito de conhecimento e vinculação prévia à maternidade onde terá seu bebê e onde receberá atendimento nos casos de intercorrência pré-natal.(13) Hoje, a incerteza e o medo combinam-se de uma maneira especialmente cruel para aquelas mulheres que vivem em regiões mais periféricas, onde ir para um serviço “errado” pode significar não chegar a tempo no serviço “correto”. 

Ao adentrar a maternidade, a mulher enfrenta ainda outras provações, como proibição de ter acompanhante (embora seja direito garantido por lei),(14) intervenções desnecessárias, falta de informações sobre seu estado de saúde e do seu bebê, e ainda falta de esclarecimentos sobre puericultura no contexto da pandemia. 

Existem muitas incertezas do ponto de vista científico a respeito do Sars-CoV-2, particularmente na gestação, no parto e no puerpério. Todavia, os conhecimentos gerais acumulados até aqui nos permitem afirmar que muitas mulheres morrerão por causas ligadas à gestação e ao parto no país, e a maior parte dessas mortes poderia ser evitada.(15–17)Nesse sentido, um dos modelos para se estudar a morte materna é o das “três demoras”, a demora na decisão da mulher ou de sua família em procurar cuidados, a demora para se chegar ao estabelecimento de saúde capaz de atender a essa demanda e a demora na prestação dos cuidados adequados.(18) Trata-se de um modelo aceito internacionalmente e adotado pela OMS desde a década de 1990, por sua grande capacidade de explicitar as causas das mortes maternas. Nessa perspectiva, usando a pandemia de Covid-19 como desculpa, estamos reforçando as “três demoras” das mais variadas formas. 

É inaceitável que isso ocorra, em especial entre os municípios mais ricos do país, que conformam a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Se nos mantivermos nesse rumo, estaremos aceitando que muitas mulheres morrerão por falta de um pré-natal adequado, por falta de informação sobre um local seguro para dar à luz, e por uma assistência inadequada no parto e puerpério. Se a morte de uma mulher por causas ligadas à gestação e ao parto é considerada uma tragédia familiar e social, precisamos agir para evitar um extermínio de mulheres – especialmente mulheres pretas e pobres, certamente as que ficarão por último na fila de atendimento.(17,19)

Considerando a situação de emergência da RMSP (em consonância ao que apontam pesquisadores), propomos o estabelecimento de uma regulação com fila única para atendimento a mulheres com gestação de termo, incluindo aí não apenas os equipamentos do SUS, como também os numerosos leitos das maternidades privadas que se espalham por toda a região. Vale destacar que os hospitais privados não experimentaram qualquer crescimento na sua taxa de ocupação, ao passo que as unidades SUS que são exclusivamente de maternidade tiveram aumentos significativos em seus atendimentos nos últimos dois meses, colocando em risco a qualidade e a segurança da assistência. Isso se dá não só pelas maiores chances de contaminação das mulheres por Sars-CoV-2, como também pela sobrecarga de trabalho imposta aos profissionais e pela incompatibilidade do número de atendimentos com a ambiência dessas maternidades. 

A regulação única de vagas de obstetrícia, a exemplo do que sanitaristas têm proposto para os leitos de UTI,(20)contribuiria para reduzir as iniquidades de nossa sociedade, protegendo o direito à saúde, o qual, nunca é demais repetir, está garantido em nossa Constituição. Temos ciência de que essa proposta solitariamente não será capaz de solucionar todos os nós críticos da assistência à saúde sexual e reprodutiva das mulheres, mas com um sistema de regulação e transporte adequados, certamente influirá na redução das “três demoras”, evitando muitas mortes maternas ou casos de morbidade grave de mulheres. Ou agimos agora nesse sentido ou estamos assumindo que não nos importamos com essas vidas. Que caminho escolheremos?

 

 

Referências bibliográficas

1.        Souza JP. A mortalidade materna e os novos objetivos de desenvolvimento sustentável (2016-2030). Rev Bras Ginecol e Obs [Internet]. 2015;37(12):549–51. Available at: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032015001200549&lng=pt&nrm=iso&tlng=en

2.        Ramos Amorim MM, Soligo Takemoto ML, Fonseca EB. Maternal Deaths with Covid19: a different outcome from mid to low resource countries? Am J Obstet Gynecol [Internet]. 2020;2019–20. Available at: https://doi.org/10.1016/j.ajog.2020.04.023

