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18 de julho de 2013

Relato de Parto: Tatiana Santiago parindo Nina

Hoje, compartilhamos com vocês mais uma história de busca pela melhor forma de trazer ao mundo um bebê. Agradecemos à Tati Santiago pela grandeza da partilha desse momento tão íntimo e especial. Ao final, não deixe de assistir ao lindo vídeo.

Relato de Parto da Nina

Bem, para começar essa história, é bom dizer que tudo começou bem antes de eu engravidar do Ian, meu primeiro filho. Desde sempre, eu dizia que quando tivesse um filho, faria tudo o que fosse comprovadamente o melhor para ele, e isso incluía um parto normal! Em meio a essa convicção, fiz uma lipo de abdômen – nunca senti tanta dor! A partir daí eu tive a certeza de que a cesariana não seria parte do meu destino.

13 de março de 2013

Nascimento da Luísa

Quando engravidei, simplesmente não imaginava o longo trajeto que percorreria até meu parto normal... Eu sinceramente achava que só precisava de um pouco de coragem, convênio médico, uma boa anestesia e tudo correria bem.  Nunca até então havia passado pela minha cabeça parto natural... Também não era simpática a cesárea, mas reconhecia que o medo da dor no final poderia acabar me levando pra ela e na verdade, por mim tudo bem... não eram questões importantes pra mim, pensava mais na saúde do bebe se desenvolvendo, me cuidar pra não engordar muito... coisas  comuns de uma mulher comum ao engravidar...


5 de setembro de 2012

Trocar experiências e tocar corações

Quando estava grávida, um dos meus passatempos margarina favoritos era ler relato de parto. Passatempo margarina porque com os relatos eu sentia a vida mais linda, mais luminosa, mais brilhante, mais ensolarada, como comercial de margarina. E também porque eu me derretia toda, chorava às bicas sem me preocupar com as pessoas que me observavam.

As mulheres e os homens em especial deveriam ser bastante incentivados a buscar e a ler relatos de parto. Por meio desses textos tão emotivos e tão pessoais é possível entender, logo de cara, que o parto é um evento único. Não há um parto sequer que seja igual a outro. Nem gêmeos têm parto iguais - vale lembrar que da mãe só sai uma criança de cada vez...

A particularidade de cada nascimento e as experiências vividas por outras famílias, sejam boas sejam ruins, permitem que enxerguemos com mais clareza o que é da natureza humana e o que advém dos rituais criados por sua cultura. Em outras palavras, por meio desses relatos podemos vislumbrar o que faz parte da fisiologia do parto e o que faz parte da rotina da assistência conforme a conhecemos hoje.

Pequenos detalhes contados cuidadosamente por mulheres que muitas vezes sequer conhecemos são capazes de tocar lá no fundo e fazer uma luz acender. "Puxa, eu quero isso!", pensava às vezes. Ou então, me lembrava de avisar minha mãe de que talvez passasse mais de um dia sentindo contrações ritmadas, "com uma amiga foi assim, e pode ser assim comigo também" - um jeito meio enviesado de tranquilizar a mim mesma diante da possibilidade de 30 ou mesmo 40 horas de trabalho de parto.

Também me recordo de ter avisado meu então companheiro: "olha, se eu xingar você, não fica magoado! algumas mulheres fazem isso". E ainda: "pode ser que eu fique brava, mas não é nada pessoal" e mais: "não se assuste com os gritos, eles fazem parte do processo e ainda ajudam a relaxar" e muito, muito, muito mais.

Esas narrativas têm, igualmente, valor inestimável para quem as produz - uma vez que constituem uma parte da história familiar de cada um. Muitas vezes, têm inclusive valor terapêutico: ao relatar o nascimento de um filho, a mulher (ou o casal) tem a oportunidade de ressignifcar a experiência do parto.


Aliás... Li pouquíssimos relatos de parto escritos por homens, o que me entristece um pouco. Ainda que o parto seja um evento feminino, oras, onde estão os homens que valorosamente acompanham suas mulheres nessa jornada? Gostaria muito que eles também compartilhassem sua experiência - com outros homens e com outras mulheres.

Leia alguns relatos de parto aqui no nosso blog, no livro Parto com Amor, o meu relato no meu livro Lembranças Fecundas ou mesmo na imensa Internet!

7 de junho de 2011

Relato de parto da Alícia - por Erika

Há muitos anos eu sou mãe, a exatos, 21 anos eu sou mãe, minha mais velha, Mimi, era a felina mais amada do mundo, ela se foi em 2008, quando me tornei mãe pela 2 e 3ª vez, das gêmeas Annie Francisca e Pink Maria, sempre meninas, minhas gatas sempre foram minha vida. Mãe de coração. Mas mãe. Com direito a presente de dia das mães e tudo mais.

Conheci o Rodrigo em 1999, já era mãe, ela tinha certidão de nascimento, era engraçado que no “campo” PAI estava escrito “Pai ignorado”. Mimi era minha vida, e passou a dividir com meu namorado o meu coração.

Os anos foram passando, namoro, noivado, e se foram 6 anos! Até que em 2005, nós oficializamos nossa união que já era tão linda. Tão intensa. Descobrimos o câncer no Rodrigo em 2006. Apenas com um ano de casada me vi diante da doença que poderia destruir meu sonho. Um tumor, maligno, alojado no testículo. Operamos, e tivemos a certeza do medico que nada mudaria nosso sonho. Que conseguiríamos formar uma família..

Entre ovários policísticos e anticoncepcionais pra tomar, eu desenvolvi pressão alta. Estava acima do peso, com obesidade grau 1... E frente ao cardiologista, tive uma indagação:

- Não pode engravidar com essa pressão alta! Temos três opções que não a favorecem, cigarro, anticoncepcional e peso.

Nós fomos radicais aqui em casa, paramos de fumar (e eu era uma fumante compulsiva), parei de tomar o anticoncepcional e resolvi operar o estomago. (nada fácil principalmente por não ser obesa mórbida, principalmente porque estava 15 quilos acima do peso só) ao meu favor só tinha a pressão alta, histórico de diabetes, problemas de coração e colesterol na família. E o câncer, do meu marido, que a cada dia que passava era um dia a menos que poderia gerar meu bebe, enfim, foi uma luta, digamos que de uma maneira “diferente” eu consegui a minha cirurgia bariátrica. Operei em 2008. Graças a Deus correu tudo bem, e eu me adaptei a nova vida, e a nova condição alimentar.

Os anos se passaram longos, arrastados, e em 2009, finalmente depois de uma árdua luta. Árdua mesmo só nós sabemos quanto, pegamos nosso positivo no dia 10 de agosto. A sensação de pegar um Beta HCG positivo é indescritível. Eu não conseguia falar, eu tremia. De cima abaixo eu tremia. O RO chorava me apoiou me abraçou e saímos bobos e felizes.

Desde antes de engravidar, bem antes, eu procurei saber tudo o que podia e que não podia para ser uma boa mãe, ter uma gestação tranqüila, feliz, bem, procurei me informar, entrar em grupos de discussão, procurei mães, tinha dentro de mim que meu bebe, carinhosamente chamado de Emby, nasceria de parto normal.

Achei as meninas do Parto do Principio, Maternamente, Deborah, Denise, Aline que por email, assim como uma Doula a Rebeca, que foi muito importante numa conversa por telefone uma vez, me diziam e amparavam com muitos relatos de parto, e também diziam que tudo dependia única e exclusivamente de mim, a cada dia eu conhecia mais meu corpo e mais de como eu poderia ter sim, da minha maneira meu bebe. Fui a um encontro do grupo, que mantinham sempre encontros para debater sobre parto, amamentação e etc., neste dia, meu marido me acompanhou. Todas simpáticas ao extremo, tiraram muitas duvidas que eu tinha em relação a essa hora, que era tão especial. O jornal estava La no dia do nosso encontro, ABCD maior, e documentaram esse dia, com uma matéria sobre parto normal e aumento de cesáreas desnecessárias
no ABC.

Minha gestação foi tranqüila, tranquilissima, a cada semana eu tirava uma foto. As 40 semanas foram documentadas com fotos, reações. Nossa família e amigos só souberam depois da 12ª semana. Precaução. Todos comemoraram. O nosso bebezinho crescia forte e saudável a cada consulta e ultrassom nós percebíamos sua evolução! E como evoluía bem. A médica insistia em trocar a data da semana pela evolução do tamanho, mas sabia exatamente o tamanho do meu bebe, e tinha a data prevista, apenas como prevista, fixada em mim. Tinha a certeza que poderia passar 2 semanas tranquilamente. Emby então estava previsto para 18/04/2010, mas poderia esperar tranquilamente até 02/05/2010.

Dizem que grávidas são iluminadas, e eu fui mesmo. Muito iluminada, irradiava alegria por onde eu passava. O primeiro trimestre passou voando e não tive os enjôos que a maioria das mulheres relatam. O segundo trimestre foi ótimo, só a barriga crescia, e meu bebe mexendo, era a melhor sensação do mundo! Falei com pessoas que infelizmente não tiveram a mesma sorte que eu de não ter uma gestação tranqüila, e me assustaram sobre o ultimo trimestre. Confesso que entrei preocupada, achando que teria as cólicas terríveis ou o inchaço e a indisposição. Mas novamente, minha vontade em ser mãe acho que era tão grande, que meu corpo obedeceu, e não tive nada. Absolutamente.

No final da gestação, na ultima pesagem, engordei exatos 4 kilos. Trabalhei até a 39ª semana, dirigindo até São Paulo e fazendo pós graduação na Liberdade, com 2 cm de dilatação desde as 37ª semana e feliz. No dia 18/04 data prevista para o parto, estava num churrasco, com a família do meu marido, sendo fuzilada pelos parentes por “esperar tanto”. A ansiedade era mais deles do que a minha.

Alícia já era seu nome desde a 24ª semana foi quando ela resolveu se “mostrar” e eu escolhi esse nome por significar A VERDADEIRA. Emby passou a ser chamado de Alícia,
Com 40 semanas e 4 dias no dia 22 de abril de 2010 as 2:10 da manhã, eu acordei com um barulho enorme. Annie e Pink estavam jogando coisas de cima da sapateira no chão... Acordei pra fazer um sonoro shiuuuuuuuuuuuuuuuuuu, e demorou pra eu pegar no sono de novo.... Comecei a sentir umas contrações, mas achei que poderia ser a posição na cama, e me virei, uma, duas, três vezes, olho para o relógio de novo, (mania da madrugada) e começo a perceber que as contrações estão diferentes. Mais
agudas.

Já tinha contrações de Braxton a muitas semanas, mas aquela era diferente. Já tinha ouvido falar que quando fosse a hora eu ia saber, então, não fui nenhuma vez pro hospital com falsas contrações, pois nenhuma delas, me fez sentir de fato que era a hora. Virei-me na cama, e procurei dormir, o Rodrigo trabalhava no turno da noite, e
eu estava sozinha em casa. Com minhas filhas gêmeas apenas que dormiam comigo naquela noite gostosa de outono.

2:40 novamente senti uma contração forte, e me virei novamente na cama, passei a prestar atenção. Conversei com a Alicia, como conversávamos todos os dias, perguntei varias vezes se era a hora dela nascer pra ela me avisar, Senti de novo uma contração forte, achei que fosse vontade de ir ao banheiro, me levantei. Senti uma pressão na bacia, difícil de andar, parei e respirei, observei quanto tempo ia durar. No caminho do banheiro parei pra uma outra contração, e sorri. Meus olhos se encheram de água, chegou a hora!

Fui ao banheiro tentar ver se talvez não fosse um alarme falso. Tenho prisão de ventre, então poderia ser isso... Como ainda era 3 da manha achei melhor não fazer alvoroço. Voltei pra cama e tentei dormir, mas as contrações ficaram mais constantes, e levantei novamente. A pressão na bacia foi maior As 4 da manha passei a contar as contrações e anotar em um papel exatamente a hora que tinha a contração. Enquanto isso andei pela casa, acendo as luzes.

Fui pro quarto da Alicia, ele estava vazio, de decoração, e comecei a arrumar o berço, colocar o lençol os protetores e demais adereços do berço, pois como era em branco e lilás, não quis deixar montado.

A esta hora todas as luzes do meu apartamento estavam acessas, e entrou uma mariposa enorme no quarto da Alicia, as gatas ficaram alvoroçadas tentando pegar. Quanto eu tinha uma contração a reação era segurar a base da barriga, e respirar fundo, logo passava. Coloquei minha mala, a mala dela e a sacola com as lembrancinhas na sala.
Tentei ligar no celular do Rodrigo, não atendeu. Resolvi ir tomar banho, queria estar desperta.

Entrei no chuveiro me banhei lavei o cabelo e tive duas contrações em baixo da água. Tranqüilas, intensas, mas tranqüilas. Minha bolsa não havia rompido, então procurei marcar os tempos. No banho eu imaginava como seria o momento do parto e se era esse o momento mesmo, que maravilha que ia ser! Abaixei-me no Box senti a bacia aberta tive a curiosidade de por a Mao em baixo e sentir, e se ela nascesse ali? Eu sozinha.. Com ela em casa! Já pensou!? Pensei nisto. Mas resolvi que seguiria meus planos A e B! Sim era hora hoje! Sim hoje é meu dia! Pensei em comer, tinha que fazer um lanche estar pronta para parir minha filha. E pensei nisto que ia fazer quando saísse do banho.

