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Parto do Princípio: 8 anos de estrada |
Em 2006, quando um grupo de mulheres se uniu em seus variados
talentos para formar a rede Parto do Princípio, não era possível imaginar o
cenário atual do movimento que se configura como de “humanização do
nascimento”. Na contramão da sociedade, essas mulheres decidiram expor sua
insatisfação com a assistência ao parto então ofertada nos serviços de saúde e
lutar pela mudança de paradigma, de modo que enfim se devolvesse à mulher seu
lugar de protagonista no parto.
É verdade que as taxas de cesariana pouco se alteraram desde
então – ou até mesmo aumentaram – e acontecimentos recentes insinuam a
possibilidade de retrocesso, numa onda conservadora que visa sobretudo tolher a
autonomia da mulher nesse momento tão singular que é o do nascimento de seu
filho.
Apesar disso, ou talvez justamente por essa causa, as pessoas
que conformam a Parto do Princípio, entre as quais tenho o orgulho de me
incluir, continuam em sua militância apaixonada. Muitas não têm filhos, muitas são
mães que, como eu, descobriram um universo paralelo por meio da experiência. São
pessoas de diversas regiões do país, com diferentes contextos familiares e
profissionais, e que têm em comum a luta pelos direitos sexuais e reprodutivos
da mulher.
Com muito amor e criatividade, as mulheres da Parto do Princípio
elaboram ações que, embora de baixo custo, mostram-se muito complexas em termos
de concepção e execução. Isso porque demandam atos de apoio e de luta que
envolvem principalmente relações humanas, tanto individuais quanto coletivas.
Trata-se de um fazer diário, árduo, em especial porque o retorno nem sempre é
imediato ou evidente. Talvez por isso, também, a rede seja subestimada, muitas
vezes por suas próprias integrantes.
A Parto do Princípio mostra-se única no país, por sua
conformação horizontal e democrática e por sua gestão eminentemente virtual.
Por suas ações efetivas, criativas e de baixo custo, pelo trabalho qualificado
de centenas de mulheres, pela presença cada vez maior e mais eficaz nas
instâncias políticas de nossa sociedade, essa rede obteve uma grande vitória
neste mês materno: conquistou um lugar no Conselho Nacional dos Direitos da
Mulher.
Os 26 votos dos 37 possíveis confiados à rede confirmam que a
Parto do Princípio detém legitimidade e reconhecimento ímpares quando se trata
da luta pelos direitos sexuais e reprodutivos da mulher. Confirmam, ainda, que
estamos diante de uma nova etapa em nossa luta, com a criação de novos cenários
de atuação. Se antes apenas desejávamos parir em paz, agora queremos o céu
cravejado de diamantes. Sejamos realistas, que se peça o impossível!
- a quatro mãos, com Deborah Delage
Um comentário:
Conheci a PP entre 2008 e 2009, grávida em busca de um parto "normal". Foi através da rede que me empoderei e encontrei meu caminho na militância por mais respeito às mulheres, bebês e famílias no momento do nascimento. Parabéns, Denise, estamos juntas, parceira!
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