3.        Tostes F. Grávida morre com Covid-19 na Serra e médicos salvam bebê. Tribunaonline [Internet]. 2020; Available at: https://tribunaonline.com.br/gravida-morre-com-covid-19-mas-medicos-salvam-bebe-na-serra

4.        Rouvenat F. Grávida passa por parto de emergência e morre de Covid-19 sem conhecer o fi lho. G1 [Internet]. 2020; Available at: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/05/12/gravida-passa-por-parto-de-emergencia-e-morre-de-covid-19-sem-conhecer-o-filho.ghtml

5.        Istoé. AM : Grávida tem parto prematuro e morre de Covid- 19 sem conhecer o fi lho. Istoé. 2020; 

6.        Brandãos ER, Cabral C da S. Da gravidez imprevista à contracepção: Aportes para um debate. Cad Saude Publica. 2017;33(2). 

7.        Alves CA, Brandão ER. Vulnerabilidades no uso de métodos contraceptivos entre adolescentes e jovens: Interseções entre políticas públicas e atenção à saúde. Cienc e Saude Coletiva. 2009;14(2):661–70. 

8.        Bertho H. Principal hospital de aborto legal de SP interrompe o serviço na crise do coronavírus. Folha de SPaulo. 2020;1–3. 

9.        Ministério da Saúde. Nota técnica no 16/2020. Brasília, DF; 2020 p. 1–5. 

10.      Ministério da Saúde. Ministério da Saúde esclarece nota técnica [Internet]. saude.gov.br. 2020 [citado 8 de junho de 2020]. Available at: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/47009-ministerio-da-saude-esclarece-nota-tecnica

11.      Leitão M. Nota técnica sobre saúde sexual gera exoneração no Ministério da Saúde. Veja [Internet]. 2020; Available at: https://veja.abril.com.br/blog/matheus-leitao/nota-tecnica-sobre-saude-sexual-gera-exoneracao-no-ministerio-da-saude/

12.      Ministério da Saúde. Portaria no 1.459, 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde, a Rede Cegonha. Diário Oficial da União. 2011;Seção 1. 

13.      Brasil. Lei no 11.634, de 27 de dezembro de 2007. Dispõe sobre o direito da gestante ao conhecimento e a vinculação à maternidade onde receberá assistência no âmbito do SUS. Brasília, DF; 2007. 

14.      Brasil. Lei 11.108. Altera a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para garantir às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS. Brasília, DF; 2005. 

15.      Souza J, Tunçalp Ö, Vogel J, Bohren M, Widmer M, Oladapo O, et al. Obstetric transition: the pathway towards ending preventable maternal deaths. BJOG An Int J Obstet Gynaecol [Internet]. 2014;121:1–4. Available at: http://doi.wiley.com/10.1111/1471-0528.12735

16.      Leal C, Granado S, Braga C. Desigualdades raciais, sociodemográficas e na assistência ao pré-natal e ao parto, 1999-2001. Rev Saúde Pública. 2005;39(1):100–7. 

17.      Leal M do C, Gama SGN da, Pereira APE, Pacheco VE, Carmo CN do, Santos RV. A cor da dor: iniquidades raciais na atenção pré-natal e ao parto no Brasil. Cad Saude Publica. 2017;33(suppl 1):1–17.

18.      Combs Thorsen V, Sundby J, Malata A. Piecing Together the Maternal Death Puzzle through Narratives: The Three Delays Model Revisited. PLoS One. 2012;7(12). 

19.      Victora CG, Aquino EML, do Carmo Leal M, Monteiro CA, Barros FC, Szwarcwald CL. Maternal and child health in Brazil: progress and challenges. Lancet [Internet]. 28 de maio de 2011 [citado 9 de junho de 2013];377(9780):1863–76. Available at: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21561656

20.      Bahia L. O Brasil deveria criar uma regulação única de leitos públicos e privados no combate ao coronavírus? SIM. Folha de SPaulo [Internet]. 2020; Available at: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/04/o-brasil-deveria-criar-uma-regulacao-unica-de-leitos-publicos-e-privados-no-combate-ao-coronavirus-sim.shtml

 

2 de abril de 2020

Pesquisa no ar! Mulheres e a pandemia de Covid-19

Sabemos que as mulheres, por serem as principais cuidadoras nos lares, nas escolas e nos hospitais, são afetadas de maneiras distintas por situações como a que vivemos hoje, com a doença do coronavírus. Com este questionário, queremos saber como as mulheres estão se sentindo e se cuidando, para que possamos nos apoiar na proteção de nossos direitos e nas reivindicações por melhores condições.