Procurei a maquina de tirar fotos e deixei tudo a postos. Liguei na empresa dele, já que não conseguia falar no celular, e o colega de trabalho falou que no momento ele não podia me atender, falei que precisava falar meeesmo, e ele foi chamar, enquanto isso tive uma contração. Foi quando ele atendeu

- RO acho que vou precisar que venha estou com contração está na hora!
- o que você esta sentindo!?
- são contrações fortes e diferentes!
- Ta to indo.

Essa foi nossa conversa, enquanto isso me preocupei com a casa, passei uma vassourinha, capturei a mariposa e deixei as gatas felizes. Desliguei o telefone e conversei com as crianças (as gatas) me sequei e dei mais uma espiada no quarto dela, orgulhosa pelo meu trabalho e do RO, de fato o quartinho que montamos pra ela estava lindo, no lugar certinho, perfeito!

Tenho certeza que ele veio feito um louco no transito, pois não demorou muito pra porta abrir – Eu moro em São Bernardo e ele trabalhava em Mauá, mais ou menos uns 20 Km de distancia. Pelo menos 25 minutos, mas ele chegou antes disso.

Quando ele entrou era quase 6 da manhã, e ele já foi pegando as coisas, esbaforido, suando querendo sair, e ir embora rápido, disse não, que queria que ele fosse tomar banho, afinal trabalhou a noite toda precisava tomar um banho.

Estava na sala e tendo contrações mais fortes, mas se eu respirasse profundamente, elas passavam. Enquanto isso eu tentava ligar pro pessoal que ia tirar foto e filmar o parto mas não conseguia, talvez porque era muito cedo, talvez porque mudaram... Isso me intrigou. Quando estava gestante, fui a dois hospitais ver como funcionava a “logística” para partos, e me encantei com um hospital do SUS hospital da Mulher, que foi onde fiz o curso pra gestante, se por ventura, o hospital do meu convenio
insistisse com alguma “palhaçada” eu iria pra lá com certeza.

Saímos de casa as 6 e 20 da manha. Tirei a ultima foto nesta hora. Meu parto seria com plantonista do hospital, saímos essa hora de casa, pois os intervalos das contrações já estavam em 4 minutos, me adiantei até, mas estava com medo porque moro no 3º andar de um prédio antigo sem elevador. A Anchieta estava com um pouco de transito enquanto isso eu liguei pra minha mãe, para dar a noticia, quem atendeu foi o Maurílio, meu padrasto, eu disse que estava indo pra maternidade, não falei nada que estava a mais de 4 horas com contrações já...

Chegando ao hospital, paramos o carro do outro lado da rua, atravessamos a rua, fui tranqüila. Chegando à recepção disse a moça que estava ali pra parir, ela quis saber que horas estava marcado, eu disse que não, que não estava marcado que seria normal.
Vendo a cara de espanto da moça, que pegou o telefone pra ligar pra alguém, eu vi como é burocrático o sistema, ouvi dela um

- Então veio passar em consulta? É isso?
- Não.. O bebe realmente vai nascer....
- é que a senhora precisa passar com o medico antes...
- Tudo bem.. Então vamos passar! Que horas é a troca de plantão?
- Trocou agora senhora as 7 horas.

Isso foi um alivio, o plantão tinha acabado de trocar, ou seja, o medico teria 12
horas pra me atender, sem querer me rasgar... Estava bem feliz. Preenchemos a papelada, e fui pra “consulta”. Primeiro dois enfermeiros me levaram pra uma salinha e mediram pressão perguntaram, e etc.

- mas você já está com contração a tanto tempo porque não veio antes? Não está com dor?
- Não.. É só contração.
- Mas não dói?
- Não... Era pra doer?
- Nossa.. Tem gente que chega aqui berrando..... Espera no corredor que o doutor já vai te chamar.

O Corredor estava vazio, aparentemente mães, não parem, elas marcam os horários dos bebes nascerem, isso me fez ter a certeza que muitos bebes não nascem mais. São tirados. Lembrei de muita gente nesta hora, reli meu plano de parto. Li uma oração que minha amiga Claudia Neves me mandou de Nossa Senhora do Bom parto, fiz o RO ler também.

O Doutor Edoardo me chamou na sala, as 7:20 da manha, entrei com meu marido.

-Pois não?
- Então Doutor, estou com contrações ritmadas desde as 4 da manha (que estou contando) mas começaram antes, mas não contei antes. Passei a contar as 4 da manha – E MOSTREI O PAPEL.
- quantas semanas?
- 40 semanas e 4 dias! – Falei orgulhosa.
- Sua médica não vai vir fazer o parto?
- Não, não marquei, quero normal.
- Vamos lá deixa examinar, tira a calcinha e deita na maca por favor.

Olhou o cartão do pré natal e viu a evolução da gestação. Ficou feliz. Não era
de mostrar muita emoção não e mandou eu me deitar na maca. Entrei na sala, tinha diversos instrumentos, e uma maca, deitei e coloque as pernas no apoio. A sala era de um azul claro e pude perceber que tinha algodão dentro de um pote e alguns instrumentos a direita.

Ele entrou colocou uma luva de látex e fez o exame de toque, mediu a dilatação, virou pra mim e disse:

- Só no toque você aumentou de 2 para 6 cm de dilatação, está mesmo em
trabalho de parto! Vou pedir sua internação.
- Desde que horas está tendo contrações?
- Desde as 2.
- e estão ritmadas?
- de três em três minutos mais ou menos.

Ele pegou um instrumento como se fosse um vidro e falou

- nossa é cabeludo, eu to vendo aqui.
- e vai ser normal né doutor?
- eu sou super a favor de parto normal, a menos que você queira a cesárea
- não doutor cesárea não!!! Eu tenho medo de cesária!
- Então não vejo empecilho, pode levantar, você tem bacia boa, gestação super
tranqüila, vai sim ser parto normal.

Levantei abaixei o vestido, senti um “molhado”, mas como já ia internar nem
calcinha eu coloquei.

- agora vai fazer um exame cardiotoco para ouvir os batimentos do bebe.
- Ta bom,

Fiquei em pé sentindo as contrações e RO esperando com as três malas. Sai da sala dele feliz e confiante, o RO também carregando três malas, uma minha, uma da Alicia e uma de tralhas...rsrs

Liguei para Dani, uma outra grande amiga minha e contei o que estava acontecendo, a Dani me incentivou muito no parto normal. Entrei em contato de novo com o pessoal da foto e filmagem descobri que já estavam no hospital e o RO foi falar com eles. Fui fazer o cardiotoco. Entrei na sala com aquele primeiro enfermeiro que me explicou como seria. Fui seguindo e fazendo tudo que ele pedia apertando o botão na contração.
Estava com o celular, minha sogra ligou, falei que estava em trabalho de parto
e na sala de cardiotoco fazendo exame para ela ligar depois, o RO devia estar La fora ligando pra todo mundo já. - ela me desejou uma boa hora.

Estava com meu celular tentava ligar pro RO, e estava na caixa postal, ai uma hora consegui falei pra ele ligar pra mãe dele. Enquanto isso eu no cardiotoco não entendia nada do exame, mas percebi que as contrações continuavam ritmadas fiquei ali um tempão entrou uma faxineira, elogiou a barriga, saiu entrou o enfermeiro, perguntou se estava tudo bem e saiu, enfim, acabou tudo, liguei para o RO perguntei onde ele estava, ele disse que estava na sala do lado o enfermeiro entrou e veio tirar as coisas do exame.

Me deu a Mao pra eu descer da maca e viu sangue no meio das minhas pernas, fez uma cara feia. Sai da sala do cardiotoco. Fui pra recepção encontrei o RO ele estava assustado, muito assustado, perguntou varias coisas principalmente se eu não estava sentindo nada. Ele disse que já tinha ligado pra meio mundo, meus irmãos, irmãos dele, mãe, rsrs todo mundo!

O enfermeiro veio com uma cadeira de rodas pra eu subir, disse que não, que queria ir andando e que precisava resolver um assunto lá em baixo ainda, ninguém acreditava na minha cara de sossegada com contrações e dilatação...rsrs

Fui falar com a moça, ela me mostrou como seria as fotos, a filmagem e já fechamos o pacote lá na recepção mesmo. Eles iam filmar e fotografar a Alícia. Subi pro centro cirúrgico, o RO ficou pagando taxas pra subir depois, queria que ele assistisse ao parto.

Subi fui andando, entrei em um corredor, e fui direcionada pra uma sala, lá 2 enfermeiras me pediram pra entrar no banheiro e tirar toda a roupa e colocar num saquinho, e por um avental (desses que deixam o bumbum a mostra) entrei.

Tomei o cuidado de olhar pra ver se estava escorrendo liquido ou alguma coisa e vi sangue na perna mais vivo, acho que quando o medico fez o toque, deve ter sido ali, por isso o sangue, subi na maca, as contrações estavam bem freqüentes naquela hora.
Ia ter que repetir o cardiotoco, mas parece que não estava funcionando a maquina lá de cima pois ela começava e parava varias vezes. O Doutor entrou na sala, perguntou se estava tudo bem e fez um exame de toque, neste momento entrou uma outra doutora, se apresentou com “Dra Roberta” e disse que também ia acompanhar o parto. Ta tudo bem, ele virou as costas e ela também fez um toque.... A esta hora minhas contrações ainda estavam ritmadas e eu conseguia controlar a respiração.

Mais duas enfermeiras entraram na sala, uma delas colocou soro perguntou quanto eu tinha comido (DROGA! SABIA QUE TINHA ESQUECIDO DE ALGO.. COMER!) Disse que tinha sido ontem a noite. Para o espanto delas, ou alivio não sei, me deram glicose, falei que não queria nada no soro, nada de ocitocina, nada disso, elas disseram “que ainda não precisava”. Foi quando uma enfermeira disse para a outra

- Vamos levá-la pra a quatro ta?
- Não mas a quatro é para cesária, o dela é parto normal.- disse a enfermeira que estava comigo.

Ai eu me intrometi:

- isso mesmo, não me levem pra quatro não que o meu parto é normal.

Veio uma outra enfermeira colher sangue e colocar a pulseira, mostrar as pulseiras que iriam pra Alicia a do braço e a da perninha também. Foi ai que a Dra Roberta entrou novamente e me disse.

- Vou estourar sua bolsa pro processo ser mais rápido ok?
- Antes doutora deixa eu colocar o acesso nela, pra por o sorinho.- disse a enfermeira

Pude ver que o soro era glicose, pois não havia comido, (DEVIA TER COMIDO QUE DROGA!
Ao estourar a bolsa com uma espátula acho, uma agulha, branca senti um desconforto foi quando o “meu” doutor entrou na sala e os dois disseram

- Mecônio

Ele:
– Não está espesso, acabei de olhar lá em baixo, vou seguir com parto normal.

Ela – Eu faria uma cesária! Tem mecônio!

Ele – Ainda não é indicação de cesária, preparem ela e levem para o centro cirúrgico.

A menina que estava fazendo o exame de cardiotoco estava a essa altura batendo na maquina porque ela não funcionava, eu comecei a respirar alto, não tinha mais controle das contrações e da do meu corpo.

Percebi que a fotografa estava na porta, mas comecei a me desesperar vendo os dois médicos discutindo. Eu estava na maca, encostada na parede, colocava a Mao na parede, no colchão esticava os brancos, abraçava a barriga, não sabia o que fazer.
Perdi os sentidos, perdi a noção de espaço era só contrações uma atrás da outra.
Pedi ajuda. Não sabia o que fazer, não parava quieta na maca, e sentia um liquido escorrendo entre e minhas pernas e falava pra enfermeira

- Tem alguma coisa saindo.
- Não tem nada saindo! Ainda não começou.
- O que eu faço? Não consigo respirar,
- você tem que ficar calma.
- Mas eu estou calma, só não sei o que fazer!

E eu respirava fundo mas a contração vinha mais forte o respirar não ajudava pior, atrapalhava... Pedi meu marido, queria uma mão ali.

- Ele esta se arrumando ele precisa por a roupa esterilizada.

Entrou uma enfermeira correndo na sala, disse que minha internação estava liberada, percebi que o fato de eu não ter ido para o centro cirúrgico parir, era essa maldita burocracia de planos, como eu tinha vontade de “empurrar” mas tinha medo da minha filha nascer ali naquela maca... Sei lá! Hoje penso que deveria ter feito a força que estava sentindo...Eu não estava mais com os sentidos no lugar, tinha algo estranho. Eu sabia onde estava mais não sabia, eu tinha medo de fazer a força necessária, eu tinha medo de não fazer a força, queria uma mão me amparando, um carinho. Alguém conhecido. Passava mil coisas pela minha cabeça e uma delas foi que
não deveria ter deixado “estourarem” minha bolsa, ela ia estourar sozinha, eu
estava Parindo! As contrações começaram a doer, porque eu não tinha mais controle do meu corpo, sentia minha bacia abrir, e minha vontade era de abrir as pernas, eu
sabia o que deveria fazer eu sabia, meu osso estava “descolando” Me levaram de maca pelos corredores do hospital, fiz ela me garantir que eu não ia pra sala quatro, e ela garantiu. (Não queria passar perto de salas de cesária).

