Mas se não os temos, como sabê-los?
O poeta do cotidiano e de muitos amores por vezes carrega no machismo, mas quem sou eu para desdizer ou criticar Vinícius de Moraes? Pois do cheiro morno da carne dos filhos só temos pista quando eles nascem. O meu veio logo para o meu colo, e abriu os olhos, e me fitou longamente, e então num reflexo convulso eu e ele inspiramos, sentindo mutuamente o cheiro de nossas carnes.
***
Poema enjoadinho
Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!
***
Vinícius de Moraes
Nova Antologia Poética
São Paulo: Cia das Letras, 2005.
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