Ping, ping, ping!
Faz a máquina ao lado da parturiente... mais atrás, outra máquina, a mais cara do hospital. Luzes, muitas luzes, e gente, muita gente. Menos o pai, porque ele não é uma pessoa diretamente envolvida no fato...
De modo trágico, mas muito cômico, os ingleses do Monty Python retratam o parto tecnológico. O filme é de 1983 e a cena dura menos de 5 minutos, mas o tempo é suficiente para criticar inúmeros aspectos da medicalização do parto - tema tão contemporâneo nosso.
Segue o vídeo, como preparação para a conversa de amanhã. Não se esqueçam, o encontro começa às 14h!
27 de maio de 2011
23 de maio de 2011
Historietas de mamas
* Meu guri mamou no peito até 1 ano e 11 meses. Foi desmamado (ou eu fui desmamada!) por conta de um problema de saúde meu, que exigiu tomar antibióticos.
* De 1 ano a 1 ano e 11 meses, ele tomou leite materno no peito, leite de soja na mamadeira. E comeu bem, obrigada.
* De 6 meses a 1 ano, ele tomou leite materno no peito e na mamadeira. E comeu bem, obrigada.
* De 4 meses e meio a 6 meses, ele tomou leite materno no peito. Começou a tomar leite materno na mamadeira. E começou a comer.
* Do nascimento aos 4 meses e meio, ele tomou leite materno no peito.
Isso tudo só foi possível porque:
* Com carinho, paciência e orientação, a amamentação se estabeleceu muito bem desde o começo - desde o começo mesmo, já na sala de parto.
* Ele mamou no peito em livre demanda até eu precisar voltar ao trabalho, quando ele tinha 4 meses e meio.
* A partir daí, comecei a introduzir alimentos em seu dia a dia.
* E até que ele completasse um ano, tirei leite no serviço duas vezes ao dia para que ele pudesse tomá-lo na minha ausência.
* E principal e mais importante de tudo: a não ser quando eu estava trabalhando, ele podia mamar sempre que queria ou precisava.
* A vontade e a necessidade não eram apenas de leite e alimento, mas também de carinho, atenção, cuidado.
* Quando bebê, ele mamava em intervalos irregulares, era difícil prever quando seria a próxima mamada e quanto tempo ela duraria.
* Conforme ele foi crescendo, consegui estabelecer algumas regras para as mamadas, tanto de lugares como de horários possíveis.
* Mas nesses cinco anos que nos separam do seu nascimento, jamais me afastei da vida social, retomei meu trabalho com o fim da licença, e na medida do possível continuo sendo uma mulher ativa, sociável, produtiva, estudiosa.
* Com alguns limites e muitas possibilidades, a mulher não precisa se alijar de si mesma ao se tornar mãe. Não precisa e não deve.
Daí que:
* Amamentar em locais públicos é um direito da mulher.
* Ser amamentado em locais públicos é um direito da criança.
É tão difícil assim de entender isso?
Ao que parece, é. Pelo menos para certos pseudojornalistas. Tomado de ira, Coutinho desdenhou seus leitores na última coluna. Disse-se superior, por isso incompreendido. Bateu o pé pra fincar sua posição, pretensamente protegida pela liberdade de expressão. Oras, expressar-se contra direitos de pessoas não significa opor-se à democracia? Ainda que a ombudsman da Folha tenha escrito a respeito do desrespeitoso Coutinho no domingo, não me convenço. Não me convenço de que sujeitos desse tipo mereçam espaço na mídia. Ele conseguiu o que queria - aumentar a popularidade de sua pobre coluna. E de quebra ainda mostrou que sua pretensa erudição não lhe serve para nada: suas citações obscuras, além de mal colocadas, não se convertem em raciocínio, tampouco em melhor compreensão do mundo.
* De 1 ano a 1 ano e 11 meses, ele tomou leite materno no peito, leite de soja na mamadeira. E comeu bem, obrigada.
* De 6 meses a 1 ano, ele tomou leite materno no peito e na mamadeira. E comeu bem, obrigada.
* De 4 meses e meio a 6 meses, ele tomou leite materno no peito. Começou a tomar leite materno na mamadeira. E começou a comer.
* Do nascimento aos 4 meses e meio, ele tomou leite materno no peito.
Isso tudo só foi possível porque:
* Com carinho, paciência e orientação, a amamentação se estabeleceu muito bem desde o começo - desde o começo mesmo, já na sala de parto.
* Ele mamou no peito em livre demanda até eu precisar voltar ao trabalho, quando ele tinha 4 meses e meio.
* A partir daí, comecei a introduzir alimentos em seu dia a dia.
* E até que ele completasse um ano, tirei leite no serviço duas vezes ao dia para que ele pudesse tomá-lo na minha ausência.
* E principal e mais importante de tudo: a não ser quando eu estava trabalhando, ele podia mamar sempre que queria ou precisava.
* A vontade e a necessidade não eram apenas de leite e alimento, mas também de carinho, atenção, cuidado.
* Quando bebê, ele mamava em intervalos irregulares, era difícil prever quando seria a próxima mamada e quanto tempo ela duraria.
* Conforme ele foi crescendo, consegui estabelecer algumas regras para as mamadas, tanto de lugares como de horários possíveis.
* Mas nesses cinco anos que nos separam do seu nascimento, jamais me afastei da vida social, retomei meu trabalho com o fim da licença, e na medida do possível continuo sendo uma mulher ativa, sociável, produtiva, estudiosa.
* Com alguns limites e muitas possibilidades, a mulher não precisa se alijar de si mesma ao se tornar mãe. Não precisa e não deve.
Daí que:
* Amamentar em locais públicos é um direito da mulher.
* Ser amamentado em locais públicos é um direito da criança.
É tão difícil assim de entender isso?
Ao que parece, é. Pelo menos para certos pseudojornalistas. Tomado de ira, Coutinho desdenhou seus leitores na última coluna. Disse-se superior, por isso incompreendido. Bateu o pé pra fincar sua posição, pretensamente protegida pela liberdade de expressão. Oras, expressar-se contra direitos de pessoas não significa opor-se à democracia? Ainda que a ombudsman da Folha tenha escrito a respeito do desrespeitoso Coutinho no domingo, não me convenço. Não me convenço de que sujeitos desse tipo mereçam espaço na mídia. Ele conseguiu o que queria - aumentar a popularidade de sua pobre coluna. E de quebra ainda mostrou que sua pretensa erudição não lhe serve para nada: suas citações obscuras, além de mal colocadas, não se convertem em raciocínio, tampouco em melhor compreensão do mundo.
21 de maio de 2011
Saiu no iG
Uma entrevista deliciosa com Luciana Benatti, autora do livro igualmente delicioso Parto com Amor.
Com competência e sensibilidade, a entrevistadora extraiu de Luciana algumas experiências vividas na produção do livro e na própria maternidade. Amor, prazer, respeito: ingredientes que sempre fazem bem!
Confira a entrevista reproduzida a seguir.
***
Parto natural: “se você tem esse desejo, é um caminho possível”
Em entrevista, autora de “Parto com Amor” conta como escreveu e viveu as histórias retratadas no livro e comenta o que espera com a obra
A jornalista Luciana Benatti e o fotógrafo Marcelo Min esperavam o primeiro filho do casal quando, em meio às dúvidas de toda mulher grávida, o médico disse a seguinte frase: “Por que você está tão preocupada com o parto? Cuide das roupinhas, do enxoval e da decoração do quarto e deixe que do parto cuido eu”. Faltava menos de um mês para o nascimento do bebê. Mesmo assim, o casal não voltou mais àquele consultório. As perguntas que tanto incomodaram o médico foram direcionadas a outro profissional. Ele respondeu todas elas e ainda indicou livros e filmes para ajudar o casal a se preparar: Luciana queria um parto normal.
Apesar do nome, o parto normal não é o mais executado no país, mesmo com as recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a taxa de cesáreas não ultrapassar 15% dos nascimentos – o índice do Brasil beira os 50%, de acordo com a série Lancet Brasil, do jornal médico “Lancet”, um dos mais conceituados do mundo. Mas por que, exatamente, esse número é tão alto? As mulheres não querem mais partos normais e preferem um nascimento com dia e hora marcados?
Luciana não acredita nisso. Seu argumento veio no livro “Parto com Amor” (Panda Books), com histórias de nove mulheres – incluindo a dela própria – que conseguiram realizar o sonho do parto de acordo com suas expectativas e sem agressões verbais. “A mulher pode aguentar a dor do parto mesmo sem ser atleta ou ter um superpreparo físico. O que ela não aguenta é a humilhação”, comenta a autora, lembrando de uma frase revelada em pesquisa recente como comum nas mesas de parto: “na hora de fazer você não gritou, por que está gritando agora?”.
A jornalista falou ao Delas sobre o livro, a experiência de ser mãe, de traduzir histórias de vida e a vontade de que mais mulheres possam realizar seus sonhos.
iG: Como surgiu a ideia de traduzir a experiência do parto de outras mulheres?
Luciana Benatti: Logo depois do nascimento do meu primeiro filho, o Arthur, eu fiquei muito impressionada com a experiência. Como [o parto] pode ser prazeroso, transformador, gratificante, enfim, todos os adjetivos bons, e ninguém sabe disso? Por que as mulheres temem tanto esse momento se é uma coisa tão mágica, tão maravilhosa? Eu queria compartilhar isso com outras mulheres, queria contar essa descoberta para o mundo. Meu marido, o Marcelo, é fotojornalista e tinha feito algumas fotos do parto, para registro nosso mesmo, foto de família. Olhando essas fotos, achamos que eram muito bonitas. Mostramos para algumas pessoas e elas sempre se surpreendiam e diziam ‘nossa, mas eu não sabia que um parto podia ser assim tão bonito. Eu também queria um parto assim'. E aí a gente achou que valia a pena reunir experiências de outras mulheres e fazer um livro.
iG: O que você sentiu ao traduzir a experiência de outras mulheres?
Luciana Benatti: É uma emoção e uma honra. Estas famílias nos deram uma oportunidade única de vivenciar estas experiências junto com eles. Na verdade a gente também criou muitos vínculos com essas famílias, eu tenho muito contato com eles até hoje, nossos filhos têm mais ou menos a mesma idade, foram nascendo um seguido do outro. Foi uma generosidade muito grande eles abrirem esse momento para a gente e soubemos respeitar muito esse momento também, então criou-se o clima perfeito para o resultado que está no livro.
iG: Como foi o processo do livro? Quanto tempo durou?
Luciana Benatti: Este livro foi escrito a partir do nascimento do meu primeiro filho. Hoje ele está com três anos e meio. Eu tinha a sensação de que o livro ia sair no tempo certo. Como o parto, a gente tem que aprender a esperar. O livro também tinha o tempo para sair e foi um momento muito oportuno, porque tem muita coisa sendo discutida nesse momento, é um momento de muita efervescência. Tem o curso de obstetrícia da USP ameaçado de fechamento, teve a Janet Balaskas [ativista e autora do livro “Parto Ativo” (Editora Ground), traduzido em várias partes do mundo], para quem eu entreguei uma das primeiras cópias do livro. Tinha muita coisa acontecendo nesse momento. E tem o projeto do governo também, a Rede Cegonha, que prevê construção de casas de parto em vários locais do país. Eu acho que veio em boa hora.
iG: O que você espera com o livro?
Luciana Benatti: O que a gente mais espera com esse livro é que ele possa mudar, pelo menos um pouquinho, o cenário brasileiro no que diz respeito ao parto. Todo mundo sabe que os índices de cesárea no Brasil são altíssimos, entre os maiores do mundo. Muitas destas cesáreas não são necessárias do ponto de vista médico e muitas tampouco são a vontade da mulher. O parto pode ser, sim, uma experiência muito enriquecedora, muito transformadora na vida da mulher. E não só da mulher, da família também, porque nesse tipo de parto os pais e os maridos participam muito. Eu conto no livro a história do meu segundo parto. Na época meu primeiro filho estava com três anos e participou. Foi uma coisa muito marcante para ele ver o irmão nascer. Foi muito rica essa experiência para todos nós. E a gente quer proporcionar isso para outras mulheres. É lógico que a gente não quer servir de exemplo, dizer ‘façam isso, isso é o certo’. Só queremos mostrar que isso é possível, então, se você tem esse desejo, é um caminho possível. Existe essa possibilidade e é muito bacana.
iG: Qual a diferença no protagonismo da mulher durante um parto normal e uma cesárea?
Luciana Benatti: Tem uma diferença grande nessa questão do protagonismo. Quando você dá seu filho à luz, está fazendo o papel ativo. Você é, digamos, a ‘dona’ do parto. Você manda em tudo e o corpo da mulher trabalha junto com o bebê para que ele nasça. É um processo muito perfeito, muito bonito. Ao final de um parto como esse, a gente tem uma sensação muito boa de poder. ‘Olha, eu consegui, depois disso eu consigo cuidar do meu filho’. Não que a mulher que não passa por isso não consiga, mas a gente tem essa sensação de ‘eu posso tudo agora’. Tem uma mãe que tem uma história muito bonita, a gente conheceu muitas histórias nesse processo. Ela teve parto normal, de gêmeos, depois de uma cesárea. Ao terminar o parto, ela falou ‘eu posso tudo, eu posso subir o Everest a pé’. Ela se sentiu muito poderosa, e é mesmo. É muito prazeroso saber que o seu corpo trabalhou junto com seu filho e vocês dois, juntos, conseguiram fazer essa coisa linda e mágica que é o nascimento.
iG: Você sentiu dificuldade de traduzir em palavras as sensações e emoções do parto?
Luciana Benatti: É sempre difícil, porque é algo muito íntimo. A gente fica até com um pouco de medo: ‘será que eu revelo isso, como é que eu falo disso?’. As nove mulheres que estão no livro [incluindo a autora] abriram muito a intimidade. Quando eu vi, pela primeira vez, a minha foto na banheira, eu com um barrigão, dando um grito e apertando a mão da doula, eu falei ‘nossa, mas todo mundo vai me ver assim’. À primeira vista foi um choque, mas o tempo foi passando e aquela mulher já não era mais eu, já virou outra mulher. Eu consigo olhar aquela foto e enxergar todas aquelas mulheres que passaram pela minha vida nesses três anos e meio e me contaram suas histórias.
iG: Por que é importante expor estas histórias?
Luciana Benatti: A gente se expõe por uma boa causa: para que outras mulheres saibam. É muito importante que as mulheres saibam. Antigamente falava-se de mãe para filha sobre o parto, não era uma coisa tão velada, tão escondida, tão misteriosa como é hoje. Minha mãe tem uma história muito bacana: ela e um irmão dela nasceram no mesmo dia, mas com quatro anos de diferença, e minha mãe nasceu no andar de cima do sobrado enquanto, na parte de baixo, rolava a festinha de quatro anos do meu tio. Era uma coisa muito natural, fazia parte da vida da família e hoje em dia não tem mais isso. O nascimento acabou se tornando uma coisa muito fechada, dentro do hospital, ninguém tem acesso, ninguém sabe como é e esse desconhecimento gera muito medo. Não só na mulher, mas na família, em todo mundo. Todo mundo fica achando que é uma coisa muito perigosa essa coisa de nascer, e não é bem assim.
iG: E os riscos do parto em casa?
Luciana Benatti: Todas essas mulheres que estão no livro tiveram um acompanhamento pré-natal, foram a todas as consultas e exames. Tudo direitinho, como é o pré-natal de qualquer médico, e elas fazem o acompanhamento também na hora do parto. Quando a gente fala de parto em casa as pessoas pensam que é desassistido, sem nenhum profissional, mas essas mulheres todas tiveram o acompanhamento de médico ou de parteira, que são essas parteiras urbanas, enfermeiras obstetras ou obstetrizes. Não tem irresponsabilidade alguma. Todo mundo que faz parto em casa tem um plano B, uma alternativa já pensada. Se o parto não desenrolar bem, você tem a alternativa de ir para um hospital próximo. Tudo isso é pensado, é planejado.
iG: Muitas pessoas falam do parto normal de maneira romântica, mas seu livro é mais realista. Sua intenção é desmitificar o tema?
Luciana Benatti: Espero que sim. Eu não poupei, por exemplo, as fotos dos gritos. Minha mãe não gosta de ver essa foto em que eu estou gritando na banheira. Ela acha muito forte. Mas isso faz parte, eu não vou falar para ninguém “olha, não dói”. Eu estaria mentindo e isso, sim, seria um absurdo. Por que dói muito mesmo, é uma experiência muito intensa. Não é só a dor, é toda a novidade daquilo, sabe? É uma experiência que não tem igual, só vivendo para saber. Tem que ser sincera, não dá para romantizar demais. É lógico que a gente vai ter medo mesmo, vai sentir dor, vai gritar, vai querer desistir na hora do parto e muitas mulheres falam ‘quero desistir, não aguento mais’. É uma fase. Passada esta fase, dá aquela força e o bebê nasce. A dor faz parte do processo, mas não é o único sentimento envolvido. Não é só dor e medo, existem muitas outras coisas. E aí a experiência é o pacote completo. Tem mulher que prefere não encarar. Tudo bem, eu respeito, mas acho bacana saber que existe a possibilidade. Muitas mulheres ‘normais’, que não são atletas e não têm um preparo físico absurdo, conseguem. Isso está com a gente. É uma coisa que a maioria das mulheres, com um pouquinho de encorajamento, consegue.
iG: Você teve um preparo físico especial?
Luciana Benatti: Eu não sou nenhuma atleta, aliás, pelo contrário. Sou uma pessoa meio avessa a exercício, sabe? E eu consegui. Consegui porque me encorajaram. Encontrei pessoas que me apoiavam. Acho que esse é o segredo: você se informar e encontrar pessoas que estejam aptas a te apoiar e a te encorajar, em vez de falar assim “ah, desiste porque a dor é muito forte, você não vai aguentar, as mulheres hoje em dia não aguentam mais esse tipo de dor, a gente não está preparada para isso, a mulher moderna não aguenta, o corpo dela não aguenta”. É o que a gente ouve muito por aí. E não é isso. A gente está preparada, sim.
iG: Por que as mulheres temem tanto o parto normal?
