19/10/2013
Por Aline Melo
Por Aline Melo
Levantamento
realizado pela reportagem do Diário Regional junto às prefeituras do ABC
identificou que, em 2013, dos 10.891 nascimentos ocorridos em hospitais
privados até agosto, 87,5% foram por via cirúrgica. A taxa é quase seis vezes
maior do que a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que afirma
que as cesarianas não devem ultrapassar 15% do total dos nascimentos. Na rede
pública, o número é menor, mas ainda longe do ideal: 43,6% dos bebês nasceram
em cirurgias. A taxa total da região é de 65,2% de cesáreas, no total de 22.066
nascimentos. Em 2011, a taxa ficou em 64,68%.Lançado este ano, o documentário O
Renascimento do Parto, apresenta diversos relatos de mulheres que foram
submetidas a cesarianas, não por opção, mas porque foram induzidas de alguma
forma pelos médicos, com alegações não baseadas em evidências científicas.
Mães, pais e profissionais que apoiam o parto normal relatam como essa
experiência pode ser traumática e a cesárea sem indicação médica clara é
classificada como violência obstétrica.
O coordenador do Grupo de Trabalho (GT) Saúde do Consórcio
Intermunicipal do ABC e secretário de Saúde de São Bernardo, Arthur Chioro,
classificou a situação dos hospitais privados como epidêmica. “Não tem nada,
ciência, evidência cientifica, não tem boas práticas médicas que possam
justificar isso”, afirmou. Chioro destacou que, apesar das prefeituras terem responsabilidade
pela promoção da saúde em todo o território, a capacidade de regulação sobre os
serviços privados é praticamente nenhuma. “A não ser os instrumentos de
vigilância sanitária e a capacidade de convencimento. Dialogar, chamar (os
gestores), identificar os problemas associados a essa epidemia de cesariana”,
completou.
“Porém, acho que, fundamentalmente, nosso maior papel é em relação à
conscientização da população, em particular das mulheres, da revalorização do
parto normal”, completou. Para o coordenador, em muitos casos, são as próprias
gestantes que já chegam aos consultórios particulares e de convênios pedindo
pela cesariana. “As mulheres precisam compreender que um parto normal não é
necessariamente um parto com dor. Bem cuidado, bem assistido, só tem vantagens.
Para o bebê que nasce na hora certa e, portanto, tem menos prematuridade, e
para a mulher por que não é cirurgia”, explicou.
Documentário
O professor de Obstetrícia da Faculdade de Medicina do ABC Mauro
Sancovski entende que essa afirmação é temerária. “Podemos acreditar que em
alguns casos o critério para realização da cesárea não obedeceu a uma indicação
de natureza estritamente obstétrica, mas podendo ser de interesse mútuo do
médico assistente e da mulher, desta forma o consentimento desqualifica este
rótulo”, pontuou.
“Em se tratando se hospitais privados, em muitos casos a gestante e o
médico que vai assisti-la já tiveram muitos contatos prévios no pré-natal e a
cesárea, mesmo quando eletiva, já foi acordada. Em casos onde o médico optou
sem as devidas justificativas e sem o aval da gestante ou da parturiente,
poderíamos sim, considerar como uma violência obstétrica”, completou.
A Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) e a Associação
Nacional de Hospitais Privados (Anahp) foram procuradas, mas se abstiveram de
comentar os dados.
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