Enquanto a maca andava pelos corredores, minhas contrações aumentavam e eu hoje. Eu urrei.. Sei lá deu vontade eu urrei... Me lembro vagamente disso era uma vontade interna. Queria o Rodrigo agora de vez.

- Onde está meu marido???
- Calma já vai vê-lo
- Eu quero meu marido!!!!! Lagrimas escorriam do meu rosto.

Foi quando eu vi do lado de fora da sala. Meu olhos encheram de lagrimas de
novo... Era ele! Ele me deu a mão era isso que eu queria.

- agora ele precisa ficar aqui fora
- mas
- já já ele entra

Entramos no centro cirúrgico. As 9:10 tinha um relógio bem na minha frente. Uma sala branca, nem tão pequena nem tão grande, tinha uma luz grande em cima da maca, muitas maquinas, uma janela lá no alto entreaberta. Som ambiente, mas infelizmente não me lembro da musica que tocava.

- cadê meu marido!? Perguntei logo que entrei.
- Ele já vai entrar - disse o Doutor Edoardo!
- Erika agora vou te pedir pra sentar pra tomar a anestesia..
- Doutor, não precisa esta quase saindo estou sentindo, não vou conseguir sentar

E realmente foi difícil, as contrações agora eram a cada 30 segundos.. Muitas muitas Alicia ia sair, e foi difícil de encontrar a espinha para a anestesia, demandou uns 15 minutos nisso. Acho que cheguei na partolandia essa hora, eu sentia minha filha se mexer, querer sair, pensava só nela, eu ouvia as pessoas mas não compreendia.
Pensei em tudo que passei para chegar até ali.

Quantos anos, quanto sofrimento, quantas tentativas.. Quantas coisas! Meus aborrecimentos, contratempos... Brigas com familiares... Nossa.. A novela da minha vida, escrita em um milhão de capítulos foi passada em flashes de momentos marcantes... Muito marcantes.... Lembrei dos Ultrassons... Lembrei do primeiro ultrassom. Me lembrei de coisas. Que só eu e meu marido sabemos. E ele também estava
pensando nisto. E percebi o quanto estava emocionado. Chorei ali. Era meu sonho quase saindo por onde entrou... Era meu sonho que agora ia ser real, tocável, pleno.
Olhei para o RO e ele estava fazendo um carinho na minha cabeça, o medico limpou com alguma coisa gelada, falei que estava gelado ele olhou pro anestesista como quem diz, não pegou a anestesia... O anestesista mandou eu sentar e respirar, segurar um pouco que ele ia aplicar, o fiz, ele injetou, mas acho que não pegou porque sentia tudo naturalmente, disseram que iam aplicar a raque. Olhei para os lados, tinha mais gente que o necessário.

Eu
RO
Dr. Edoardo
Dra Roberta
Anestesista
Câmera
Fotografa
Enfermeira de apoio ao Anestesista
Enfermeira para pegar o bebe
Pediatra,
Mais três enfermeiras olhando e depois da filmagem contei mais umas 4 pessoas que quando eu estava lá, não tinha percebido a presença. A Dra Roberta começou a falar que eu tinha que prestar atenção nela e quando ela mandasse que eu fizesse a força.
Lembrei da enfermeira que mandava eu ficar calma, que se eu não tivesse calma e não respirasse fundo só ia atrapalhar e não ajudar. Ela dizia

- esta vindo a contração faz força (eu sei que esta vindo a contração.. estou
sentindo darrrrrrr)
- Não! Num é assim!

Minha boca secava, eu dizia que precisava beber.. Sentia uma pessoa molhando minha boca, vinha de cima O RO estava La mandava eu respirar, outra contração. Faz força!!!! Sentia alguém embaixo uma dor, e ela dizendo que não tinha dado certo. O medico falava que estava indo bem, eu estava bem, me elogiava, mas que ele precisava de ajuda (ele?) e senti uma nova contração, senti que a medica tentava empurrar sem sucesso. Escutei ao longe ele dizendo que a Alicia já tinha rodado e encaixado, estava no canal mas não estava conseguindo ajudar com a força. Ouvi uma voz atrás de mim, uma voz que dizia que eu estava fazendo força no pescoço que eu tinha que jogar a força para baixo.

Nesta hora Dr. Edoardo fez a episio, sem minha autorização, sem meu consentimento... Enfim, senti pois a anestesia não tinha pegado, ou pegado pouco, senti o corte. Veio uma outra contração.Eu empurrei, fiquei sem respirar para fazer a força segurando forte no braço da cama, eu puxei aquele ferro, forte, muuuuuuuuito forte até começar a perder os sentidos, ficou tudo preto, desfaleci. Ouvi o RO me chamar lá longe... Me deu tapinhas no rosto pra eu voltar... Comecei ouvir lá looonge, muito bem é isso mesmo, vamos lá, mais uma vez. Os dois médicos não estavam se entendendo, a Dra Roberta, me orientava errado e eu estava descarregando minha força e “perdendo” a contração pela inexperiência dela. O Dr Edoardo, estava amparando mas como a contração tinha sido perdida, a bebe não descia.

Dr Edoardo disse ao senhorzinho que estava atrás de mim me orientando e me dando de beber que estava precisando do auxilio dele para “fazer a maquina andar”. Dra Roberta não gostou do comentário os dois estavam visivelmente irritados um com o outro. Ele foi contra a cesárea que ela queria fazer, e ela estava brava com isso. (mas não precisa estragar meu momento por isso né... que raiva)

Mais uma contração perdida, era uma atrás da outra e eles não se entendiam, até que ele mudou de lado, ela foi pra baixo e ele foi pra cima me orientar na contração.
Segurei aquele ferro com toda minha força, tamanha que nunca fiz na minha vida, ele me ajudou, me orientou corretamente

- Está vindo
- Esta nascendo Erika força

Eu busquei a força mais intensa e mais profunda da minha vida, novamente um filme começou a passar na minha cabeça, a vontade de ser mãe, meu empenho, meu casamento, a gravidez toda, tudo começou a rodar a rodar e eu senti a cabeça saindo, os ombros e foi tudo. Senti a passagem toda, foi agudo, mas uma dor linda, nunca senti nada
parecido com aquilo era mágico era indolor aquela dor, era a dor da vida, a dor
não.. A passagem pra vida, era isso! Era uma alegria não era uma dor.

- Pronto! Ela nasceu, vocês não ouviram ela chorar, porque a água estava com mecônio, isso foi bom ela não ter chorado assim não aspirou nada, eles vão limpa-la e ela já vem para cá fica tranqüila.
- eu quero ver minha filha – falei angustiada
- espera só um pouquinho ela já esta vindo.

Olhei para o RO pedindo com o olhar desesperada pra que ele fosse atrás dela, ele não foi ficou ali do meu lado .
- Guerreira, você é uma guerreira e eu te amo!

Eu chorei ali. Quero minha filha agora!

- calma amor ela já esta vindo.

Fiquei ouvindo o barulho interno, agora a anestesia pegou, e não sentia mais as minhas pernas e nem mais nada da cintura pra baixo. O choro dela não acontecia parecia que tinha passado uma hora e nada. Eu apertava a mão do Rodrigo com força, eu quero muito minha filha, onde está o meu bebe!!!??? Foi quando eu a ouvi.
Um chorinho forte, olhá lá! E lá veio ela, foi quando a vi, ela estava enroladinha
num pano azul e com uma touquinha... Colocaram ela perto de mim.. Não consigo descrevê-la perfeita. Linda. Rosa, toda rosa, bochechas narizinho.. Cabecinha tudo rosa.

Tiramos foto o RO pegou ela no colo. Tão pequena tão sensível tão nossa, cheirei ela, queria amamentar, pegar no colo, mas precisava terminar ali, me tiraram ela de novo, a minha placenta precisava nascer também e era preciso fazer os pontos da episio que nem deveria ter existido (...) O RO ficou ali do lado, me acarinhando, o medico pediu pra que eu fizesse força, eu fiz, a placenta nasceu integra. Ele mostrou para o RO que saiu inteira Fez os pontos. 3 pontinhos. (pelo menos ele não fez um corte do tamanho do mundo)

52 centímetros
3.610 Kgs

Exatamente 9 horas e 41 minutos ou seja desde o momento que entrei no centro cirúrgico foram apenas 30 minutos de expulsivo, descontando o tempo que tentaram me anestesiar.... Foram 15 minutos de trabalho de parto expulsivo... Uma eternidade pra mim, pela inexperiência, entretanto foi muito rápido perto das demais mulheres. Eu estava longe, era como eu imaginava que fosse o parto, mas não totalmente. Queria ter podido ficar com ela ali, acalentar seu choro, eu queria pega-la mas não pude. Isso me deixou triste por um instante.

- agora você vai pra sala de recuperação
- mas
- nada de mais, você não comeu, fez muita força, ela esta bem. Já já voce vai estar com ela.

De repente, cadê o Rodrigo? Sumiu? Cadê o velhinho que foi a peça chave no meu parto? Sumiu também, ele falou tanto no meu ouvido, que ouvi a voz dele por mais alguns dias, como um anjo no meu ouvido, me orientando. As enfermeiras dentro daquela sala nova, umas escreviam, outras conversavam, ninguém prestava atenção em mim.

Enquanto isso meu ego estava nas alturas. EU PARI! Eu a fiz nascer! É sim, eu mesma! Eu consegui! Na sala de recuperação tinha duas enfermeiras que começaram a me
questionar o porquê do parto normal.

- porque é normal! Melhor pra mim, melhor para minha filha.... É o correto, não?
- você é a única aqui que fez normal sabia? Todas as outras mulheres e todos os bebes do berçário são de cesária.
- Jura!!

Pensei nas mães, e nos bebes, em diversas coisas que tinha lido de partos marcados. Mas preferi guardar pra mim.

- sua filha é linda, você é muito corajosa, porque ela nasceu muito grande! Com mais de 3600 kgs!
- Isso não é tão grande não.. Conheço mulheres que pariram bebes com mais de 4 kilos...
- Nossa! Mas ai coitada da mãe!
- Porque coitada?
- Ah.. Sei lá.. Acho que deve doer muito, meus 3 nasceram graças a deus de cesárea, não senti nada na hora...

Aquele “na hora” me fez entender que o pós operatório deve ter sido barra pesada para aquela moça, mas mesmo assim, ela tinha orgulho de ter a vagina “integra”

- Obrigada, .. Mas que horas eu vou pro quarto? Quero ver a minha filha...
- Já já...

O Já já durou cerca de 40 minutos uma eternidade... Fiquei deitada na cama vendo o teto, olhando o soro cair e pensando. Chorei de novo, queria ter ficado mais com minha filha! Perguntei do Apgar me falaram 3/8 questionei o porquê, não me disseram.
Intriguei. Porque não me disseram? Que droga. Quero saber.! Fiquei lá na sala sendo monitorada, pressão, glicose, olhos. (que coisa, era tão perigoso assim ser normal??? Afff achei um exagero)

Pedi desculpas a enfermeira, sei que não deveria ter pedido, mas quando estouraram minha bolsa e eu pedi ajuda, ela não me deu, mas acho que dei umas patadas nela... devo ter sido grossa.. Nem sei se fui porque não me lembro, mas mesmo assim pedi desculpas. Ela aceitou e disse que entendia. O meu tempo naquela sala foi enorme!
Eu pensei em muita coisa, principalmente na palavra família, o que isso significava pra mim. A minha maca começou a andar de novo, fui sendo arrastada pelos corredores
daquele hospital procurando por alguém, me senti sozinha. Eu queria ver minha filha, meu coração acelerava quando pensava nela. A maca passou pelo berçário, onde estava minha mãe babando no vidro e o RO filmando. Minha cunhada e meu afilhado já tinham passado por lá, mas já tinham ido. Eles me acompanharam até o quarto.

Chegando lá eles me bombardearam de informações, que ela é linda, que era o maior bebe do berçário, que estava comendo os dedos, que era boazinha, estava quietinha...
Minha mãe levantou o lençol pra olhar, eu estava nua com um outro lençol amparando como um gigante absorvente! Que fome que eu estava.

Fui orientada a não levantar por causa da anestesia, ia sentir uma forte dor de
cabeça caso levantasse. Então obedeci. E ela entrou... No quarto! Com duas enfermeiras! Toda rosinha com a roupa que eu escolhi pra ela.. Ômeudeuuuuuuuuuuuuus!!!! Eu queria levantar mas fui impedida, eu queria pega-la... Mas não podia levantar a cabeça... C@#$%LH#

A enfermeira a colocou no meu seio, e disse que eu não tinha bico... =’( enfiou o meu bico na boca dela mas tadinha, ela não conseguia mamar! Ela tinha vontade, tinha força mas não conseguia porque meu peito não ajudava.... e eu não conseguia levantar pra ficar em uma posição pra ajudá-la também, fomos assim drenando o seio, para sair o colostro e ela foi mamando. Entrou um outro enfermeiro e disse que era pra gente comprar um bico de silicone para formar o bico, falei pro RO ir na farmácia atrás de disso!!