Luciana Benatti: Muita gente fala ‘ai, mas minha mãe teve um parto normal horroroso no hospital, sofreu muito’. Mas quando você vai ver, descobre que esta mulher passou por muitos procedimentos hospitalares que tornaram o parto doloroso. Por exemplo, ela recebeu aquele hormônio, ocitocina, que acelera muito as contrações e causa muita dor. Aí empurraram a barriga dela, fizeram o corte no períneo, enfim, um monte de intervenções. Às vezes, esta mulher até sofre algum tipo de violência verbal, é comum falarem ‘ah, na hora de você fazer você não gritou, porque está gritando agora?’. É horrível, mas se ouve muito por aí nos hospitais. Nada disso é o parto, isso é o que a gente fez com o parto. O parto em si não tem nada disso, originalmente. Às vezes se confunde um pouco o que é a dor do parto e o que é a dor destes procedimentos, agressivos e muitas vezes desnecessários. É preciso separar uma coisa da outra. A dor fisiológica a gente encara. Mas esta dor da humilhação é mais difícil.
Com competência e sensibilidade, a entrevistadora extraiu de Luciana algumas experiências vividas na produção do livro e na própria maternidade. Amor, prazer, respeito: ingredientes que sempre fazem bem!
Confira a entrevista reproduzida a seguir.
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Parto natural: “se você tem esse desejo, é um caminho possível”
Em entrevista, autora de “Parto com Amor” conta como escreveu e viveu as histórias retratadas no livro e comenta o que espera com a obra
A jornalista Luciana Benatti e o fotógrafo Marcelo Min esperavam o primeiro filho do casal quando, em meio às dúvidas de toda mulher grávida, o médico disse a seguinte frase: “Por que você está tão preocupada com o parto? Cuide das roupinhas, do enxoval e da decoração do quarto e deixe que do parto cuido eu”. Faltava menos de um mês para o nascimento do bebê. Mesmo assim, o casal não voltou mais àquele consultório. As perguntas que tanto incomodaram o médico foram direcionadas a outro profissional. Ele respondeu todas elas e ainda indicou livros e filmes para ajudar o casal a se preparar: Luciana queria um parto normal.
Apesar do nome, o parto normal não é o mais executado no país, mesmo com as recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a taxa de cesáreas não ultrapassar 15% dos nascimentos – o índice do Brasil beira os 50%, de acordo com a série Lancet Brasil, do jornal médico “Lancet”, um dos mais conceituados do mundo. Mas por que, exatamente, esse número é tão alto? As mulheres não querem mais partos normais e preferem um nascimento com dia e hora marcados?
Luciana não acredita nisso. Seu argumento veio no livro “Parto com Amor” (Panda Books), com histórias de nove mulheres – incluindo a dela própria – que conseguiram realizar o sonho do parto de acordo com suas expectativas e sem agressões verbais. “A mulher pode aguentar a dor do parto mesmo sem ser atleta ou ter um superpreparo físico. O que ela não aguenta é a humilhação”, comenta a autora, lembrando de uma frase revelada em pesquisa recente como comum nas mesas de parto: “na hora de fazer você não gritou, por que está gritando agora?”.
A jornalista falou ao Delas sobre o livro, a experiência de ser mãe, de traduzir histórias de vida e a vontade de que mais mulheres possam realizar seus sonhos.
iG: Como surgiu a ideia de traduzir a experiência do parto de outras mulheres?
Luciana Benatti: Logo depois do nascimento do meu primeiro filho, o Arthur, eu fiquei muito impressionada com a experiência. Como [o parto] pode ser prazeroso, transformador, gratificante, enfim, todos os adjetivos bons, e ninguém sabe disso? Por que as mulheres temem tanto esse momento se é uma coisa tão mágica, tão maravilhosa? Eu queria compartilhar isso com outras mulheres, queria contar essa descoberta para o mundo. Meu marido, o Marcelo, é fotojornalista e tinha feito algumas fotos do parto, para registro nosso mesmo, foto de família. Olhando essas fotos, achamos que eram muito bonitas. Mostramos para algumas pessoas e elas sempre se surpreendiam e diziam ‘nossa, mas eu não sabia que um parto podia ser assim tão bonito. Eu também queria um parto assim'. E aí a gente achou que valia a pena reunir experiências de outras mulheres e fazer um livro.
iG: O que você sentiu ao traduzir a experiência de outras mulheres?
Luciana Benatti: É uma emoção e uma honra. Estas famílias nos deram uma oportunidade única de vivenciar estas experiências junto com eles. Na verdade a gente também criou muitos vínculos com essas famílias, eu tenho muito contato com eles até hoje, nossos filhos têm mais ou menos a mesma idade, foram nascendo um seguido do outro. Foi uma generosidade muito grande eles abrirem esse momento para a gente e soubemos respeitar muito esse momento também, então criou-se o clima perfeito para o resultado que está no livro.
iG: Como foi o processo do livro? Quanto tempo durou?
Luciana Benatti: Este livro foi escrito a partir do nascimento do meu primeiro filho. Hoje ele está com três anos e meio. Eu tinha a sensação de que o livro ia sair no tempo certo. Como o parto, a gente tem que aprender a esperar. O livro também tinha o tempo para sair e foi um momento muito oportuno, porque tem muita coisa sendo discutida nesse momento, é um momento de muita efervescência. Tem o curso de obstetrícia da USP ameaçado de fechamento, teve a Janet Balaskas [ativista e autora do livro “Parto Ativo” (Editora Ground), traduzido em várias partes do mundo], para quem eu entreguei uma das primeiras cópias do livro. Tinha muita coisa acontecendo nesse momento. E tem o projeto do governo também, a Rede Cegonha, que prevê construção de casas de parto em vários locais do país. Eu acho que veio em boa hora.
iG: O que você espera com o livro?
Luciana Benatti: O que a gente mais espera com esse livro é que ele possa mudar, pelo menos um pouquinho, o cenário brasileiro no que diz respeito ao parto. Todo mundo sabe que os índices de cesárea no Brasil são altíssimos, entre os maiores do mundo. Muitas destas cesáreas não são necessárias do ponto de vista médico e muitas tampouco são a vontade da mulher. O parto pode ser, sim, uma experiência muito enriquecedora, muito transformadora na vida da mulher. E não só da mulher, da família também, porque nesse tipo de parto os pais e os maridos participam muito. Eu conto no livro a história do meu segundo parto. Na época meu primeiro filho estava com três anos e participou. Foi uma coisa muito marcante para ele ver o irmão nascer. Foi muito rica essa experiência para todos nós. E a gente quer proporcionar isso para outras mulheres. É lógico que a gente não quer servir de exemplo, dizer ‘façam isso, isso é o certo’. Só queremos mostrar que isso é possível, então, se você tem esse desejo, é um caminho possível. Existe essa possibilidade e é muito bacana.
iG: Qual a diferença no protagonismo da mulher durante um parto normal e uma cesárea?
Luciana Benatti: Tem uma diferença grande nessa questão do protagonismo. Quando você dá seu filho à luz, está fazendo o papel ativo. Você é, digamos, a ‘dona’ do parto. Você manda em tudo e o corpo da mulher trabalha junto com o bebê para que ele nasça. É um processo muito perfeito, muito bonito. Ao final de um parto como esse, a gente tem uma sensação muito boa de poder. ‘Olha, eu consegui, depois disso eu consigo cuidar do meu filho’. Não que a mulher que não passa por isso não consiga, mas a gente tem essa sensação de ‘eu posso tudo agora’. Tem uma mãe que tem uma história muito bonita, a gente conheceu muitas histórias nesse processo. Ela teve parto normal, de gêmeos, depois de uma cesárea. Ao terminar o parto, ela falou ‘eu posso tudo, eu posso subir o Everest a pé’. Ela se sentiu muito poderosa, e é mesmo. É muito prazeroso saber que o seu corpo trabalhou junto com seu filho e vocês dois, juntos, conseguiram fazer essa coisa linda e mágica que é o nascimento.
iG: Você sentiu dificuldade de traduzir em palavras as sensações e emoções do parto?
Luciana Benatti: É sempre difícil, porque é algo muito íntimo. A gente fica até com um pouco de medo: ‘será que eu revelo isso, como é que eu falo disso?’. As nove mulheres que estão no livro [incluindo a autora] abriram muito a intimidade. Quando eu vi, pela primeira vez, a minha foto na banheira, eu com um barrigão, dando um grito e apertando a mão da doula, eu falei ‘nossa, mas todo mundo vai me ver assim’. À primeira vista foi um choque, mas o tempo foi passando e aquela mulher já não era mais eu, já virou outra mulher. Eu consigo olhar aquela foto e enxergar todas aquelas mulheres que passaram pela minha vida nesses três anos e meio e me contaram suas histórias.
iG: Por que é importante expor estas histórias?
Luciana Benatti: A gente se expõe por uma boa causa: para que outras mulheres saibam. É muito importante que as mulheres saibam. Antigamente falava-se de mãe para filha sobre o parto, não era uma coisa tão velada, tão escondida, tão misteriosa como é hoje. Minha mãe tem uma história muito bacana: ela e um irmão dela nasceram no mesmo dia, mas com quatro anos de diferença, e minha mãe nasceu no andar de cima do sobrado enquanto, na parte de baixo, rolava a festinha de quatro anos do meu tio. Era uma coisa muito natural, fazia parte da vida da família e hoje em dia não tem mais isso. O nascimento acabou se tornando uma coisa muito fechada, dentro do hospital, ninguém tem acesso, ninguém sabe como é e esse desconhecimento gera muito medo. Não só na mulher, mas na família, em todo mundo. Todo mundo fica achando que é uma coisa muito perigosa essa coisa de nascer, e não é bem assim.
iG: E os riscos do parto em casa?
Luciana Benatti: Todas essas mulheres que estão no livro tiveram um acompanhamento pré-natal, foram a todas as consultas e exames. Tudo direitinho, como é o pré-natal de qualquer médico, e elas fazem o acompanhamento também na hora do parto. Quando a gente fala de parto em casa as pessoas pensam que é desassistido, sem nenhum profissional, mas essas mulheres todas tiveram o acompanhamento de médico ou de parteira, que são essas parteiras urbanas, enfermeiras obstetras ou obstetrizes. Não tem irresponsabilidade alguma. Todo mundo que faz parto em casa tem um plano B, uma alternativa já pensada. Se o parto não desenrolar bem, você tem a alternativa de ir para um hospital próximo. Tudo isso é pensado, é planejado.
iG: Muitas pessoas falam do parto normal de maneira romântica, mas seu livro é mais realista. Sua intenção é desmitificar o tema?
Luciana Benatti: Espero que sim. Eu não poupei, por exemplo, as fotos dos gritos. Minha mãe não gosta de ver essa foto em que eu estou gritando na banheira. Ela acha muito forte. Mas isso faz parte, eu não vou falar para ninguém “olha, não dói”. Eu estaria mentindo e isso, sim, seria um absurdo. Por que dói muito mesmo, é uma experiência muito intensa. Não é só a dor, é toda a novidade daquilo, sabe? É uma experiência que não tem igual, só vivendo para saber. Tem que ser sincera, não dá para romantizar demais. É lógico que a gente vai ter medo mesmo, vai sentir dor, vai gritar, vai querer desistir na hora do parto e muitas mulheres falam ‘quero desistir, não aguento mais’. É uma fase. Passada esta fase, dá aquela força e o bebê nasce. A dor faz parte do processo, mas não é o único sentimento envolvido. Não é só dor e medo, existem muitas outras coisas. E aí a experiência é o pacote completo. Tem mulher que prefere não encarar. Tudo bem, eu respeito, mas acho bacana saber que existe a possibilidade. Muitas mulheres ‘normais’, que não são atletas e não têm um preparo físico absurdo, conseguem. Isso está com a gente. É uma coisa que a maioria das mulheres, com um pouquinho de encorajamento, consegue.
iG: Você teve um preparo físico especial?
Luciana Benatti: Eu não sou nenhuma atleta, aliás, pelo contrário. Sou uma pessoa meio avessa a exercício, sabe? E eu consegui. Consegui porque me encorajaram. Encontrei pessoas que me apoiavam. Acho que esse é o segredo: você se informar e encontrar pessoas que estejam aptas a te apoiar e a te encorajar, em vez de falar assim “ah, desiste porque a dor é muito forte, você não vai aguentar, as mulheres hoje em dia não aguentam mais esse tipo de dor, a gente não está preparada para isso, a mulher moderna não aguenta, o corpo dela não aguenta”. É o que a gente ouve muito por aí. E não é isso. A gente está preparada, sim.
iG: Por que as mulheres temem tanto o parto normal?
Luciana Benatti: Muita gente fala ‘ai, mas minha mãe teve um parto normal horroroso no hospital, sofreu muito’. Mas quando você vai ver, descobre que esta mulher passou por muitos procedimentos hospitalares que tornaram o parto doloroso. Por exemplo, ela recebeu aquele hormônio, ocitocina, que acelera muito as contrações e causa muita dor. Aí empurraram a barriga dela, fizeram o corte no períneo, enfim, um monte de intervenções. Às vezes, esta mulher até sofre algum tipo de violência verbal, é comum falarem ‘ah, na hora de você fazer você não gritou, porque está gritando agora?’. É horrível, mas se ouve muito por aí nos hospitais. Nada disso é o parto, isso é o que a gente fez com o parto. O parto em si não tem nada disso, originalmente. Às vezes se confunde um pouco o que é a dor do parto e o que é a dor destes procedimentos, agressivos e muitas vezes desnecessários. É preciso separar uma coisa da outra. A dor fisiológica a gente encara. Mas esta dor da humilhação é mais difícil.
20 de maio de 2011
Hoje e amanhã tem bate-papo
Na Livraria Cultura do Shopping Vill-Lobos!
Hoje, às 19h30, Denise Haendchen fala sobre alimentação para crianças. Sou uma das afortunadas que já provou um de seus quitutes, e digo que vale a pena comparecer para conhecer suas ideias e sugestões.
Amanhã, às 10h30, a Matrice fala sobre amamentação. Sempre divulgo aqui os eventos da Matrice, porque tenho o privilégio de conhecer essas moças. Amor e amamentação têm tudo a ver e elas entendem do que falam.
Dois eventos gratuitos e imperdíveis, especialmente para quem está grávida ou com bebês no colo. Ah, em tempo, os pequerruchos serãoo bem-vindos!
Hoje, às 19h30, Denise Haendchen fala sobre alimentação para crianças. Sou uma das afortunadas que já provou um de seus quitutes, e digo que vale a pena comparecer para conhecer suas ideias e sugestões.
Amanhã, às 10h30, a Matrice fala sobre amamentação. Sempre divulgo aqui os eventos da Matrice, porque tenho o privilégio de conhecer essas moças. Amor e amamentação têm tudo a ver e elas entendem do que falam.
Dois eventos gratuitos e imperdíveis, especialmente para quem está grávida ou com bebês no colo. Ah, em tempo, os pequerruchos serãoo bem-vindos!
19 de maio de 2011
Riqueza virtual, aprendizado real
Dia desses, numa aula de pós-graduação da ECA/USP, a professora bradou que a maior parte do conteúdo da web era totalmente irrelevante. Condenou blogs e redes sociais à insignificância. Quase todos concordaram e mesmo os que não abanaram a cabeça positivamente se calaram, eu inclusive. Obviamente não quis me indispor com a mestra.
Embora eu não seja deslumbrada com a "web 2.0", também não sou tão cética quanto a referida professora. Gasto boa parte do meu tempo na frente do computador, consultando a internet e interagindo com outras pessoas por meio de blogs e redes sociais. E embora concorde que há muita coisa irrelevante no meio disso tudo, acho também que há muita riqueza nesse meio virtual que proporciona aprendizado real.
Os últimos episódios relativos à amamentação (e sua interdição em locais públicos) são um ótimo exemplo.
Na Inglaterra, uma moça foi expulsa de um pub por estar amamentando. No Brasil, uma moça foi "convidada" a amamentar em uma sala reservada (tão reservada que estava trancada). Não sei que rumos tomaram os acontecimentos ingleses, mas em São Paulo algumas mulheres se organizaram (via Facebook) para protestar. O protesto, como todas já sabemos, transformou-se em promoção da instituição responsável pelo constrangimento inicial. Sem graça? Cooptação? Ok, mas antes assim, porque ao menos foi possível passar o recado de que quem decide onde quer amamentar é a mãe.
Infelizmente, porém, a repercussão do evento paulista incluiu uma coluna pseudojornalística, contra a qual protestei no dia 17. E eis que hoje me deparei com uma crítica da crítica bastante construtiva, com grandes bases na psicanálise, assunto em que sou totalmente ignorante.
Pois bem, com a controvérsia aprende-se muito mais do que com a concordância, é fato. Ainda não sei que conclusões tirar, mas ao contrário do que postula a professora ecana, há riqueza na web, sim!
Embora eu não seja deslumbrada com a "web 2.0", também não sou tão cética quanto a referida professora. Gasto boa parte do meu tempo na frente do computador, consultando a internet e interagindo com outras pessoas por meio de blogs e redes sociais. E embora concorde que há muita coisa irrelevante no meio disso tudo, acho também que há muita riqueza nesse meio virtual que proporciona aprendizado real.
Os últimos episódios relativos à amamentação (e sua interdição em locais públicos) são um ótimo exemplo.
Na Inglaterra, uma moça foi expulsa de um pub por estar amamentando. No Brasil, uma moça foi "convidada" a amamentar em uma sala reservada (tão reservada que estava trancada). Não sei que rumos tomaram os acontecimentos ingleses, mas em São Paulo algumas mulheres se organizaram (via Facebook) para protestar. O protesto, como todas já sabemos, transformou-se em promoção da instituição responsável pelo constrangimento inicial. Sem graça? Cooptação? Ok, mas antes assim, porque ao menos foi possível passar o recado de que quem decide onde quer amamentar é a mãe.
Infelizmente, porém, a repercussão do evento paulista incluiu uma coluna pseudojornalística, contra a qual protestei no dia 17. E eis que hoje me deparei com uma crítica da crítica bastante construtiva, com grandes bases na psicanálise, assunto em que sou totalmente ignorante.
