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8 de março de 2013

Companheira, a luta é todo dia


Eu não posso, com a minha história e minha vida, fazer uma postagem fofinha nesta data. Acho que nem conseguiria, vocês não me reconheceriam, né? Então, assim de começo, peço perdão. Por não responder, exatamente o que você me perguntou. Por lhe perguntar coisas sobre as quais prefere não falar. Por responder algo que desestabiliza seu conhecimento e lhe causa desconforto. E por quaisquer outras situações...

Desta forma aberta, esta postagem não tem maiores pretensões. Apenas gostaria que você olhasse para si mesma e pensasse um pouco sobre cada luta que empreende após se levantar, todos os dias. Para dar conta, dentro do tempo que tem, de todas as tarefas que se propôs fazer e que seu companheiro não divide com você. Para educar de forma igualitária sua menina e seu menino, contra o que diz todo o seu entorno, e talvez até mesmo o seu companheiro. Para garantir que sua opinião sobre a vida e as coisas tenha o mesmo peso em casa. Para que o seu parto, que acontece no seu corpo, seja só do jeito que você deseja, sem concessões a quem quer que seja. Para que seu trabalho de maternagem seja tão reconhecido como útil para sua família e para a sociedade quanto qualquer trabalho remunerado. Para viver sua sexualidade de forma plena e sobre ela ter total poder de decidir.


Eu precisei passar por muitas coisas sozinha, para hoje compreender e viver que é muito mais fácil lutar de braços dados com quem nos entende. Até o nascimento de minha filha eu não tinha me dado conta de como havia sido moldada para aceitar a opressão. Dali para frente, num aprendizado a duras penas, fui caminhando em terreno ainda mais difícil, porque agora estava visível. Perceber que não havia saídas fáceis provocou em mim uma mudança de rumo na vida, que hoje não tem volta. Não aceito mais nada que eu não aprove. Posso até mesmo perder uma batalha para um poder maior que meus próprios desígnios, mas terei lutado.

Neste mês, cruzo a barreira simbólica de meio século de vida, e posso dizer que agora tenho consciência da minha felicidade. Que não se faz de rosas ocasionais entregues em dias especiais, mas da percepção de mais um dia significativo na vida. De mais uma mulher com seus direitos respeitados. De menos uma mulher engolida pelo sistema que elimina sua subjetividade, lhe corta o ventre e os genitais e lhe rouba o prazer de parir. De mais um dia sem uma fábrica cheia de mulheres trancadas para morrerem queimadas, apenas por serem mulheres.


Reconheço em você e sua história um pouco da minha própria. Olhe bem para si e de lá dentro traga à tona sua essência. Veja que, para ser isso que agora está em suas mãos, precisará matar mais que um leão por dia. Não, seu drama não é único: ele ecoa nas histórias de todas as irmãs de caminhada. E faz todo sentido abrir a janela, a porta e ir à luta por uma vida mais digna para todas as mulheres.

“Sinto que sou um bosque
Que há rios dentro de mim,
Montanhas, ar fresco, ralinho
E parece-me que vou espirrar flores
Que, se abro a boca,
Provocarei um furacão com todo o vento
que tenho contido nos pulmões.”
(Gioconda Belli)

6 comentários:

Denise disse...

Sem palavras. :´)

Carol Valente disse...

To chorando. Só tu mesmo. Parabéns pra nós.

Marcelo "Muta" Ramos disse...

Muito bom Deborah! E textos assim devem ser divulgados e lidos por todos, não só por mulheres...

Já que homem algum tem direito a achar "chato" assuntos tão importantes. :o)

Anônimo disse...

Conhecendo o blog hoje - eu, como sempre, muito atrasada em tudo - e me apaixonei por estas tuas reflexões. Que delícia ler este texto. Fervilhou diversas reflexões aqui na minha cabeça... obrigada.

Priscila Cavalcanti disse...

amei.

Deborah Delage disse...

Moças, não quero fazer ninguém chorar, assim não vale...
Muta, muito bom conhecer você, muito grata pelas lindas e sensíveis imagens que capturou para nós! fique muito à vontade para divulgar este e outros textos do blog. Beijo grande!

 

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