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13 de março de 2013

Nascimento da Luísa

Quando engravidei, simplesmente não imaginava o longo trajeto que percorreria até meu parto normal... Eu sinceramente achava que só precisava de um pouco de coragem, convênio médico, uma boa anestesia e tudo correria bem.  Nunca até então havia passado pela minha cabeça parto natural... Também não era simpática a cesárea, mas reconhecia que o medo da dor no final poderia acabar me levando pra ela e na verdade, por mim tudo bem... não eram questões importantes pra mim, pensava mais na saúde do bebe se desenvolvendo, me cuidar pra não engordar muito... coisas  comuns de uma mulher comum ao engravidar...


Ao desenrolar do pré natal, pesquisando muito, trocando de médicos, participando de grupos pró parto, fui sentindo a tensão aumentar ao perceber 2 coisas: que eu não queria mais apenas normal... eu queria natural... não sei com q força, não sei com q coragem nem com q poder rsrs mas eu queria!... e que não era tão fácil assim conseguir o mais óbvio... se me contassem (e me contaram, na vdd), eu não acreditaria, eu precisava passar pelo processo pra entender como esse sistema roto funciona, as leis que são descumpridas e a total falta de respeito pelas pacientes no momento mais sensível de suas vidas... No 3* tri, encontrei um GO que atendia de forma pessoal e humanizada. No entanto, era preciso pagar pelo parto e isso estava fora das minhas pretensões, não tinha o dinheiro em caixa e resolvi pesquisar mais a fundo sobre as Casas de Parto, q eu tanto temia...  visitei a CP e o hospital de escolha na mesma semana e ficou evidente a diferença de tratamento... saí do hospital com uma certeza: ali não era um lugar pra parto normal muito menos natural, e meeenos ainda com plantonista... A opçao então deveria ser CP... esta foi minha ultima conversa com o GO, que apoiou minha ida pra CP... ele estava saindo em viagem no feriado e minha consulta seguinte  estava marcada pra quinta... Enquanto isso, eu cheguei as 37 semana e fui toda feliz iniciar o atendimento na CP.... Qual não foi minha surpresa quando fui rejeitada lá por ter Prolapso da Valva Mitral, uma condição não patológica, mas que acrescenta algum risco a mais do que as demais mulheres que não tem isso... enfim, plano A indo por água abaixo, restava abrir a mente, o coração e o bolso pra garantir meu médico comigo no hospital. Acertaria tudo na consulta de quinta. Estava exausta de tanto andar atrás deste parto, de tanto ouvir "não" daki e dali... não poderia ter chegado até aki pra perder meu parto... É uma vergonha o que uma mulher tem que passar pra ter um parto decente!!! Ah, neste interim, consegui um laudo do cardio não recomendando indução do parto por ocitocina sintética, devido ao PVM... dependendo de quem pegasse esse laudo, ele podia ser lido como: "Deixe o parto ser natural!", ou como "Faça uma cesárea sem pestanejar!" rsrs  Tb contratei uma doula pra me acompanhar e contatei o convênio pra tentar garantir a presença do meu marido no pré parto do hospital escolhido, citando as resoluções da ANS e meus diretos... haviam proibido homens no pré e pós parto, só poderia mulher e eu queria q ele revezasse com a doula... aliás, este e-mail foi enviado no dia 6/02, e reforçado umas 2 ou 3 vezes neste período.. a única resposta q eu tive até agora é q estão verificando, estão passando pro setor responsável, etc etc, sem nada concluído... quero só ver qual vai ser a resposta kkkkkkk
                ASSIM, chegamos ao dia 12/02.. 7h da manhã... Acordei sentindo cólicas suaves... o primeiro pensamento foi: é hoje!!! Que dia é hoje? 12/02/2013! Q data linda! rsrsrsrs e levantei igual princesa da Disney, feliz, cantando, louvando a Deus, agradecendo por estar próximo o momento do parto... tomei um café, fucei na internet, como sempre... qdo meu marido acordou, subi de novo e no banheiro vi que meu tampão tinha saído! "aha! não disse q era hoje???"rsrssr e aí que fui falar pro marido e tal... fiz a unha, tomei um banho, baixei as musicas q eu queria pro pré parto no mp4, cantando sempre, toda feliz! Avisei a doula do sinal de parto e disse que ligava se progredisse. Saímos, fomos buscar umas coisas que faltavam... passamos num restaurante aki perto de casa, almoçamos... aí