Para acessar o formulário e responder: https://forms.gle/YnRr6RivWsAPZMLu9

O que pretendemos fazer com essas informações? Tomar conhecimento do que as diferentes mulheres estão sentindo, o que pensam sobre a pandemia e o que têm feito para enfrentá-la. A partir dessas informações, e também das angústias e dos medos expressos pelas mulheres, poderemos pensar em propostas de ação, reivindicando a garantia de nossos direitos. Também pensamos em levar para a academia algumas das análises que produziremos, pois entendemos que a perspectiva das mulheres não pode ser negligenciada pela ciência. E assim seguimos, na luta!

Contamos com as contribuições de todas!

27 de novembro de 2016

2016, o ano sem fim

Por todas as batalhas políticas e os retrocessos no campo dos direitos, em especial para mulheres, negras, lésbicas e trans, este ano ficará marcado na história de nosso país. Para quem busca uma assistência ao pré-natal, parto e puerpério que seja digna, respeitosa e baseada em evidência, para quem está grávida e quer parir, o cenário não poderia ser mais desapontador...

Mas se reconhecemos, atônitas, as muitas batalhas perdidas ao longo do ano, temos também a convicção de que continuaremos lutando pela manutenção de direitos, pela atenção digna, humanizada, de qualidade e acessível a todas as mulheres. Essa certeza nos mantém de pé, unidas, com a mesma ética de sempre, centrada na mulher. De vez em quando preciso, sim, repetir isso tudo para mim mesma. O cotidiano duro impõe responsabilidades e tarefas que não podem esperar. Trabalho, estudo, casa, namorado, filho, não necessariamente nessa ordem. Eu diria, até, em total desordem...

...ainda assim, é maravilhoso quando, dentro dessa bagunça, consigo me arrancar de casa para participar do encontro mensal do grupo. Essa conexão com as mulheres, suas angústias, dúvidas e incertezas, isso funciona como um diapasão: abro meus ouvidos, afino minha escuta, de modo que minha atuação como ativista, militante, pesquisadora, mulher seja consoante às necessidades femininas.

Com essa energia boa, finalizamos o ano e desejamos um 2017 melhor

19 de julho de 2016

Cesariana: direito de quem?

Resolução do CFM e projeto de lei desviam atenção para o tempo de gestação e ignoram evidências científicas e direitos da mulher


Faz quase um mês, saiu no Diário Oficial uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) segundo a qual “é ético o médico atender à vontade da gestante de realizar parto cesariano”. Por propor que a cirurgia seja realizada apenas após a 39ª semana de gestação, de início a resolução foi festejada por algumas mulheres, que enxergaram na norma uma forma de proteção ao feto e aos direitos da mulher. A leitura descompromissada e desatenta da resolução pode levar a tal interpretação, contudo, algumas respirações a mais permitem oxigenar a discussão.


Quem determina com que idade gestacional o bebê está pronto para nascer, senão o próprio bebê?


O que diz o CFM
De maneira geral, a resolução do CFM diz que a mulher tem o direito de optar pela cesariana, que a decisão deve ser registrada em um termo de consentimento, que a cesariana só deve ser realizada a partir da 39ª semana de gestação e que se o médico não concordar com a cesariana deverá encaminhar a mulher para que outro profissional a atenda. Tomados isoladamente, os quatro artigos que compõem a resolução do CFM podem parecer benéficos, por estabelecerem a idade gestacional mínima para que se realize a cesariana e ao mesmo tempo garantirem o direito de escolha da mulher.

9 de junho de 2016

Fórum Perinatal do ABC Paulista - diversidade de atores e de desafios

Esta terça-feira foi muito especial. Para quem, como nós, dedica tempo e recursos à luta pela promoção dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres da região, foi um deleite ver a concretização do evento. Cabe aqui uma ressalva: consideramos o encontro de ontem um evento dentro do Fórum que, de acordo com as normas da Rede Cegonha que determinam sua existência, tem caráter permanente e é uma instância de pactuação da assistência. E o Fórum Perinatal do ABC Paulista vem se reunindo desde o início de 2016 com a presença de pelo menos uma representante do MaternaMente a cada reunião.
Muito trabalho pela frente: desde o começo do ano o Grupo MaternaMente participa das reuniões do Fórum Perinatal do ABC


Então, como dizia, foi um prazer. Na plenária, estiveram presentes profissionais da assistência dos vários municípios, o secretário de saúde do único município da região onde não ocorrem partos, gestoras e gestores de serviços de saúde, doulas e usuárias.

