Social Icons

24 de março de 2010

A importância do grupo - por Aline

Queria agradecê-las, porque tenho clareza da importância do MaternaMente no meu preparo para esse acontecimento. Poder ter falado de mim, da minha experiência no parto do Davi, certamente me ajudou a entender melhor as coisas e os meus desejos. Ouvir vocês é sempre muito enriquecedor, e aprender com as experiências de vocês foi muito importante pra mim. O meu preparo foi graças a uma conjunção de muitos fatores, de muitos encontros com pessoas que acreditam que a vida acontece, que os bebês nascem, que uma mãe pode parir e que pode descobrir como deseja que isso aconteça.

***
Aline Elise, mãe do Pedro, nascido de parto domiciliar, e do Davi, nascido de parto normal hospitalar.
Leia aqui o relato de parto do Pedro.

23 de março de 2010

Relato de parto do Pedro - por Aline

Numa tarde chuvosa de segunda-feira, com uns 7 meses de gravidez, eu e o Davi, nosso filho de 2 anos, recebemos duas visitas queridas. Uma delas veio me ajudar a relembrar respiração e relaxamento para o trabalho de parto, a outra veio trazer um mosaico com o nome do Pedro. Tinha torta de banana com chocolate e um chazinho. Estava um clima muito gostoso, mas só me dei conta dele quando escutei: “que delícia aqui, tá... um cheiro de lar!”. Fiquei muito feliz e emocionada, porque eu sabia exatamente o que era isso, de tantas vezes ter sentido em casas de avós - em lares de avós.
Posso dizer que foi aí que eu me rendi ao parto domiciliar. Eu não percebi na hora, mas foi esse momento que me fez passar a desejar que o Pedro nascesse aqui em casa. Alguns dias depois, na consulta com a homeopata da família, que recomendava o parto domiciliar desde o início da gestação, se assim quiséssemos, perguntei muito e me pus a chorar. Estava convencida. Os próximos dias foram para ir revelando ao Rodrigo, meu amado esposo, que eu já tinha uma decisão, já tinha elegido um plano A dentre as várias opções que havíamos desenhado. Por amor ele me ouviu, por amor ele se abriu, por amor ele e eu continuamos avaliando os prós e contras. Até que a decisão passou a ser nossa.
Retomamos contato com a parteira que já havíamos conhecido há alguns meses e fizemos mais mil perguntas a nossa homeopata, que se dispôs a acompanhar o parto também. Ficamos ainda mais confortáveis com tudo. Preferimos não revelar nossas intenções à família, apenas minha mãe e meu pai souberam antes do dia D. Imaginávamos que as tensões e medos de todos poderiam interferir no conforto da decisão. Não sei se teria sido assim. Depois que o Pedro nasceu a idéia foi tão bem recebida, os familiares e amigos ficaram tão tocados, tão admirados e tão agradecidos! Mas desde o nascimento do Davi, parto normal hospitalar, achamos mais confortável evitar as pressões que acabam acontecendo perto da hora P.
O Pedro tem o nome do meu avô, uma homenagem. A data prevista para o parto era 4 de novembro e eu queria muito que ele nascesse no dia 5, data natalícia do meu outro avô. Mas pelas minhas contas as 40 semanas se completariam dia 7.
Estava combinado com meu GO que, se “nada acontecesse” até dia 4, eu deveria ligar para ele. Dia 4 fiz uma bela caminhada, dia 5 caminhei de manhã e só liguei para ele à tarde. Ele disse que eu fosse à maternidade para uma amnioscopia. Não gostei nada da idéia: já sabia que estava com dilatação de 3 para 4 dedos (porque minha parteira tinha verificado), talvez quisessem me segurar por lá. Além disso, não me convenci da necessidade desse exame. E foi a sorte, porque houve mecônio no nascimento, e se já houvesse no momento do exame, poderia apavorar a equipe e pôr em risco inclusive um parto normal. Não fui. Andei por mais uma hora no entardecer do dia 5. Nesses últimos dias, de vez em quando eu tinha umas contrações doloridinhas.
Dia 6, sexta-feira, amanheci decidida a conversar com meu GO. Liguei para ele e disse que não ficasse na expectativa da minha amnioscopia, porque eu não iria. Falei também que queria muito entrar em trabalho de parto em casa e que se tudo estivesse bem, poderia ficar por aqui mesmo e dar à luz em casa. Ele estava esperando assistir ao parto no hospital em conjunto com a parteira. Foi uma conversa muito boa, pude agradecer sua atenção e cuidado durante o pré-natal e antes de desligar perguntei se poderia passar no consultório na segunda-feira, caso nada acontecesse. Na verdade foi um telefonema libertador e acho que a partir daí as coisas engrenaram mesmo.
Fui ao parque com minha mãe e o Davi. Eles ficaram jogando bola e eu andando com o Pedro na barriga. Foi um momento inesquecível, delicioso, lindo. Quando pensava em parar, eu dava uma volta mais. Enquanto andava eu cantava baixinho:
“Espero por Ti / Sou sede de Ti / Ouve meu grito / Quero liberdade/ Quero meu pé na estada que me leva a Ti...” e
“A voz do anjo sussurrou no meu ouvido / E eu não duvido, já escuto teus sinais / Que tu virias num amanhã de domingo / Eu te anuncio nos sinos das catedrais / Tu vens, tu vens, eu já escuto teus sinais”.
Depois fiquei alongando, soltando o quadril, como minha parteira tinha me ensinado. Passamos a tarde na casa da minha mãe, brinquei muito com o Davi no quintal, com o barrigão de fora, agachando para aliviar as contrações. Uma delícia não ter nenhum problema em “exagerar”, “carregar peso”, etc: já estava na hora de nascer, mesmo...