que pedi pro marido começar a contar as contrações, que estavam leves e eu desconfiava que pudessem estar pegando ritmo... elas marcavam 10min, 19m, 15m, 10m... chegamos em casa, ainda higienizei as coisas que compramos, enfim, ainda num super pique rs a bolsa da bb estava arrumada, a minha ainda não... as contrações toaram ritmo, 5-5min e a dor intensificou... fui pro banho quente, fiquei lá por uma hora mais ou menos... o João contatando a doula, verificando a progressão... eu no banho me depilei... é, eu tava indo pro Hospital sem meu médico, eu tinha que escolher por quais brigas eu ia me desgastar... eu abria mão disso, mas entendia que se eu mesma fizesse, seria menos constrangedor... então entre uma contração e outra, conclui a tarefa rsrs fui pra cama e avisei o marido que não ia conseguir fazer a mala, ele se virou como pode rsrsrs A doula chegou, me ajudou com massagens, com posição, vocalização, etc etc quando as contrações estavam em 1,5min, foi hora de irmos ao hospital... me posicionei no banco de trás, cabeça no colo da doula e fomos... dores cada vez mais intensas...
                Chegamos no hospital umas 19h, eu agarrada na minha anja doula, umas 5 pessoas me ofereceram cadeira de rodas, até brinquei dizendo que devia ser uma liquidação kkkkkkk rejeitamos todas e passamos na triagem, quando recebi a notícia de que não poderia ter nenhum acompanhante no pré-parto, apenas no parto... Choquei né? Fiquei debatendo com a enfermeira na porta do pré parto, mencionando a resolução da ANS, foi um momento muito difícil, a enfermeira dizendo pra eu entrar, que ela ia me examinar e tal e eu implorando pela doula ir comigo... por fim entrei sozinha e no mesmo instante, o trabalho de parto desacelerou, ficou menos intenso tb... a enfermeira me examinou, eu estava de 3-4 cm de dilatação, a anestesista veio se apresentar, o médico plantonista tb, discuti com ele a existência da tal resolução, que ele dizia desconhecer (que raiva!!).... mas que enfim, por causa do laudo do cardiologista, me deixaria lá sem ocitocina, pra ter o bb naturalmente (isso foi dito com certo desdém na voz rsrsrs)... recusei assinar o termo de anestesia antes de verificar necessidade, mas permiti o acesso com soro glicosado quando o médico garantiu que não colocaria ocitocina... Tem mais detalhes, mas sinceramente escrever sobre isso me deixa aflita, não sei como não pirei nesta hora, hoje me dá uma angústia só de pensar em tudo que poderia ter acontecido ali, meu plano de parto indo por água a baixo... A sala era super iluminada, fria, tudo que eu não precisava naquele momento... Quando a dor vinha, eu vocalizava, e a enfermeira veio me dizer pra eu não fazer isso, mas sim soprar (de forma beeeem silenciosa né? rsrsrs)... isso tudo foi muito triste, muito mesmo... Eu argumentava com todos, de forma suave e tentando respeitar as profissionais, mas tentando tb não ceder, pedindo pela acompanhante, enfim, virei a paciente "causadora"... A esta altura, deixaram a doula entrar rapidamente, falei sobre a dilatação e ela me perguntou se o trabalho diminuiu o ritmo etc... pedi que ela encontrasse o tel do meu médico e ligasse pra ele, quem sabe ele já estivesse em SP já, quem sabe me atenderia mesmo sem termos acertado tudo antes, porque ali, com aquele médico plantonista, era certo que eu não ia parir... Depois soube que nesse tempo, meu marido tava lá embaixo ameaçando chamar a polícia, mas ninguém cedia... até q conseguiu o telefone do médico, ligou pra ele e explicou toda a situação, pedindo que ele viesse nos atender... Algum tempo depois, o médico ligou no pré parto perguntando sobre mim e dizendo que eu era paciente dele... Aleluia! Alívio! Alegria!! Daí pra frente, foi mesmo  que aconteceu meu trabalho de parto... Ele pediu pra deixarem a doula entrar e que logo ele estaria lá comigo... Aí a coisa fluiu... Fui pro banho quente e pouco depois a doula entrou... me ajudou a caminhar, fez massagem, me ajudou muuuito!... o médico chegou, de vez em quando ouvia  o coração do bb, fazia um toque... mas segundo a doula, foi econômico nos toques... eu já tava com passagem comprada pra partolândia, lembro de poucas coisas desses momentos finais...
