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20 de abril de 2010

Ai, meus sais

Enfim as instituições hospitalares vão deixar as mulheres se alimentarem durante o trabalho de parto? Eu acho pouco provável, por mais que as evidências científicas mostrem que não há problema nisso. Basta ler atentamente a notícia divulgada hoje na Folha.

O texto diz objetivamente que a alimentação durante o TP é benéfica. Então salienta que a exceção cabe à cesariana agendada, porque a "cirurgia requer oito horas de jejum para alimentos sólidos e seis horas para líquidos". Não vamos entrar nesse mérito, apesar de eu achar bastante descabida uma notícia que fala sobre alimentação durante o TRABALHO DE PARTO mencionar a cesariana AGENDADA como exceção.

Mais do que esse trecho, é de indignar o depoimento da ginecologista Márcia da Costa:

"Se o parto for normal, mas houver suspeita de que a mulher não vai ter dilatação, também é melhor evitar a alimentação", diz a ginecologista Márcia da Costa, coordenadora médica da maternidade do Hospital São Luiz -unidade Itaim.

SUSPEITA DE QUE A MULHER NÃO VAI TER DILATAÇÃO? Como assim? Alguém mais capacitado pode me explicar a que ela se refere?

Não existe falta de dilatação. O que existe é falta de paciência (ou de vontade) para deixar o trabalho de parto evoluir, como bem demonstra o quadro de Mitos e Fatos elaborado pela doula e obstetriz Ana Cristina Duarte.

No fim do texto da Folha há um link para notícia publicada em fevereiro sobre o mesmo assunto. Este, então, é fechado pela "brilhante" opinião de um anestesista:

"Da perspectiva de um anestesista, eles perderam a mão neste caso", disse Craig M. Palmer, presidente do comitê de anestesia obstetrícia (sic.) para a Sociedade Americana de Anestesistas. "Eles examinaram o impacto sobre a progressão do trabalho de parto, mas, para ser honesto, esse não é um assunto para anestesistas. Nossa principal preocupação é com a segurança do paciente".

Pois é. Pois é. Pois é. Para o médico anestesista, tanto faz se o TP vai bem ou mal, pouco importa o conforto da mulher. Importa, sim, ele dar uma anestesia geral sem se preocupar com quem a está recendo.

***

20/04/2010 - 12h36
Alimentação durante trabalho de parto está liberada

JULLIANE SILVEIRA
da Reportagem Local

Em nome do conforto, vale até comer enquanto o bebê não chega. Uma revisão recente de cinco estudos científicos concluiu não haver provas de que a alimentação durante o parto normal faz mal à mulher.

O trabalho avaliou dados de 3.130 mulheres e foi publicado pela Cochrane, rede internacional de revisão de pesquisas.

A crença de que a mulher deve ficar em jejum vem dos anos 1940, quando foi levantado o alerta de que, durante uma anestesia geral, haveria maior risco de vômito e de o alimento do estômago ser aspirado pelos pulmões, causando problemas à paciente.

Mas a anestesia aplicada na gestante só atinge o abdômen e os membros inferiores, tornando mínimo o risco de reaspiração dos alimentos. "Muitos médicos têm receio de ser necessária uma anestesia geral, mas isso é raro e atípico", diz o ginecologista Alberto d'Auria, diretor do grupo Santa Joana.

Na verdade, a alimentação pode ajudar a mulher: como ela pode esperar até 16 horas para o bebê nascer, precisa de uma fonte de energia. "Se sente fome, é sinal de que há algum nível de hipoglicemia. É mais saudável oferecer comida do que dar glicose na veia", acrescenta.

A exceção ocorre no caso de uma cesariana agendada. A cirurgia requer oito horas de jejum para alimentos sólidos e seis horas para líquidos.

"Se o parto for normal, mas houver suspeita de que a mulher não vai ter dilatação, também é melhor evitar a alimentação", diz a ginecologista Márcia da Costa, coordenadora médica da maternidade do Hospital São Luiz -unidade Itaim.

Experiência

A fisioterapeuta Luciana Morando, 27, já sabia que poderia se alimentar durante as contrações, caso sentisse fome.

Foi internada às 11h, e seu filho, Guilherme Mendes Morando, nasceu depois das 20h, tempo suficiente para ela almoçar e lanchar. "Achei importante comer. Parto é trabalho mesmo. Tive mais energia para o momento da expulsão."

Os alimentos devem ser leves como grelhados, purê, arroz e vegetais, para não piorar um eventual mal-estar causado pela dor, segundo a ginecologista Márcia da Costa. "Se ela estiver indisposta, pode tomar sopa. Vai do desejo da paciente." Se ela estiver sem apetite, o médico pode manter os níveis de glicemia com soro.