Pois bem, com a controvérsia aprende-se muito mais do que com a concordância, é fato. Ainda não sei que conclusões tirar, mas ao contrário do que postula a professora ecana, há riqueza na web, sim!
18 de maio de 2011
Formação acadêmica livre de publicidade
Recentemente as estudantes de nutrição promoveram um debate a respeito da interação da publicidade de alimentos com a segurança alimentar e nutricional. Ainda peocupadas com o assédio da indústria de alimentos e complementos, as alunas resolveram ir adiante e propuseram um abaixo-assinado para que o Conselho Federal de Nutricionistas, o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação regulem a propaganda, a publicidade e o marketing de produtos alimentícios diversos nas salas de aula de nutrinção. Conforme o texto que acompanha as assinaturas:
"Nós, abaixo assinados, entendemos que as indústrias alimentícias investem em estudantes de Nutrição, através do envio de representantes para ministrarem aulas nos cursos, promovendo seus produtos e distribuindo brindes e amostras grátis, além do patrocínio de eventos universitários e congressos, porque sabem que esses irão utilizar as informações obtidas em sala de aula como parâmetro para a atuação profissional, sendo os futuros propagandistas de suas marcas e seus produtos.
Assim, exigimos um posicionamento do órgão a que se destina este documento e a criação, por este órgão, de mecanismos de regulação de qualquer tipo de publicidade, propaganda e marketing de alimentos nos cursos de Nutrição associados à distribuição de brindes e/ou prêmios e/ou bonificações e/ou apresentações."
Fico espantada de saber que instituiões de nível superior abram suas portas a esse tipo de propaganda. Já vivemos um embate com as propagandas de alimentos dirigidas a crianças e permitir que estudantes universitários sejam cooptados já nas salas de aula é, no mínimo, irresponsável.
Eu entrei no site e participei do abaixo-assinado. Se você concordar com as motivações aqui expostas, vá lá e assine também!
http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N9540
"Nós, abaixo assinados, entendemos que as indústrias alimentícias investem em estudantes de Nutrição, através do envio de representantes para ministrarem aulas nos cursos, promovendo seus produtos e distribuindo brindes e amostras grátis, além do patrocínio de eventos universitários e congressos, porque sabem que esses irão utilizar as informações obtidas em sala de aula como parâmetro para a atuação profissional, sendo os futuros propagandistas de suas marcas e seus produtos.
Assim, exigimos um posicionamento do órgão a que se destina este documento e a criação, por este órgão, de mecanismos de regulação de qualquer tipo de publicidade, propaganda e marketing de alimentos nos cursos de Nutrição associados à distribuição de brindes e/ou prêmios e/ou bonificações e/ou apresentações."
Fico espantada de saber que instituiões de nível superior abram suas portas a esse tipo de propaganda. Já vivemos um embate com as propagandas de alimentos dirigidas a crianças e permitir que estudantes universitários sejam cooptados já nas salas de aula é, no mínimo, irresponsável.
Eu entrei no site e participei do abaixo-assinado. Se você concordar com as motivações aqui expostas, vá lá e assine também!
http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N9540
17 de maio de 2011
Contra Coutinho
Ontem a Folha de São Paulo publicou uma coluna de João Pereira Coutinho bastante infeliz, em que ele ironicamente se refere ao mamaço promovido no Itaú Cultural. Em certa ocasião, uma mulher foi impedida de amamentar no espaço de exposição da instituição e por isso o mamaço foi organizado, em defesa da amamentação em locais públicos. Coutinho se mostrou surpreso diante do mamaço, da amamentação em locais públicos, do direito à amamentação por parte da criança. E em um texto pretensamente irreverente, acabou por reforçar preconceitos e associar a amamentação a atos da esfera privada (como tomar banho e defecar) e mesmo a atos eróticos, como sexo e masturbação. Faltou habilidade ao colunista - em diversos sentidos. E é revoltante pensar que ele recebe para fazer isso. Por esse motivo e em defesa da amamentação, escrevi para a ombudwoman da Folha. Eis a carta. Em tempo: e ele ainda teve a infelicidade mor de intitular a coluna de "mamonas celestinas", em evidente referências à extinta banda Mamonas Assassinas.
***
Lamentável que um jornal como a Folha de São Paulo se preste a publicar colunas como a de João Pereira Coutinho, divulgada ontem, 16 de maio.
Em seu texto, Coutinho iguala o aleitamento materno a atos privados de forma bastante infeliz, talvez pela imperícia de sua escrita, ou talvez pela estreiteza de seu pensamento.
Amamentar é um ato de intimidade entre mãe e filho. É um ato de amor. É um ato de sabedoria. É um ato de carinho. É um ato de saúde. É um ato de vida. Amamentar reune num só ato uma infinidade de utilidades e significados, que vão muito além da alimentação.
Mas amamentar não é um ato sexual. Por mais prazeroso que possa ser - para mãe e para filho -, não tem conotação sexual. Como muitos outros prazeres da vida que não envolvem sexo.
O que incomodaria então pessoas como Coutinho, que reconhecem os benefícios da amamentação, mas se opõem a ela com caras enojadas quando realizada em público?
Por envolver a intimidade entre duas pessoas? Oras, amamentar é um ato de initimidade, sim, assim como uma conversa entre duas pessoas confidentes, assim como um abraço fraterno, assim como uma troca de alianças na igreja. Atos que envolvem elevado grau de intimidade, mas que não necessariamente devem ocorrer entre quatro paredes.
Ou será que o incômodo se dá pela exposição do seio materno? Oras, o seio materno está lá, exposto, para que o infante se alimente. E a cena pode ser assim apreciada, como uma demonstração de afeto, de vida, de carinho. Mas não como ato sexual. Confundir amamentação com pedofilia requer uma mente muito doentia, com o perdão da rima.
Mas talvez esse não seja o caso do colunista da Folha. Talvez ele se incomode pelo fato de a mulher ter deixado a clausura do lar. Oras, se a mulher sai à rua para trabalhar, para ir ao cinema, para visitar exposições, para fazer compras (inclusive para abastecer os lares burgueses), para se confraternizar com outras pessoas (mulheres e homens), por que então ela deveria permanecer restrita às paredes domésticas nos primeiros meses e anos de vida de seus rebentos?
Ou será que o autor do triste texto prefere que nossos bebês celestinos sejam amamentados em banheiros, em cabines telefônicas, enfim, em locais confinados, longe dos olhos dos transeuntes? Ah... talvez seu desejo seja mesmo esse: mulheres na rua, sim, mas só se for de um jeito sexualmente aprazível aos homens. Nada de mostrar que o corpo feminino se preza por outros prazeres!
Mais uma vez, lamentável. E mais lamentável ainda que essa coluna tenha sido ilustrada - de modo imprudente - por foto tão linda, que poderia ter usos tão mais qualificados.
Como leitora e cidadã, gostaria que a Folha e Coutinho se retratassem publicamente. Textos como esse em nada contribuem para a democracia.
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Lamentável que um jornal como a Folha de São Paulo se preste a publicar colunas como a de João Pereira Coutinho, divulgada ontem, 16 de maio.
Em seu texto, Coutinho iguala o aleitamento materno a atos privados de forma bastante infeliz, talvez pela imperícia de sua escrita, ou talvez pela estreiteza de seu pensamento.
Amamentar é um ato de intimidade entre mãe e filho. É um ato de amor. É um ato de sabedoria. É um ato de carinho. É um ato de saúde. É um ato de vida. Amamentar reune num só ato uma infinidade de utilidades e significados, que vão muito além da alimentação.
Mas amamentar não é um ato sexual. Por mais prazeroso que possa ser - para mãe e para filho -, não tem conotação sexual. Como muitos outros prazeres da vida que não envolvem sexo.
O que incomodaria então pessoas como Coutinho, que reconhecem os benefícios da amamentação, mas se opõem a ela com caras enojadas quando realizada em público?
Por envolver a intimidade entre duas pessoas? Oras, amamentar é um ato de initimidade, sim, assim como uma conversa entre duas pessoas confidentes, assim como um abraço fraterno, assim como uma troca de alianças na igreja. Atos que envolvem elevado grau de intimidade, mas que não necessariamente devem ocorrer entre quatro paredes.
Ou será que o incômodo se dá pela exposição do seio materno? Oras, o seio materno está lá, exposto, para que o infante se alimente. E a cena pode ser assim apreciada, como uma demonstração de afeto, de vida, de carinho. Mas não como ato sexual. Confundir amamentação com pedofilia requer uma mente muito doentia, com o perdão da rima.
Mas talvez esse não seja o caso do colunista da Folha. Talvez ele se incomode pelo fato de a mulher ter deixado a clausura do lar. Oras, se a mulher sai à rua para trabalhar, para ir ao cinema, para visitar exposições, para fazer compras (inclusive para abastecer os lares burgueses), para se confraternizar com outras pessoas (mulheres e homens), por que então ela deveria permanecer restrita às paredes domésticas nos primeiros meses e anos de vida de seus rebentos?
Ou será que o autor do triste texto prefere que nossos bebês celestinos sejam amamentados em banheiros, em cabines telefônicas, enfim, em locais confinados, longe dos olhos dos transeuntes? Ah... talvez seu desejo seja mesmo esse: mulheres na rua, sim, mas só se for de um jeito sexualmente aprazível aos homens. Nada de mostrar que o corpo feminino se preza por outros prazeres!
Mais uma vez, lamentável. E mais lamentável ainda que essa coluna tenha sido ilustrada - de modo imprudente - por foto tão linda, que poderia ter usos tão mais qualificados.
Como leitora e cidadã, gostaria que a Folha e Coutinho se retratassem publicamente. Textos como esse em nada contribuem para a democracia.
Relato do parto do Davi - por Aline
“Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Respondeu Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. (...) O servo, então, prostrou-se por terra diante dele e suplicava-lhe: Dá-me um prazo (...)!” (Mt 18, 21-22, 26).
Ao ouvir estas palavras no Evangelho dia dos pais de 2007, as lágrimas rolaram no meu rosto. Eu também suplicava: “Senhor, dá-me um prazo!”. Passei a maior parte da missa sentada. Usava um casaco do Rodrigo, estava 18 quilos mais pesada, sensível, cansada, às 40 semanas e quatro dias da gestação do Davi.
Algumas pessoas haviam me dito que no dia do parto acordaram cheias de energia, fizeram faxina, lavaram cortinas. Mas eu acordava a cada dia me sentindo menos enérgica, mais cansada e mais pressionada. Os telefonemas me irritavam, as perguntas do tipo: “mas ainda não nasceu?” me ofendiam, me sentia de certa forma incompetente por ainda não ter parido.
Queria ficar no colo do meu marido, com meu filho no meu colo interno, e que o mundo se resumisse a isso até o trabalho de parto começar. Mas era dia dos pais, eu não tive coragem de assumir que queria um ninho particular e fui encontrar as pessoas, ouvir educadamente as perguntas e os comentários. E suportar a frustração por não ter, ainda, neste dia, parido um filho para o pai e um neto para os avós. Achava que os desejos de uma mãe não podiam ficar em primeiro lugar em pleno dia dos pais.
O Rodrigo entraria de férias dali a oito dias e tínhamos imaginado que o ideal seria que o Davi nascesse logo no início desta semana, para os cinco dias de licença paternidade serem justapostos às férias. Mas eu não sentia nada que indicasse que o Davi chegaria logo, não sentia nada além de um desamparo, porque se tudo continuasse assim, no dia seguinte o Rodrigo iria trabalhar e eu ficaria sozinha.
Passamos o almoço e parte da tarde fora, voltamos para casa à noitinha.Tomei banho, cochilei no sofá, onde o Digo assistia televisão, acordei perto das 22:30h. e fui ao banheiro. Senti uma umidade estranha. Não consegui parar mais quieta, ia ao banheiro a cada pouco. Coloquei um absorvente, depois achei que estava me atrapalhando, porque queria saber se existia ou não um líquido novo. Era incolor, mas a quantidade era tão pequena que ficava difícil para mim reconhecer o cheiro. O Rodrigo estava muito mais confuso do que eu.
Meu obstetra havia falado que, pelo tamanho da barriga e pela quantidade estimada de líquido amniótico, minha bolsa estouraria de uma vez só e seria muito evidente que isso teria acontecido. Mas a situação real não foi nem um pouco evidente. Fiquei sentada num banquinho bem baixo, como fizera tantas vezes nas últimas semanas, enquanto tentava descobrir com o Rodrigo o que estava acontecendo.
Resolvemos ligar para minha médica homeopata, que acompanhou todas as condutas da gestação, e que era a primeira profissional a quem eu recorria (embora ela já houvesse trabalhado com parto humanizado por algum tempo, não mais assistia partos). Eu estava envergonhada por telefonar, não queria incomodar “à toa”. Ela disse que é muito comum o trabalho de parto (TP) começar naquele horário e que deveríamos observar a frequência das contrações, sem pressa, e se necessário ligar para ela novamente.
Há alguns dias a barriga estava muito pesada e as contrações de Braxton Hicks eram bem mais incômodas. Mas não reconheci nitidamente os pródromos.
Deitei e pedi que o Rodrigo também deitasse, para podermos descansar caso tivéssemos que levantar à noite. Coloquei uma toalha de banho na cama, deixei o abajur aceso, agenda, caneta e relógio ao lado. A cada pouco (aproximadamente a cada dez ou oito minutos) sentia uma contração nitidamente nova, diferente das que vinham ocorrendo nos últimos tempos. Doía. Tendo em mente que deveria tentar dormir entre as contrações, fiquei deitada praticamente todo o tempo – até fiquei de quatro na cama algumas vezes, conforme tinha aprendido que seria melhor, mas o frio de uma madrugada de agosto, todo o meu peso e as dores corporais de um final de gestação me desestimulavam. Eu realmente não acreditava, não sabia que diferença a posição poderia ter feito.
Dormi entre as 00:22h. e as 0:45h., quando acordei com uma forte contração. Fui ao banheiro. Diferente do que tinha ouvido de muitas mulheres, meu intestino não funcionou, eu só fazia xixi, mas parecia me dar um grande alívio. Começou a aparecer um pouquinho de sangue quando me limpava, no banheiro.
Não consegui mais dormir. Fui ao escritório pegar um livro, um livreto e uma apostila, abri nas páginas que indicavam como detectar o TP e que atitudes tomar. Fiquei sentada na cama, anotando as contrações, observações (“movimentos do bebê diminuíram”, “sangue”, “dor nas costas do lado esquerdo”) e relendo o material, como se no dia seguinte tivesse uma prova importante. E realmente tinha, no fundo era assim que eu encarava.
Anos depois uma amiga comentou sobre essa minha “fantasia de controle”, a tentativa de controlar o incontrolável.
Em algum momento o Rodrigo acordou e disse “tudo bem? Descansa, viu?”. Eu não respondi, só olhei pra ele, contente com seu cuidado, mas achando as duas colocações descabidas: como assim, tudo bem? E como assim, descansa?
O Rodrigo dormindo ao meu lado, eu entre preocupada em não acordá-lo e torcendo para ele me fazer companhia – ou, principalmente, tomar atitudes por mim. Por voltas das 2:00h., acordei-o e disse que queria ligar para a médica. As contrações estavam com intervalos entre sete e dez minutos e durando por volta de trinta segundos. Ele titubeou em pegar o telefone, será que estava esperando que eu fosse até a sala e pegasse? E se estivesse, porque não? Porque será que eu não andava, ficava ali sentada na cama, plantada? Ele foi pegar o telefone, deitou novamente. Eu acho que eu queria que ele falasse com a médica, mas não cheguei a pedir. Não tive mais a vergonha de telefonar para a casa dela de madrugada, agora eu sabia que era “sério”. Quando desliguei o telefone ele já estava dormindo, mas semiacordou e perguntou: “amanhã eu não vou trabalhar?”, eu ri da pergunta e ele justificou “eu preciso saber por causa da roupa!”. Ri mais ainda e até anotei essa fala na agenda, ao lado das contrações.
Minha médica orientou que eu descansasse e saísse para o hospital em duas horas, depois de comer algo leve e tomar um banho. Também disse para eu não comentar sobre a perda de líquido, o que me deixou um pouco tensa – eu sabia que informar sobre a bolsa rota poderia levar a procedimentos desnecessários e me transformar mais ainda numa bomba relógio, mas tenho a maior dificuldade em disfarçar uma mentira (o que ficou muito mais difícil ainda quando estive em trabalho de parto).
Parei de anotar as contrações, isso foi libertador, mas foi um pouco angustiante ficar apenas esperando, eu ficava lembrando se faltava alguma coisa nas malas, verificando, tentava ficar deitada, mas a cada vez as contrações doíam mais.
Às 3:30h. resolvi ir tomar banho. Tive três contrações durante os poucos minutos em que fiquei no chuveiro e me assustei, comecei a me apressar. Poderia ter aproveitado para lavar o cabelo, mal sabia eu o quanto isso ia demorar e me fazer falta, mas não cheguei nem perto de aproveitar os benefícios de uma ducha quente, que pena...
O Rodrigo acordou quando comecei o banho e perguntou o que eu estava fazendo, sem entender nada. Eu não tinha dito a ele sobre a orientação da médica, não lembro bem ao certo o motivo, mas acho que eram dois: era muito difícil falar sentindo as dores e ele estava querendo dormir.
Ele foi colocar algumas coisas na mala, eu me vesti, fui tomar chá com torradas, não sabia se podia passar manteiga, nem o quanto podia comer. Não comi por fome, mas porque fui orientada a isso. Mas foi bom, porque não me lembro de ter sentido fome no restante do TP.
Andando pela casa, tomando o elevador, andando na garagem, as contrações eram mais freqüentes e fortíssimas. Eu abaixava o tronco, o Rodrigo massageava a região lombar, não sei dizer se essas atitudes melhoravam a dor, o que mais me incomodava era imaginar como seria sofrido andar de carro desse jeito.
