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27 de novembro de 2016

2016, o ano sem fim

Por todas as batalhas políticas e os retrocessos no campo dos direitos, em especial para mulheres, negras, lésbicas e trans, este ano ficará marcado na história de nosso país. Para quem busca uma assistência ao pré-natal, parto e puerpério que seja digna, respeitosa e baseada em evidência, para quem está grávida e quer parir, o cenário não poderia ser mais desapontador...

Mas se reconhecemos, atônitas, as muitas batalhas perdidas ao longo do ano, temos também a convicção de que continuaremos lutando pela manutenção de direitos, pela atenção digna, humanizada, de qualidade e acessível a todas as mulheres. Essa certeza nos mantém de pé, unidas, com a mesma ética de sempre, centrada na mulher. De vez em quando preciso, sim, repetir isso tudo para mim mesma. O cotidiano duro impõe responsabilidades e tarefas que não podem esperar. Trabalho, estudo, casa, namorado, filho, não necessariamente nessa ordem. Eu diria, até, em total desordem...

...ainda assim, é maravilhoso quando, dentro dessa bagunça, consigo me arrancar de casa para participar do encontro mensal do grupo. Essa conexão com as mulheres, suas angústias, dúvidas e incertezas, isso funciona como um diapasão: abro meus ouvidos, afino minha escuta, de modo que minha atuação como ativista, militante, pesquisadora, mulher seja consoante às necessidades femininas.

Com essa energia boa, finalizamos o ano e desejamos um 2017 melhor

Escrevendo assim, até que parece fácil! Como se não houvesse diversos interesses em jogo nas cesarianas eletivas, como se a "pessimização" do parto normal não servisse aos interesses corporativos e misóginos, como se normalmente os riscos das cesáreas não fossem minimizados ou mesmo ocultados, como se as vantagens dos nascimentos cirúrgicos não fossem sobrevalorizadas pela sociedade, como se tudo se resumisse à decisão entre parto normal e cesariana...

Mas talvez essa complexidade seja justamente a parte sexy da história! Não basta estudar evidências sobre episiotomia, é preciso conhecer a história de como o procedimento foi incorporado à prática médica, entender como os profissionais de saúde são treinados, analisar como a assistência é prestada, entre tantas outras coisas. Eu certamente me perco nesses oceanos de informação, ainda assim, considero-me uma boa nadadora, ao menos o suficiente para não me afogar. Assim venho dando minhas braçadas como militante, aprendendo muito com quem já trilhou esse caminho antes e procurando não me desviar da minha rota. Tem sido uma linda travessia.

Foi lindo, também, o último encontro do ano do Grupo MaternaMente. Com muitas mulheres, alguns homens, e vontade de sobra para aprender, conhecer, entender: combustível extremamente bem-vindo, em especial dentro dos 16 Dias de Ativismo. Do 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, até o 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, reforçamos nossa luta e nosso interesse em uma vida mais digna para todas as meninas e mulheres em todo o mundo. Com um bônus: dia 6 tem lançamento do livro Direitos Humanos no Brasil 2016, editado pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, com um capítulo que eu e Deborah escrevemos. Vai ser no Sesc Bom Retiro e todas e todos são mais do que bem-vindos!!


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