Algumas contrações pareciam mais “definidas”, eu liguei para minha parteira umas duas ou três vezes, um pouco preocupada com o trânsito do horário de pico. Ela me disse que daria tempo e que eu não ficasse racionalizando, medindo as contrações, mas que deixasse meu corpo se entregar, que eu iria perceber a evolução mesmo sem cronometrar. Segui a risca essa sugestão. Estava um dia bem quente, no início da noite fui tomar banho, pensando “será o último banho grávida?”. Umas oito e pouco tive uma contração definida e senti uma umidade, não sei bem o que era. Estava meio alheia às conversas da família, na sala. O Rodrigo chegou para nos buscar. Eu tinha ido dirigindo, mas fui falando com ele à tarde por telefone e decidimos deixar o carro lá e pegar no dia seguinte (rsrs, o carro ficou lá por um bom tempo!).
Fui embora certa de que o Pedro nasceria naquela noite. O Davi dormiu no carro. Ao chegar em casa, separei umas fraldas, toalhas, e deixei em cima da mesa. Parecia tudo pronto. Na verdade, ainda tinha muita coisa para ser feita, mas é como se nada importasse, o essencial estava lá. Assisti um pouco de televisão, era tão estranho pensar que supostamente alguns instantes antes do parto tudo estava tão normal, sem cerimônia nenhuma... brinquedos no chão, roupas espalhadas, louça na cozinha (até que a casa estava arrumadinha, porque passamos o dia fora!). E por outro lado não havia escândalo nenhum nisso. É o fluxo da vida mesmo.
As contrações silenciaram. Fui deitar por volta das dez com uma sensação de “parou“. Liguei para minha mãe dizendo que dormisse tranqüila, porque pelo jeito não estava acontecendo mais nada. Fiquei deitada, mas não peguei no sono logo, fiquei rezando e adormeci mais de onze horas. Meia noite e vinte acordei com uma contraçãaaaao. Fui ao banheiro, voltei e deitei mais um pouquinho para descansar, mas não cairia no erro de ficar deitada como fiz durante o trabalho de parto do Davi (como era madrugada, minha intenção era dormir entre as contrações). Como mudei nesses dois anos! Como aprendi sobre gestação, parto, nascimento, e sobre mim!
Tentei ir para a sala, mas o resto da casa me parecia “impessoal”, quis ficar no quarto mesmo. Fui para a cozinha e comi alguma coisa, voltei para o quarto com a bola suíça. Fiquei sentada na bola rebolando, com o rosto apoiado na cama, numa almofadinha. Fui ao banheiro várias vezes.
Por volta da 1:30h. chamei o Rodrigo e decidimos ligar para a parteira. Ele foi buscar o telefone, eu mesma falei. Ela me perguntou a freqüência das contrações e eu disse “mas você me falou para não medir...”. Ela me orientou a ir para o chuveiro e eu perguntei se isso não relaxaria e faria as contrações pararem. Ela falou bem sério comigo perguntando o que eu queria. Em nenhum momento eu tive dúvidas de que ficaria em casa, na verdade para mim já estava acontecendo e assim continuaria, mas entendo esse questionamento dela como mais um convite a parar de racionalizar (se no chuveiro o processo parasse, era porque não era trabalho de parto, senão continuaria e pronto. Deixa fluir.). Nem registrei detalhes da conversa, porque as contrações estavam fortes. Quando vi que ela ia desligar, eu disse que durante o telefonema tinha tido três contrações (tempos depois, quando a conta de telefone chegou, vi que essa chamada teve 4 minutos e 20! E eu tive três contrações! Foi bom mesmo não ter medido).
Fui para o chuveiro. Muitas vezes, quando eu imaginava o trabalho de parto, pensava que seria bem humorado subir na balança imediatamente antes e imediatamente depois do parto. Mas naquela hora olhei para a balança e não tive humor nenhum para fazer isso, rsrs... Engraçado que pensei “daqui a pouco, quando a dor melhorar, eu subo”. Até parece...
Fiquei em pé com a água morna caindo nas minhas costas por um tempo. Foi bom porque aliviou o calor, mas logo comecei a ficar com frio. O Rodrigo fechou a janela do banheiro e começou a derreter... Resolvi ficar de quatro, rebolando, no chão da banheira, mas logo meus joelhos e cotovelos começaram a doer bastante por causa do meu peso. O Rodrigo foi buscar o tapete de EVA do Davi para eu me apoiar, mas não deu muito certo porque as partes começaram a boiar e ficar arrumando me irritava. Pedi umas toalhas de rosto e o Rodrigo me ajudou a colocá-las sob os braços e joelhos. Aliviou por pouco tempo, mas em alguns momentos essa dor era mais incômoda do que as próprias contrações. Lembrei que soltando a mandíbula a gente solta a pelve também e comecei a abrir e fechar a boca, emitindo um gemido como um /gzangzangzan/ mal articulado, especialmente durante as contrações.