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04/02/2010 - 08h57
Análise refuta benefícios de restrição a comida em trabalho de parto
do New York Times

Especial Mães e Filhos Alas de maternidade sempre proibiram mulheres em trabalho de parto de comer ou beber. Mesmo quando a situação se arrasta por algum tempo, as refeições geralmente se limitam a gelo picado.

Agora, uma revisão sistemática de estudos existentes não encontrou nenhuma evidência de que as restrições exerçam qualquer benefício sobre a maioria das mulheres saudáveis e seus bebês.

As proibições visam reduzir o risco da síndrome de Mendelson (doença com o nome de Curtis L. Mendelson, obstetra de Nova York que a descreveu pela primeira vez na década de 1940), que ocorre quando o conteúdo do estômago é puxado para dentro dos pulmões enquanto a paciente está sob anestesia geral.

Mesmo rara, a síndrome pode ser fatal. Atualmente, entretanto, o uso de anestesia geral durante o trabalho de parto e no parto em si também é raro. As cesarianas são geralmente feitas com anestesia local.

"Minha opinião sempre foi que, da mesma forma, você poderia dizer que ninguém deve comer ou beber antes de entrar num carro, pois você pode se envolver num acidente e precisar de anestesia geral", disse Marcie Richardson, obstetra e ginecologista do Harvard Vanguard Medical Associates, em Boston, que não esteve envolvida no novo estudo.

O Centro de Medicina Beth Israel Deaconess, onde Richardson realiza partos, estima que apenas de 1 a 2% das mulheres em trabalho de parto recebem anestesia geral.

As restrições datam de quase sete décadas atrás, segundo Joan Tranmer, professora associada de enfermagem na Queen's University, em Kingston, Ontário, e autora da nova pesquisa, publicada na semana passada pela Cochrane Collaboration.

"Achamos que era hora de questionar isso, agora que estamos na década de 2000", disse Tranmer, que afirmou ter visto mulheres demais em trabalho de parto com sede e boca seca tendo de recorrer a chupar panos úmidos.

"Com técnicas avançadas de anestesia, deixamos de usar muito a anestesia geral", disse ela. "Mesmo quando é preciso administrá-la, as técnicas estão aprimoradas, e os riscos são muito, muito baixos".

"Então, nós transformamos a pergunta: existem benefícios em restringir comidas e bebidas orais durante o trabalho de parto? Não encontramos nem benefícios, nem danos".

Os autores reconhecem haver encontrado relativamente poucas evidências para analisar: onze estudos, incluindo apenas cinco experimentos aleatórios controlados abrangendo 3.130 mulheres.

Todos os estudos acompanhavam mulheres em trabalho de parto ativo e com baixos riscos de exigir anestesia geral. Um comparava a restrição completa de comida e bebida com a liberdade total de comer e beber, dois comparavam água com outros líquidos e alimentos, e dois comparavam água com bebidas isotônicas.

Não houve diferenças estatisticamente relevantes em resultados primários, como a taxa de cesarianas e as escalas de Apgar fetais, ou em resultados secundários, como a necessidade de aliviar dores ou duração do trabalho de parto. Um pequeno estudo, entretanto, descobriu um aumento nas cesarianas entre mulheres tomando isotônicos, em comparação àquelas limitadas a beber água.

Alguns hospitais colocaram restrições a bebidas durante o trabalho de parto nos últimos meses, desde que o Congresso Americano de Obstetras e Ginecologistas emitiu, em agosto, novas diretrizes permitindo às pacientes beber líquidos claros. Mas as diretrizes mantiveram a restrição a alimentos sólidos.

"O problema está nas cesarianas de emergência, que são raras, mas não inexistentes", explicou William Henry Barth Jr., presidente do comitê de prática da obstetrícia da sociedade. "Naquela situação, simplesmente não há tempo para parar e aplicar uma anestesia local. E isso pode ser imprevisível".

Os médicos anestesistas foram críticos em relação à nova pesquisa, dizendo que nenhum dos estudos era grande o bastante para avaliar o impacto da comida sobre os riscos durante a anestesia geral.

"Da perspectiva de um anestesista, eles perderam a mão neste caso", disse Craig M. Palmer, presidente do comitê de anestesia obstetrícia para a Sociedade Americana de Anestesistas.

"Eles examinaram o impacto sobre a progressão do trabalho de parto, mas, para ser honesto, esse não é um assunto para anestesistas. Nossa principal preocupação é com a segurança do paciente".

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