Tinha separado um CD de músicas de ninar para escutar no carro, no caminho para a maternidade. Mas não quis ouvir nada, fomos em silêncio. As contrações simplesmente pararam: nosso percurso começou pouco depois das 4:00h. e chegamos ao hospital por volta das 5:00h., ainda escuro. Nesse período, ocorreram apenas duas contrações. Fiquei entre aflita e frustrada, não queria que fosse um alarme falso e tivéssemos que voltar para casa e esperar tudo acontecer de novo, eu queria que o Davi nascesse! No final do percurso conversávamos sobre as pessoas que andavam na rua, e até chegamos a rir pensando no que diríamos ao chegar lá no hospital, sem sinal de TP.
Mas ao primeiro movimento para descer do carro uma contração fortíssima me travou. Fui andando curvada, um segurança simpático me ofereceu uma cadeira de rodas, mas fiquei indignada pensando “ele não sabe que é bom andar?” e apavorada pensando na dor que sentiria ao sentar.
Chegamos ao balcão de admissão, fiquei ao lado do Rodrigo naquele demorado processo de preenchimento de fichas, apoiada no balcão. A cada contração eu me abaixava e ele massageava minhas costas. As recepcionistas perguntavam se eu já estava sentindo contrações – quanta sensibilidade! Me “convidaram” várias vezes a ir sentar, até que em certo momento, quando o Rodrigo me pediu, vencido pela insistência delas, eu fui. Sentada era mais dolorido e mais solitário.
Se não me engano tive que ir de cadeira de rodas para a sala de exames, era norma do hospital. Uma enfermeira com a qual simpatizei fez muitas perguntas, eu não sabia o que tinha que responder, estava insegura até sobre a idade gestacional (40 semanas e 5 dias), não tinha idéia clara sobre qual momento do TP estava, tinha que omitir a questão do líquido, mas estava muitíssimo controlada. O Rodrigo demorou bastante para chegar lá.
Fui ao banheiro tirar a roupa a pedidos da enfermeira. Lá, vi que continuava saindo um pouco de líquido. Voltei, deitei na maca para fazer o cardiotoco, a enfermeira pediu que eu apertasse o botão quando as contrações começavam e terminavam. Parecia uma pêra de audiometria, o que me remeteu a tantas coisas (sou fonoaudióloga), me senti testada, avaliada pelo meu desempenho, não consegui fazer isso direito, mas ela disse que estava dando para perceber bem as contrações pelo traçado.
Ela fez o exame de toque, ficou com uma expressão satisfeita e me disse “está com sete centímetros!”, quase me dando os parabéns. Fiquei emocionada e aliviada.
A enfermeira telefonou para o meu médico, eu fiquei com a sensação de “mas já? será que não é muito cedo para ele vir?”. Conforme escutava ela me descrever fiquei com a sensação de “não é bem assim...”. Tentei completar algumas respostas que tinha dado, mas, enquanto esteve ao telefone ela não me deu atenção.
Chegou uma outra enfermeira, superior a essa, mais séria, muito menos simpática e disse alguma coisa para a colega sobre “falsas contrações” mostrando o traçado do cardiotoco. Fiquei irritada. Em seguida vi que o Rodrigo estava lá, atrás de um tapume bege, comecei a chorar, queria que ele viesse segurar minha mão, mas atrapalhava um pouco a circulação das enfermeiras, queria falar com ele a sós, ficava sussurrando, contando o que tinha acontecido, entre dores fortes, e ele não entendia direito.
Fui ao banheiro vestir o avental para subir para a suíte de parto normal (LDR). Houve uma preocupação prática, um medo de perder minhas coisas, esquecer alguma peça de roupa por lá, algo que não queria que passasse pela minha cabeça nesta hora.
Tinha conhecido duas enfermeiras obstetrizes daquela maternidade e torcia para que fosse um desses o rosto a me receber. Tive uma contração muito forte na hora em que destrancaram a porta de acesso a essa parte em que ficava a LDR e não conseguia/queria andar. A pessoa que me acompanhava me “forçou” a continuar andando e entrar. Um rosto desconhecido, mas simpático, me recebeu, me senti bem, como se dali para a frente os profissionais saberiam o que fazer de acordo com o que era exposto no curso de gestantes da maternidade – mas estava enganada...
Logo houve a troca de plantão e a enfermeira obstetriz que chegou não me inspirou a mesma empatia que a anterior, aliás, não fez nenhum vínculo comigo, talvez tenha dito seu nome, mas apenas formalmente. Muitas auxiliares de enfermagem passavam pela sala, me incomodava a inconstância de rostos desconhecidos, eu não sabia quem era quem, o que estavam fazendo ali...
O Rodrigo apareceu todo vestido de azul, me ajudou a colocar nossas coisas num cantinho. Lembramos da máquina fotográfica, não lembrávamos onde estava, levamos uma bronca porque não podíamos ficar saindo de lá para pegar nada...
Me pediram para deitar na maca e fizeram um procedimento abominável de assepsia com clorexidina aquosa. Senti um ardor horrível, uma vontade muito forte de urinar, talvez tenha sido o maior incômodo de todo o trabalho de parto, porque o efeito perdurou até não sei que momento. (Nunca foi bem esclarecido porque isso aconteceu, porque mais tarde quando comentei com o médico ele me disse apenas: “não, clorexidina aquosa não arde”, resposta esta que me deixou indignada, porque eu sei o que senti. Futuramente uma profissional da área levantou a hipótese de ter ocorrido engano quanto à substância, e ter sido administrada clorexidina alcoólica, esta sim arderia muito).
Pedi para ir ao banheiro, foi a última vez antes do parto que pude fazer isso sem aquele cabide todo do acesso venoso junto. Fazendo xixi parecia melhorar um pouco o ardor, mas assim que parava, voltava a arder muito. Queria ficar sentada ali. Queria que o Rodrigo ficasse por perto, mas tinha gente entrando e saindo, não sei o que tanto tinha que ser feito por lá. Em certo momento uma auxiliar de enfermagem, já senhora, me disse que eu não podia ficar ali que deveria ir me deitar. Perguntei se eu não iria poder me movimentar, ela disse que sim, mas depois.
Tinha uma banheira e um chuveiro bem à minha frente, mas não foram usados; a explicação também não ficou muito clara, acho que disseram que no meu caso atrapalharia o andamento do TP. Hoje penso que simplesmente poderia fazer tudo demorar mais para as agendas dos profissionais – mas eu, o Rodrigo e o Davi não tínhamos horário marcado para nada...
Tive que voltar para a maca, instalaram soro, cardiotoco, talvez mais alguma coisa que eu não lembro. A enfermeira obstetriz pouco simpática fez o exame de toque e disse que a dilatação estava em cinco centímetros. Arregalei meus olhos.
Meu médico chegou, foi bom vê-lo, me senti segura. Repetiu o exame, chegando à mesma conclusão sobre a dilatação. Fizeram caras e comentários sobre a inexperiência da pessoa que fizera o primeiro toque. Por muito tempo essa situação me incomodou. Anos depois li uma entrevista com a parteira Ina May, sobre a progressão do trabalho de parto, que finalmente me satisfez**.
Perguntei alguma coisa para o médico e ele tentou tranquilizar-me, dizendo que estava evoluindo bem.
Ele entrava e saía do quarto. Foi bom porque finalmente pude ficar um pouco a sós com o Rodrigo. Ele sentado na escadinha ao lado da cama, segurando minha mão esquerda. A cada contração eu apertava muito a mão dele. Nos intervalos, rezávamos. Eu pedia para ele rezar baixinho quando eu não conseguia falar. Muitas vezes fizemos uma ladainha, eu evocava o santo e ele dizia “rogai por nós!”. Lembrei de tantos santos, naquela época eles ficaram tão íntimos a mim! Desde o começo da gestação eu tinha uma angústia ao anoitecer e aproveitava para encerrar as atividades do dia e descansar acompanhando a reza do terço pela televisão. Fui de uma fidelidade afetiva durante os meses, aquele momento me confortava e alimentava, era como se eu e o Davi estivéssemos finalmente no lugar certo. Essa intimidade com a oração foi um dos pontos altos da gravidez e nos acompanhou no momento de certa forma cheio de estranheza que estava sendo o parto.
O médico sentou em seu banquinho “bem localizado”, diante do túnel por onde meu bebê passaria, naquela inesquecível, submissa e desconfortável posição de litotomia, e, depois de me informar o que faria, estourou a bolsa com um instrumento muito semelhante a uma longa agulha de crochê. Teve que fazer força e tentou umas três vezes, todas muito doloridas. A bolsa explodiu, como ele dissera que ocorreria se estourasse espontaneamente. Eu não sabia que uma rotura alta, como aquela com que eu estava, por estar perdendo líquido em pequena quantidade, permitiria que a bolsa se mantivesse tão resistente. Doeu muitíssimo, uma dor profunda, somada ao desconforto do ardor preexistente. Sentir a água quente saindo foi uma pitada de conforto.
Tantas vezes durante o pré-natal eu tinha falado com meu médico sobre meus “desejos” (sem ocitocina, sem episiotomia, anestesia apenas se e quando eu pedisse) e ele respondeu que só faria se realmente necessário. Sem que ele introduzisse o assunto, vi que algo estava sendo colocado no soro e perguntei a ele, ele respondeu “ocitócito, só um pouquinho”.
A partir daí as contrações foram ficando terríveis. Uma se sobrepunha à outra. Eu apertava a mão do Rodrigo com muita força, sei que ele queria dividir aquela dor comigo se fosse possível. Tentava respirar da forma como tinha aprendido no curso de gestantes, mas estava muito cansada, aflita, não via efeito. Durante um desses episódios de respiração “desesperada” o médico entrou e disse que eu deveria parar de respirar assim, que não ia adiantar e eu ficaria com dor de garganta. Minha garganta estava mesmo muito seca. Seria tão melhor se ele tivesse me oferecido água e feito alguma sugestão delicada quanto à respiração – que, por mais que estivesse inadequada e ineficaz, era meu único instrumento para enfrentar, em decúbito dorsal, as dores da ocitocina sintética.
Ele chamou o Rodrigo para fora da sala. Na hora achei que ele estivesse querendo “salvar” o Rodrigo, porque ele estava sofrendo junto comigo. Fiquei um pouco confusa, pensando se o meu marido estava pior do que eu, o que não parecia, mas acabei achando que não podia ser egoísta e querer prendê-lo ali se não estava fazendo bem para ele. Não soube naquele momento o que aconteceu, mas depois de alguns dias, quando o Rodrigo me contou, achei uma estratégia covarde do médico: o médico mostrou a ele os gráficos indicativos dos picos de contração das três mulheres que estavam em trabalho de parto ali no momento. Uma delas passava por seu terceiro parto normal, seus picos tinham amplitude três vezes maior que a dos meus e, segundo o médico, ela estava muito serena. Disse isso para convencer o Rodrigo de que meu limiar de dor era baixo e que a anestesia me beneficiaria muito.
Quando o Rodrigo voltou, me senti muito melhor. Era muito difícil ficar sozinha, me faltava o ar. As contrações chegavam a se sobrepor. Eu perguntei o que aconteceu lá fora e ele disse que o médico tinha mostrado um papel que marcava as minhas dores. Disse que estava impressionado como eu estava suportando, que eu era muito forte, que tinha orgulho de mim.
O médico veio conversar comigo e disse que chamaria o anestesista porque eu estava sentindo muita dor e a anestesia iria facilitar o parto. Não me opus. (Mas eu tinha deixado tão claro que queria anestesia se eu pedisse! Por algum motivo ainda achava que não estava no meu limite. E quem poderia saber disso melhor do que eu?!)
Enquanto esperávamos pelo anestesista comecei a sentir os puxos – que na hora não sabia o que eram. Via minha barriga descendo em trancos conforme a dor apertava extraordinariamente, eu expirava involuntariamente quando isto acontecia.
O anestesista era de uma presença confortante, de um olhar humano. Ficamos apenas os dois médicos e eu na LDR durante a aplicação da analgesia combinada. Sentei na maca com a ajuda do meu médico. Ficar na posição adequada para a colocação do cateter (o médico segurando meus ombros e todo o peso das minhas costas solto no topo da cabeça, que eu apoiava nele) foi confortante, me senti acolhida.
Quando, deitada novamente na cama, senti a analgesia pegar, fiquei muito mais descontraída. Lembro de ter dito, com um tom bem humorado, que há meses eu não sentia minhas pernas relaxadas. Eu tinha sensação um pouco reduzida, mas presente, tinha pouca força para movimentação, mas não sentia absolutamente nenhuma dor: nem das contrações, nem do cansaço muscular, nem as dores posturais do final da gravidez, das quais já estava até enjoada. Foi um grande alívio.
O Rodrigo voltou. Foi orientado a ficar do meu lado direito, não dava mais para segurar bem a mão dele porque meu braço direito estava preso no soro. Ele tocava na minha cabeça e no meu rosto.
A cada pouco levavam para o banheiro uma pazinha com o “número dois”, como meu médico discretamente se referia ao que eu vinha eliminando já há algum tempo – em grande quantidade. No começo fiquei encabulada, realmente não conseguia perceber se/quando estava acontecendo, perguntava para o Rodrigo, como que querendo que ele negasse, mas ele só me dizia “não se preocupa com isso”.
O médico me pediu para fazer uma força. Instruiu-me a segurar nas barras da cama, falou em “força do remador”, disse alguma coisa sobre a respiração. Nada disso me era familiar. Eu estava muito preparada para fazer força do jeito que eu tinha aprendido no curso de gestantes, fiquei um pouco frustrada em ter que fazer diferente, comentei alguma coisa como “mas não é assim que eu sei” e ele foi condescendente: “então faz como você sabe”. Eu fiz. Dei tudo de mim. Aproveitei as tais barras, de improviso, e fiz a maior força do mundo com os braços, somada à força necessária, no abdome, que eu treinara tão bem. A expressão do médico se iluminou. Ele elogiou, animado, “aêee!”.
Até este momento o Davi não havia encaixado. Estava cefálico, dorso à esquerda, há muitas semanas, mas alto. Mesmo com a progressão do TP, ele permanecia alto. Vê-lo encaixando durante a contração, com a força que fiz, deve ter sido uma surpresa para o médico, que em algum momento deixou escapar “eu não pensei que ele fosse descer assim”.
Nesta hora me passou pela cabeça a ameaça da cesárea, como um flash, e a dúvida ameaçadora, “será que agora ele não vai mais pensar nisso?”.
Fiz algumas outras forças médias (o médico orientando que não precisava ser das maiores), a sala foi enchendo de gente novamente, o médico disse “tô fazendo a episio“. Procurei não me deter muito neste aspecto, porque tinha algo imenso acontecendo, meu filho ia nascer, porém me senti traída na hora – e hoje me sinto muito mais!
Então, com toda aquela plateia, o médico ia orientando as forças e eu fazendo a minha parte com todo empenho, dedicação e superação. Algumas enfermeiras que eu não sei de onde surgiram faziam coro dizendo “agora pára”, “agora vai, força, força, agora não pode parar!”. Achei aquilo minimamente indelicado e me deu um milésimo de segundo de raiva “quem disse que eu vou parar?”. Quem estava mais interessada em que meu filho nascesse?! Eu, suponho! Mas obedeci e fiz uma força muito comprida, provavelmente contra a minha natureza caso eu estivesse sentindo as contrações e os puxos.
O Davi apontou com o cotovelinho direito ao lado da cabeça (posição em que, por muitos meses depois de nascido ele adorou dormir), o médico deteve o cotovelinho (disse: “por isso que não descia!”) e a cabecinha nasceu, e depois, em outra força, o corpinho. Não senti ao certo quando ele “terminou” de nascer. Estranho, todos ali sabiam exatamente o que estava acontecendo, menos eu. O médico disse “meninão lindo!”. Ouvimos seu choro, forte, porém breve, o que fez com que, na metade do caminho até mim, a pediatra o requisitasse de volta...
Eu chorava e ria, alto, soluçava aliviada. Perguntei “tá tudo bem? Tá tudo bem com ele?” Vezes consecutivas. Pareciam não ter me ouvido, ou estavam esperando ter uma resposta para me dar... Comecei a agradecer, naquela hora agradecia ao médico, à equipe, mesmo.
O Digo disse, com os olhos cheios d’água, assim que o viu “é a sua cara, Lila”. Eu olhei e disse, chorando, “é mesmo!”. Era uma evidência, não tinha o que contestar.
O médico disse o horário do nascimento, 9:37h. Os profissionais chutaram o peso, acertou quem se aproximou mais de 3,775 Kg.
A pediatra “alugou” nosso bebê por alguns instantes, o Rodrigo e outros expectadores profissionais desconhecidos vendo tudo. Depois de entregar o Davi para as auxiliares enrolarem-no e colocarem a touquinha da maternidade, ela veio me dar os parabéns, dizer que estava tudo bem com ele, que “só o chorinho demorou um pouquinho pra engatar, por isso eu peguei ele de volta”. Sinceramente não sei por quais procedimentos o Davi passou. Sei que recebeu vitamina K injetável, colírio nitrato de prata. Talvez o Rodrigo se lembre se foi aspirado, esfregado.
Logo a placenta saiu, o médico me avisou. Não me lembro de ter feito força para isso, acho que ele tracionou. Pedi, “posso ver?”. Repeti o pedido. Tenho praticamente certeza de que ele ouviu. Mas não respondeu nada, nem olhou para mim. Senti uma estranheza. Aquela placenta não era minha e de meu bebê? O médico comentou, para os colegas, que estava íntegra.
Começou a suturar a episio sem dizer nada. No meio do meu riso-choro apareciam uns “ai”s, e quando ele reconheceu que eram de dor, me perguntou se eu sabia o que ele estava fazendo. Respondi que sim – sabia nitidamente. Ele avisou o anestesista e continuou a sutura apenas depois do ajuste da anestesia.
Antes de ir embora me deu os parabéns, me deu um beijo, disse que eu sou “uma parideira de verdade” (me ocorre que até então ele não confiava nisso) e cumprimentou o Rodrigo. Eu estava verdadeiramente agradecida. (Naquele momento, e até um ano e meio depois, quase tudo o que aconteceu me parecia normal, como tinha que ser. E mesmo hoje, com um conhecimento tão maior, uma mentalidade tão diferente, e tão mais empoderada do que neste dia, tenho muito afeto por este médico, que faz com muita seriedade e em grande parte com carinho, aquilo que acredita que deve fazer).