“Daqui a pouco” escutei a voz da minha parteira, Vilma: “pra frente e pra trás” (minha tendência era sempre rebolar para os lados). Eu sorri, disse “oooi”. Perguntei as horas, eram 2:30h. Não acreditei que uma hora havia se passado, parecia muito menos! Perguntei se ela queria que eu avisasse sobre as contrações, e eu logo disse “acabou de acabar uma” e uns cinco segundos depois “não, só está acabando agora”, ela riu. Eu mesma não ia conseguir avisar e logo percebi que com a experiência dela ficava mais do que nítido quando começava e acabava a contração, então desisti. A Vilma perguntou se tínhamos ligado para a médica, então eu pedi que ela fizesse isso. Ao voltar ela não disse nada. Depois perguntou se eu queria verificar a dilatação. Eu aceitei. Tive que mudar de posição na banheira para me aproximar dela e percebi como estava difícil comandar meus movimentos. Sete centímetros! Que alegria! Fiquei muito satisfeita, comemorei com o Rodrigo, “uaaau!”, mas logo pensei “ai, e os outros três?!”.
Uma vez, conversamos sobre nossa vontade de que o Pedro nascesse na água. A Vilma fechou a tampinha da banheira para já ir enchendo, acho que ela viu que estava progredindo rápido. Fiquei mais um pouco ali, rebolando, movimentando a mandíbula, gemendo. A sensação térmica indefinida e variável estava muito incômoda. Por causa da dor nos apoios, fiquei em pé novamente, embaixo do chuveiro, com a cabeça tombada para o lado direito. A Vilma me sugeriu retificar a cabeça e perguntou se eu estava evitando molhar o cabelo. Não era isso, eu não sei por que estava torta, mas era muito custoso comandar o movimento de arrumar a cabeça.
Em algum momento perguntei se eles tinham conseguido falar com a médica, só para ter uma idéia de quando ela chegaria, mas a Vilma disse que não. Eu estranhei e ela disse que o celular deu caixa postal, se estava tudo bem pra mim. Olhei pro Rodrigo e fiz que sim com a cabeça, na verdade na hora não me importei nem um pouco com isso, não dei espaço para me importar, quis “continuar meu trabalho” sem gastar energia lidando com esse inesperado.
Não consigo lembrar com exatidão a cronologia desse pedaço, mas sei que quando eu estava mergulhada na água da banheira senti vontade de ir ao banheiro. Com muita dificuldade (começar a falar era difícil também) disse isso. A Vilma disse que eu podia fazer ali mesmo, depois era só remover. Num instante vi o Rodrigo chegar no banheiro com um balde e uma pazinha de lixo. Ri, olhei para a Vilma e ela riu também. Achei isso lindo, essa passagem tão boba ilustra muito bem como o Rodrigo estava ali presente, completamente disponível. Mas eu ainda estava tentando entender se era mesmo vontade de ir ao banheiro. A Vilma disse “depois a gente troca a água”, mas aquilo me deu uma preguiça tremenda, encher tudo de novo? Ia demorar, minha vontade era “agilizar”. Não falei nada, acho que só acenei “não” com a cabeça. Ela me disse para não segurar a vontade, porque quem segura uma coisa segura outra – no caso, o bebê! – também. Então eu me superei e saí dali, apoiada pelo Rodrigo. Sentei no vaso e a pressão foi muito forte, como se estivesse sentando numa cadeira. Eles colocaram uma toalha nas minhas costas, porque o frio aumentou muito nessa hora. Vi que não ia acontecer nada e resolvi ficar de cócoras no chão. Segurei bem firme na pia e comecei a transferir o peso de uma perna para outra, com o quadril bem baixo.
A parteira tinha escutado o coraçãozinho do Pedro umas duas vezes na banheira e nesse momento escutamos de novo e ela me mostrou como estava posicionando o aparelho bem mais para baixo, sinal que ele estava encaixando cada vez mais. Ouvimos o coraçãozinho dele por um bom tempo, perguntei se estava tudo bem, ela me garantiu que estava tudo ótimo e que seria a primeira a dizer caso não gostasse de alguma coisa. A partir daí nem pensei em me preocupar com isso, apenas confiei.
Foi muito bom sair da banheira, acho que estava cansada da posição. Mas a dor continuava muito forte, só a posição estava melhor. Quando eu estava de cócoras foi a única vez que fiquei contrariada pelo fato da médica não estar lá, porque me lembrei que tínhamos providenciado uns remédios homeopáticos para o parto e certamente algum deles poderia aliviar aquela dor. Dias depois comentei isso com a parteira e ela falou que eu podia ter dito isso a ela; realmente podia, mas falar dava tanto trabalho...
O Rodrigo ficou sentado na tampa do vaso, atrás de mim, me sustentando pelas axilas. E eu balançando de cócoras. O contato físico com o Rodrigo durante o trabalho de parto foi impressionantemente confortável. O toque da Vilma também; os dois não ficaram pegando em mim o tempo todo, mas os momentos em que me lembro de ter sentido o toque deles foram de muito alívio. Sempre que eu “aconselho” alguma amiga grávida, eu faço questão de dizer como é fundamental o contato físico do marido no trabalho de parto.
De vez em quando eu choramingava alto, não queria gritar para não acordar o Davi, mas nem senti mesmo vontade de gritar. Estava bem dolorido, nos intervalos entre as contrações doía também, como se houvesse uma dor contínua e picos de dor sobrepostos a ela. Nessa hora me lembrei de Nossa Senhora. Tudo pareceu ficar mais fresco e mais claro. Veio a inspiração de cantar e eu comecei, com uma afinação que não era minha:
“Ó minha Senhora e também minha mãe
Eu me ofereço inteiramente toda a Vós
E em prova da minha devoção eu hoje vos dou meu coração
Consagro a Vós meus olhos, meus ouvidos, minha boca
Tudo o que sou desejo que a Vós pertença
Incomparável Mãe, guardai-me e defendei-me como filha e propriedade vossa. Amém”