Após a abertura oficial pelas autoridades estaduais e regionais, ocorreu um painel de alinhamento teórico, com destaque para o histórico das ações da Rede Cegonha na região e para a explanação sobre a racionalidade do Fórum Perinatal, bem conmo suas origens.

A cargo do MaternaMente estava a mediação da primeira mesa de relatos. A ideia inicial era de que a discussão contemplasse aspectos considerados como conquistas pelas gestões. Assim, o painel foi constituido por apresentações que versaram sobre: a presença de doulas prestando apoio contínuo à mulher em trabalho de parto, o funcionamento dos novos Centros de Parto Normal, das Casas da Gestante e da Rede de Apoio Social. Mas, antes mesmo que iniciassem as apresentações, pedimos licença para a leitura da nossa carta, após a qual foi sugerido que circulasse pela plenária para colher mais assinaturas. Ao final do painel, teve lugar o primeiro debate do dia. As perguntas vieram ao vivo e por escrito. Militantes do MaternaMente  ressaltaram a importância da reformas de ambiência que vêm ocorrendo, mas também apontaram nós criticos da assistência relacionados a más práticas, com ênfase em utilização rotineira de procedimentos como episiotomia, posição litotômica no parto, sutura de lacerações e episiotomias sem bloquio anestésico, condução de puxos e jejum durante a noite.

Após ao intervalo do almoço, o segundo painel do dia tratou de questões consideradas como desafios para o Fórum. Gestores locais apresentaram o panorama de distribuição dos nascimentos em cada município e por tipo de gestão (municipal ou estadual), a epidemiologia da sífilis neonatal e da prematuridade na região. Destacamos as colocações em torno da necessidade de Ribeirão Pires, São Bernardo e Diadema enfrentarem o desafio de atenderem em seus leitos sob gestão municipal a demanda de parto das mulheres residentes, bem como a necessidade de se definir o papel da maternidade do Hospital Estadual de Diadema, cujos leitos foram planejados para atender alto risco, mas respondem por mais da metade dos partos de mulheres residentes em Diadema, além de 18% dos partos de residentes de São Bernardo.

Durante o debate relacionado a esse painel, ouvimos quase incrédulas a melhor das notícias do dia: está sendo negociada, entre Estado e Município, a implantação de uma Casa de Parto em Rio Grande da Serra. O menor dos municípios da região, em termos populacionais, há anos não vê nascer bebês, senão por "acidente". A disponibilização desses leitos certamente é, não só uma chance de mudar a história das novas gerações da cidade, mas também um excelente estímulo à mudança de paradigma na assistência às mulheres da região. Estaremos muito atentas aos encaminhamentos que estão por vir!

Reforçamos aqui o que pudemos dizer à plenária do Fórum: é graças à relevância dos movimentos de mulheres e outros movimentos sociais que apoiam e promovem a luta pelos direitos das mulheres e pela humanização da assistência que o Fórum Perinatal do ABC Paulista está em andamento. Continuaremos lutando pela sua permanência, mesmo, e principalmente, considerando o contexto e a conjuntura adversos por que passam as instituições brasileiras nesse momento crítico de nossa história. Nossa região, celeiro de tantas lutas por direitos sociais, saberá mostrar sua garra.

20 de fevereiro de 2016

24 de novembro de 2015

É o último do ano!

Neste sábado acontece o último encontro "oficial" do ano do nosso grupo - o que não significa, como podem imaginar, que encerramos nossas atividades nesse dia. Não fiquem na curiosidade, não passem vontade, venham conversar conosco sobre gestação e parto! Basta aparecer, com crias, companhias e coração aberto.


21 de outubro de 2015

Encontro de outubro

Sei que é um tanto clichê dizer que os dias têm passado rapidamente, mas enfim, a minha sensação é de que o Marty McFly vai chegar e eu vou pedir a ele que volte daqui a dez anos - quem sabe até lá teremos mais centros de parto normal, mais serviços com apoio de doulas, mais mulheres parindo seus filhos mediante o apoio e o cuidado de uma equipe respeitosa e craque em evidências. Enquanto isso não acontece, preparamo-nos para a chegada do cara que vem do passado anunciando que nosso encontro de outubro será antecipado para este sábado, no mesmo horário de sempre. É gratuito e não precisa de inscrição prévia, basta aparecer!


22 de julho de 2015

Encontro de julho: férias pra quem?