Minha mãe estava maravilhada com ela, não sabia se chorava, se ria, o RO me falou como ela chegou no berçário ele foi seguindo, esperta com as mãozinhas na boca de fome..hehe. Eu queria vê-la, como eu queria pega-la mas a maldita anestesia fez efeito depois do parto..e eu não poderia me levantar. O quarto estava com tudo no lugar, o enfeite na porta as malas e tudo mais, pulei pra cama da maca quando voltei da sala de recuperação mas não podia levantar a cabeça. Que fome! Chegou uma sopinha pra mim, o RO me contou do parto, os minutos em que eu não tinha consciência, contou da briga dos médicos, e tudo mais. Eu estava na partolandia, isso era uma certeza! Queria muito me lembrar da musica que tocava, mas não conseguia me lembrar, estava mas não estava lá. Ela chegou toda pequenina na roupinha que escolhi, rosinha, a enfermeira a aconchegou ela, não fosse o problema do meu bico retrovertido, ela teria
mamado com mais avidez. Ela voltou pro berçário após mamar. Muitas ligações das minhas amigas, alguns parentes. A tarde recebi visita do Marcio, Maurilio e Darlene, não viram a Alicia pois ela tinha acabado de ir para o berçário. A noite ela voltou, para mamar mais, eu comi também.

Estava cansada. Mas feliz. Minha filha estava comigo, meu marido também. Só
faltava as gêmeas que estavam em casa. O RO acompanhou tudo foi um grande companheiro.

Mais ou menos umas 7 da noite, a enfermeira veio me ajudar a tomar banho (mal sabe ela que já tinha levantado pra fazer xixi...rsrsrs) insinuei que teria feito isso e levei uma bronca... (credo) Na sexta feira pela manhã o RO foi na nossa casa, levou a roupinha suja da Alicia pras gêmeas cheirarem e foi mandar email pro pessoal, mas tinha um email errado no meio e não conseguiu enviar. Falou que as gêmeas estavam ansiosas e carentes. Neste segundo dia, Alicia já pega bem o bico e agora o colostro já está saindo mais. Recebi mais algumas ligações, avisei na Agencia onde trabalhava, meu cunhado e a família vieram a noite, e a minha cunhada e meu sobrinho
também. As Enfermeiras davam o banho nela e a traziam, mas fiz questão de trocar
fraldas também, não queria essa distancia, pedia ela o mais tempo possível.
Quando ela não estava com a gente o RO estava babando no vidro do berçário
e eu também, já que já andava normalmente.

Falei com o pediatra e pedi explicação do apgar, ele me disse que pelo fato dela ter nascido branca (alouuuuu eu sou branca.... óbvio que minha filha iria ser branca... não?) que foi a avaliação do pediatra, que segue uma lista com diversos fatores.. O fato de não ter chorado, brancura, enfim, avaliação daquele momento... Mas disse para não me preocupar pois a segunda nota foi 8 e a terceira 10. Mas me preocupei, e pedi pra ver o prontuário, ele me falou que não precisava mesmo me preocupar, com isso, e que a bebe estava saudável, que amanha teria alta. Tranqüilizei.

As enfermeiras vinham falar comigo sempre, trazer medicação, dar comida, querer conhecer “a moça do parto normal” rsrs me senti uma celebridade. Gostoso é sentir o cheirinho dela, um cheiro gostoso, um cheiro meu, passar o dedo por cada dobrinha, pegar a mãozinha, o pezinho. Morder as bochechas. Poder abraçar acalentar, não tem preço. Como é pequena, como é rosinha, como é delicia essa menina! Sábado pela manha tive a visita do ginecologista que olhou os pontos e me deu alta, logo de pois o pediatra deu alta pra ela, fomos embora daquele hospital. A enfermeira desceu com ela nos braços e foi até a porta do carro. Nos despedimos, cheguei em casa, subi os três lances de escada tranquilamente. Parto normal é isso.

Normal. Pra mim, pra ela, pra todo mundo. Não fosse a inconveniência dos 3 pontinhos, não doíam, mas eu sabia que eles estavam ali, então, tinha que me preocupar com eles... Mas foram absorvidos pelo corpo, e em pouco tempo... As gêmeas ficaram curiosas quando chegamos com nosso novo pacotinho em casa, cheiraram ficaram perto, e tinham muito ciúmes quando vinha alguém em casa pega-la. Irmãs são assim né!
Foi isso. Tenho certeza que esqueci um monte de coisas, mas o parto como um todo esta ai. A sensação é indecifrável. Eu passaria dias, semanas, meses escrevendo e reescrevendo e teria mais detalhes pra acrescentar. Estou feliz. Agora tenho uma família. E não vejo a hora de passar por tudo novamente, quem sabe agora, no aconchego do meu lar.

Erika Mattes Bittencourt – que nem de perto transcreveu toda sensação sentida, mas que está feliz por poder compartilhar seu momento. Mãe de coração da Annie Francisca e a Pink Maria de três anos E da Alicia – PNH de um ano e um mês

17 de maio de 2011

Relato do parto do Davi - por Aline

“Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Respondeu Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. (...) O servo, então, prostrou-se por terra diante dele e suplicava-lhe: Dá-me um prazo (...)!” (Mt 18, 21-22, 26).