Tudo ao redor pareceu parar. Experimentei um alívio muito profundo enquanto cantava. Depois disso, entre as contrações eu simplesmente repousava. Vinha a dor, forte, dura, e depois eu só sentia conforto e paz. Estava num colo de Mãe, no colo de uma Mãe que, há dois mil anos, numa estrebaria, deu à luz a Luz.

A Vilma me perguntou se eu queria comer. Lembrei que tinha lido sobre mel no trabalho de parto e tinha providenciado para essa hora. Pedi ao Rodrigo, mas a Vilma perguntou se eu não queria alguma coisa salgada que tivesse em casa ou uma fruta. Eu pedi manga “cortada” – como se ele fosse e trazer uma inteira... rsrs. Comi uns pedaços e falei “preciso passar fio dental”. A Vilma arregalou os olhinhos , haha, não cheguei nem perto de expressar que estava brincando.
Em algum momento dessa etapa em que eu estava entre vaso/chão, por volta de umas 3:00h., o Davi chorou. Lembro que o Rodrigo não estava no banheiro, então acho que ele tinha ido buscar a manga, e eu pedi à Vilma que verificasse se ele tinha ouvido o Davi. Foi muito ruim ficar sozinha. O Rodrigo atendeu o Davi, que dormiu num instante, e voltou.
De vez em quando a Vilma abaixava para olhar entre minhas pernas, e eu pensava “o que ela está fazendo, não sabe que ainda vai demorar?!”. Ela comentou que eu estava na transição para o expulsivo e eu disse “não, não é assim a transição!” Hahaha, acho que minha expectativa era de uma “solenidade” nessa hora, como se aparecesse um luminoso em algum lugar anunciando a transição. Depois de um tempo resolvi perguntar se estava na transição, só para ouvir de novo, e ela disse que já estava no expulsivo. Muito estranho como é mesmo uma divisão didática, não foi nada “definido”.
Ela viu que meus pés estavam ficando roxos e me sugeriu esticar as pernas ali no chão mesmo (acho que tinham estendido uma toalha antes de eu sair da banheira). Eu demorei muito para responder. Tinha a impressão de que não conseguiria, porque era muita pressão embaixo, parecia que não poderia fechar as pernas para a “manobra”. Comentei que queria deitar na cama, mas um pouco descrente que aquilo fosse possível. Recebi o maior incentivo, a Vilma disse que eu poderia tentar dormir um pouco e o Rodrigo praticamente me carregou , eu fui bem curvada e fiquei de quatro na cama (suíte).
A Vilma foi arrumando uns travesseiros sob minha barriga e me cobriu, o que foi muito ruim, porque nessa hora eu estava com calor. Mas eu não conseguia expressar isso, não estava entendendo direito se tinha algum motivo para me cobrir, até que perguntei se precisava ficar coberta e a Vilma entendeu e tirou as cobertas. Continuei rebolando e fazendo aquele som durante as contrações, mas estava tensa depois da “mudança” para a cama. Tomei consciência disso e tentei relaxar, lembrei que Deus estava cuidando de mim e da presença de Nossa Senhora. Soltei muito meus ombros e meu rosto, de bruços sobre o travesseiro, deu certo, foi muito bom, expirei tranqüila algumas vezes, é como se esses breves momentos de relaxamento entre as contrações tivessem a qualidade de um cochilo. Na dor eu choramingava, nessa hora foi mais alto, e optei por não me preocupar em acordar o Davi, como se tivesse uma clareza que agora ele não acordaria.
A Vilma me pediu para deitar de lado, para que ela pudesse colocar o lençol descartável na cama. O outro lado da cama estava forrado com plástico há algumas semanas, para quando a bolsa estourasse, mas a lucidez desses detalhes não combina com trabalho de parto, eu até pensei nisso, mas deixei pra lá. Continuei deitada do lado esquerdo e pedi a bola para apoiar minha perna direita, estava pesando muito. O Rodrigo deitou atrás de mim, bem pertinho, com a mão meu ombro e me lembrando de abaixar o queixo (minha tendência era hiperestender o pescoço). Sentir o toque do corpo dele foi novamente muito confortante, disse isso e ele se aproximou mais. Tiramos a bola.
Pedi pra Vilma “fala que eu vou conseguir?” e ela imediatamente: “mas você já tá conseguindo! Tá nascendo!”. Perguntou se queria que apagasse a luz, eu aceitei, foi ótimo, porque eu não teria me lembrado disso e ficou muito acolhedor o ambiente com a luz do banheiro acesa e a do quarto apagada.
