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13 de setembro de 2012

Essa linda rede de mulheres

Hoje posto um depoimento que escrevi na segunda-feira, muito emocionada após perceber as coisas boas que têm nascido no meio de momentos difíceis, e resolvi dividir com vocês, pois o Grupo MaternaMente é um dos "culpados" por eu estar me sentindo tão acolhida :)

Imagem retirada do Facebook, autor desconhecido (quem souber, pode falar!)

Há exatos 2 anos, me mudava para São Bernardo. Morava com o Jeff em Santos, desde 2007 (claro que mudando muito de casas, mas sempre pela Baixada Santista, que foi onde nos conhecemos). Viemos para cá porque ele foi chamado para trabalhar aqui. Viemos, sem conhecer ninguém, e sem muito apoio. Outubro de 2010, descubro que estou grávida de 6 semanas. Queríamos muito este filho, pois desde a minha cirurgia de redução de estômago em 2009, feita para este fim (ter filhos), então, fez todo o sentido. Foram 45 kg a menos e muita, muita terapia pra entender que por trás daquela gordura tinha muuuuita coisa escondida.

Com a notícia da minha gravidez, apesar de tão esperada, o baque foi imenso. Ao mesmo tempo em que crescia em meu ventre esse serzinho, muitas coisas cresceram dentro da cabeça e do coração. E muitas coisas morreram também. Grandes amigos se foram, seja porque morreram, seja porque a vida quis que nos afastássemos. Mas, ah... que saudades eu senti, e ainda sinto de todos eles. Eu até tentei guardar rancor, mas não consegui. O que eu sinto é saudade. Daquela que dói lá dentro. E me perguntava: porque a vida tem que levar as pessoas desse jeito? Porque, mesmo vivas, as pessoas tem que se afastar?

Comecei a sentir, ao mesmo tempo em que a vida crescia dentro de mim, uma profunda tristeza de tantas coisas que construí morrerem desta forma, Ao mesmo tempo em que eu percebia o recado da vida: "pra nascer uma vida, é preciso morrer outra, o outras. É essa a lei."

Nos mudamos para este apartamento com 4 meses de gravidez. Não conhecíamos absolutamente ninguém, viemos para cá porque era perto do trabalho dele, e só. Tudo no escuro.

Comecei a frequentar grupos de gestantes em São Paulo (Gama) e aqui no ABC (MaternaMente). Aos poucos fui percebendo que além de todas as mortes que ja estavam ocorrendo, poderia acontecer mais uma, a do meu parto. A morte do meu parto, a morte do meu direito de escolha em ter a minha filha da forma como eu quisesse. Foi então que encontrei um grupo de mulheres, em SP e no ABC, que me ensinaram muitas coisas, mas a principal, foi: autonomia. Autonomia do corpo, do parto, da cabeça, da vida. E acho que, porque justamente vivia um momento tão dificil, me fortaleci no meio daquela tribo de mulheres. Algumas com boas experiências de parto, outras o oposto disso, mas todas, sem excessão, com uma coisa em comum: guerreiras. Mulheres que buscam a sua autonomia.

Fui me fortalecendo dessa ciranda linda do quarto mês de gravidez em diante. Me sentia sozinha, por tudo o que havia acontecido, mas ao mesmo tempo, estar ali com aquelas mulheres me dava uma força que vinha das entranhas, que vem de lá de dentro, meio sem explicação. Passei a me sentir, como nunca antes, parte do mundo, da natureza, parte da vida. E pela primeira vez, me senti realmente parte de algo. Não, eu nunca havia sentido isso em momento algum da minha vida. Sempre me senti o peixe fora d´água, onde quer que eu estivesse.

O tempo passou, Elis nasceu da forma mais autônoma possível, e eu continuei a estar com essas mulheres. Aos poucos, a rede foi se tecendo, aumentando, mais e mais mulheres entravam na nossa ciranda, para tornar nossas experiencias ainda mais ricas e fortes.

Meu marido foi dispensado do trabalho, e, ao mesmo tempo em que batia o desespero de grana, batia também a vontade de sair para o mundo, sabendo que agora ele poderia ficar com ela, já que não tínhamos ninguém para ficar com ela. Peguei umas aulas de inglês em uma escola, mais a título de "sair da toca" do que propriamente pela grana (porque paga mal pra caramba...), e ver como me porto tendo um compromisso fixo, tendo que me virar, deixar a Elis sempre com alguém neste momento da aula, enfim. Foi mesmo pra me forçar sair da toca e voltar a viver a vida "lá fora", o que não fazia ha 3 anos e meio, desde a cirurgia.

Foi então, ao abrir-me ao inesperado, que percebi. Aquelas mulheres que participavam comigo de tantas discussões sobre maternidade, tornaram-se minha família. Uma família que eu escolhi. E aos poucos, essa família vai aumentando e se tornando algo tão grande e bonito, tão cheio de significado, de tantas historias bonitas e tristes, que fazem parte dessa colcha de retalhos.

Hoje, voltando pra casa, depois de deixar a Elis pela primeira vez na casa de uma dessas mulheres tão especiais que conheci nesses dois anos, chorei. Chorei e agradeci. Agradeci por sentir que essas flores começam a crescer. Essas sementes que foram plantadas com tanta dor e com tanto amor, aos poucos, começam a se tornar flores lindas e coloridas. Pensei em cada pessoa que esteve ao meu lado, e agradeci à vida por ter me dado coragem, mesmo depois de tanta coisa ruim ter acontecido. Eu cheguei a achar que nunca mais sentiria esperança denovo. Mas a vida é tão sábia, e como diz Clarissa Estés em A Ciranda das Mulheres Sábias, nós somos como árvores. Pode-se cortar o galhos, o tronco, mas mesmo assim, a árvore continua crescendo. Porque ela tem sede de vida. E eu tenho sede de vida. E eu amo estar viva. Gratidão a todas vocês. Gratidão ;)

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