Ao ouvir estas palavras no Evangelho dia dos pais de 2007, as lágrimas rolaram no meu rosto. Eu também suplicava: “Senhor, dá-me um prazo!”. Passei a maior parte da missa sentada. Usava um casaco do Rodrigo, estava 18 quilos mais pesada, sensível, cansada, às 40 semanas e quatro dias da gestação do Davi.
Algumas pessoas haviam me dito que no dia do parto acordaram cheias de energia, fizeram faxina, lavaram cortinas. Mas eu acordava a cada dia me sentindo menos enérgica, mais cansada e mais pressionada. Os telefonemas me irritavam, as perguntas do tipo: “mas ainda não nasceu?” me ofendiam, me sentia de certa forma incompetente por ainda não ter parido.
Queria ficar no colo do meu marido, com meu filho no meu colo interno, e que o mundo se resumisse a isso até o trabalho de parto começar. Mas era dia dos pais, eu não tive coragem de assumir que queria um ninho particular e fui encontrar as pessoas, ouvir educadamente as perguntas e os comentários. E suportar a frustração por não ter, ainda, neste dia, parido um filho para o pai e um neto para os avós. Achava que os desejos de uma mãe não podiam ficar em primeiro lugar em pleno dia dos pais.
O Rodrigo entraria de férias dali a oito dias e tínhamos imaginado que o ideal seria que o Davi nascesse logo no início desta semana, para os cinco dias de licença paternidade serem justapostos às férias. Mas eu não sentia nada que indicasse que o Davi chegaria logo, não sentia nada além de um desamparo, porque se tudo continuasse assim, no dia seguinte o Rodrigo iria trabalhar e eu ficaria sozinha.
Passamos o almoço e parte da tarde fora, voltamos para casa à noitinha.Tomei banho, cochilei no sofá, onde o Digo assistia televisão, acordei perto das 22:30h. e fui ao banheiro. Senti uma umidade estranha. Não consegui parar mais quieta, ia ao banheiro a cada pouco. Coloquei um absorvente, depois achei que estava me atrapalhando, porque queria saber se existia ou não um líquido novo. Era incolor, mas a quantidade era tão pequena que ficava difícil para mim reconhecer o cheiro. O Rodrigo estava muito mais confuso do que eu.
Meu obstetra havia falado que, pelo tamanho da barriga e pela quantidade estimada de líquido amniótico, minha bolsa estouraria de uma vez só e seria muito evidente que isso teria acontecido. Mas a situação real não foi nem um pouco evidente. Fiquei sentada num banquinho bem baixo, como fizera tantas vezes nas últimas semanas, enquanto tentava descobrir com o Rodrigo o que estava acontecendo.
Resolvemos ligar para minha médica homeopata, que acompanhou todas as condutas da gestação, e que era a primeira profissional a quem eu recorria (embora ela já houvesse trabalhado com parto humanizado por algum tempo, não mais assistia partos). Eu estava envergonhada por telefonar, não queria incomodar “à toa”. Ela disse que é muito comum o trabalho de parto (TP) começar naquele horário e que deveríamos observar a frequência das contrações, sem pressa, e se necessário ligar para ela novamente.
Há alguns dias a barriga estava muito pesada e as contrações de Braxton Hicks eram bem mais incômodas. Mas não reconheci nitidamente os pródromos.
Deitei e pedi que o Rodrigo também deitasse, para podermos descansar caso tivéssemos que levantar à noite. Coloquei uma toalha de banho na cama, deixei o abajur aceso, agenda, caneta e relógio ao lado. A cada pouco (aproximadamente a cada dez ou oito minutos) sentia uma contração nitidamente nova, diferente das que vinham ocorrendo nos últimos tempos. Doía. Tendo em mente que deveria tentar dormir entre as contrações, fiquei deitada praticamente todo o tempo – até fiquei de quatro na cama algumas vezes, conforme tinha aprendido que seria melhor, mas o frio de uma madrugada de agosto, todo o meu peso e as dores corporais de um final de gestação me desestimulavam. Eu realmente não acreditava, não sabia que diferença a posição poderia ter feito.
Dormi entre as 00:22h. e as 0:45h., quando acordei com uma forte contração. Fui ao banheiro. Diferente do que tinha ouvido de muitas mulheres, meu intestino não funcionou, eu só fazia xixi, mas parecia me dar um grande alívio. Começou a aparecer um pouquinho de sangue quando me limpava, no banheiro.
Não consegui mais dormir. Fui ao escritório pegar um livro, um livreto e uma apostila, abri nas páginas que indicavam como detectar o TP e que atitudes tomar. Fiquei sentada na cama, anotando as contrações, observações (“movimentos do bebê diminuíram”, “sangue”, “dor nas costas do lado esquerdo”) e relendo o material, como se no dia seguinte tivesse uma prova importante. E realmente tinha, no fundo era assim que eu encarava.
Anos depois uma amiga comentou sobre essa minha “fantasia de controle”, a tentativa de controlar o incontrolável.
Em algum momento o Rodrigo acordou e disse “tudo bem? Descansa, viu?”. Eu não respondi, só olhei pra ele, contente com seu cuidado, mas achando as duas colocações descabidas: como assim, tudo bem? E como assim, descansa?
O Rodrigo dormindo ao meu lado, eu entre preocupada em não acordá-lo e torcendo para ele me fazer companhia – ou, principalmente, tomar atitudes por mim. Por voltas das 2:00h., acordei-o e disse que queria ligar para a médica. As contrações estavam com intervalos entre sete e dez minutos e durando por volta de trinta segundos. Ele titubeou em pegar o telefone, será que estava esperando que eu fosse até a sala e pegasse? E se estivesse, porque não? Porque será que eu não andava, ficava ali sentada na cama, plantada? Ele foi pegar o telefone, deitou novamente. Eu acho que eu queria que ele falasse com a médica, mas não cheguei a pedir. Não tive mais a vergonha de telefonar para a casa dela de madrugada, agora eu sabia que era “sério”. Quando desliguei o telefone ele já estava dormindo, mas semiacordou e perguntou: “amanhã eu não vou trabalhar?”, eu ri da pergunta e ele justificou “eu preciso saber por causa da roupa!”. Ri mais ainda e até anotei essa fala na agenda, ao lado das contrações.
Minha médica orientou que eu descansasse e saísse para o hospital em duas horas, depois de comer algo leve e tomar um banho. Também disse para eu não comentar sobre a perda de líquido, o que me deixou um pouco tensa – eu sabia que informar sobre a bolsa rota poderia levar a procedimentos desnecessários e me transformar mais ainda numa bomba relógio, mas tenho a maior dificuldade em disfarçar uma mentira (o que ficou muito mais difícil ainda quando estive em trabalho de parto).
Parei de anotar as contrações, isso foi libertador, mas foi um pouco angustiante ficar apenas esperando, eu ficava lembrando se faltava alguma coisa nas malas, verificando, tentava ficar deitada, mas a cada vez as contrações doíam mais.
Às 3:30h. resolvi ir tomar banho. Tive três contrações durante os poucos minutos em que fiquei no chuveiro e me assustei, comecei a me apressar. Poderia ter aproveitado para lavar o cabelo, mal sabia eu o quanto isso ia demorar e me fazer falta, mas não cheguei nem perto de aproveitar os benefícios de uma ducha quente, que pena...
O Rodrigo acordou quando comecei o banho e perguntou o que eu estava fazendo, sem entender nada. Eu não tinha dito a ele sobre a orientação da médica, não lembro bem ao certo o motivo, mas acho que eram dois: era muito difícil falar sentindo as dores e ele estava querendo dormir.
Ele foi colocar algumas coisas na mala, eu me vesti, fui tomar chá com torradas, não sabia se podia passar manteiga, nem o quanto podia comer. Não comi por fome, mas porque fui orientada a isso. Mas foi bom, porque não me lembro de ter sentido fome no restante do TP.
Andando pela casa, tomando o elevador, andando na garagem, as contrações eram mais freqüentes e fortíssimas. Eu abaixava o tronco, o Rodrigo massageava a região lombar, não sei dizer se essas atitudes melhoravam a dor, o que mais me incomodava era imaginar como seria sofrido andar de carro desse jeito.
Tinha separado um CD de músicas de ninar para escutar no carro, no caminho para a maternidade. Mas não quis ouvir nada, fomos em silêncio. As contrações simplesmente pararam: nosso percurso começou pouco depois das 4:00h. e chegamos ao hospital por volta das 5:00h., ainda escuro. Nesse período, ocorreram apenas duas contrações. Fiquei entre aflita e frustrada, não queria que fosse um alarme falso e tivéssemos que voltar para casa e esperar tudo acontecer de novo, eu queria que o Davi nascesse! No final do percurso conversávamos sobre as pessoas que andavam na rua, e até chegamos a rir pensando no que diríamos ao chegar lá no hospital, sem sinal de TP.
Mas ao primeiro movimento para descer do carro uma contração fortíssima me travou. Fui andando curvada, um segurança simpático me ofereceu uma cadeira de rodas, mas fiquei indignada pensando “ele não sabe que é bom andar?” e apavorada pensando na dor que sentiria ao sentar.
Chegamos ao balcão de admissão, fiquei ao lado do Rodrigo naquele demorado processo de preenchimento de fichas, apoiada no balcão. A cada contração eu me abaixava e ele massageava minhas costas. As recepcionistas perguntavam se eu já estava sentindo contrações – quanta sensibilidade! Me “convidaram” várias vezes a ir sentar, até que em certo momento, quando o Rodrigo me pediu, vencido pela insistência delas, eu fui. Sentada era mais dolorido e mais solitário.
Se não me engano tive que ir de cadeira de rodas para a sala de exames, era norma do hospital. Uma enfermeira com a qual simpatizei fez muitas perguntas, eu não sabia o que tinha que responder, estava insegura até sobre a idade gestacional (40 semanas e 5 dias), não tinha idéia clara sobre qual momento do TP estava, tinha que omitir a questão do líquido, mas estava muitíssimo controlada. O Rodrigo demorou bastante para chegar lá.
Fui ao banheiro tirar a roupa a pedidos da enfermeira. Lá, vi que continuava saindo um pouco de líquido. Voltei, deitei na maca para fazer o cardiotoco, a enfermeira pediu que eu apertasse o botão quando as contrações começavam e terminavam. Parecia uma pêra de audiometria, o que me remeteu a tantas coisas (sou fonoaudióloga), me senti testada, avaliada pelo meu desempenho, não consegui fazer isso direito, mas ela disse que estava dando para perceber bem as contrações pelo traçado.
Ela fez o exame de toque, ficou com uma expressão satisfeita e me disse “está com sete centímetros!”, quase me dando os parabéns. Fiquei emocionada e aliviada.
A enfermeira telefonou para o meu médico, eu fiquei com a sensação de “mas já? será que não é muito cedo para ele vir?”. Conforme escutava ela me descrever fiquei com a sensação de “não é bem assim...”. Tentei completar algumas respostas que tinha dado, mas, enquanto esteve ao telefone ela não me deu atenção.
Chegou uma outra enfermeira, superior a essa, mais séria, muito menos simpática e disse alguma coisa para a colega sobre “falsas contrações” mostrando o traçado do cardiotoco. Fiquei irritada. Em seguida vi que o Rodrigo estava lá, atrás de um tapume bege, comecei a chorar, queria que ele viesse segurar minha mão, mas atrapalhava um pouco a circulação das enfermeiras, queria falar com ele a sós, ficava sussurrando, contando o que tinha acontecido, entre dores fortes, e ele não entendia direito.
Fui ao banheiro vestir o avental para subir para a suíte de parto normal (LDR). Houve uma preocupação prática, um medo de perder minhas coisas, esquecer alguma peça de roupa por lá, algo que não queria que passasse pela minha cabeça nesta hora.
Tinha conhecido duas enfermeiras obstetrizes daquela maternidade e torcia para que fosse um desses o rosto a me receber. Tive uma contração muito forte na hora em que destrancaram a porta de acesso a essa parte em que ficava a LDR e não conseguia/queria andar. A pessoa que me acompanhava me “forçou” a continuar andando e entrar. Um rosto desconhecido, mas simpático, me recebeu, me senti bem, como se dali para a frente os profissionais saberiam o que fazer de acordo com o que era exposto no curso de gestantes da maternidade – mas estava enganada...
Logo houve a troca de plantão e a enfermeira obstetriz que chegou não me inspirou a mesma empatia que a anterior, aliás, não fez nenhum vínculo comigo, talvez tenha dito seu nome, mas apenas formalmente. Muitas auxiliares de enfermagem passavam pela sala, me incomodava a inconstância de rostos desconhecidos, eu não sabia quem era quem, o que estavam fazendo ali...
O Rodrigo apareceu todo vestido de azul, me ajudou a colocar nossas coisas num cantinho. Lembramos da máquina fotográfica, não lembrávamos onde estava, levamos uma bronca porque não podíamos ficar saindo de lá para pegar nada...
Me pediram para deitar na maca e fizeram um procedimento abominável de assepsia com clorexidina aquosa. Senti um ardor horrível, uma vontade muito forte de urinar, talvez tenha sido o maior incômodo de todo o trabalho de parto, porque o efeito perdurou até não sei que momento. (Nunca foi bem esclarecido porque isso aconteceu, porque mais tarde quando comentei com o médico ele me disse apenas: “não, clorexidina aquosa não arde”, resposta esta que me deixou indignada, porque eu sei o que senti. Futuramente uma profissional da área levantou a hipótese de ter ocorrido engano quanto à substância, e ter sido administrada clorexidina alcoólica, esta sim arderia muito).
Pedi para ir ao banheiro, foi a última vez antes do parto que pude fazer isso sem aquele cabide todo do acesso venoso junto. Fazendo xixi parecia melhorar um pouco o ardor, mas assim que parava, voltava a arder muito. Queria ficar sentada ali. Queria que o Rodrigo ficasse por perto, mas tinha gente entrando e saindo, não sei o que tanto tinha que ser feito por lá. Em certo momento uma auxiliar de enfermagem, já senhora, me disse que eu não podia ficar ali que deveria ir me deitar. Perguntei se eu não iria poder me movimentar, ela disse que sim, mas depois.
Tinha uma banheira e um chuveiro bem à minha frente, mas não foram usados; a explicação também não ficou muito clara, acho que disseram que no meu caso atrapalharia o andamento do TP. Hoje penso que simplesmente poderia fazer tudo demorar mais para as agendas dos profissionais – mas eu, o Rodrigo e o Davi não tínhamos horário marcado para nada...
Tive que voltar para a maca, instalaram soro, cardiotoco, talvez mais alguma coisa que eu não lembro. A enfermeira obstetriz pouco simpática fez o exame de toque e disse que a dilatação estava em cinco centímetros. Arregalei meus olhos.
Meu médico chegou, foi bom vê-lo, me senti segura. Repetiu o exame, chegando à mesma conclusão sobre a dilatação. Fizeram caras e comentários sobre a inexperiência da pessoa que fizera o primeiro toque. Por muito tempo essa situação me incomodou. Anos depois li uma entrevista com a parteira Ina May, sobre a progressão do trabalho de parto, que finalmente me satisfez**.
Perguntei alguma coisa para o médico e ele tentou tranquilizar-me, dizendo que estava evoluindo bem.
Ele entrava e saía do quarto. Foi bom porque finalmente pude ficar um pouco a sós com o Rodrigo. Ele sentado na escadinha ao lado da cama, segurando minha mão esquerda. A cada contração eu apertava muito a mão dele. Nos intervalos, rezávamos. Eu pedia para ele rezar baixinho quando eu não conseguia falar. Muitas vezes fizemos uma ladainha, eu evocava o santo e ele dizia “rogai por nós!”. Lembrei de tantos santos, naquela época eles ficaram tão íntimos a mim! Desde o começo da gestação eu tinha uma angústia ao anoitecer e aproveitava para encerrar as atividades do dia e descansar acompanhando a reza do terço pela televisão. Fui de uma fidelidade afetiva durante os meses, aquele momento me confortava e alimentava, era como se eu e o Davi estivéssemos finalmente no lugar certo. Essa intimidade com a oração foi um dos pontos altos da gravidez e nos acompanhou no momento de certa forma cheio de estranheza que estava sendo o parto.
O médico sentou em seu banquinho “bem localizado”, diante do túnel por onde meu bebê passaria, naquela inesquecível, submissa e desconfortável posição de litotomia, e, depois de me informar o que faria, estourou a bolsa com um instrumento muito semelhante a uma longa agulha de crochê. Teve que fazer força e tentou umas três vezes, todas muito doloridas. A bolsa explodiu, como ele dissera que ocorreria se estourasse espontaneamente. Eu não sabia que uma rotura alta, como aquela com que eu estava, por estar perdendo líquido em pequena quantidade, permitiria que a bolsa se mantivesse tão resistente. Doeu muitíssimo, uma dor profunda, somada ao desconforto do ardor preexistente. Sentir a água quente saindo foi uma pitada de conforto.