Como mãe solo e em tempo integral, vivo por vezes agruras com o menino em casa, de férias. O que deveria ser motivo pra festa, bagunça, descanso, passeio, acaba se tornando preocupação, correria, malabarismo... esta semana (sim, isso tem acontecido numa base semanal, pobre guri) foi a reunião em Brasília. E lá fui eu participar de mais uma reunião para elaboração das diretrizes nacionais para assistência à cesariana.
Essas diretrizes estão sendo elaboradas pelo Ministério da Saúde faz algum tempo e há um ano, mais ou menos, foi formado um grupo consultivo para debater as recomendações desse documento. Participam desse coletivo o Conselho Federal de Medicina, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, a Associação Médica Brasileira, entre muitas outras entidades médicas, além de entidades ligadas à enfermagem, aos hospitais, aos convênios médicos e, claro, às mulheres. Minha reverência ao Ministério da Saúde por incluir as usuárias nesse debate e que iniciativas semelhantes a essa possam se repetir em outras áreas, em outras instâncias, com outros coletivos.
Enfim, sobrevivi. O debate em Brasília foi tenso e não creio que tenha se encerrado. As diretrizes representam apenas uma partezinha de um contexto complexo, que requer muitas ações, nas mais diversas áreas, para favorecer a autonomia da mulher no que diz respeito às decisões sobre seu corpo. Não se trata apenas de escolher entre parto normal e cesariana - isso também, mas não só isso. Tanto que entre hoje e o fim de semana, Deborah estará na etapa estadual da Conferência Nacional de Saúde.
Torço para que ela tenha muita saliva pra gastar nas articulações possíveis e necessárias, de modo que nossas pautas sigam para a etapa nacional. Não vai ser fácil, pois há tempos que o corpo da mulher deixou de ser dela mesma e, mais grave que isso, um forte conservadorismo tomou conta de nossa sociedade, o que por sua vez apenas recrudesce ainda mais as interdições e violências a nós, mulheres.
É nesse clima de luta e solidariedade que realizaremos, no sábado, nosso encontro sobre gestação e parto. Vamos conversar sobre a nossa realidade, sobre nossos planos, nossos sonhos, nossos desejos. Todas as pessoas são bem-vindas e o respeito ao coletivo e às individualidades, fundamental.



26 de março de 2015

Dê uma pausa na correria e venha nos encontrar!

Este sábado tem mais um encontro gratuito sobre gestação e parto. Todos e todas podem participar, não precisa se inscrever nem pagar nada. Basta aparecer na data e no local indicados no convite. Encontrar outras pessoas que já trilharam o caminho em busca de um bom parto ou então aquelas que estão na caminhada é sempre uma oportunidade para rever os próprios valores e se firmar em suas decisões. Arrume um tempinho, é das 14h às 16h, e o tempo voa nos encontros.


6 de outubro de 2014

Visita ao Hospital da Mulher de Santo André

Por Raquel Zanelatto

Segunda-feira, noite do dia 22/09/2014, fomos chegando aos poucos ao Hospital da Mulher (Santo André) e formando um grupo de 15 adultos, a maioria mulheres, algumas gestantes e muitas trazendo seus consigo seus bebês. Quem nos recebeu inicialmente foi a diretora de enfermagem, Sônia Maria dos Santos Arceno, que enfatizou que desde o início de 2013, quando assumiu o cargo, vem lutando pela humanização do atendimento oferecido pelo Hospital. Segundo ela, até então, a gestante não contava com acompanhante durante o pré-parto e as taxas de episiotomia e aplicação de ocitocina eram muito altas. Em sua fala inicial, destacou a importância do contato de grupos de mulheres com a equipe gestora do Hospital, indicando que essa união pode favorecer mudanças no sentido da humanização.

26 de setembro de 2014

Hospital da Mulher de Santo André libera entrada de doulas

Por Aline Melo
Do Diário Regional
25/09/2014 9:09




O Hospital da Mulher Maria José dos Santos Stein, de Santo André, vai permitir que as gestantes sejam acompanhadas por suas doulas durante trabalho de parto e parto. Doulas são profissionais que prestam apoio emocional às mulheres durante a gravidez e o parto. A medida é uma reivindicação antiga do movimento de mulheres que foi acertada durante reunião realizada na última segunda-feira (22) entre a superintendente da instituição, Rosa Maria Pinto Aguiar, e representantes das usuárias do sistema público de saúde.