Por volta das 10:30h. começamos a avisar nossos familiares e amigos. Entramos num consenso sobre quem avisar primeiro. Liguei para minha mãe, deu sinal de ocupado umas duas vezes. Enquanto isso ela estava tentando me achar no celular, porque ninguém atendia ao telefone na nossa casa. Continuei insistindo (quando consegui, ela achou que eu estivesse retornando a ligação dela, e meses depois me perguntou quando é que eu pretendia avisar se ela não tivesse me ligado...). Ela atendeu, perguntou onde eu estava, engoli o choro e respondi “na Pró-Matre”, e eu logo disse: “estou olhando para o bebê mais lindo do mundo no colo do homem mais lindo do mundo”.
Depois o Rodrigo ligou para os pais dele, em seguida eu liguei para o meu pai, e fomos fazendo, um a um, os telefonemas importantes para nós. É comovente lembrar de cada um deles.
Meu marido estava mais lindo do que nunca, comovido, inteiro, mudado, agora ele era pai - os olhos molhados assim como os do Davi, irritados pelo colírio. Ficou sentado na poltrona com o Davi embrulhadinho no colo por mais de uma hora. Olhava para ele, sem fim. Falava baixinho com ele. Foi aí que começou a intimidade deles dois.
Eu estava um pouco zonza, além de limitada, por conta da posição deitada e do acesso do soro. Consegui segurar meu filhote um pouquinho, com um braço só, como se fosse uma baguete recheada – recheada de amor. O Digo bem observou que o Davi estava chorando bastante quando foi inicialmente entregue a nós, e que parou imediatamente ao ser colocado diante do meu rosto.
Em certo momento eu disse a uma auxiliar “eu queria dar de mamar” e ela “calma, daqui a pouquinho cê dá”. Achei que, como parte do protocolo, alguém viria justamente para isso em algum momento. Não aconteceu. Já mais de uma hora depois do nascimento, quando me ocorreu de tentar amamentá-lo, percebi que elevando a cabeça ficava com muita náusea. Chamamos uma auxiliar, que colocou uns paninhos no meu ombro, caso eu vomitasse, e nos ajudou a elevar a cama aos poucos. Demorou um pouco para a tontura melhorar, até dormi alguns minutos enquanto esperava.
Quando colocamos o Davi para mamar, ele lambeu e babou no meu peito. Deu umas sugadinhas. Graças à ideia de uma auxiliar nova que apareceu por lá, temos um videozinho desse momento. Pela empolgação dela, não devia ser algo comum de ocorrer.
O lado bom da história é que fomos esquecidos por algumas horas. Depois das 13:00h., uma auxiliar entrou nos perguntando a que horas o bebê tinha nascido, levou um susto com a resposta, disse: “não, ele não pode ficar aqui, tem que ir para a observação!” E alguém poderia observá-lo mais atentamente que seus próprios pais?
Fomos para o quarto e depois das 17:00h. o Davi chegou. Uma auxiliar me ajudou no banho, fiquei feliz porque poderia finalmente lavar meu cabelo, mas ela disse que seria melhor um banho rápido, e eu, muito frustrada, “obedeci”. Recebemos muitas visitas, algumas muito íntimas e esperadas, algumas surpresas, algumas nem conhecia e nunca mais vi. Ficamos por lá um dia a mais do que o previsto, porque o Davi teve icterícia e precisou ficar um dia em fototerapia. Esta terceira noite foi a única em que ele ficou no quarto permanentemente. Não entendo bem porque, nas duas noites anteriores ele ficou no berçário – fui convencida de que estava muito cansada e que seria melhor assim. Mas eu sempre quis alojamento conjunto, não sei como me rendi a mais essa concessão. Estava mesmo muito cansada, sentia meu corpo muito dolorido, “atropelado”. Era acordada pela equipe infinitas vezes, era acordada pelo telefone quando finalmente conseguia dormir... Sentia uma fome incrível. Na véspera da alta, quando meu médico fez a última visita (e me informou que não iríamos embora por conta da fototerapia) fiquei muito contrariada, triste, à beira das lágrimas. Ele percebeu o impacto que isso teve em mim e, ao sair do quarto, deu um passo para trás novamente e me disse “por favor, não fica preocupada que as coisas que acontecem com ele sejam culpa sua. Você já é uma mãezona, você já está fazendo um ótimo trabalho”. Boa parte da “lista de reclamações” que se seguiria desde o nascimento até o momento da alta tem mesmo relação com essa sensação de frustração, talvez de impotência/submissão que foi a experiência da estada na maternidade (dois exemplos: 1- o Davi ter recebido complemento alimentar – inicialmente água fervida, depois fórmula, mesmo contra minha vontade, oferecido no copinho com técnica muito inadequada; 2- a lembrança da maternidade ter vindo escrito “cesárea”, o que ilustra o que era “normal” ali). Mas prefiro ressaltar dois bons momentos: (1) nessa diária “extra” que tivemos, pudemos ficar ali apenas em família, nós três, já que as visitas todas achavam que tínhamos ido embora (apesar do nítido baby blues que se instalou em mim naquele dia). (2) A última noite foi exaustiva, o Davi não saía do peito, só chorava no bercinho, as enfermeiras me pressionavam a deixá-lo ali por conta das horas de exposição à luz. Eu sentia muita cólica ao amamentar, além da dor muscular no corpo e da dor nos mamilos. Lembro que às 3:00h. ele dormiu de bruços no meu colo, eu fiz o maior malabarismo possível para colocá-lo no bercinho naquela posição sem que ele acordasse (era a quinta tentativa) e ele ficou. Então, quando o Rodrigo dormia no sofá do acompanhante e o Davi no bercinho, senti uma alegria tão grande, uma verdadeira realização, meus dois meninos dormindo tranqüilos. Eu ouvia vozes e estava tonta, como quando ficava até de madrugada terminando um trabalho da faculdade, mas fiquei olhando para eles e agradecendo a Deus, até chorei. Dormi das 3:00 h. às 6:00h., quando vieram pegar o Davi para os exames no berçário.
Finalmente tivemos alta, voltamos para casa ouvindo o CD de canções de ninar que eu havia separado, eu no banco de trás ao lado do Davi, que dormiu o tempo todo na cadeirinha. Foi um percurso muito emocionante. Olhava para o Rodrigo pelo retrovisor, tão lindo, uma beleza que eu nunca tinha visto, ele era outro, estávamos muito mais unidos. Rezamos muito no caminho, a mesma ladainha que fizemos nos momentos mais duros do parto. Chegamos em casa e eu me ajoelhei em frente às imagens de Nossa Senhora da Doce Espera, Nossa Senhora do Bom Parto e de Santo Antonio de Santanna Galvão, acendi o Sírio Pascal e fiquei rezando e chorando. Enquanto isso o Rodrigo levou nosso Davi no colo, passeando pela casa, apresentando a ele todos os cômodos, com o maior carinho do mundo, até deixá-lo dormindo em seu quarto.
Não é à toa que só consigo encerrar este relato descrevendo nosso retorno à nossa casa; hoje sei que não precisávamos ter saído daqui para ter nosso filho amado nos braços***. Mas esta é apenas uma das primeiras experiências que tanto poderiam ser melhoradas, às quais o Davi nos dá a honra de viver, sendo nosso filho mais velho.
Para finalizar, transcrevo um trecho do primeiro e-mail que o Davi recebeu, enviado por um grande amigo, que diz:”(...) treine com eles [seus pais] sua paciência, seu perdão (você vai ver com eles vão errar) e, acima de tudo, o amor.” Que o Davi não se acanhe em multiplicar quantas vezes forem necessárias, para tudo na vida, as setenta vezes sete.
*Parto normal hospitalar ocorrido em 13/08/2007; relato escrito em março/2011.
**http://www.orkut.com.br/CommMsgs?cmm=1651309&tid=5265065760945861957&kw=Ina+may&na=3&nst=31&nid=1651309-5265065760945861957-5265255899155144638
*** Dois anos e dois meses depois, nasceu em casa o Pedro, irmãozinho do Davi.
***
Aline Elise, mãe do Davi, nascido de parto normal hospitalar, e do Pedro, nascido de parto domiciliar.
Leia também o relato de parto do Pedro.
Leia também o depoimento da Aline sobre a importância do grupo.
Leia também outros relatos de parto.
Ao ouvir estas palavras no Evangelho dia dos pais de 2007, as lágrimas rolaram no meu rosto. Eu também suplicava: “Senhor, dá-me um prazo!”. Passei a maior parte da missa sentada. Usava um casaco do Rodrigo, estava 18 quilos mais pesada, sensível, cansada, às 40 semanas e quatro dias da gestação do Davi.
Algumas pessoas haviam me dito que no dia do parto acordaram cheias de energia, fizeram faxina, lavaram cortinas. Mas eu acordava a cada dia me sentindo menos enérgica, mais cansada e mais pressionada. Os telefonemas me irritavam, as perguntas do tipo: “mas ainda não nasceu?” me ofendiam, me sentia de certa forma incompetente por ainda não ter parido.
Queria ficar no colo do meu marido, com meu filho no meu colo interno, e que o mundo se resumisse a isso até o trabalho de parto começar. Mas era dia dos pais, eu não tive coragem de assumir que queria um ninho particular e fui encontrar as pessoas, ouvir educadamente as perguntas e os comentários. E suportar a frustração por não ter, ainda, neste dia, parido um filho para o pai e um neto para os avós. Achava que os desejos de uma mãe não podiam ficar em primeiro lugar em pleno dia dos pais.
O Rodrigo entraria de férias dali a oito dias e tínhamos imaginado que o ideal seria que o Davi nascesse logo no início desta semana, para os cinco dias de licença paternidade serem justapostos às férias. Mas eu não sentia nada que indicasse que o Davi chegaria logo, não sentia nada além de um desamparo, porque se tudo continuasse assim, no dia seguinte o Rodrigo iria trabalhar e eu ficaria sozinha.
Passamos o almoço e parte da tarde fora, voltamos para casa à noitinha.Tomei banho, cochilei no sofá, onde o Digo assistia televisão, acordei perto das 22:30h. e fui ao banheiro. Senti uma umidade estranha. Não consegui parar mais quieta, ia ao banheiro a cada pouco. Coloquei um absorvente, depois achei que estava me atrapalhando, porque queria saber se existia ou não um líquido novo. Era incolor, mas a quantidade era tão pequena que ficava difícil para mim reconhecer o cheiro. O Rodrigo estava muito mais confuso do que eu.
Meu obstetra havia falado que, pelo tamanho da barriga e pela quantidade estimada de líquido amniótico, minha bolsa estouraria de uma vez só e seria muito evidente que isso teria acontecido. Mas a situação real não foi nem um pouco evidente. Fiquei sentada num banquinho bem baixo, como fizera tantas vezes nas últimas semanas, enquanto tentava descobrir com o Rodrigo o que estava acontecendo.
Resolvemos ligar para minha médica homeopata, que acompanhou todas as condutas da gestação, e que era a primeira profissional a quem eu recorria (embora ela já houvesse trabalhado com parto humanizado por algum tempo, não mais assistia partos). Eu estava envergonhada por telefonar, não queria incomodar “à toa”. Ela disse que é muito comum o trabalho de parto (TP) começar naquele horário e que deveríamos observar a frequência das contrações, sem pressa, e se necessário ligar para ela novamente.
Há alguns dias a barriga estava muito pesada e as contrações de Braxton Hicks eram bem mais incômodas. Mas não reconheci nitidamente os pródromos.
Deitei e pedi que o Rodrigo também deitasse, para podermos descansar caso tivéssemos que levantar à noite. Coloquei uma toalha de banho na cama, deixei o abajur aceso, agenda, caneta e relógio ao lado. A cada pouco (aproximadamente a cada dez ou oito minutos) sentia uma contração nitidamente nova, diferente das que vinham ocorrendo nos últimos tempos. Doía. Tendo em mente que deveria tentar dormir entre as contrações, fiquei deitada praticamente todo o tempo – até fiquei de quatro na cama algumas vezes, conforme tinha aprendido que seria melhor, mas o frio de uma madrugada de agosto, todo o meu peso e as dores corporais de um final de gestação me desestimulavam. Eu realmente não acreditava, não sabia que diferença a posição poderia ter feito.
Dormi entre as 00:22h. e as 0:45h., quando acordei com uma forte contração. Fui ao banheiro. Diferente do que tinha ouvido de muitas mulheres, meu intestino não funcionou, eu só fazia xixi, mas parecia me dar um grande alívio. Começou a aparecer um pouquinho de sangue quando me limpava, no banheiro.
Não consegui mais dormir. Fui ao escritório pegar um livro, um livreto e uma apostila, abri nas páginas que indicavam como detectar o TP e que atitudes tomar. Fiquei sentada na cama, anotando as contrações, observações (“movimentos do bebê diminuíram”, “sangue”, “dor nas costas do lado esquerdo”) e relendo o material, como se no dia seguinte tivesse uma prova importante. E realmente tinha, no fundo era assim que eu encarava.
Anos depois uma amiga comentou sobre essa minha “fantasia de controle”, a tentativa de controlar o incontrolável.
Em algum momento o Rodrigo acordou e disse “tudo bem? Descansa, viu?”. Eu não respondi, só olhei pra ele, contente com seu cuidado, mas achando as duas colocações descabidas: como assim, tudo bem? E como assim, descansa?
O Rodrigo dormindo ao meu lado, eu entre preocupada em não acordá-lo e torcendo para ele me fazer companhia – ou, principalmente, tomar atitudes por mim. Por voltas das 2:00h., acordei-o e disse que queria ligar para a médica. As contrações estavam com intervalos entre sete e dez minutos e durando por volta de trinta segundos. Ele titubeou em pegar o telefone, será que estava esperando que eu fosse até a sala e pegasse? E se estivesse, porque não? Porque será que eu não andava, ficava ali sentada na cama, plantada? Ele foi pegar o telefone, deitou novamente. Eu acho que eu queria que ele falasse com a médica, mas não cheguei a pedir. Não tive mais a vergonha de telefonar para a casa dela de madrugada, agora eu sabia que era “sério”. Quando desliguei o telefone ele já estava dormindo, mas semiacordou e perguntou: “amanhã eu não vou trabalhar?”, eu ri da pergunta e ele justificou “eu preciso saber por causa da roupa!”. Ri mais ainda e até anotei essa fala na agenda, ao lado das contrações.
Minha médica orientou que eu descansasse e saísse para o hospital em duas horas, depois de comer algo leve e tomar um banho. Também disse para eu não comentar sobre a perda de líquido, o que me deixou um pouco tensa – eu sabia que informar sobre a bolsa rota poderia levar a procedimentos desnecessários e me transformar mais ainda numa bomba relógio, mas tenho a maior dificuldade em disfarçar uma mentira (o que ficou muito mais difícil ainda quando estive em trabalho de parto).
Parei de anotar as contrações, isso foi libertador, mas foi um pouco angustiante ficar apenas esperando, eu ficava lembrando se faltava alguma coisa nas malas, verificando, tentava ficar deitada, mas a cada vez as contrações doíam mais.
Às 3:30h. resolvi ir tomar banho. Tive três contrações durante os poucos minutos em que fiquei no chuveiro e me assustei, comecei a me apressar. Poderia ter aproveitado para lavar o cabelo, mal sabia eu o quanto isso ia demorar e me fazer falta, mas não cheguei nem perto de aproveitar os benefícios de uma ducha quente, que pena...
O Rodrigo acordou quando comecei o banho e perguntou o que eu estava fazendo, sem entender nada. Eu não tinha dito a ele sobre a orientação da médica, não lembro bem ao certo o motivo, mas acho que eram dois: era muito difícil falar sentindo as dores e ele estava querendo dormir.
Ele foi colocar algumas coisas na mala, eu me vesti, fui tomar chá com torradas, não sabia se podia passar manteiga, nem o quanto podia comer. Não comi por fome, mas porque fui orientada a isso. Mas foi bom, porque não me lembro de ter sentido fome no restante do TP.
Andando pela casa, tomando o elevador, andando na garagem, as contrações eram mais freqüentes e fortíssimas. Eu abaixava o tronco, o Rodrigo massageava a região lombar, não sei dizer se essas atitudes melhoravam a dor, o que mais me incomodava era imaginar como seria sofrido andar de carro desse jeito.
Tinha separado um CD de músicas de ninar para escutar no carro, no caminho para a maternidade. Mas não quis ouvir nada, fomos em silêncio. As contrações simplesmente pararam: nosso percurso começou pouco depois das 4:00h. e chegamos ao hospital por volta das 5:00h., ainda escuro. Nesse período, ocorreram apenas duas contrações. Fiquei entre aflita e frustrada, não queria que fosse um alarme falso e tivéssemos que voltar para casa e esperar tudo acontecer de novo, eu queria que o Davi nascesse! No final do percurso conversávamos sobre as pessoas que andavam na rua, e até chegamos a rir pensando no que diríamos ao chegar lá no hospital, sem sinal de TP.
Mas ao primeiro movimento para descer do carro uma contração fortíssima me travou. Fui andando curvada, um segurança simpático me ofereceu uma cadeira de rodas, mas fiquei indignada pensando “ele não sabe que é bom andar?” e apavorada pensando na dor que sentiria ao sentar.
Chegamos ao balcão de admissão, fiquei ao lado do Rodrigo naquele demorado processo de preenchimento de fichas, apoiada no balcão. A cada contração eu me abaixava e ele massageava minhas costas. As recepcionistas perguntavam se eu já estava sentindo contrações – quanta sensibilidade! Me “convidaram” várias vezes a ir sentar, até que em certo momento, quando o Rodrigo me pediu, vencido pela insistência delas, eu fui. Sentada era mais dolorido e mais solitário.
Se não me engano tive que ir de cadeira de rodas para a sala de exames, era norma do hospital. Uma enfermeira com a qual simpatizei fez muitas perguntas, eu não sabia o que tinha que responder, estava insegura até sobre a idade gestacional (40 semanas e 5 dias), não tinha idéia clara sobre qual momento do TP estava, tinha que omitir a questão do líquido, mas estava muitíssimo controlada. O Rodrigo demorou bastante para chegar lá.