Então ela disse que quando eu tivesse vontade poderia fazer força. Que bom que ela falou isso, porque pode parecer maluco, mas eu tinha esquecido completamente da força. Até aquele momento nem tinha me passado pela cabeça fazer força! E eu pensava que, indo tudo tão natural assim, seria uma vontade natural também. Na verdade em momento nenhum eu senti os puxos, e, como no parto do Davi - com ocitocina sintética - eles forma muito definidos e intrusos, acho que estava esperando algo assim. Bem, tentei fazer uma força só para ver o que acontecia e o interessante foi que no fim da força, aí sim dava vontade de fazer uma força ainda maior e eu sentia o Pedro descendo.
Não sei quantas forças fiz, acho que umas oito ou dez, talvez mais. A bolsa literalmente explodiu numa força, eu e o Rodrigo tivemos a impressão de ver o contorno do líquido no ar, como nos filmes em câmera lenta. A Vilma ficou toda molhada e eu pedi desculpas, hahaha. Foi gostoso quando toda aquela água quentinha saiu, como se a pressão diminuísse.
A Vilma sugeriu baixinho para eu chamar o Pedro; eu fiquei relutante por uns segundos e quando comecei não parei mais: “Vem, Pedro, vem com a mamãe, filhinho, vem no colo da mamãe!...”
Esse momento na cama deve ter durado uma meia hora. A Vilma insistiu para eu pôr a mão na cabecinha do Pedro quando ele coroou, eu só queria empurrar, queria que nascesse logo; eu estava segurando a minha perna e era muito trabalhoso comandar o movimento do braço para tocar a cabecinha do Pedro. O Rodrigo levou minha mão e eu senti o cabelinho dele. Continuei fazendo força e senti um ardor e só nessa hora lembrei da possibilidade de laceração, mas não dei a menor importância para isso, o ardor ia aumentando e eu fazendo mais força, não tomei cuidado nenhum.
Senti a cabecinha sair, o maior alívio do mundo, uma sensação muito agradável, a Vilma desenrolou uma circular de cordão rapidinho (eu nem percebi direito) e depois mais forças e o corpinho saindo, deu para perceber o corpinho dele “afinando” do bumbunzinho para os pés. 3:56h. Ele fez “ihiii”, baixinho, não chorou. Imediatamente ela o colocou em meu colo, eu disse: “que pequenininho!” e eles dois “não, não é pequenininho não!”. Eu sentia o cordão esticado por fora da minha barriga. A Vilma ajudou o Pedro a abocanhar o peito e ali ele ficou, conectado comigo, mamando, deitado no meu braço esquerdo enquanto eu segurava o bumbunzinho molhado dele com a outra mão. Aquele cheiro de filho, tão especial, que eu sinto agora ao escrever. Não chorei na hora, foi um êxtase, parece que a emoção passou do ponto que faz chorar.
A Vilma colocou uma fralda de pano e uma toalhinha de capuz, bordada pela minha sogra, cobrindo o Pedro no meu colo. Falei um pouquinho com ele, nós três adultos ficamos conversando um pouco. Sem a menor pressa a Vilma pegou a tesoura para cortar o cordão. Deitei de costas, com muito custo. O Rodrigo nunca pensou em cortar o cordão, estava decidido que não cortaria e eu não ia questionar. Mas nessa hora ele tomou a iniciativa como se fosse a coisa mais clara do mundo e cortou. Disse que ficou impressionado com a dureza do cordão.
Só a partir dessa hora lembramos de fotografar. Queria muito ter mais fotos. As que temos não estão estéticas. Mas as lembranças são tão lindas!
Percebi uma movimentação da Vilma e lembrei da placenta... Falei “ah, deixa a placenta pra lá, não quero mais!” mas não tinha jeito... Enquanto o Pedro mamava senti uma bola saindo, foi gostoso, fiquei animada achando que tinha sido a placenta, mas foi só um coágulo, beeem mais fácil. Fiz uma força e senti uma cólica, a placenta saiu, aquela sensação tão boa de alívio, embora a laceração de grau 2, de uns 3 cm, estivesse ardendo. Pedi para ver a placenta, coisa que queria desde o parto do Davi, quando meu pedido, idêntico a esse, foi simplesmente ignorado. A Vilma explicou e mostrou tudinho. Na penumbra não consegui ver com nitidez, mas fiquei satisfeita. Achei a placenta linda. Ela ficou guardada na geladeira e no dia seguinte minha mãe a enterrou num vaso grande onde está plantado um jasmim viçoso e cheiroso. Com o cordão umbilical minha mãe montou um formato de coração.
A Vilma deu uma arrumada na bagunça do quarto, perguntou se estava tudo bem e foi para a sala, para que pais e filho curtissem o momento com privacidade. O Pedro não parava de mamar. Eu e o Rodrigo ficamos reconstituindo tudo, tentando lembrar como tinha acontecido, o Pedro era parte da cena, era estranho falar dele com ele ali, mas ele estar “do lado de fora” era apenas a conseqüência, foi tudo um contínuo. Eu estava eufórica, acordadíssima, aquele momento pós-parto imediato poderia ter durado muito mais. Se não me engano foi nesse período que o Davi deu sua segunda acordada da noite, eu até me animei pensando que ele conheceria o irmãozinho, mas o Rodrigo foi atendê-lo e ele dormiu instantaneamente.