27 de agosto de 2014

O poder da articulação

Em 2009, quando o Grupo MaternaMente começou a funcionar, a estrada a nossa frente era ainda um tanto incógnita em termos de extensão e possibilidades. Assistência ao parto com base em evidências científicas e cuidado centrado na mulher não eram assuntos palatáveis nem para a mídia nem para os gestores públicos, quanto mais para as instituições de saúde e os respectivos profissionais.

Felizmente nós somos um tanto teimosas e obstinadas! Enfrentamos mudanças na vida pessoal, sobrevivemos a encontros do grupo sem uma participante sequer, lutamos contra o fechamento de casas de parto, reivindicamos a manutenção do curso de obstetrícia, apoiamos o lançamento mundial do filme Liberdade para Nascer, apenas para mencionar algumas das atividades em que nos envolvemos com o grupo e pelo grupo.

O combustível para persistir mesmo nas horas difíceis origina-se das bases da sociedade brasileira. Vivemos em um Estado de direito e temos uma Constituição cidadã, para a qual muitos movimentos populares e sociais deram sua contribuição, com muito sangue, suor e lágrimas. E nós havemos de bem usufruir essa herança.

26 de agosto de 2014

Nascer no ABC

Nós queremos entender melhor como anda a assistência ao nascimento para as mulheres que residem no ABC paulista, de acordo com a opinião das mulheres. Por isso, elaboramos um questionário que pode ser preenchido via web, sem muitas complicações. Basta que você seja mulher, resida em qualquer canto do ABCDMRR e tenha tido pelo menos uma experiência de nascimento. Caso você tenha mais de um filho e queira relatar as diferentes experiências, pedimos que preencha um formulário para cada filho.

Sua resposta é muito importante para nós e garantimos que não vamos revelar seus dados pessoais. Você pode nos escrever a qualquer momento para saber como anda a pesquisa e também para pedir mais esclarecimentos. Fique à vontade, também, para pedir que suas respostas sejam excluídas do levantamento, se assim desejar.

Futuramente, os resultados deste levantamento podem vir a integrar alguma pesquisa acadêmica, como uma tese de doutorado, por exemplo. Se isso acontecer, do mesmo modo, seus dados não serão individualizados, ou seja, você jamais será identificada.

Esta pesquisa é uma iniciativa do Grupo MaternaMente ABC com apoio do MDDF Santo André. Para dar sua resposta, acesse: https://docs.google.com/forms/d/1xh44KH8oay1sLsY5K0eIAFIJBEnRkUp4qaWsAdyPzug/viewform?usp=send_form

29 de julho de 2014

Orçamento Participativo de Santo André: Reunião do Conselho

Dando continuidade ao processo de orçamento participativo do município de Santo André, hoje acontece a reunião dos conselheiros para debater o orçamento da área da saúde. Às 19h, os delegados eleitos de cada região da cidade vão se reunir para ouvir as propostas escolhidas pela população e seus respectivos custos. Entre as propostas, encontra-se a nossa, pela humanização do Hospital da Mulher de Santo André.

Depois das apresentações haverá um breve espaço para a sociedade se manifestar, seguido de debate. Assim, é muito importante que nós estejamos presentes, para marcar presença e contribuir para a diversidade de opiniões. Vamos mostrar que essa proposta é muito importante para todas nós!



15 de maio de 2014

13 de maio de 2014

Sejamos realistas

Parto do Princípio: 8 anos de estrada
Em 2006, quando um grupo de mulheres se uniu em seus variados talentos para formar a rede Parto do Princípio, não era possível imaginar o cenário atual do movimento que se configura como de “humanização do nascimento”. Na contramão da sociedade, essas mulheres decidiram expor sua insatisfação com a assistência ao parto então ofertada nos serviços de saúde e lutar pela mudança de paradigma, de modo que enfim se devolvesse à mulher seu lugar de protagonista no parto.
 

Apoio

Aqui você encontra material sobre evidências e boas práticas relativas à saúde e ao bem-estar da dupla mãe-bebê. Fique à vontade e entre em contato, adoramos uma boa conversa! Envie um e-mail para grupomaternamente@gmail.com ou entre no grupo do Facebook.

Território

Atuamos principalmente em Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra (o ABC paulista), mas também na capital paulista e em outros municípios do Estado de São Paulo.

Articulação

Procuramos nos articular com outros movimentos sociais e com as instâncias gestoras, com o fim primordial de defender os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e de instaurar um novo paradigma de assistência à saúde da mulher.