Fui ao banheiro tirar a roupa a pedidos da enfermeira. Lá, vi que continuava saindo um pouco de líquido. Voltei, deitei na maca para fazer o cardiotoco, a enfermeira pediu que eu apertasse o botão quando as contrações começavam e terminavam. Parecia uma pêra de audiometria, o que me remeteu a tantas coisas (sou fonoaudióloga), me senti testada, avaliada pelo meu desempenho, não consegui fazer isso direito, mas ela disse que estava dando para perceber bem as contrações pelo traçado.
Ela fez o exame de toque, ficou com uma expressão satisfeita e me disse “está com sete centímetros!”, quase me dando os parabéns. Fiquei emocionada e aliviada.
A enfermeira telefonou para o meu médico, eu fiquei com a sensação de “mas já? será que não é muito cedo para ele vir?”. Conforme escutava ela me descrever fiquei com a sensação de “não é bem assim...”. Tentei completar algumas respostas que tinha dado, mas, enquanto esteve ao telefone ela não me deu atenção.
Chegou uma outra enfermeira, superior a essa, mais séria, muito menos simpática e disse alguma coisa para a colega sobre “falsas contrações” mostrando o traçado do cardiotoco. Fiquei irritada. Em seguida vi que o Rodrigo estava lá, atrás de um tapume bege, comecei a chorar, queria que ele viesse segurar minha mão, mas atrapalhava um pouco a circulação das enfermeiras, queria falar com ele a sós, ficava sussurrando, contando o que tinha acontecido, entre dores fortes, e ele não entendia direito.
Fui ao banheiro vestir o avental para subir para a suíte de parto normal (LDR). Houve uma preocupação prática, um medo de perder minhas coisas, esquecer alguma peça de roupa por lá, algo que não queria que passasse pela minha cabeça nesta hora.
Tinha conhecido duas enfermeiras obstetrizes daquela maternidade e torcia para que fosse um desses o rosto a me receber. Tive uma contração muito forte na hora em que destrancaram a porta de acesso a essa parte em que ficava a LDR e não conseguia/queria andar. A pessoa que me acompanhava me “forçou” a continuar andando e entrar. Um rosto desconhecido, mas simpático, me recebeu, me senti bem, como se dali para a frente os profissionais saberiam o que fazer de acordo com o que era exposto no curso de gestantes da maternidade – mas estava enganada...
Logo houve a troca de plantão e a enfermeira obstetriz que chegou não me inspirou a mesma empatia que a anterior, aliás, não fez nenhum vínculo comigo, talvez tenha dito seu nome, mas apenas formalmente. Muitas auxiliares de enfermagem passavam pela sala, me incomodava a inconstância de rostos desconhecidos, eu não sabia quem era quem, o que estavam fazendo ali...
O Rodrigo apareceu todo vestido de azul, me ajudou a colocar nossas coisas num cantinho. Lembramos da máquina fotográfica, não lembrávamos onde estava, levamos uma bronca porque não podíamos ficar saindo de lá para pegar nada...
Me pediram para deitar na maca e fizeram um procedimento abominável de assepsia com clorexidina aquosa. Senti um ardor horrível, uma vontade muito forte de urinar, talvez tenha sido o maior incômodo de todo o trabalho de parto, porque o efeito perdurou até não sei que momento. (Nunca foi bem esclarecido porque isso aconteceu, porque mais tarde quando comentei com o médico ele me disse apenas: “não, clorexidina aquosa não arde”, resposta esta que me deixou indignada, porque eu sei o que senti. Futuramente uma profissional da área levantou a hipótese de ter ocorrido engano quanto à substância, e ter sido administrada clorexidina alcoólica, esta sim arderia muito).
Pedi para ir ao banheiro, foi a última vez antes do parto que pude fazer isso sem aquele cabide todo do acesso venoso junto. Fazendo xixi parecia melhorar um pouco o ardor, mas assim que parava, voltava a arder muito. Queria ficar sentada ali. Queria que o Rodrigo ficasse por perto, mas tinha gente entrando e saindo, não sei o que tanto tinha que ser feito por lá. Em certo momento uma auxiliar de enfermagem, já senhora, me disse que eu não podia ficar ali que deveria ir me deitar. Perguntei se eu não iria poder me movimentar, ela disse que sim, mas depois.
Tinha uma banheira e um chuveiro bem à minha frente, mas não foram usados; a explicação também não ficou muito clara, acho que disseram que no meu caso atrapalharia o andamento do TP. Hoje penso que simplesmente poderia fazer tudo demorar mais para as agendas dos profissionais – mas eu, o Rodrigo e o Davi não tínhamos horário marcado para nada...
Tive que voltar para a maca, instalaram soro, cardiotoco, talvez mais alguma coisa que eu não lembro. A enfermeira obstetriz pouco simpática fez o exame de toque e disse que a dilatação estava em cinco centímetros. Arregalei meus olhos.
Meu médico chegou, foi bom vê-lo, me senti segura. Repetiu o exame, chegando à mesma conclusão sobre a dilatação. Fizeram caras e comentários sobre a inexperiência da pessoa que fizera o primeiro toque. Por muito tempo essa situação me incomodou. Anos depois li uma entrevista com a parteira Ina May, sobre a progressão do trabalho de parto, que finalmente me satisfez**.
Perguntei alguma coisa para o médico e ele tentou tranquilizar-me, dizendo que estava evoluindo bem.
Ele entrava e saía do quarto. Foi bom porque finalmente pude ficar um pouco a sós com o Rodrigo. Ele sentado na escadinha ao lado da cama, segurando minha mão esquerda. A cada contração eu apertava muito a mão dele. Nos intervalos, rezávamos. Eu pedia para ele rezar baixinho quando eu não conseguia falar. Muitas vezes fizemos uma ladainha, eu evocava o santo e ele dizia “rogai por nós!”. Lembrei de tantos santos, naquela época eles ficaram tão íntimos a mim! Desde o começo da gestação eu tinha uma angústia ao anoitecer e aproveitava para encerrar as atividades do dia e descansar acompanhando a reza do terço pela televisão. Fui de uma fidelidade afetiva durante os meses, aquele momento me confortava e alimentava, era como se eu e o Davi estivéssemos finalmente no lugar certo. Essa intimidade com a oração foi um dos pontos altos da gravidez e nos acompanhou no momento de certa forma cheio de estranheza que estava sendo o parto.
O médico sentou em seu banquinho “bem localizado”, diante do túnel por onde meu bebê passaria, naquela inesquecível, submissa e desconfortável posição de litotomia, e, depois de me informar o que faria, estourou a bolsa com um instrumento muito semelhante a uma longa agulha de crochê. Teve que fazer força e tentou umas três vezes, todas muito doloridas. A bolsa explodiu, como ele dissera que ocorreria se estourasse espontaneamente. Eu não sabia que uma rotura alta, como aquela com que eu estava, por estar perdendo líquido em pequena quantidade, permitiria que a bolsa se mantivesse tão resistente. Doeu muitíssimo, uma dor profunda, somada ao desconforto do ardor preexistente. Sentir a água quente saindo foi uma pitada de conforto.
Tantas vezes durante o pré-natal eu tinha falado com meu médico sobre meus “desejos” (sem ocitocina, sem episiotomia, anestesia apenas se e quando eu pedisse) e ele respondeu que só faria se realmente necessário. Sem que ele introduzisse o assunto, vi que algo estava sendo colocado no soro e perguntei a ele, ele respondeu “ocitócito, só um pouquinho”.
A partir daí as contrações foram ficando terríveis. Uma se sobrepunha à outra. Eu apertava a mão do Rodrigo com muita força, sei que ele queria dividir aquela dor comigo se fosse possível. Tentava respirar da forma como tinha aprendido no curso de gestantes, mas estava muito cansada, aflita, não via efeito. Durante um desses episódios de respiração “desesperada” o médico entrou e disse que eu deveria parar de respirar assim, que não ia adiantar e eu ficaria com dor de garganta. Minha garganta estava mesmo muito seca. Seria tão melhor se ele tivesse me oferecido água e feito alguma sugestão delicada quanto à respiração – que, por mais que estivesse inadequada e ineficaz, era meu único instrumento para enfrentar, em decúbito dorsal, as dores da ocitocina sintética.
Ele chamou o Rodrigo para fora da sala. Na hora achei que ele estivesse querendo “salvar” o Rodrigo, porque ele estava sofrendo junto comigo. Fiquei um pouco confusa, pensando se o meu marido estava pior do que eu, o que não parecia, mas acabei achando que não podia ser egoísta e querer prendê-lo ali se não estava fazendo bem para ele. Não soube naquele momento o que aconteceu, mas depois de alguns dias, quando o Rodrigo me contou, achei uma estratégia covarde do médico: o médico mostrou a ele os gráficos indicativos dos picos de contração das três mulheres que estavam em trabalho de parto ali no momento. Uma delas passava por seu terceiro parto normal, seus picos tinham amplitude três vezes maior que a dos meus e, segundo o médico, ela estava muito serena. Disse isso para convencer o Rodrigo de que meu limiar de dor era baixo e que a anestesia me beneficiaria muito.
Quando o Rodrigo voltou, me senti muito melhor. Era muito difícil ficar sozinha, me faltava o ar. As contrações chegavam a se sobrepor. Eu perguntei o que aconteceu lá fora e ele disse que o médico tinha mostrado um papel que marcava as minhas dores. Disse que estava impressionado como eu estava suportando, que eu era muito forte, que tinha orgulho de mim.
O médico veio conversar comigo e disse que chamaria o anestesista porque eu estava sentindo muita dor e a anestesia iria facilitar o parto. Não me opus. (Mas eu tinha deixado tão claro que queria anestesia se eu pedisse! Por algum motivo ainda achava que não estava no meu limite. E quem poderia saber disso melhor do que eu?!)
Enquanto esperávamos pelo anestesista comecei a sentir os puxos – que na hora não sabia o que eram. Via minha barriga descendo em trancos conforme a dor apertava extraordinariamente, eu expirava involuntariamente quando isto acontecia.
O anestesista era de uma presença confortante, de um olhar humano. Ficamos apenas os dois médicos e eu na LDR durante a aplicação da analgesia combinada. Sentei na maca com a ajuda do meu médico. Ficar na posição adequada para a colocação do cateter (o médico segurando meus ombros e todo o peso das minhas costas solto no topo da cabeça, que eu apoiava nele) foi confortante, me senti acolhida.
Quando, deitada novamente na cama, senti a analgesia pegar, fiquei muito mais descontraída. Lembro de ter dito, com um tom bem humorado, que há meses eu não sentia minhas pernas relaxadas. Eu tinha sensação um pouco reduzida, mas presente, tinha pouca força para movimentação, mas não sentia absolutamente nenhuma dor: nem das contrações, nem do cansaço muscular, nem as dores posturais do final da gravidez, das quais já estava até enjoada. Foi um grande alívio.
O Rodrigo voltou. Foi orientado a ficar do meu lado direito, não dava mais para segurar bem a mão dele porque meu braço direito estava preso no soro. Ele tocava na minha cabeça e no meu rosto.
A cada pouco levavam para o banheiro uma pazinha com o “número dois”, como meu médico discretamente se referia ao que eu vinha eliminando já há algum tempo – em grande quantidade. No começo fiquei encabulada, realmente não conseguia perceber se/quando estava acontecendo, perguntava para o Rodrigo, como que querendo que ele negasse, mas ele só me dizia “não se preocupa com isso”.
O médico me pediu para fazer uma força. Instruiu-me a segurar nas barras da cama, falou em “força do remador”, disse alguma coisa sobre a respiração. Nada disso me era familiar. Eu estava muito preparada para fazer força do jeito que eu tinha aprendido no curso de gestantes, fiquei um pouco frustrada em ter que fazer diferente, comentei alguma coisa como “mas não é assim que eu sei” e ele foi condescendente: “então faz como você sabe”. Eu fiz. Dei tudo de mim. Aproveitei as tais barras, de improviso, e fiz a maior força do mundo com os braços, somada à força necessária, no abdome, que eu treinara tão bem. A expressão do médico se iluminou. Ele elogiou, animado, “aêee!”.
Até este momento o Davi não havia encaixado. Estava cefálico, dorso à esquerda, há muitas semanas, mas alto. Mesmo com a progressão do TP, ele permanecia alto. Vê-lo encaixando durante a contração, com a força que fiz, deve ter sido uma surpresa para o médico, que em algum momento deixou escapar “eu não pensei que ele fosse descer assim”.
Nesta hora me passou pela cabeça a ameaça da cesárea, como um flash, e a dúvida ameaçadora, “será que agora ele não vai mais pensar nisso?”.
Fiz algumas outras forças médias (o médico orientando que não precisava ser das maiores), a sala foi enchendo de gente novamente, o médico disse “tô fazendo a episio“. Procurei não me deter muito neste aspecto, porque tinha algo imenso acontecendo, meu filho ia nascer, porém me senti traída na hora – e hoje me sinto muito mais!
Então, com toda aquela plateia, o médico ia orientando as forças e eu fazendo a minha parte com todo empenho, dedicação e superação. Algumas enfermeiras que eu não sei de onde surgiram faziam coro dizendo “agora pára”, “agora vai, força, força, agora não pode parar!”. Achei aquilo minimamente indelicado e me deu um milésimo de segundo de raiva “quem disse que eu vou parar?”. Quem estava mais interessada em que meu filho nascesse?! Eu, suponho! Mas obedeci e fiz uma força muito comprida, provavelmente contra a minha natureza caso eu estivesse sentindo as contrações e os puxos.
O Davi apontou com o cotovelinho direito ao lado da cabeça (posição em que, por muitos meses depois de nascido ele adorou dormir), o médico deteve o cotovelinho (disse: “por isso que não descia!”) e a cabecinha nasceu, e depois, em outra força, o corpinho. Não senti ao certo quando ele “terminou” de nascer. Estranho, todos ali sabiam exatamente o que estava acontecendo, menos eu. O médico disse “meninão lindo!”. Ouvimos seu choro, forte, porém breve, o que fez com que, na metade do caminho até mim, a pediatra o requisitasse de volta...
Eu chorava e ria, alto, soluçava aliviada. Perguntei “tá tudo bem? Tá tudo bem com ele?” Vezes consecutivas. Pareciam não ter me ouvido, ou estavam esperando ter uma resposta para me dar... Comecei a agradecer, naquela hora agradecia ao médico, à equipe, mesmo.
O Digo disse, com os olhos cheios d’água, assim que o viu “é a sua cara, Lila”. Eu olhei e disse, chorando, “é mesmo!”. Era uma evidência, não tinha o que contestar.
O médico disse o horário do nascimento, 9:37h. Os profissionais chutaram o peso, acertou quem se aproximou mais de 3,775 Kg.
A pediatra “alugou” nosso bebê por alguns instantes, o Rodrigo e outros expectadores profissionais desconhecidos vendo tudo. Depois de entregar o Davi para as auxiliares enrolarem-no e colocarem a touquinha da maternidade, ela veio me dar os parabéns, dizer que estava tudo bem com ele, que “só o chorinho demorou um pouquinho pra engatar, por isso eu peguei ele de volta”. Sinceramente não sei por quais procedimentos o Davi passou. Sei que recebeu vitamina K injetável, colírio nitrato de prata. Talvez o Rodrigo se lembre se foi aspirado, esfregado.
Logo a placenta saiu, o médico me avisou. Não me lembro de ter feito força para isso, acho que ele tracionou. Pedi, “posso ver?”. Repeti o pedido. Tenho praticamente certeza de que ele ouviu. Mas não respondeu nada, nem olhou para mim. Senti uma estranheza. Aquela placenta não era minha e de meu bebê? O médico comentou, para os colegas, que estava íntegra.
Começou a suturar a episio sem dizer nada. No meio do meu riso-choro apareciam uns “ai”s, e quando ele reconheceu que eram de dor, me perguntou se eu sabia o que ele estava fazendo. Respondi que sim – sabia nitidamente. Ele avisou o anestesista e continuou a sutura apenas depois do ajuste da anestesia.
Antes de ir embora me deu os parabéns, me deu um beijo, disse que eu sou “uma parideira de verdade” (me ocorre que até então ele não confiava nisso) e cumprimentou o Rodrigo. Eu estava verdadeiramente agradecida. (Naquele momento, e até um ano e meio depois, quase tudo o que aconteceu me parecia normal, como tinha que ser. E mesmo hoje, com um conhecimento tão maior, uma mentalidade tão diferente, e tão mais empoderada do que neste dia, tenho muito afeto por este médico, que faz com muita seriedade e em grande parte com carinho, aquilo que acredita que deve fazer).
Por volta das 10:30h. começamos a avisar nossos familiares e amigos. Entramos num consenso sobre quem avisar primeiro. Liguei para minha mãe, deu sinal de ocupado umas duas vezes. Enquanto isso ela estava tentando me achar no celular, porque ninguém atendia ao telefone na nossa casa. Continuei insistindo (quando consegui, ela achou que eu estivesse retornando a ligação dela, e meses depois me perguntou quando é que eu pretendia avisar se ela não tivesse me ligado...). Ela atendeu, perguntou onde eu estava, engoli o choro e respondi “na Pró-Matre”, e eu logo disse: “estou olhando para o bebê mais lindo do mundo no colo do homem mais lindo do mundo”.
Depois o Rodrigo ligou para os pais dele, em seguida eu liguei para o meu pai, e fomos fazendo, um a um, os telefonemas importantes para nós. É comovente lembrar de cada um deles.
Meu marido estava mais lindo do que nunca, comovido, inteiro, mudado, agora ele era pai - os olhos molhados assim como os do Davi, irritados pelo colírio. Ficou sentado na poltrona com o Davi embrulhadinho no colo por mais de uma hora. Olhava para ele, sem fim. Falava baixinho com ele. Foi aí que começou a intimidade deles dois.
