Como mãe solo e em tempo integral, vivo por vezes agruras com o menino em casa, de férias. O que deveria ser motivo pra festa, bagunça, descanso, passeio, acaba se tornando preocupação, correria, malabarismo... esta semana (sim, isso tem acontecido numa base semanal, pobre guri) foi a reunião em Brasília. E lá fui eu participar de mais uma reunião para elaboração das diretrizes nacionais para assistência à cesariana.
Essas diretrizes estão sendo elaboradas pelo Ministério da Saúde faz algum tempo e há um ano, mais ou menos, foi formado um grupo consultivo para debater as recomendações desse documento. Participam desse coletivo o Conselho Federal de Medicina, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, a Associação Médica Brasileira, entre muitas outras entidades médicas, além de entidades ligadas à enfermagem, aos hospitais, aos convênios médicos e, claro, às mulheres. Minha reverência ao Ministério da Saúde por incluir as usuárias nesse debate e que iniciativas semelhantes a essa possam se repetir em outras áreas, em outras instâncias, com outros coletivos.
Enfim, sobrevivi. O debate em Brasília foi tenso e não creio que tenha se encerrado. As diretrizes representam apenas uma partezinha de um contexto complexo, que requer muitas ações, nas mais diversas áreas, para favorecer a autonomia da mulher no que diz respeito às decisões sobre seu corpo. Não se trata apenas de escolher entre parto normal e cesariana - isso também, mas não só isso. Tanto que entre hoje e o fim de semana, Deborah estará na etapa estadual da Conferência Nacional de Saúde.
Torço para que ela tenha muita saliva pra gastar nas articulações possíveis e necessárias, de modo que nossas pautas sigam para a etapa nacional. Não vai ser fácil, pois há tempos que o corpo da mulher deixou de ser dela mesma e, mais grave que isso, um forte conservadorismo tomou conta de nossa sociedade, o que por sua vez apenas recrudesce ainda mais as interdições e violências a nós, mulheres.
É nesse clima de luta e solidariedade que realizaremos, no sábado, nosso encontro sobre gestação e parto. Vamos conversar sobre a nossa realidade, sobre nossos planos, nossos sonhos, nossos desejos. Todas as pessoas são bem-vindas e o respeito ao coletivo e às individualidades, fundamental.
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