Quando a Vilma voltou, ficou espantada pelo Pedro ainda estar mamando sem parar. Tinham se passado 50 minutos desde que ela saíra. Então ela pediu licença para pesá-lo e vesti-lo. Para isso, o Rodrigo o segurou pela primeira vez. Eu fiquei muito emocionada, chorei rindo, queria abraçá-los, mas não conseguia nem me mexer. Tirei umas fotos borradas, a Vilma tirou umas fotos borradas da gente, sem flash, eu toda esparramada.
Pesamos o Pedro duas vezes, porque esquecemos de tirar foto na primeira pesagem, hahah... parecia que eu queria descontar as fotos perdidas... 3, 680g. Ele chorou na segunda vez, foi muito legal ouvi-lo. A Vilma perguntou onde estava a roupinha que o Pedro vestiria e ela estava na mala “da maternidade”, rsrs, que ficou por semanas no quarto dos meninos. Por um instante pensamos que o Davi acordaria, mas lembrei que antes de deitar eu a trouxe para o nosso quarto. O Rodrigo encontrou lá dentro da mala: body e mijão amarelinho com balinhas e docinhos desenhados em laranja, macacão amarelo com cavalinho “upa, upa!”, escolhido pelo papai, já usado pelo Davi, gorrinho de lã amarelinho. Este deu um pouquinho mais de trabalho para encontrar na mala... A fraldinha descartável minúscula que ele usou, a Vilma disse, rindo, que não daria nem por uma semana. Eu tinha imaginado vestir o Pedro, mas nem considerei essa possibilidade na hora, tinha sido muito exigida fisicamente.
A Vilma perguntou se precisávamos de alguma coisa ou se podia ir, deu algumas orientações, “Aline, descansa, você pariu” (que delícia ouvir isso!). Disse que voltaria no dia seguinte, ou que ligássemos se precisássemos dela à noite. Eram umas 5:30h.
Quando o Pedro voltou para o meu colo, dormiu. O colocamos ao meu lado, na cama, foi aí que eu vi o rostinho dele pela primeira vez. Na verdade, só no meio do dia vi direitinho, mas parecia um rosto tão misterioso, tão desconhecido, tão diferente do meu “parâmetro” (o rosto do Davi), me atraía para examinar cada detalhe, para olhar mais e mais. O Rodrigo não ficou à vontade em ficar deitado na cama, acho que teve medo de “atropelar” o Pedro, e foi para a sala. Logo o Pedro chorou e eu o “arrastei” para meu peito, foi bem difícil ajudá-lo a abocanhar, porque eu não conseguia levantar a minha cabeça, mas nem precisou: ele deitou em mim e dormiu. Lembro nitidamente do sonzinho da sua respiração irregular.
Dei umas cochiladas, mas logo fiquei com vontade de fazer xixi; muita dor nas costas, muita dificuldade para levantar, desisti. Tentei chamar o Rodrigo algumas vezes, mas não queria acordar o Davi. Quando escutei o Davi acordar, por volta das 7:00h., achei ótimo poder chamar bem alto o Rodrigo.
O Davi pediu água de côco e enquanto o pai foi buscar, ele saiu do quarto, coisa que nunca faz. Passou pela porta do meu quarto e eu disse “Davi, sabe o que aconteceu? Olha quem tá aqui!” E ele: “Ah, o Pido! Quero essa água de côco aqui!” (apontando para o cabelinho do irmão). Então eu fiz de conta que entreguei um copo a ele, a partir da cabecinha do Pi, que então já estava sem o gorro, bem quentinho no peito da mamãe. Ele recusou o “copinho”: “Nãaao!” Ficou na pontinha dos pés e fez um carinho na cabecinha do Pi. Saiu correndo atrás de sua água de côco.
Eu poderia continuar relatando os acontecimentos um atrás do outro. Uma das coisas mais impressionantes dessa experiência natural foi o quão contínua ela foi. Até hoje, dia em que o Pedro comemora seus 4 meses, um fato atrás do outro, uma emoção atrás da outra, um desafio atrás do outro, sem interrupções. Nesses quatro meses, os que passaram mais rápido em todos os meus trinta anos, foi ficando mais nítido a cada dia como a vida é feita de imprevistos e como as coisas acontecem “apesar” de nossas previsões: a realidade se impõe.
Agradeço muito a Deus pela nossa saúde; a Nossa Senhora, por ter me acompanhado tão maternalmente; ao Rodrigo, por confiar em mim, por nos amar e querer o melhor para nós; ao Pedro, por ter feito seu trabalho com tanta simplicidade e continuar assim até hoje; ao Davi, pela forma carinhosa como recebeu o irmãozinho e sempre o tratou; a Vilma Nishi pela sensibilidade de fazer apenas o necessário, com tanto respeito.
Escrever este relato foi surpreendentemente bom.