Eu estava um pouco zonza, além de limitada, por conta da posição deitada e do acesso do soro. Consegui segurar meu filhote um pouquinho, com um braço só, como se fosse uma baguete recheada – recheada de amor. O Digo bem observou que o Davi estava chorando bastante quando foi inicialmente entregue a nós, e que parou imediatamente ao ser colocado diante do meu rosto.
Em certo momento eu disse a uma auxiliar “eu queria dar de mamar” e ela “calma, daqui a pouquinho cê dá”. Achei que, como parte do protocolo, alguém viria justamente para isso em algum momento. Não aconteceu. Já mais de uma hora depois do nascimento, quando me ocorreu de tentar amamentá-lo, percebi que elevando a cabeça ficava com muita náusea. Chamamos uma auxiliar, que colocou uns paninhos no meu ombro, caso eu vomitasse, e nos ajudou a elevar a cama aos poucos. Demorou um pouco para a tontura melhorar, até dormi alguns minutos enquanto esperava.
Quando colocamos o Davi para mamar, ele lambeu e babou no meu peito. Deu umas sugadinhas. Graças à ideia de uma auxiliar nova que apareceu por lá, temos um videozinho desse momento. Pela empolgação dela, não devia ser algo comum de ocorrer.
O lado bom da história é que fomos esquecidos por algumas horas. Depois das 13:00h., uma auxiliar entrou nos perguntando a que horas o bebê tinha nascido, levou um susto com a resposta, disse: “não, ele não pode ficar aqui, tem que ir para a observação!” E alguém poderia observá-lo mais atentamente que seus próprios pais?
Fomos para o quarto e depois das 17:00h. o Davi chegou. Uma auxiliar me ajudou no banho, fiquei feliz porque poderia finalmente lavar meu cabelo, mas ela disse que seria melhor um banho rápido, e eu, muito frustrada, “obedeci”. Recebemos muitas visitas, algumas muito íntimas e esperadas, algumas surpresas, algumas nem conhecia e nunca mais vi. Ficamos por lá um dia a mais do que o previsto, porque o Davi teve icterícia e precisou ficar um dia em fototerapia. Esta terceira noite foi a única em que ele ficou no quarto permanentemente. Não entendo bem porque, nas duas noites anteriores ele ficou no berçário – fui convencida de que estava muito cansada e que seria melhor assim. Mas eu sempre quis alojamento conjunto, não sei como me rendi a mais essa concessão. Estava mesmo muito cansada, sentia meu corpo muito dolorido, “atropelado”. Era acordada pela equipe infinitas vezes, era acordada pelo telefone quando finalmente conseguia dormir... Sentia uma fome incrível. Na véspera da alta, quando meu médico fez a última visita (e me informou que não iríamos embora por conta da fototerapia) fiquei muito contrariada, triste, à beira das lágrimas. Ele percebeu o impacto que isso teve em mim e, ao sair do quarto, deu um passo para trás novamente e me disse “por favor, não fica preocupada que as coisas que acontecem com ele sejam culpa sua. Você já é uma mãezona, você já está fazendo um ótimo trabalho”. Boa parte da “lista de reclamações” que se seguiria desde o nascimento até o momento da alta tem mesmo relação com essa sensação de frustração, talvez de impotência/submissão que foi a experiência da estada na maternidade (dois exemplos: 1- o Davi ter recebido complemento alimentar – inicialmente água fervida, depois fórmula, mesmo contra minha vontade, oferecido no copinho com técnica muito inadequada; 2- a lembrança da maternidade ter vindo escrito “cesárea”, o que ilustra o que era “normal” ali). Mas prefiro ressaltar dois bons momentos: (1) nessa diária “extra” que tivemos, pudemos ficar ali apenas em família, nós três, já que as visitas todas achavam que tínhamos ido embora (apesar do nítido baby blues que se instalou em mim naquele dia). (2) A última noite foi exaustiva, o Davi não saía do peito, só chorava no bercinho, as enfermeiras me pressionavam a deixá-lo ali por conta das horas de exposição à luz. Eu sentia muita cólica ao amamentar, além da dor muscular no corpo e da dor nos mamilos. Lembro que às 3:00h. ele dormiu de bruços no meu colo, eu fiz o maior malabarismo possível para colocá-lo no bercinho naquela posição sem que ele acordasse (era a quinta tentativa) e ele ficou. Então, quando o Rodrigo dormia no sofá do acompanhante e o Davi no bercinho, senti uma alegria tão grande, uma verdadeira realização, meus dois meninos dormindo tranqüilos. Eu ouvia vozes e estava tonta, como quando ficava até de madrugada terminando um trabalho da faculdade, mas fiquei olhando para eles e agradecendo a Deus, até chorei. Dormi das 3:00 h. às 6:00h., quando vieram pegar o Davi para os exames no berçário.
Finalmente tivemos alta, voltamos para casa ouvindo o CD de canções de ninar que eu havia separado, eu no banco de trás ao lado do Davi, que dormiu o tempo todo na cadeirinha. Foi um percurso muito emocionante. Olhava para o Rodrigo pelo retrovisor, tão lindo, uma beleza que eu nunca tinha visto, ele era outro, estávamos muito mais unidos. Rezamos muito no caminho, a mesma ladainha que fizemos nos momentos mais duros do parto. Chegamos em casa e eu me ajoelhei em frente às imagens de Nossa Senhora da Doce Espera, Nossa Senhora do Bom Parto e de Santo Antonio de Santanna Galvão, acendi o Sírio Pascal e fiquei rezando e chorando. Enquanto isso o Rodrigo levou nosso Davi no colo, passeando pela casa, apresentando a ele todos os cômodos, com o maior carinho do mundo, até deixá-lo dormindo em seu quarto.
Não é à toa que só consigo encerrar este relato descrevendo nosso retorno à nossa casa; hoje sei que não precisávamos ter saído daqui para ter nosso filho amado nos braços***. Mas esta é apenas uma das primeiras experiências que tanto poderiam ser melhoradas, às quais o Davi nos dá a honra de viver, sendo nosso filho mais velho.
Para finalizar, transcrevo um trecho do primeiro e-mail que o Davi recebeu, enviado por um grande amigo, que diz:”(...) treine com eles [seus pais] sua paciência, seu perdão (você vai ver com eles vão errar) e, acima de tudo, o amor.” Que o Davi não se acanhe em multiplicar quantas vezes forem necessárias, para tudo na vida, as setenta vezes sete.
*Parto normal hospitalar ocorrido em 13/08/2007; relato escrito em março/2011.
**http://www.orkut.com.br/CommMsgs?cmm=1651309&tid=5265065760945861957&kw=Ina+may&na=3&nst=31&nid=1651309-5265065760945861957-5265255899155144638
*** Dois anos e dois meses depois, nasceu em casa o Pedro, irmãozinho do Davi.
***
Aline Elise, mãe do Davi, nascido de parto normal hospitalar, e do Pedro, nascido de parto domiciliar.
Leia também o relato de parto do Pedro.
Leia também o depoimento da Aline sobre a importância do grupo.
Leia também outros relatos de parto.
11 de maio de 2011
Acompanhante no parto - e sem pagar taxas
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) é o órgão do governo federal encarregado de regular e fiscalizar o setor suplementar de saúde, que a gente conhece como planos de saúde, seguros de saúde ou ainda como convênios médicos. É a ANS quem define, entre outras coisas, o que o plano de saúde deve obrigatoriamente cobrir - exames, tratamentos, internações. Essa lista de itens de cobertura obrigatória chama-se "rol de procedimentos" e é muito importante, pois é a única garantia que as usuárias de plano de saúde têm de que, pagando convênio médico, terão acesso a tal e tal item, se precisarem.
A ANS vai atualizar esse rol de procedimentos e até dia 14 deste mês todos os cidadãos podem dar pitacos sobre o assunto. Então, estamos convidando todas as pessoas, homens e mulheres, usuários ou não de planos de saúde, a participar! O que nós queremos? Queremos que os planos de saúde sejam obrigados a cobrir a presença de um acompanhante no pré-parto, parto e pós-parto, como determina a lei. Isso mesmo, queremos apenas que os hospitais e os convênios cumpram a lei, sem subterfúgios. Atualmente, muitos hospitais cobram uma taxa para que o acompanhante possa estar na sala de parto, com a desculpa de que se trata de "taxa de paramentação", ou seja, o acompanhante precisa pagar para usar aquela roupa de centro cirúrgico toda esquisita, mesmo que o parto não seja no centro cirúrgico. E se não pagar pra usar essa roupa, não pode ficar com a parturiente. Isso é uma vergonha!
Recentemente, no Estado de São Paulo, a cobrança dessa taxa foi proibida por meio da lei 14.396, de 11 de abril de 2011, conforme noticiamos aqui. Mas para que nenhuma mulher no país seja obrigada a pagar para ter um acompanhante de sua escolha, precisamos incluir esse item no rol de procedimentos da ANS.
Além disso, queremos que a presença do acompanhante seja garantida desde o pré-parto até o pós-parto imediato, que uma lei anterior definiu como o período que se estende até 10 dias após o parto. Isso é muito importante também, pois atualmente a preseça do acompanhante só é coberta pelo plano de saúde por 24 horas após o parto. Desnecessário dizer que esse tempo é insuficiente para que a maioria das mulheres receba alta da maternidade. Se houver necessidade de acompanhamento intensivo da mulher ou do bebê, então, nem se fale...
E como fazemos para participar? Basta seguir o tutorial elaborado pela Cris Kiki, reproduzido a seguir. Depois, vamos continuar acompanhando o trâmite dessa história, para que nossos direitos sejam garantidos!
Vamos lá?
***
Precisamos participar para que os planos de saúde estejam explicitamente obrigados a cobrir as despesas de paramentação do acompanhante e também que o acompanhante possa estar ao lado da parturiente pelo tempo garantido por lei. De acordo com a legislação, o direito à presença do acompanhante é desde o pré-parto, parto e 10 dias após o parto... mas de acordo com o Rol antigo, os planos de saúde estão obrigados a cobrir as despesas de apenas 24h após o parto.
Qualquer pessoa pode participar. Precisamos fazer uma chuva de solicitações para que o direito ao acompanhante esteja de fato incluído no Rol de Procedimentos! Vale a pena entrar lá, preencher e enviar... é um formulário no site da ANS.
Aqui vai um pequeno guia. Mas fiquem à vontade para preencher da forma que acharem necessário. Repassem para seus contatos, e para quem vocês conhecem que precisaram pagar taxa para o acompanhante, e para quem é contra essa cobrança indevida.
Tutorial para participar da Consulta Pública
Entre no site da ANS sobre a Consulta Pública nº 40:
http://www.ans.gov.br/index.php/participacao-da-sociedade/consultas-publicas/529-consulta-publica-40#
(se o seu navegador estiver com problemas no preenchimento do formulário, tente outro navegador)
Preencha os campos abaixo:
Tipo de Usuário: Consumidor
...
Tipo de Contribuição: Alteração de artigo de Resolução Normativa
Selecione o Artigo a ser alterado: Art. 19º
Insira a alteração do Artigo selecionado: (copie e cole)
I - cobertura das despesas, incluindo acomodação, alimentação e paramentação quando necessária relativas ao acompanhante indicado pela mulher durante o pré-parto, parto e até 10 dias do pós-parto, de acordo com a Lei 11.108, de 7 de abril de 2005, ou outra que venha a substituí-la.
Justificativa: (copie e cole)
Hospitais estão realizando cobrança do usuário referente à "taxa de paramentação do acompanhante" como condição para que o acompanhante possa estar presente no parto. Essa taxa deve ser cobrada do plano de saúde.
E de acordo com a Portaria 2.418 de 2005 que regulamenta a Lei Federal nº 11.108/05, o "pós-parto imediato" citado na referida lei foi definido como os primeiros 10 dias após o parto.
A ANS vai atualizar esse rol de procedimentos e até dia 14 deste mês todos os cidadãos podem dar pitacos sobre o assunto. Então, estamos convidando todas as pessoas, homens e mulheres, usuários ou não de planos de saúde, a participar! O que nós queremos? Queremos que os planos de saúde sejam obrigados a cobrir a presença de um acompanhante no pré-parto, parto e pós-parto, como determina a lei. Isso mesmo, queremos apenas que os hospitais e os convênios cumpram a lei, sem subterfúgios. Atualmente, muitos hospitais cobram uma taxa para que o acompanhante possa estar na sala de parto, com a desculpa de que se trata de "taxa de paramentação", ou seja, o acompanhante precisa pagar para usar aquela roupa de centro cirúrgico toda esquisita, mesmo que o parto não seja no centro cirúrgico. E se não pagar pra usar essa roupa, não pode ficar com a parturiente. Isso é uma vergonha!
Recentemente, no Estado de São Paulo, a cobrança dessa taxa foi proibida por meio da lei 14.396, de 11 de abril de 2011, conforme noticiamos aqui. Mas para que nenhuma mulher no país seja obrigada a pagar para ter um acompanhante de sua escolha, precisamos incluir esse item no rol de procedimentos da ANS.
Além disso, queremos que a presença do acompanhante seja garantida desde o pré-parto até o pós-parto imediato, que uma lei anterior definiu como o período que se estende até 10 dias após o parto. Isso é muito importante também, pois atualmente a preseça do acompanhante só é coberta pelo plano de saúde por 24 horas após o parto. Desnecessário dizer que esse tempo é insuficiente para que a maioria das mulheres receba alta da maternidade. Se houver necessidade de acompanhamento intensivo da mulher ou do bebê, então, nem se fale...
E como fazemos para participar? Basta seguir o tutorial elaborado pela Cris Kiki, reproduzido a seguir. Depois, vamos continuar acompanhando o trâmite dessa história, para que nossos direitos sejam garantidos!
Vamos lá?
***
Precisamos participar para que os planos de saúde estejam explicitamente obrigados a cobrir as despesas de paramentação do acompanhante e também que o acompanhante possa estar ao lado da parturiente pelo tempo garantido por lei. De acordo com a legislação, o direito à presença do acompanhante é desde o pré-parto, parto e 10 dias após o parto... mas de acordo com o Rol antigo, os planos de saúde estão obrigados a cobrir as despesas de apenas 24h após o parto.
Qualquer pessoa pode participar. Precisamos fazer uma chuva de solicitações para que o direito ao acompanhante esteja de fato incluído no Rol de Procedimentos! Vale a pena entrar lá, preencher e enviar... é um formulário no site da ANS.
Aqui vai um pequeno guia. Mas fiquem à vontade para preencher da forma que acharem necessário. Repassem para seus contatos, e para quem vocês conhecem que precisaram pagar taxa para o acompanhante, e para quem é contra essa cobrança indevida.
Tutorial para participar da Consulta Pública
Entre no site da ANS sobre a Consulta Pública nº 40:
http://www.ans.gov.br/index.php/participacao-da-sociedade/consultas-publicas/529-consulta-publica-40#
(se o seu navegador estiver com problemas no preenchimento do formulário, tente outro navegador)
Preencha os campos abaixo:
Tipo de Usuário: Consumidor
...
Tipo de Contribuição: Alteração de artigo de Resolução Normativa
Selecione o Artigo a ser alterado: Art. 19º
Insira a alteração do Artigo selecionado: (copie e cole)
I - cobertura das despesas, incluindo acomodação, alimentação e paramentação quando necessária relativas ao acompanhante indicado pela mulher durante o pré-parto, parto e até 10 dias do pós-parto, de acordo com a Lei 11.108, de 7 de abril de 2005, ou outra que venha a substituí-la.
Justificativa: (copie e cole)
Hospitais estão realizando cobrança do usuário referente à "taxa de paramentação do acompanhante" como condição para que o acompanhante possa estar presente no parto. Essa taxa deve ser cobrada do plano de saúde.
E de acordo com a Portaria 2.418 de 2005 que regulamenta a Lei Federal nº 11.108/05, o "pós-parto imediato" citado na referida lei foi definido como os primeiros 10 dias após o parto.
10 de maio de 2011
Para as mães ou futuras mães
Assim que me descobri grávida, senti enorme necessidade de ler. Li desesperadamente sobre gravidez, parto, maternidade. Mas foquei principalmente os aspectos físicos ou fisiológicos e dei pouca atenção à dimensão psicossocial. Não me arrependo, mas pela experiência e pelos estudos, digo hoje que é fundamental se preparar também para enfrentar as mudanças menos palpáveis que a maternidade provoca.
Na edição de abril, a Pais & Filhos publicou uma lista de livros recomendados pela Ana Cris, que eu replico a seguir. O livro em destaque eu ainda não li, mas vou fazê-lo assim que possível. Justamente pelos motivos que expus no primeiro parágrafo.
Leia com a gente - Para Pais
A cada mês, escolhemos dois livros para ler e discutir com você, no site, no Facebook, no Twitter
Indicado por Ana Cris Duarte, mãe de Júlia e Herinque, parteira domiciliar, autora de Parto Normal ou Cesárea?, ed. Unesp
A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra, de Laura Gutman
A psicoterapeuta argentina Laura Gutman, especializada no tratamento de casais e crianças, convida as mães a refletir sobre a responsabilidade de criar um bebê. Uma análise da psique feminina e dos impactos que os filhos têm sobre ela. Ataca preconceitos sociais sobre maternidade e comunicação entre adultos e crianças.
Ed. Best Seller (www.record.com.br), R$ 39,90
"É essencial a toda mãe, principalmente àquela que está tendo o primeiro filho. Melhor se lido na gravidez, mas é ótimo no pós-parto, quando as coisas começam a ficar confusas"
Ana Cris Duarte
A lista completa
- Meditações para Gestantes, de Fadynha, Ed. Ground
- Quando o Corpo Consente, de Marie e Therese Bertherat e Paule Brung, Ed. Martins
- Yoga para Gestantes, de Fadynha, Ed. Atomo
- Memórias do Homem de Vidro, de Ricardo Herbert Jones, À venda no GAMA
- Parto Ativo, de Janet Balaskas, Ed. Ground
- Parto com Amor, de Luciana Benatti e Marcelo Min, Ed. Panda Books
- Parto Normal ou Cesárea?, de Simone G. Diniz e Ana C. Duarte, Ed. Unesp
- A Cientificação do Amor, de Michel Odent, Ed. Momento Atual
- Nascer Sorrindo, de Frederick Leboyer, Ed. Ground
Na edição de abril, a Pais & Filhos publicou uma lista de livros recomendados pela Ana Cris, que eu replico a seguir. O livro em destaque eu ainda não li, mas vou fazê-lo assim que possível. Justamente pelos motivos que expus no primeiro parágrafo.