Tantas vezes durante o pré-natal eu tinha falado com meu médico sobre meus “desejos” (sem ocitocina, sem episiotomia, anestesia apenas se e quando eu pedisse) e ele respondeu que só faria se realmente necessário. Sem que ele introduzisse o assunto, vi que algo estava sendo colocado no soro e perguntei a ele, ele respondeu “ocitócito, só um pouquinho”.
A partir daí as contrações foram ficando terríveis. Uma se sobrepunha à outra. Eu apertava a mão do Rodrigo com muita força, sei que ele queria dividir aquela dor comigo se fosse possível. Tentava respirar da forma como tinha aprendido no curso de gestantes, mas estava muito cansada, aflita, não via efeito. Durante um desses episódios de respiração “desesperada” o médico entrou e disse que eu deveria parar de respirar assim, que não ia adiantar e eu ficaria com dor de garganta. Minha garganta estava mesmo muito seca. Seria tão melhor se ele tivesse me oferecido água e feito alguma sugestão delicada quanto à respiração – que, por mais que estivesse inadequada e ineficaz, era meu único instrumento para enfrentar, em decúbito dorsal, as dores da ocitocina sintética.
Ele chamou o Rodrigo para fora da sala. Na hora achei que ele estivesse querendo “salvar” o Rodrigo, porque ele estava sofrendo junto comigo. Fiquei um pouco confusa, pensando se o meu marido estava pior do que eu, o que não parecia, mas acabei achando que não podia ser egoísta e querer prendê-lo ali se não estava fazendo bem para ele. Não soube naquele momento o que aconteceu, mas depois de alguns dias, quando o Rodrigo me contou, achei uma estratégia covarde do médico: o médico mostrou a ele os gráficos indicativos dos picos de contração das três mulheres que estavam em trabalho de parto ali no momento. Uma delas passava por seu terceiro parto normal, seus picos tinham amplitude três vezes maior que a dos meus e, segundo o médico, ela estava muito serena. Disse isso para convencer o Rodrigo de que meu limiar de dor era baixo e que a anestesia me beneficiaria muito.
Quando o Rodrigo voltou, me senti muito melhor. Era muito difícil ficar sozinha, me faltava o ar. As contrações chegavam a se sobrepor. Eu perguntei o que aconteceu lá fora e ele disse que o médico tinha mostrado um papel que marcava as minhas dores. Disse que estava impressionado como eu estava suportando, que eu era muito forte, que tinha orgulho de mim.
O médico veio conversar comigo e disse que chamaria o anestesista porque eu estava sentindo muita dor e a anestesia iria facilitar o parto. Não me opus. (Mas eu tinha deixado tão claro que queria anestesia se eu pedisse! Por algum motivo ainda achava que não estava no meu limite. E quem poderia saber disso melhor do que eu?!)
Enquanto esperávamos pelo anestesista comecei a sentir os puxos – que na hora não sabia o que eram. Via minha barriga descendo em trancos conforme a dor apertava extraordinariamente, eu expirava involuntariamente quando isto acontecia.
O anestesista era de uma presença confortante, de um olhar humano. Ficamos apenas os dois médicos e eu na LDR durante a aplicação da analgesia combinada. Sentei na maca com a ajuda do meu médico. Ficar na posição adequada para a colocação do cateter (o médico segurando meus ombros e todo o peso das minhas costas solto no topo da cabeça, que eu apoiava nele) foi confortante, me senti acolhida.
Quando, deitada novamente na cama, senti a analgesia pegar, fiquei muito mais descontraída. Lembro de ter dito, com um tom bem humorado, que há meses eu não sentia minhas pernas relaxadas. Eu tinha sensação um pouco reduzida, mas presente, tinha pouca força para movimentação, mas não sentia absolutamente nenhuma dor: nem das contrações, nem do cansaço muscular, nem as dores posturais do final da gravidez, das quais já estava até enjoada. Foi um grande alívio.
O Rodrigo voltou. Foi orientado a ficar do meu lado direito, não dava mais para segurar bem a mão dele porque meu braço direito estava preso no soro. Ele tocava na minha cabeça e no meu rosto.
A cada pouco levavam para o banheiro uma pazinha com o “número dois”, como meu médico discretamente se referia ao que eu vinha eliminando já há algum tempo – em grande quantidade. No começo fiquei encabulada, realmente não conseguia perceber se/quando estava acontecendo, perguntava para o Rodrigo, como que querendo que ele negasse, mas ele só me dizia “não se preocupa com isso”.
O médico me pediu para fazer uma força. Instruiu-me a segurar nas barras da cama, falou em “força do remador”, disse alguma coisa sobre a respiração. Nada disso me era familiar. Eu estava muito preparada para fazer força do jeito que eu tinha aprendido no curso de gestantes, fiquei um pouco frustrada em ter que fazer diferente, comentei alguma coisa como “mas não é assim que eu sei” e ele foi condescendente: “então faz como você sabe”. Eu fiz. Dei tudo de mim. Aproveitei as tais barras, de improviso, e fiz a maior força do mundo com os braços, somada à força necessária, no abdome, que eu treinara tão bem. A expressão do médico se iluminou. Ele elogiou, animado, “aêee!”.
Até este momento o Davi não havia encaixado. Estava cefálico, dorso à esquerda, há muitas semanas, mas alto. Mesmo com a progressão do TP, ele permanecia alto. Vê-lo encaixando durante a contração, com a força que fiz, deve ter sido uma surpresa para o médico, que em algum momento deixou escapar “eu não pensei que ele fosse descer assim”.
Nesta hora me passou pela cabeça a ameaça da cesárea, como um flash, e a dúvida ameaçadora, “será que agora ele não vai mais pensar nisso?”.
Fiz algumas outras forças médias (o médico orientando que não precisava ser das maiores), a sala foi enchendo de gente novamente, o médico disse “tô fazendo a episio“. Procurei não me deter muito neste aspecto, porque tinha algo imenso acontecendo, meu filho ia nascer, porém me senti traída na hora – e hoje me sinto muito mais!
Então, com toda aquela plateia, o médico ia orientando as forças e eu fazendo a minha parte com todo empenho, dedicação e superação. Algumas enfermeiras que eu não sei de onde surgiram faziam coro dizendo “agora pára”, “agora vai, força, força, agora não pode parar!”. Achei aquilo minimamente indelicado e me deu um milésimo de segundo de raiva “quem disse que eu vou parar?”. Quem estava mais interessada em que meu filho nascesse?! Eu, suponho! Mas obedeci e fiz uma força muito comprida, provavelmente contra a minha natureza caso eu estivesse sentindo as contrações e os puxos.
O Davi apontou com o cotovelinho direito ao lado da cabeça (posição em que, por muitos meses depois de nascido ele adorou dormir), o médico deteve o cotovelinho (disse: “por isso que não descia!”) e a cabecinha nasceu, e depois, em outra força, o corpinho. Não senti ao certo quando ele “terminou” de nascer. Estranho, todos ali sabiam exatamente o que estava acontecendo, menos eu. O médico disse “meninão lindo!”. Ouvimos seu choro, forte, porém breve, o que fez com que, na metade do caminho até mim, a pediatra o requisitasse de volta...
Eu chorava e ria, alto, soluçava aliviada. Perguntei “tá tudo bem? Tá tudo bem com ele?” Vezes consecutivas. Pareciam não ter me ouvido, ou estavam esperando ter uma resposta para me dar... Comecei a agradecer, naquela hora agradecia ao médico, à equipe, mesmo.
O Digo disse, com os olhos cheios d’água, assim que o viu “é a sua cara, Lila”. Eu olhei e disse, chorando, “é mesmo!”. Era uma evidência, não tinha o que contestar.
O médico disse o horário do nascimento, 9:37h. Os profissionais chutaram o peso, acertou quem se aproximou mais de 3,775 Kg.
A pediatra “alugou” nosso bebê por alguns instantes, o Rodrigo e outros expectadores profissionais desconhecidos vendo tudo. Depois de entregar o Davi para as auxiliares enrolarem-no e colocarem a touquinha da maternidade, ela veio me dar os parabéns, dizer que estava tudo bem com ele, que “só o chorinho demorou um pouquinho pra engatar, por isso eu peguei ele de volta”. Sinceramente não sei por quais procedimentos o Davi passou. Sei que recebeu vitamina K injetável, colírio nitrato de prata. Talvez o Rodrigo se lembre se foi aspirado, esfregado.
Logo a placenta saiu, o médico me avisou. Não me lembro de ter feito força para isso, acho que ele tracionou. Pedi, “posso ver?”. Repeti o pedido. Tenho praticamente certeza de que ele ouviu. Mas não respondeu nada, nem olhou para mim. Senti uma estranheza. Aquela placenta não era minha e de meu bebê? O médico comentou, para os colegas, que estava íntegra.
Começou a suturar a episio sem dizer nada. No meio do meu riso-choro apareciam uns “ai”s, e quando ele reconheceu que eram de dor, me perguntou se eu sabia o que ele estava fazendo. Respondi que sim – sabia nitidamente. Ele avisou o anestesista e continuou a sutura apenas depois do ajuste da anestesia.
Antes de ir embora me deu os parabéns, me deu um beijo, disse que eu sou “uma parideira de verdade” (me ocorre que até então ele não confiava nisso) e cumprimentou o Rodrigo. Eu estava verdadeiramente agradecida. (Naquele momento, e até um ano e meio depois, quase tudo o que aconteceu me parecia normal, como tinha que ser. E mesmo hoje, com um conhecimento tão maior, uma mentalidade tão diferente, e tão mais empoderada do que neste dia, tenho muito afeto por este médico, que faz com muita seriedade e em grande parte com carinho, aquilo que acredita que deve fazer).
Por volta das 10:30h. começamos a avisar nossos familiares e amigos. Entramos num consenso sobre quem avisar primeiro. Liguei para minha mãe, deu sinal de ocupado umas duas vezes. Enquanto isso ela estava tentando me achar no celular, porque ninguém atendia ao telefone na nossa casa. Continuei insistindo (quando consegui, ela achou que eu estivesse retornando a ligação dela, e meses depois me perguntou quando é que eu pretendia avisar se ela não tivesse me ligado...). Ela atendeu, perguntou onde eu estava, engoli o choro e respondi “na Pró-Matre”, e eu logo disse: “estou olhando para o bebê mais lindo do mundo no colo do homem mais lindo do mundo”.
Depois o Rodrigo ligou para os pais dele, em seguida eu liguei para o meu pai, e fomos fazendo, um a um, os telefonemas importantes para nós. É comovente lembrar de cada um deles.
Meu marido estava mais lindo do que nunca, comovido, inteiro, mudado, agora ele era pai - os olhos molhados assim como os do Davi, irritados pelo colírio. Ficou sentado na poltrona com o Davi embrulhadinho no colo por mais de uma hora. Olhava para ele, sem fim. Falava baixinho com ele. Foi aí que começou a intimidade deles dois.
Eu estava um pouco zonza, além de limitada, por conta da posição deitada e do acesso do soro. Consegui segurar meu filhote um pouquinho, com um braço só, como se fosse uma baguete recheada – recheada de amor. O Digo bem observou que o Davi estava chorando bastante quando foi inicialmente entregue a nós, e que parou imediatamente ao ser colocado diante do meu rosto.
Em certo momento eu disse a uma auxiliar “eu queria dar de mamar” e ela “calma, daqui a pouquinho cê dá”. Achei que, como parte do protocolo, alguém viria justamente para isso em algum momento. Não aconteceu. Já mais de uma hora depois do nascimento, quando me ocorreu de tentar amamentá-lo, percebi que elevando a cabeça ficava com muita náusea. Chamamos uma auxiliar, que colocou uns paninhos no meu ombro, caso eu vomitasse, e nos ajudou a elevar a cama aos poucos. Demorou um pouco para a tontura melhorar, até dormi alguns minutos enquanto esperava.
Quando colocamos o Davi para mamar, ele lambeu e babou no meu peito. Deu umas sugadinhas. Graças à ideia de uma auxiliar nova que apareceu por lá, temos um videozinho desse momento. Pela empolgação dela, não devia ser algo comum de ocorrer.
O lado bom da história é que fomos esquecidos por algumas horas. Depois das 13:00h., uma auxiliar entrou nos perguntando a que horas o bebê tinha nascido, levou um susto com a resposta, disse: “não, ele não pode ficar aqui, tem que ir para a observação!” E alguém poderia observá-lo mais atentamente que seus próprios pais?
Fomos para o quarto e depois das 17:00h. o Davi chegou. Uma auxiliar me ajudou no banho, fiquei feliz porque poderia finalmente lavar meu cabelo, mas ela disse que seria melhor um banho rápido, e eu, muito frustrada, “obedeci”. Recebemos muitas visitas, algumas muito íntimas e esperadas, algumas surpresas, algumas nem conhecia e nunca mais vi. Ficamos por lá um dia a mais do que o previsto, porque o Davi teve icterícia e precisou ficar um dia em fototerapia. Esta terceira noite foi a única em que ele ficou no quarto permanentemente. Não entendo bem porque, nas duas noites anteriores ele ficou no berçário – fui convencida de que estava muito cansada e que seria melhor assim. Mas eu sempre quis alojamento conjunto, não sei como me rendi a mais essa concessão. Estava mesmo muito cansada, sentia meu corpo muito dolorido, “atropelado”. Era acordada pela equipe infinitas vezes, era acordada pelo telefone quando finalmente conseguia dormir... Sentia uma fome incrível. Na véspera da alta, quando meu médico fez a última visita (e me informou que não iríamos embora por conta da fototerapia) fiquei muito contrariada, triste, à beira das lágrimas. Ele percebeu o impacto que isso teve em mim e, ao sair do quarto, deu um passo para trás novamente e me disse “por favor, não fica preocupada que as coisas que acontecem com ele sejam culpa sua. Você já é uma mãezona, você já está fazendo um ótimo trabalho”. Boa parte da “lista de reclamações” que se seguiria desde o nascimento até o momento da alta tem mesmo relação com essa sensação de frustração, talvez de impotência/submissão que foi a experiência da estada na maternidade (dois exemplos: 1- o Davi ter recebido complemento alimentar – inicialmente água fervida, depois fórmula, mesmo contra minha vontade, oferecido no copinho com técnica muito inadequada; 2- a lembrança da maternidade ter vindo escrito “cesárea”, o que ilustra o que era “normal” ali). Mas prefiro ressaltar dois bons momentos: (1) nessa diária “extra” que tivemos, pudemos ficar ali apenas em família, nós três, já que as visitas todas achavam que tínhamos ido embora (apesar do nítido baby blues que se instalou em mim naquele dia). (2) A última noite foi exaustiva, o Davi não saía do peito, só chorava no bercinho, as enfermeiras me pressionavam a deixá-lo ali por conta das horas de exposição à luz. Eu sentia muita cólica ao amamentar, além da dor muscular no corpo e da dor nos mamilos. Lembro que às 3:00h. ele dormiu de bruços no meu colo, eu fiz o maior malabarismo possível para colocá-lo no bercinho naquela posição sem que ele acordasse (era a quinta tentativa) e ele ficou. Então, quando o Rodrigo dormia no sofá do acompanhante e o Davi no bercinho, senti uma alegria tão grande, uma verdadeira realização, meus dois meninos dormindo tranqüilos. Eu ouvia vozes e estava tonta, como quando ficava até de madrugada terminando um trabalho da faculdade, mas fiquei olhando para eles e agradecendo a Deus, até chorei. Dormi das 3:00 h. às 6:00h., quando vieram pegar o Davi para os exames no berçário.
Finalmente tivemos alta, voltamos para casa ouvindo o CD de canções de ninar que eu havia separado, eu no banco de trás ao lado do Davi, que dormiu o tempo todo na cadeirinha. Foi um percurso muito emocionante. Olhava para o Rodrigo pelo retrovisor, tão lindo, uma beleza que eu nunca tinha visto, ele era outro, estávamos muito mais unidos. Rezamos muito no caminho, a mesma ladainha que fizemos nos momentos mais duros do parto. Chegamos em casa e eu me ajoelhei em frente às imagens de Nossa Senhora da Doce Espera, Nossa Senhora do Bom Parto e de Santo Antonio de Santanna Galvão, acendi o Sírio Pascal e fiquei rezando e chorando. Enquanto isso o Rodrigo levou nosso Davi no colo, passeando pela casa, apresentando a ele todos os cômodos, com o maior carinho do mundo, até deixá-lo dormindo em seu quarto.
Não é à toa que só consigo encerrar este relato descrevendo nosso retorno à nossa casa; hoje sei que não precisávamos ter saído daqui para ter nosso filho amado nos braços***. Mas esta é apenas uma das primeiras experiências que tanto poderiam ser melhoradas, às quais o Davi nos dá a honra de viver, sendo nosso filho mais velho.
Para finalizar, transcrevo um trecho do primeiro e-mail que o Davi recebeu, enviado por um grande amigo, que diz:”(...) treine com eles [seus pais] sua paciência, seu perdão (você vai ver com eles vão errar) e, acima de tudo, o amor.” Que o Davi não se acanhe em multiplicar quantas vezes forem necessárias, para tudo na vida, as setenta vezes sete.