                Bom, se os partos da Ju Beraldo e da Carol Valente foram "tsunâmicos", o meu foi mais pra "garoa paulistana" rsrsrs suave, constante, persistente... Continuei andando, a evolução foi acontecendo, fazia uns semi-agachamentos, ajudou muito ficar na posição vertical... Depois de um tempo andando, agachando, cochilando entre uma contração em outra, eu sentia os puxos, sentia tb a bb descendo... a doula chamou o médico pq a bebe já estava chegando... Fui andando pra sala de parto. Lá, tentamos um parto verticalizado, mas eu não conseguia fazer a força no lugar certo, sei lá... não ajudava... as enfermeiras ficavam assim, tensas, de ver o médico esperando pacientemente a bb descer, eu de pé... uma perguntou: tem certeza que ela não prefere subir na cama???  rsrs enfim, acabei subindo e assumindo a mais tradicional das posições hospitalares pra parir... mas foi o que me ajudou a focar a força.. a doula não pode ir comigo, meu marido logo chegou e tirou pouquíssimas fotos pq me ajudou em cada força que eu fiz, me erguendo, me animando... precisamos de várias contrações, mas o médico sempre paciente, dando o tempo q meu corpo precisava... Finalmente a cabecinha apareceu lá dentro, o médico disse que eu podia tocar, de cara eu disse "Não!", sei lá porque rsrsrs mas depois toquei, foi muito bom sentir minha filha chegando... senti os cabelinhos da Luísa... linda! Eu estava bem cansada... chamava "Vem Luísa! Vem filha!" Não sei quanto tempo ficamos ali, creio que uns 20 minutos... Finalmente, depois senti a bebe coroando.... siiiimmmm rsrsrs foi a hora que gritei..... logo me lembraram a concentrar na força... instantes depois, conseguimos! 13/02/2013, 2h41... Ela veio diretamente pra mim, chorando um pouco, quentiiiiinha, essas sensações pele a pele eu nunca vou me esquecer, acho.... E acho que uma das primeiras coisas que e disse foi: Eu não acredito que eu PARI!!!! eu estava mesmo abismada que eu tinha conseguido fazer aquilo... tava em êxtase! Minha filha no meu braço, senti o cheirinho dela... o médico esperou o cordão parar de pulsar para clampear e pedir que meu marido cortasse... levaram ela pra ser pesada e tal... e logo voltou pra mim pra tentar mamar, mas não conseguimos de cara.... Meu GO, um verdadeiro parteiro, veio a mim e disse: Parabéns! Vc resgatou o verdadeiro significado de parir!... Acho que eu nunca vou esquecer essa frase rsrsrs e ainda chamou todo animado a enfermeira: Olha aki fulana, nenhuma laceração! rsrsrs senti um alívio imenso nesta hora, mas nem tava lembrando do meu períneo até então...
                Enfim, pude ir pro pós parto, comi, estava faminta... e já no quarto, recebi minha filha, que mamou super bem... Tava com a cabeça vermelhinha, acho que do atrito na saída do útero, coisa que em dois dias tinha sumido... Virei uma espécie de ícone no hospital, toda profissional que vinha nos visitar me parabenizava por ter parido naturalmente... gerou um certo burburinho isso... a moça que pariu sem anestesia, sem episio, sem laceração rsrsrs a família tb, tá todo mundo incrédulo, eu sempre fui super manhosa, chorona, mole pra dor rsrs
                Este hospital me deixou intrigada... eles tem uma equipe muito atenciosa, valorizam muito a amamentação, ninguém me chamou de mãezinha, eles tem uma equipe já numa pegada humanizada,  que pra mim é o mais difícil de conseguir... só falta abrir a mente de quem tá lá em cima pra criar a estrutura de um centro de parto normal decente... tenho certeza que seria muito bem-vindo... A equipe do pré-parto ficou encantada com isso de parir natural, era como se fosse coisa de outro mundo.. Uma delas me perguntou quem era a doula, se era minha parente, o que é doula, etc etc... disse até que quer fazer o curso rsrs E que faça! Que o vírus do bem se espalhe rsrs Digo com sinceridade... o parto foi meu sim, mas se não fosse pela minha doula e pelo médico, eu não teria conseguido... Enfim, isso tudo foi uma experiência muito linda... transformadora, realmente! E meu desejo é que todas as mulheres tenham partos que as façam se sentir assim, plenas e poderosas, como eu saí do meu.

Andreza Nunes, mãe da Luísa

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei sua história de parto. Eh parabéns ! Espero q a sementinha da conscientização se espalhe entre os profissionais !

 

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