***
Aline Elise, mãe do Pedro, nascido de parto domiciliar, e do Davi, nascido de parto normal hospitalar.
Leia também o depoimento da Aline sobre a importância do grupo.
Leia também outros relatos de parto.

22 de março de 2010

Tal mãe, tal pai

Da Agência USP de notícias
Pais idealizam paternidade sem considerar limitações
Por Felipe Maeda Camargo - felipe.maeda.camargo@usp.br

Ao pesquisar o comportamento de homens à espera da paternidade, o psicólogo Rubens Maciel verificou que eles muitas vezes idealizam o papel de pai. No estudo, elaborado para sua tese de Doutorado pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, Maciel explica que os homens criam muita expectativa em torno do papel de pai, o que ultrapassa as suas próprias condições.
Pais inexperientes se sentem inseguros com a paternidade ao idealizarem-na
Pais inexperientes se sentem inseguros com a paternidade ao idealizarem-na

A observação do psicólogo parte de seus conhecimentos teóricos e de entrevistas que fez com quatro homens entre 30 e 40 anos de idade, que viviam uma união estável e que estavam acompanhando a gravidez de suas mulheres. Maciel notou que eles tinham muita expectativa em relação à paternidade.

“Os pais entrevistados sonham em ser um modelo aos filhos, mas isso lhes traz angústias. Eles não sabem se poderão cumprir o papel”, diz Maciel. O psicólogo notou que um dos motivos da expectativa dos entrevistados era a vontade de serem pais melhores do que o que tiveram: “Alguns dos entrevistados falavam de seus pais com certo ressentimento. Davam relatos como ‘O meu pai foi ausente’ e ‘Meu pai não me criou do jeito que eu queria’”.