*Parto normal hospitalar ocorrido em 13/08/2007; relato escrito em março/2011.
**http://www.orkut.com.br/CommMsgs?cmm=1651309&tid=5265065760945861957&kw=Ina+may&na=3&nst=31&nid=1651309-5265065760945861957-5265255899155144638
*** Dois anos e dois meses depois, nasceu em casa o Pedro, irmãozinho do Davi.

***
Aline Elise, mãe do Davi, nascido de parto normal hospitalar, e do Pedro, nascido de parto domiciliar.
Leia também o relato de parto do Pedro.
Leia também o depoimento da Aline sobre a importância do grupo.
Leia também outros relatos de parto.

10 de março de 2010

Relato de parto do Murilo - por Denise

Estou cansada, muito cansada. Mas agora carrego dentro do peito algo tão gigantesco que supera qualquer outro sentimento. Isso porque sou mãe há nove dias.

Lucio, meu marido, nunca escondeu sua enorme vontade de ser pai. Mesmo quando ainda namorávamos, ele comemorava cada vez que a menstruação atrasava e decepcionava-se quando eu, aliviada, dizia que “tinha descido”. Até que, no ano passado, em mais um desses episódios, eu senti um frio na barriga ao pensar “será?”. E vi-me em lágrimas ao perceber o fluxo menstrual algumas semanas mais tarde. O “susto” fez com que eu acordasse: eu descobri que queria ser mãe.

Pouco tempo depois engravidamos. Juntos, eu e o Lucio curtimos cada momento da gestação. Cuidamos da alimentação, acordamos cedo todos os sábados para praticar yoga e decidimos, já no último trimestre, procurar uma assistência mais profissional e humana, mesmo que isso significasse economizar em mimos para o bebê. Foi a melhor escolha que poderíamos ter feito.

Com o apoio da Dra. Andréa, da doula Ana Cris e da lista de discussão virtual Materna SP chegamos até a 40ª semana de gestação. Lucio, não dispondo do privilégio da licença antecipada, teve de ouvir muitos diagnósticos, conselhos e questionamentos, o que fez crescer sua ansiedade. Veio o feriado de 7 de setembro, nossa médica foi viajar, prometendo que viria o mais rápido possível caso o nenê decidisse nascer. Nós ficamos na expectativa, eu me senti bastante insegura nesses dias. Quando completamos 41 semanas ela já estava de volta, que alívio! Então, vieram umas contrações bem diferentes das de Braxton-Hicks, um pouco doloridas. Mas ainda estavam espaçadas demais e, mais tarde, pararam totalmente. O jeito era esperar. Dois dias depois, a Dra. Andréa realizou o descolamento da membrana, na expectativa de que, assim, eu entraria em trabalho de parto. Dito e feito!

Como fazia todos os dias, esperei o Lucio chegar do cursinho e conversamos um pouco na cama. Assim que eu apaguei a luz, à meia-noite, comecei a sentir as contrações. Temendo que fosse mais um alarme falso, fiquei bem quietinha na cama, dormindo entre uma contração e outra. Não sei se pela ansiedade ou pelo incômodo, à 1h já não aguentava mais ficar deitada e fui para a sala. Fiquei andando para lá e para cá no nosso apartamento gigantesco, que pode ser atravessado com menos de dez passos. Assim fiquei até as 4h da madrugada, quando as contrações já estavam relativamente fortes e frequentes. Chamei o Lucio, pedi a ele que ligasse para a Dra. Andréa. Eu estava assustada e ao mesmo tempo muito empolgada – meu filho estava chegando!

Depois de perambular feito uma barata tonta do quarto à sala e da sala ao banheiro, o Lucio finalmente achou seu caminho, arrumou sua mala como pôde e nós saímos para a maternidade. Durante o caminho, tudo o que eu dizia era “vai mais devagar, mais devagar”! E ele, como me disse mais tarde, sentia uma vontade enorme de acelerar ao máximo, no percurso mais longo de sua vida.

Felizmente a Ana Cris logo veio me encontrar, seu rosto familiar e sempre tranquilizador me deu muita segurança. Estava com 6 cm de dilatação, o que me surpreendeu e alegrou bastante. “Metade já foi”, pensei, “acho que não vai demorar muito”. Ah, ledo engano!

Fiquei no chuveiro, em pé, durante um bom tempo. Quando passei por novo exame, estava com 8 cm. “Puxa vida, só?”, decepcionei-me. Mas não fiquei muito tempo pensando nisso, pois as contrações estavam ficando intensas e eu não conseguia mais relaxar nos intervalos, cada vez mais curtos.

Nem sei ao certo quanto tempo se passou, a certa altura eu não estava mais no meu controle. Agarrava-me no Lucio, chorava feito criança, resmungando “tá doeeeeeeno”. Dizem que durante o parto questões mal resolvidas com a mãe ou com o marido às vezes afloram. No meu caso, vieram à tona sentimentos e comportamentos infantis, fazendo com que eu recusasse até mesmo umas gotinhas de homeopatia oferecidas pela doula: “eu não vou tomar”, disse, fazendo beicinho. Fico imaginando o que teria acontecido se minha mãe aparecesse lá e me repreendesse “fica quieta, menina, e termina logo com isso”. Será que funcionaria?

Estourar a bolsa, quando eu já estava há tempos na piscininha inflável, não resolveu. Para ser sincera, acho que nada mais resolveria, porque eu estava tomada pela dor. No intervalo entre as contrações, sentia muita pressão no ventre e na região lombar, o que era irritante. Assim, relaxar tornava-se impossível. Comecei a pedir algo que aliviasse essa sensação. Lucio, sempre muito carinhoso, dizia baixinho que eu era forte e que aguentaria sem analgesia. De tempos em tempos, alguém aparecia na porta do banheiro para me dizer que estava acabando, que faltava só mais um pouquinho. Então eu comecei a ficar brava, “faz muito tempo que falta só mais um pouquinho”... Não tinha mais jeito. Fui para a cama, colocaram umas cintas muito apertadas e incômodas em mim, para monitorar as contrações e os batimentos cardíacos do bebê. Era o primeiro passo para a analgesia.

A partir daí as contrações foram ficando cada vez mais fortes, em intervalos que pareciam cada vez mais curtos. Sentia que elas não estavam de acordo com as demais “variáveis” – e eu estava certa, pois ainda não saíra dos 8 cm de dilatação, o colo ainda não estava totalmente apagado e o bebê ainda estava alto. Não sei quanto tempo se passou até que a analgesia finalmente fosse aplicada, para mim pareceu uma eternidade. Cheguei a perguntar algumas vezes “cadê o anestesista?”, achando que estavam me enganando. Mas ela enfim apareceu, fazendo um questionário imenso, ao qual eu não tinha a menor vontade de responder. Diante do meu silêncio, ela chegou a perguntar se eu falava português! Tive vontade de soltar “falo sim, pqp”, felizmente tudo o que saiu da minha boca foi (mais) um gemido.

Tomei a dita cuja, deitei-me na cama e fiquei lá, quietinha, completamente grogue, só curtindo o efeito da droga. Não queria saber de mais nada, estava cansada. Ao meu redor, as coisas pareciam acontecer em câmera lenta. Mas já era meio-dia (ou até mais!) e as pessoas começaram a se movimentar para almoçar. A certa altura, até o Lucio saiu. E demorou muito para voltar, o que estava me deixando apreensiva. Depois ele me contou que fora até o shopping e comera uma baita feijoada!

Dois exames de toque mais tarde, a Dra. Andréa decidiu que já estava na hora de eu começar a fazer força. Eram aproximadamente 14h. Fiquei deitada por uns instantes, depois sentaram-me na banqueta de parto, sobre a cama. É muito esquisito fazer força com uma parte do corpo que você não sente. Mas assim os minutos se arrastaram. Como as contrações estavam muito espaçadas, precisei de um pouquinho de oxitocina. E as coisas foram evoluindo bem devagarinho, o bebê parecia estar com preguiça de nascer.
Quando ele finalmente coroou, pude passar os dedos em sua cabeça, o que me deixou muito emocionada. Vi seus cabelos no espelho e pensei “vamos nascer, meu filho!”. A essa altura, eu já sentia as contrações novamente e tinha relativa sensibilidade do “anel de fogo”. Essa expressão é perfeita: sentia dor por causa da pele que se esticava, mas a percepção maior era de queimação na região. Além disso, a emoção de saber que o bebê já está para nascer suplanta qualquer sensação desagradável. Então, fiz força como nunca, fechei os olhos e, quando os abri, ele já tinha nascido. Peguei-o no colo, olhei para o seu rosto, abracei-o. Eu nem consegui chorar, de tão emocionada que fiquei.

Há tempos já não enxergava o que se passava ao meu redor. Via apenas a médica, o Lucio e o meu filho pelo espelho. Quando finalmente o peguei no colo, então, passei a outra dimensão. Logo o Lucio veio ao meu lado e começou a falar com o bebê, que abriu os olhos e procurou aquela voz conhecida. Não há como descrever o que se sente nesse momento. Tudo, absolutamente tudo fica para trás.

O Lucio cortou o cordão umbilical, o que muito nos emocionou. O que veio depois ficou registrado na minha memória de forma um pouco nebulosa. A placenta saiu, eu a vi e a achei enorme (mas pelo visto não era das maiores). O bebê foi tirado dos meus braços e percebi que ele havia feito cocô em mim! Foi uma bela cagada. O Lucio me disse, mais tarde, que seguiu o pediatra (responsável pelo sequestro do pimpolho), viu nosso filho ser aspirado e examinado, além de receber as gotinhas de colírio de praxe. Ele não precisava de nada disso, mas assim foi feito.

Logo o bebê estava de volta, enrolado em um pano e com uma touquinha branca. Fiquei com ele enquanto a Dra. Andréa me examinava. Não foi feito um corte sistemático (a famigerada episiotomia) e as lacerações foram todas superficiais. No total, tomei três pontos. E só.

Quando as enfermeiras finalmente estavam tirando todos os tubos e aparelhos que haviam conectado a mim, passei um pouco mal. Só tive tempo de dizer “acho que eu estou com um pouco de tontura”. E na piscada seguinte eu já estava deitada de novo, com uma delas ao meu lado. Felizmente o Lucio estava lá, com o bebê no colo, no maior papo com ele. A visão dos dois me tranquilizou, mas tive de permanecer deitada. A pressão havia caído. Ainda assim, isso pouco interferiu na minha alegria. Logo fomos para o quarto, o Lucio foi acompanhar o bebê ao berçário, fotografou seu primeiro banho, ficou babando pelo vidro até que finalmente ele viesse para nossos braços. Exaustos, dormimos todos em um instante. E acordamos no dia seguinte como uma nova família.

Pós-parto
Para minha surpresa, as únicas coisas que me incomodaram após o parto foram a hemorroida (que já se apresentara durante a gravidez) e o local onde fora aplicada a anestesia, que ficou inchado e dolorido. Obviamente “a periquita” também ficou sensível, mas nada que uma compressa de gelo não aliviasse. Ademais, antes mesmo de receber alta do hospital isso já estava resolvido. Os pontos ainda não foram reabsorvidos, mas não incomodam, e passada a tontura por causa da pressão baixa, movimento-me sem qualquer dificuldade. Viva a natureza!

Denise Niy, mãe do Murilo, nascido de parto normal hospitalar.
Leia também outros relatos de parto.

***
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7 de março de 2010

Relato de parto do Bruno - por Agnes

É incrível que eu esteja aqui, escrevendo o MEU relato de parto, depois de tantos outros que me inspiraram na luta para ter meu parto normal!

Estava com 37 semanas e com muita coisa por fazer ainda no quartinho dele, nem sonhava que ele pudesse adiantar... eu estava super bem, fui a São Paulo na noite anterior dirigindo sozinha, nem imaginando o que estava para acontecer nas próximas horas.

Acordei 3h30 igual todo dia pra fazer xixi, tinha ido dormir quase 1h por causa de um evento que eu havia participado, daí cheguei no banheiro e saiu um marronzinho igual início de menstruação. Meu olho estalou na hora, pensei: "meeeeuuu, é o tampão!!!!". Meu marido estava jogando video game, falei pra ele que estava com um pouquiiiinho de cólica e o tampão estava saindo. Ele disse: "ferrou, não terminamos as coisas dele!"... Daí nem fui dormir, pq nem a mala do bebê eu havia feito... meu marido foi correndo dormir um pouco enquanto eu fazia a minha mala e a do meu filho, naquele esquema: 'caso precise...". Eu não estava acreditando muito que era a hora P, era muuito cedo ainda (37 semanas). Aí arrumei as malas daqueeeele jeito, pq estava com sono... esqueci várias coisas...hahaha... tinha que ser eu!!!

Terminei e deitei, pra dormir de novo, mas a cólica estava chatinha e eu fui ver TV. Mas tb num estava confortável, então vim na Net, mandei um email pra lista Invitare e outro pra mulher das lembrancinhas pra ela enviá-las o mais rápido possível, pq o meu amado bebê Bruno estava pra chegar a qq momento. Entre 5h e 6h da manhã, vi que as cólicas apresentavam uma certa frequência e cronometrei por uma hora. Algumas estava super leves, outras mais fortes que me faziam ir ao banheiro, eu acabava fazendo "number 2" toda vez! Comecei a contar os minutos para amanhecer e ligar para o médico e para a doula, não queria despertá-los a toa, afinal, eram apenas cólicas... Então 6h00 liguei pro médico e deu caixa postal. Liguei pra doula e ninguém atendeu. Mandei mensagens e deixei recados e ambos não me retornaram, então fui tomar banho, que já tinha lido que amenizam as dores. Fiquei no chuveiro das 6h00 e pouca até umas 6h30, foi uma delícia, mas quando saí parecia que as cólicas estavam bem piores. Acordei meu marido, falei que era melhor ir pro hospital para checar, já que nem o médico, nem a doula atendiam ao telefone. Então decidimos ir para avaliação... "just in case..."...hahahah. Liguei no Santa Catarina pra saber se a suite de parto natural estava livre, a recepcionista da maternidade disse: "qual?? Aquela que tem banheira??? Claaaaaro que tá livre" (como quem diz: "ninguém usa!!!)...hhaahahahahahaha. Daí eu pedi pra falar com uma obstetriz no telefone, pedindo se ela tinha o telefone da casa do médico, e expliquei como estava meu processo. Ela pediu pra eu realmente ir pra lá, pra fazer uma avaliação, enquanto isso o próprio hospital entraria em contato com o médico, já que ele é conhecido por lá. Eu e meu marido achamos melhor irmos mesmo, porque sem trânsito o hospital está a uns 40 minutos da minha casa.