Leia com a gente - Para Pais
A cada mês, escolhemos dois livros para ler e discutir com você, no site, no Facebook, no Twitter
Indicado por Ana Cris Duarte, mãe de Júlia e Herinque, parteira domiciliar, autora de Parto Normal ou Cesárea?, ed. Unesp
A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra, de Laura Gutman
A psicoterapeuta argentina Laura Gutman, especializada no tratamento de casais e crianças, convida as mães a refletir sobre a responsabilidade de criar um bebê. Uma análise da psique feminina e dos impactos que os filhos têm sobre ela. Ataca preconceitos sociais sobre maternidade e comunicação entre adultos e crianças.
Ed. Best Seller (www.record.com.br), R$ 39,90
"É essencial a toda mãe, principalmente àquela que está tendo o primeiro filho. Melhor se lido na gravidez, mas é ótimo no pós-parto, quando as coisas começam a ficar confusas"
Ana Cris Duarte
A lista completa
- Meditações para Gestantes, de Fadynha, Ed. Ground
- Quando o Corpo Consente, de Marie e Therese Bertherat e Paule Brung, Ed. Martins
- Yoga para Gestantes, de Fadynha, Ed. Atomo
- Memórias do Homem de Vidro, de Ricardo Herbert Jones, À venda no GAMA
- Parto Ativo, de Janet Balaskas, Ed. Ground
- Parto com Amor, de Luciana Benatti e Marcelo Min, Ed. Panda Books
- Parto Normal ou Cesárea?, de Simone G. Diniz e Ana C. Duarte, Ed. Unesp
- A Cientificação do Amor, de Michel Odent, Ed. Momento Atual
- Nascer Sorrindo, de Frederick Leboyer, Ed. Ground
9 de maio de 2011
Dia das Mães
Meu filhote, que tem 5 anos, passou a semana na maior expectativa pelo Dia das Mães. O bombardeio da mídia o pegou de jeito e ele a cada dia queria me dar um presente diferente: "mamãe, eu vou dar um perfume pra você", "um creminho, eu vou comprar um creminho", "aí no Dia das Mães eu vou dar um sapato bem bonito - e do shopping"...
Angustiada com essa sanha consumista, toda hora eu dizia que o maior presente que ele poderia me dar seriam amor e carinho. Mas para ele parecia muito importante me oferecer um presente palpável, então, eu pedia um cartão, um desenho, uma pintura... Meu guri, porém, não se acha muito bom nessas tarefas, por isso vive se esquivando delas. (Muitas coisas a trabalhar com ele, eu sei, mas estamos no caminho e devagar chegamos lá.)
Felizmente meu namorido tem um espírito maravilhoso e foi com meu guri comprar flores pra mim. Ganhei um lindo arranjo de girassóis - de longe, a flor preferida do meu pequeno. O namorido ainda fez muxoxo - "eu não queria comprar girassol, mas você sabe, ele escolheu" -, mas a verdade é que o arranjo é lindo, lindo, lindo. Na mesa da sala, então, ficou mais lindo ainda.
Esse presente eu ganhei antecipadamente, no sábado. E no domingo ganhei ainda outros presentes.
Era cedo ainda e, à mesa, tomávamos café da manhã. De repente meu guri se lembrou que a data finalmente chegara! Correu pro meu colo, pousou as mãos nas minhas bochechas e, olhando nos meus olhos, gritou "Feliz do Dia das Mães, mamãe!". E de novo, de novo, de novo, até eu responder "Obrigada, meu lindo!" e então meu pequeno disse "Você é do meu coração, mamãe!". Eu fiquei mais emocionada do que no dia anterior, meu namorido igualmente: "De onde é que esses bichinhos tiram essas coisas, hein?!".
Eu não sei, não. Mas foi um dia muito significativo pra mim.
Ah, mas falta falar do outro presente que recebi ontem, igualmente significativo: o Diário Regional publicou três textos excelentes sobre maternidade ativa.
O primeiro deles, Mulheres apostam no parto humanizado, fala sobre as escolhas a respeito do parto, com depoimento de algumas mulheres maravilhosas que tivemos a oportunidade de conhecer.
O segundo texto, Grupos apoiam gestante na hora de fazer escolhas, aborda o trabalho de gente como a gente - e fala especificamente sobre o MaternaMente. Nem preciso dizer como estou feliz e satisfeita, não é mesmo?
O terceiro texto, Doulas e parteiras auxiliam na vinda do bebê, divulga a atuação dessas pessoas no cenário do parto e ainda dá destaque para a formação de nível superior das obstetrizes (ou parterias, como preferir).
Bem, deu pra perceber que o meu fim de semana foi nota dez, não é mesmo? Espero que essa energia boa se dissemine inclusive pela web, para que mais pessoas tenham acesso a informações embasadas na boa ciência e, principalmente, para que mais mulheres tenham seus desejos respeitados na gravidez, no parto e no puerpério.
Atualização: O terceiro texto, infelizmente, acabou se perdendo com a mudança do portal do jornal.
Angustiada com essa sanha consumista, toda hora eu dizia que o maior presente que ele poderia me dar seriam amor e carinho. Mas para ele parecia muito importante me oferecer um presente palpável, então, eu pedia um cartão, um desenho, uma pintura... Meu guri, porém, não se acha muito bom nessas tarefas, por isso vive se esquivando delas. (Muitas coisas a trabalhar com ele, eu sei, mas estamos no caminho e devagar chegamos lá.)
Felizmente meu namorido tem um espírito maravilhoso e foi com meu guri comprar flores pra mim. Ganhei um lindo arranjo de girassóis - de longe, a flor preferida do meu pequeno. O namorido ainda fez muxoxo - "eu não queria comprar girassol, mas você sabe, ele escolheu" -, mas a verdade é que o arranjo é lindo, lindo, lindo. Na mesa da sala, então, ficou mais lindo ainda.
Esse presente eu ganhei antecipadamente, no sábado. E no domingo ganhei ainda outros presentes.
Era cedo ainda e, à mesa, tomávamos café da manhã. De repente meu guri se lembrou que a data finalmente chegara! Correu pro meu colo, pousou as mãos nas minhas bochechas e, olhando nos meus olhos, gritou "Feliz do Dia das Mães, mamãe!". E de novo, de novo, de novo, até eu responder "Obrigada, meu lindo!" e então meu pequeno disse "Você é do meu coração, mamãe!". Eu fiquei mais emocionada do que no dia anterior, meu namorido igualmente: "De onde é que esses bichinhos tiram essas coisas, hein?!".
Eu não sei, não. Mas foi um dia muito significativo pra mim.
Ah, mas falta falar do outro presente que recebi ontem, igualmente significativo: o Diário Regional publicou três textos excelentes sobre maternidade ativa.
O primeiro deles, Mulheres apostam no parto humanizado, fala sobre as escolhas a respeito do parto, com depoimento de algumas mulheres maravilhosas que tivemos a oportunidade de conhecer.
O segundo texto, Grupos apoiam gestante na hora de fazer escolhas, aborda o trabalho de gente como a gente - e fala especificamente sobre o MaternaMente. Nem preciso dizer como estou feliz e satisfeita, não é mesmo?
O terceiro texto, Doulas e parteiras auxiliam na vinda do bebê, divulga a atuação dessas pessoas no cenário do parto e ainda dá destaque para a formação de nível superior das obstetrizes (ou parterias, como preferir).
Bem, deu pra perceber que o meu fim de semana foi nota dez, não é mesmo? Espero que essa energia boa se dissemine inclusive pela web, para que mais pessoas tenham acesso a informações embasadas na boa ciência e, principalmente, para que mais mulheres tenham seus desejos respeitados na gravidez, no parto e no puerpério.
Atualização: O terceiro texto, infelizmente, acabou se perdendo com a mudança do portal do jornal.
8 de maio de 2011
Grupos apoiam gestantes na hora de fazer escolhas
Do Diário Regional
Domingo, 8 de maio de 2011
Por Aline Melo
A agenda apertada de médicos particulares é um dos grandes incentivadores da cesárea no país. “A dinâmica do profissional que atende convênio não
permite que se ausente por muito tempo de suas consultas. Assim, para manterem a agenda acabam optando pela cesárea eletiva”, apontou Mauro
Sancovski, responsável da Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina do ABC.
Para não acabarem em cirurgia desnecessária, mulheres que querem parto normal procuram ajuda em grupos de apoio para gestantes. Sob supervisão de
Deborah Delage e Denise Niy, ativistas do parto humanizado, funciona no ABC o MaternaMente. Com reuniões mensais, mulheres(grávidas ou não) se
reúnem para debater os assuntos referentes ao parto e a gestação. “Muitas pedem indicação de profissionais, mas a gente não indica. Procuramos mostrar
para a mulher todas as opções disponíveis”, declarou Deborah.
“Não sou contra a cesárea. Bem indicada, salva vidas. O que me assusta é que na maioria das vezes a mulher é tolhida de suas escolhas, não é informada
sobre os riscos de uma cirurgia de grande porte”, pontuou a ativista. (AM)
Domingo, 8 de maio de 2011
Por Aline Melo
A agenda apertada de médicos particulares é um dos grandes incentivadores da cesárea no país. “A dinâmica do profissional que atende convênio não
permite que se ausente por muito tempo de suas consultas. Assim, para manterem a agenda acabam optando pela cesárea eletiva”, apontou Mauro
Sancovski, responsável da Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina do ABC.
Para não acabarem em cirurgia desnecessária, mulheres que querem parto normal procuram ajuda em grupos de apoio para gestantes. Sob supervisão de
Deborah Delage e Denise Niy, ativistas do parto humanizado, funciona no ABC o MaternaMente. Com reuniões mensais, mulheres(grávidas ou não) se
reúnem para debater os assuntos referentes ao parto e a gestação. “Muitas pedem indicação de profissionais, mas a gente não indica. Procuramos mostrar
para a mulher todas as opções disponíveis”, declarou Deborah.
“Não sou contra a cesárea. Bem indicada, salva vidas. O que me assusta é que na maioria das vezes a mulher é tolhida de suas escolhas, não é informada
sobre os riscos de uma cirurgia de grande porte”, pontuou a ativista. (AM)
Mulheres apostam no parto humanizado
Do Diário Regional
Domingo, 8 de Maio de 2011
Por Aline Melo
Elas não querem o conforto de hospitais, nem se impressionam com estrelas de TV que aparecem escovadas e maquiadas instantes antes da cirurgia. Em busca de maior protagonismo no momento do parto, um número crescente de mulheres procura atendimento humanizado para o nascimento dos filhos, sem intervenções médicas desnecessárias e com liberdade de escolha.
No lugar de anestesia, optam por massagens e banhos quentes. Ao invés de tomar soro com medicação para acelerar o trabalho de parto, aguardam pela resposta natural dos hormônios que agem durante o processo do nascimento.
Esses procedimentos estão presentes
no parto humanizado, que de acordo com as gestantes que defendem o
método, respeita o tempo da mãe e do bebê.
Domingo, 8 de Maio de 2011
Por Aline Melo
Elas não querem o conforto de hospitais, nem se impressionam com estrelas de TV que aparecem escovadas e maquiadas instantes antes da cirurgia. Em busca de maior protagonismo no momento do parto, um número crescente de mulheres procura atendimento humanizado para o nascimento dos filhos, sem intervenções médicas desnecessárias e com liberdade de escolha.
No lugar de anestesia, optam por massagens e banhos quentes. Ao invés de tomar soro com medicação para acelerar o trabalho de parto, aguardam pela resposta natural dos hormônios que agem durante o processo do nascimento.
“Essa concepção considera o parto um processo fisiológico da mulher em que é sujeito da ação de parir e o médico deve ser um facilitador.
Ou seja, a gestante é protagonista”, explicou o diretor de Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas do Ministério da Saúde, Antônio Luiz Telles. “A ideia de humanizar o parto é dar o máximo de conforto à mulher, criando o melhor e mais adaptado ambiente a ela”, completou.
“Sempre acreditei que o melhor fosse o parto normal. Quando engravidei, comecei a me informar. Depois de esclarecer as minhas dúvidas, fui em busca da equipe humanizada para ter a minha vontade respeitada”, afirmou Jacqueline Alves, técnica de informática e moradora de São Bernardo.
Após ter sua primeira filha de parto normal no Hospital São Luiz, em São Paulo, Jacqueline optou na segunda gravidez por um parto domiciliar. “A decisão natural foi ter em casa, sem intervenção. Já sabia como era o processo e o receio das complicações que me fizeram optar pelo atendimento hospitalar da primeira vez não existiam mais”, declarou.
O parto da técnica de informática foi assistido por um obstetra da Capital e sua equipe, com enfermeira e pediatra. Além disso, Jacqueline também contou com a presença de uma doula, profissional que presta apoio físico, emocional e afetivo às futuras mães.
Aline Gerbelli, fonoaudióloga, também viveu a experiência de um parto domiciliar em São Bernardo. Para o momento do nascimento, estavam previstas as presenças da médica obstetra e de uma parteira. “Na hora H, não conseguimos contatar a médica. A parteira amparou o Pedro, que estava com o cordão enrolado no pescoço, e foi tudo muito tranquilo”, contou a profissional de saúde.
4 de maio de 2011
Ana Maria, Mariana e Joana
As três anas de três gerações distintas se juntaram no programa da primeira delas para ilustrar uma bela reportagem sobre parto ativo. Nessa edição do programa mais você teve um pouco de muitas coisas boas relativas ao nascimento: sensibilidade, respeito, ciência e, principalmente, o protagonismo da mulher.
Porém, contudo, todavia... É uma pena que mesmo em trabalhos bem feitos e com boas fontes de referência, o parto fisiológico seja subliminarmente tratado como algo perigoso e demandante de atenção e monitoria - por um médico, sempre ele... Estou me referindo ao texto da reportagem, que diz assim: "É importante ressaltar que o médico deve estar presente, porém, ele só interfere se houver necessidade". "Médico" poderia muito bem ser trocado por "profissional de saúde", se não quisessem dar todos os louros à parteira. E a lógica do médico que interfere quando há necessidade, como bem sabemos, infelizmente não funciona. O médico sempre interfere no parto porque ele só sabe estar no parto se for para interferir. Raríssimos (raros mesmo, mais do que a primeira edição d'Os Lusíadas) são os que assumem a posição de meros espectadores em uma cena de parto.
Ainda assim, três vivas às três anas! Enfim parece que um novo paradigma está borbulhando nas periferias da nossa cultura, para logo em breve explodir como nova hegemonia! E quando digo periferia, não me refiro às partes distantes e abandonadas, mas a movimentos não centrais, não ligados às formas de poder vigentes. E viva a revolução!
Porém, contudo, todavia... É uma pena que mesmo em trabalhos bem feitos e com boas fontes de referência, o parto fisiológico seja subliminarmente tratado como algo perigoso e demandante de atenção e monitoria - por um médico, sempre ele... Estou me referindo ao texto da reportagem, que diz assim: "É importante ressaltar que o médico deve estar presente, porém, ele só interfere se houver necessidade". "Médico" poderia muito bem ser trocado por "profissional de saúde", se não quisessem dar todos os louros à parteira. E a lógica do médico que interfere quando há necessidade, como bem sabemos, infelizmente não funciona. O médico sempre interfere no parto porque ele só sabe estar no parto se for para interferir. Raríssimos (raros mesmo, mais do que a primeira edição d'Os Lusíadas) são os que assumem a posição de meros espectadores em uma cena de parto.
Ainda assim, três vivas às três anas! Enfim parece que um novo paradigma está borbulhando nas periferias da nossa cultura, para logo em breve explodir como nova hegemonia! E quando digo periferia, não me refiro às partes distantes e abandonadas, mas a movimentos não centrais, não ligados às formas de poder vigentes. E viva a revolução!
2 de maio de 2011
Estudantes de nutrição promovem debate
E esse debate é de interesse coletivo!
Publicidade de cigarros e de álcool já foi tema de debate e é um ponto de tensão já conhecido, com difícil ou impossível equilíbrio entre os interesses da indústria, os da publicidade e os da saúde coletiva. A publicidade de alimentos - felizmente - também tem recebido atenção. Foi com satisfação que recebi a notícia de que as estudantes de nutrição estão atentas a essa questão. O debate "Nutrição e publicidade de alimentos: como essa relação pode influenciar a sua atuação profissional?" acontecerá no dia 5 de maio na Faculdade de Saúde Pública da USP.
Fico feliz de saber também que as estudantes de nutrição da USP estão atentas ao tanto de publicidade a que elas mesmas estão expostas. Como possíveis prescritoras de complementos alimentares, vitaminas e dietas, elas são alvos muito visados pela indústria farmacêutica (e enquadro nesse ramo as fabricantes dos tais complementos). Formação de nível universitário requer não apenas formação técnica, mas também (arriscaria dizer principalmente) formação crítica!
Publicidade de cigarros e de álcool já foi tema de debate e é um ponto de tensão já conhecido, com difícil ou impossível equilíbrio entre os interesses da indústria, os da publicidade e os da saúde coletiva. A publicidade de alimentos - felizmente - também tem recebido atenção. Foi com satisfação que recebi a notícia de que as estudantes de nutrição estão atentas a essa questão. O debate "Nutrição e publicidade de alimentos: como essa relação pode influenciar a sua atuação profissional?" acontecerá no dia 5 de maio na Faculdade de Saúde Pública da USP.
Fico feliz de saber também que as estudantes de nutrição da USP estão atentas ao tanto de publicidade a que elas mesmas estão expostas. Como possíveis prescritoras de complementos alimentares, vitaminas e dietas, elas são alvos muito visados pela indústria farmacêutica (e enquadro nesse ramo as fabricantes dos tais complementos). Formação de nível universitário requer não apenas formação técnica, mas também (arriscaria dizer principalmente) formação crítica!
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