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6 de outubro de 2014

Visita ao Hospital da Mulher de Santo André

Por Raquel Zanelatto

Segunda-feira, noite do dia 22/09/2014, fomos chegando aos poucos ao Hospital da Mulher (Santo André) e formando um grupo de 15 adultos, a maioria mulheres, algumas gestantes e muitas trazendo seus consigo seus bebês. Quem nos recebeu inicialmente foi a diretora de enfermagem, Sônia Maria dos Santos Arceno, que enfatizou que desde o início de 2013, quando assumiu o cargo, vem lutando pela humanização do atendimento oferecido pelo Hospital. Segundo ela, até então, a gestante não contava com acompanhante durante o pré-parto e as taxas de episiotomia e aplicação de ocitocina eram muito altas. Em sua fala inicial, destacou a importância do contato de grupos de mulheres com a equipe gestora do Hospital, indicando que essa união pode favorecer mudanças no sentido da humanização.


À fala de Sônia, seguiu-se o relato muito expressivo da Elis, que descreveu as lembranças – em sua maior parte negativas – que trazia do parto do Pedro, realizado em 2012, nesse Hospital: a sensação de falta de liberdade e desrespeito, quando haviam prometido a ela que teria espaço para protagonizar seu parto – pois isso é que é humanização! - a postura dos profissionais que a separaram de seu esposo, logo no momento da triagem, a obrigação em permanecer em posição desconfortável e que lhe causava dor, a bolsa rompida artificialmente, o medo, a falta de confiança, a crítica à possibilidade de gritar, a manobra de abertura do colo pelas mãos da enfermeira, a episiotomia sem consentimento – e sua cicatriz; a falta de contato pele a pele inicial com o bebê, o estresse-pós-traumático – enfim, a violência e as marcas que ela deixou no seu corpo e na sua história.

Ao ouvir a experiência de Elis, Sônia reconheceu que a única fonte de informação segura sobre o parto é a informação da gestante; reiterou as mudanças de 2012 para cá, mas apontou que ainda há uma série de obstáculos: “alguns médicos já aceitam o parto natural, mas nem todos, é difícil!”

Seguiu-se, então, um novo relato, dessa vez da Bruna, que é doula e acompanhou sua cunhada durante o parto, há 4 meses, também nesse hospital. Da experiência de Bruna, surgiu o tema da doula não poder acompanhar o parto, tendo que revezar o seu lugar com o marido da gestante.

Veio então a primeira afirmação que merece registro e divulgação: “a doula não precisa sair mais!”. Doula e marido – ou outro acompanhante da escolha da mulher – podem acompanhar o parto no Hospital da Mulher. A partir de quando? “De agora!”

Outro aspecto importante foi levantado: e o Plano de Parto? Se a mulher o trouxer, ele será respeitado? Mais um sim da enfermeira Sônia.

Então, Sarah ressaltou a importância da divulgação desses procedimentos e de um cadastramento das doulas, a fim de assegurar essa conquista para todas as mulheres.

A conversa seguiu e outros temas foram aparecendo, esses ainda configurados como obstáculos a um atendimento que respeite os direitos da mulher: o que está sendo feito para trabalhar com os profissionais mais resistentes a essas mudanças? Qual é a base científica dos protocolos que o hospital segue para o uso de recursos como a bola, o “cavalinho”, o banho de chuveiro, durante o trabalho de parto? E se a gestante optar por parto domiciliar, mas precisar de transferência para o Hospital, ela será bem acolhida?

Depois desses temas espinhosos, que não tiveram uma resposta muito clara.... visitamos as dependências do Hospital, a fim de conhecer sua estrutura. Após a visita, conversamos com a Dra. Rosa Maria Pinto Aguiar, superintendente do Hospital da Mulher.

Ela ressaltou que o índice de episiotomias vem caindo e que a meta do Hospital é chegar a 30% de partos com essa intervenção, no final do ano; lembrou que por se tratar de um hospital-escola, não há como impedir que os médicos residentes assistam aos partos; informou que a taxa de cesáreas no Hospital gira em torno de 37% e que há um desafio em reduzir a prematuridade extrema, que tem sido a principal causa de morte neonatal do Hospital. Enfatizou ainda que a equipe médica é resistente a algumas mudanças e que há uma falta de médicos, o que dificulta novas contratações.

Apontou que não há garantia de que o que foi aprovado no Orçamento Participativo vai ser efetivamente cumprido, e que atualmente, os profissionais estão em formação pelo programa de treinamento ALSO (Advanced Life Support in Obstetrics).

Ao final, comprometeu-se a registrar por escrito os compromissos assumidos:

· cadastramento de doulas, que poderão acompanhar o parto, com o/a acompanhante de escolha da mulher, sem necessidade de revezamento;

· divulgação das taxas de cesáreas e de episiotomias realizadas pelo Hospital da Mulher;

· respeito ao Plano de Parto trazido pela gestante e à opção da mulher pelo Parto Natural;

· garantia de acolhimento ético e respeitoso, caso a gestante tenha iniciado o trabalho de parto com intenção de realização do parto domiciliar e tenha havido necessidade de remoção ao Hospital.

Entregamos uma carta, assinada pelo grupo, com as demandas que temos identificado e recebemos o convite para participarmos das reuniões do Conselho do Hospital da Mulher, ainda que inicialmente como ouvintes. Ela ressaltou a importância de investigarmos a possibilidade de ocuparmos como representantes da sociedade civil, uma das cadeiras do Conselho, a partir das resoluções da próxima Conferência Municipal de Saúde.

***
Leia também notícia publicada no Diário Regional sobre a presença de doulas no Hospital da Mulher de Santo André

Um comentário:

Juliana disse...

Parabéns pela luta, Mulheres!
O Brasil precisa avançar muito nesse aspecto e é com nossa atitude que tudo acontece.
Vamos em frente!

 

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