Daí meu marido foi tomar um banho, já que eu estava tão tranquila, enquanto eu continuei marcando as cólicas e elas vinham a cada 5, 6, 3, 4 minutos. Estavam mais doloridas, eu tinha que parar o que eu estava fazendo quando vinha uma. O Carlos terminou de tomar banho, eu quis tirar uma foto da barriga, vá que fosse o dia mesmo (eu não estava botando uma fé, era meio surreal aquilo tudo). Fui me trocar pra tirar uma foto com a roupa de sempre (nessa hora eu já estava pronta pra ir pro hospital). O dia estava lindo, ensolarado, tiramos fotos na varanda, depois da foto que eu percebi que minha barriga estava baixa... peguei o computador pra ouvir música na sala LDR se realmente fosse o dia do parto!

Nesse meio tempo, eu estava ligando a cada 5 minutos pra doula e pro médico, e nenhum atendia....... que saco!!! Sorte que eu sou paciente e estava tranquila, se fosse uma pessoa mais agitada ou ansiosa teria pirado nessa hora!

Fizemos o caminho do hospital, parecia que era de terra, cada buraco foi uma tortura, e o percurso leva em média 40 minutos... o Carlos ia bem devagar pra não me incomodar, e ele cronometrava cada cólica no relógio. Entre elas, batíamos maior papo....

Cheguei no hospital 8h15 mais ou menos. A médica foi fazer o tal toque. Credoooooooo. Horrível!!!!!!!!!! Até chorei, um horror. Eca. Eu estava com 3,5cm e a cabeça do bebê bem encaixada. Ela disse que provavelmente eu ficaria. Na verdade, ela disse que se eu morasse perto, provavelmente seria liberada porque 3,5cm é pouco para internação, mas como morava muito longe, provavelmente eu ficaria. Ela colocou o cardiotoco por 15 minutos- que foi uma eternidade, pq eu tinha que ficar deitada. Enquanto isso, ela saiu e foi correr atrás do médico, pq nem o hospital conseguia contato.

Ah, uma coisa: cheguei no hospital e o Carlos quis me deixar na porta. Eu disse: “não mor, não precisa!”. Fui com ele pelo estacionamento, e cheguei na recepção do hospital Santa Catarina, e disse: “moço, preciso ir pra maternidade, acho que estou em TP”. O segurança ficou atordoado, chamando o outro: “traz a cadeira de rodas, traz a cadeira de rodas, mulher em TP!!!”...huhauhuahuauahuahuahuaha. Eu disse: “calma, moço, não precisa não, eu quero ir andando!”. Ele disse: “jura???????????????”. Eu tive que jurar.......huhauahuahuhaua. E fui andando!

Voltando agora ao cardiotoco. Expliquei pro Carlos o que era aquilo, como funcionava, daí vinha uma contração (a essa altura do campeonato já não eram mais cólicas!) e eu tinha que respirar fundo. Depois continuava explicando e conversando.

15 minutos do cardiotoco e a médica volta, dizendo que o médico sumiu, mas que tinha um médico da equipe dele de plantão naquela manhã e ele topou fazer meu parto natural. Eu pensei: “ferrou, sem médico, sem doula...Deus me ajude!”. Eu quis falar com o médico plantonista antes. Chamaram ele e eu disse: “olha dr, eu aceito que vc faça meu parto (eu aceito foi boa...hahahhahhahah, como se eu tivesse escolha naquela hora...hahahaha), contanto que vc faça exatamente como meu médico faria: sem intervenções, ou seja: sem tricotomia, sem episiotomia, sem enema, sem cardiotoco, sem nada. Pode ser?". Ele, super calmo e bonzinho, disse que tudo bem. Então eu aceitei e entreguei na mão de Deus, Ele sabe o que faz!

Daí a médica disse que eu realmente teria que ficar, que o Carlos podia ir fazendo minha internação, enquanto ela ia comigo à suíte de parto natural. Ela perguntou se eu queria uma cadeira eu recusei, quis ir andando. Ela falou que tudo bem, foi ao meu lado, me dava a mão, ia ma acalmando – apesar de eu estar calma, é ótimo ter alguém assim ao lado. Ela foi um amor. Parei no percurso algumas vezes durante uma contração e outra e cheguei à LDR (a tal suíte).

Ela saiu e vieram duas enfermeiras, perguntando se eu tinha comido, se queria café da manhã, como eu só tinha comido uma maçã em casa, aceitei, mas quando chegou (uns 3 minutos depois), só quis o suco. Não estava conseguindo comer, a essa altura as contrações estavam bem próximas e doloridas. As duas enfermeiras saíram ao mesmo tempo e eu fiquei sozinha. Deu um medo!!! Nada do Carlos voltar da papelada da recepção e eu com dor! Essa hora deu uma raiva da doula!!! E o pior é que o Carlos estava com meu celular no bolso dele e eu não conseguia ligar pra minha mãe, q ela estava na praia e eu tinha que avisá-la para ela subir a serra, pois o netinho estava chegando. Aqueles minutinhos sozinha me deixaram mais tensa, pareceram uma eternidade.

Cena patética, meio desesperadora: eu queria sentar na bola de pilates, estava doendo muito (isso já eram umas 8h45 da manhã) e tinha um plástico (tipo papel filme) envolvendo a bola. Então, a enfermeira havia colocado um lençol em cima para eu não sentar num plástico, para ser mais confortável. Então, na hora que eu estava sozinha e a dor havia aumentado bastante, eu quis sentar na bola, mas ao chegar perto, o lençol caiu e eu não conseguia abaixar, por causa da dor, pra pegar o lençol. Nessa hora fiquei com medo por estar sozinha, não ter a doula e o Carlos não terminar nunca a entrada burocrática no hospital. E, pior, estar sem o celular pra ligar pra minha mãe. Ngm merece.

Por Deus, consegui sentar na bola depois de umas 3 contrações e me senti um pouco melhor. Nesse meio tempo a enfermeira veio ver se eu tinha tomado o café da manhã e o Carlos chegou. Ela quis que eu comesse pra poder fazer outro exame com o cardiotoco. Eu disse: “outro? Na cama? Nem a pau que eu vou deitar lá, vai doer mais ainda!!!” Ela disse: “é necessário, mas antes vc precisa comer, pq se não dá alteração no exame”.

Eu concordei, mas pensei: “é só eu não comer que não precisarei fazer o exame...hahahaha”. Mas mesmo que eu quisesse, estava doendo bastante e eu só consegui ingerir o suco de pêssego, não dava pra comer nada. O Carlos querendo me ajudar, coitado, deve ser duro ver alguém que se ama com dores e não poder fazer nada para aliviar!!! E as contrações foram ficando cada vez mais próximas, acredito que estavam vindo a cada minuto, era como se não houvesse folga entre elas.

Daí a dor ficou punk de vez. Eram umas 9h00 eu acho. Eu não conseguia mais suportar, nem conversar quase nada. Quis a banheira. Ele chamou a enfermeira e ela começou a enchê-la, parecia que estava levando uns 45 dias pra encher, de tanto que demorou... Ela terminou de encher, eu fui pro banheiro com o Carlos, vi que tinham umas luzes lindas no fundo, adorei. Tirei a roupa e entrei e a enfermeira baixou a luz do banheiro e saiu, ela deve ter achado que ia demorar horas...hahaha... , disse que voltava mais tarde. Deu um alívio!! Mas durou uns 3 minutos e me deu vontade de fazer cocô. Falei pro Carlos da vontade e ele disse: “é cocô ou bebê, mor???”. Respondi que "num sei, nunca tive um bebê, mas prceiso ir ao vaso". Ele me ajudou a sair e eu sentei. E não veio nada. Então pensei: “vixi... será que é o bebê, tão rápido assim?’....

Voltei pra banheira. O Carlos saiu do banheiro e finalmente foi ligar pra minha mãe do quarto, pq eu tava gemendo muito e ele não quis apavorá-la. Foi o tempo dela atender e ele dizer: “A gente está no hospital, o Bruno tá chegando” E eu gritei. Senti que era a hora. Falei: “Caaaaaaaaaarlos, ta vindo!!!!!!”. Ele desligou correndo, correu pra chamar as enfermeiras e o médico, que nem estava paramentado ainda, foi uma correria, gente entrando e saindo, ngm imaginava que ia ser tão rápido.

Daí o médico entrou e pediu pra eu sair da banheira. Não sei se ele não queria ou não podia fazer o parto na banheira, só sei que eu disse: “não dá pra me mexer, tem algo aqui embaixo e a dor é insuportável”. Ele ficou com medo do Bruno nascer ali e mandou esvaziar a banheira. Eu pensei: "como assim???? Esvaziar a banheira??!?!!?". Mas eu não disse nada, só gritava de dor. O Carlos disse: “mor, vamos pro quarto, eu te ajudo”. Tadinho, ele devia estar muito assustado, ngm pra dar apoio pra mim, nem pra ele... Então ele e a enfermeira me ajudaram a sair da banheira, no que eu saí, veio uma dor pavorosa, achei que fosse nascer e eu agachei de cócoras no corredor durante a contração. Me ajudaram a chegar na cama e, por incrível que pareça, adorei ter ido pra maca, foi o lugar mais confortável!!! Justo eu que vivia dizendo que a cama é péssima pra parir, foi o melhor pra mim!! Mais confortável até que a banheira!

Deitei e vieram umas 5 ou 6 contrações até o Bruno nascer. Eu devo ter acordado o hospital todo, de tanto que gritei. Foi completamente involuntário, era meu corpo que pedia. Antes do parto, eu achava que dava pra escolher se gritaria ou me concentraria na respiração, afinal u havia feito yoga, iria me concentrar e seria uma lady... Ledo engano. Não dá pra pensar, só pra agir. Seguir o instinto. Só. E meu instinto era gritar igual uma desgovernada...hahahaha

E então, senti a cabeça coroar. E mais uma dor, o corpinho nasceu. E a dor, sumiu, deixando só o alívio e a maior emoção que eu já pude sentir em toda a minha vida. Ele veio direto pro meu colo. Não mamou, só lambeu. E eu chorei. E o Carlos chorou. E a vida mudou. Pra sempre.

Uns 15 ou 20 minutos depois a placenta saiu sozinha, nem senti. Depois ele deu uma anestesia local para dar os 6 pontos da laceração de 2. grau que eu tive. Doeu um pouco, mas eu estava em êxtase, não parava de falar. O Carlos foi com o médico para os procedimentos com o Bruno e voltou em seguida.

Enquanto eu era transferida para o quarto, ele foi dar o primeiro banho no nosso gatinho. Deve ter sido emocionante! Só faltou a câmera fotográfica pra ter registrado tudo. Ficou na mala, não deu tempo de ir buscar. Sem registros do banho ou do parto em si. Mas está gravado na nossa memória. Para todo o sempre.

Enfim, melhor impossível. Mais perfeito do que nos meus melhores cenários de parto. Doeu muuuuuuuuito, mas foi apenas durante uma hora, e passou na hora. Ele nasceu 9h33, 10h30 eu estava tomando café da manhã, pq estava morta de fome, estava até fraca, parecia bêbada. Lembro de eu tentar falar a palavra molhado e não saía, igualzinha bêbada...hahahaha... mas depois do café fiquei 100%. 11 e pouco da manhã eu já fui ao banheiro sozinha. Uma e pouco da tarde fui tomar banho. 48h depois, tivemos alta. Perfeito. Mesmo sem meu médico, mesmo sem minha doula, apenas meu marido, que foi excelente. Ele não era a favor do parto normal, sempre achou que não havia necessidade deste sofrimento. Agora, tadinho, disse que parto normal é um horror, pq eu gritei muito e ele ficou meio traumatizado. Mas viu os benefícios da recuperação e entende o pq de eu querer um parto natural, sem intervenções.

Se a doula tivesse aparecido, ela o teria confortado e talvez a coisa tivesse sido mais light, eu não teria ficado sozinha nem um minuto, teria tido mais massagens (eu tive uma massagem, que a própria enfermeira me aplicou, ela foi minha doulinha!). Mas não posso reclamar de nada, apenas que eu tive o parto dos meus sonhos - num sábado de sol, com meu marido ao lado, e meu filho rapidinho em meus braços. Foi mágico.

Agradeço às listas e aos relatos todos que eu li durante a gravidez, que me ajudaram a passar por tudo isso de maneira digna e ter um parto natural decente, sem intervenções. Ao meu marido, por me apoiar e estar ao meu lado naquela hora tão mágia, mesmo sendo contra o parto normal. E, acima de tudo, a Deus, que me proporcionou a benção e a alegria de ser mãe.

***
Agnes Tanchéla, mãe do Bruno, nascido de parto natural hospitalar.
Leia também o depoimento da Agnes sobre a importância do grupo.
Leia também outros relatos de parto.
 

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