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22 de março de 2010

Tal mãe, tal pai

Da Agência USP de notícias
Pais idealizam paternidade sem considerar limitações
Por Felipe Maeda Camargo - felipe.maeda.camargo@usp.br

Ao pesquisar o comportamento de homens à espera da paternidade, o psicólogo Rubens Maciel verificou que eles muitas vezes idealizam o papel de pai. No estudo, elaborado para sua tese de Doutorado pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, Maciel explica que os homens criam muita expectativa em torno do papel de pai, o que ultrapassa as suas próprias condições.
Pais inexperientes se sentem inseguros com a paternidade ao idealizarem-na
Pais inexperientes se sentem inseguros com a paternidade ao idealizarem-na

A observação do psicólogo parte de seus conhecimentos teóricos e de entrevistas que fez com quatro homens entre 30 e 40 anos de idade, que viviam uma união estável e que estavam acompanhando a gravidez de suas mulheres. Maciel notou que eles tinham muita expectativa em relação à paternidade.

“Os pais entrevistados sonham em ser um modelo aos filhos, mas isso lhes traz angústias. Eles não sabem se poderão cumprir o papel”, diz Maciel. O psicólogo notou que um dos motivos da expectativa dos entrevistados era a vontade de serem pais melhores do que o que tiveram: “Alguns dos entrevistados falavam de seus pais com certo ressentimento. Davam relatos como ‘O meu pai foi ausente’ e ‘Meu pai não me criou do jeito que eu queria’”.

Ainda na pesquisa, que teve orientação do professor da FSP Alberto Olavo Advíncula Reis, se observou que os pais também viam a paternidade como solução para seus problemas.“Os filhos podem trazer aos pais uma esperança messiânica, como se no futuro eles (o pai, a mãe e o filho) viveriam uma situação idílica, livres de angustias”, diz Maciel.

O psicólogo explica que essa atitude costuma vir de um pai imaturo, que não está pronto para cuidar de um filho. Este homem “pode desejar conscientemente ser pai”, diz Maciel, “mas inconscientemente ainda se sente como um filho”, no que resulta em um pai infantil, com conflitos e despreparado.

Por isso, a sua pesquisa enfatiza a importância da maturidade para a paternidade. O pesquisador afirma que um pai maduro vai receber seu filho com maior capacidade amorosa e podendo lidar com todas as responsabilidades que a paternidade traz (financeira, relação com a mulher, educação…). Por sua vez, “um pai imaturo poderá afetar negativamente o filho, por exemplo, ele pode ter uma personalidade muito rígida”, afirma Maciel.

De acordo com o estudo, a maturidade do pai e a qualidade da relação entre pai e filho dependem da criação que o homem teve e de sua individualidade. A educação e a influência dos pais no homem são essenciais quando este for criar seu filho. Mas Maciel também destaca a individualidade, pois o que a pessoa recebeu de criação pode não ser suficiente, depende “da forma que ela consegue manter aquilo que aprendeu”.

Papel atual
Apesar de haver muitos trabalhos sobre maternidade, o psicólogo lembra que há poucas pesquisas que abordam a paternidade. Mesmo com menor ênfase, Maciel ressalta a importância atual da paternidade: “O pai sempre se manteve mais distante dos filhos. A condição dele era de provedor. A educação era papel da mulher. Hoje é diferente, os pais estão muito mais próximos e influenciam os filhos muito mais do que antes”.

Maciel conta o caso que notou enquanto fazia sua dissertação. Nela, o psicólogo estudou a estruturação da personalidade de meninos que moram nas ruas e percebeu que o pai era uma pessoa muito importante para eles. Isso influenciou o pesquisador na escolha do tema de sua tese, no qual ele se aprofundou na influência psíquica que os filhos trazem aos homens.

“O filho provoca um forte sentimento de responsabilidade, em que alguns homens se sentem preparados, outros não”, diz Maciel, que lembra que a maioria dos homens tem condições de serem bons pais, desde que estejam preparados: “A maioria das pessoas, a qualquer tempo da vida, pode buscar um trabalho de desenvolvimento pessoal, de modo que supere suas limitações emocionais para capacita-los a serem bons pais”.

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