Ainda na pesquisa, que teve orientação do professor da FSP Alberto Olavo Advíncula Reis, se observou que os pais também viam a paternidade como solução para seus problemas.“Os filhos podem trazer aos pais uma esperança messiânica, como se no futuro eles (o pai, a mãe e o filho) viveriam uma situação idílica, livres de angustias”, diz Maciel.

O psicólogo explica que essa atitude costuma vir de um pai imaturo, que não está pronto para cuidar de um filho. Este homem “pode desejar conscientemente ser pai”, diz Maciel, “mas inconscientemente ainda se sente como um filho”, no que resulta em um pai infantil, com conflitos e despreparado.

Por isso, a sua pesquisa enfatiza a importância da maturidade para a paternidade. O pesquisador afirma que um pai maduro vai receber seu filho com maior capacidade amorosa e podendo lidar com todas as responsabilidades que a paternidade traz (financeira, relação com a mulher, educação…). Por sua vez, “um pai imaturo poderá afetar negativamente o filho, por exemplo, ele pode ter uma personalidade muito rígida”, afirma Maciel.

De acordo com o estudo, a maturidade do pai e a qualidade da relação entre pai e filho dependem da criação que o homem teve e de sua individualidade. A educação e a influência dos pais no homem são essenciais quando este for criar seu filho. Mas Maciel também destaca a individualidade, pois o que a pessoa recebeu de criação pode não ser suficiente, depende “da forma que ela consegue manter aquilo que aprendeu”.

Papel atual
Apesar de haver muitos trabalhos sobre maternidade, o psicólogo lembra que há poucas pesquisas que abordam a paternidade. Mesmo com menor ênfase, Maciel ressalta a importância atual da paternidade: “O pai sempre se manteve mais distante dos filhos. A condição dele era de provedor. A educação era papel da mulher. Hoje é diferente, os pais estão muito mais próximos e influenciam os filhos muito mais do que antes”.

Maciel conta o caso que notou enquanto fazia sua dissertação. Nela, o psicólogo estudou a estruturação da personalidade de meninos que moram nas ruas e percebeu que o pai era uma pessoa muito importante para eles. Isso influenciou o pesquisador na escolha do tema de sua tese, no qual ele se aprofundou na influência psíquica que os filhos trazem aos homens.

“O filho provoca um forte sentimento de responsabilidade, em que alguns homens se sentem preparados, outros não”, diz Maciel, que lembra que a maioria dos homens tem condições de serem bons pais, desde que estejam preparados: “A maioria das pessoas, a qualquer tempo da vida, pode buscar um trabalho de desenvolvimento pessoal, de modo que supere suas limitações emocionais para capacita-los a serem bons pais”.

13 de março de 2010

Panfletagem, enfim

Onde: Parque Salvador Arena, em São Bernardo
Quando: sábado, 13 de março, às 14h

E se chover?
Corremos para o Extra Anchieta, na praça de alimentação

12 de março de 2010

Carta Manifesto: Lei do Acompanhante no Parto - Denúncia do Descumprimento

Nós, instituições da sociedade civil, vimos através deste expor a Vossas Excelências os fatos que seguem:

No dia 7 de abril de 2005, entrou em vigor a lei 11.108 que garante às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS.

No dia 3 de junho de 2008, a ANVISA, através da Resolução da Diretoria Colegiada nº 36, no item 9.1 prevê que "O Serviço deve permitir a presença de acompanhante de livre escolha da mulher no acolhimento, trabalho de parto, parto e pós-parto imediato" estendendo o direito para os atendimentos particulares.

Quase 5 anos se passaram desde que a lei 11.108 entrou em vigor e ainda temos vários serviços de saúde que não permitem a entrada de acompanhante, ou restringem o seu tempo de permanência, ou cobram uma taxa para sua entrada, ou limitam a escolha da parturiente.

Conforme inúmeras pesquisas científicas comprovam e a Organização Mundial de Saúde já ratificou desde 1986, vários são os benefícios da presença do acompanhante no parto, tantos para mãe quanto para o bebê e para o vínculo familiar. Apesar disso, mulheres continuam tendo seus direitos negados e são obrigadas a enfrentarem sozinhas o desrespeito à lei e à impunidade do poder médico e das instituições hospitalares privadas e públicas.

Por isso, nós, organizações da sociedade civil, solicitamos à Secretaria Especial de Política para as Mulheres, ao Ministério Público Federal, à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, à Agência Nacional de Saúde Suplementar, à Área Técnica de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que sejam tomadas as devidas providências para que os serviços de saúde e profissionais de saúde cumpram a lei permitindo que a mulher tenha um acompanhante de sua escolha no momento tão importante e delicado que é o parto.

Assinam esta carta o Grupo MaternaMente com a Parto do Princípio e diversas outras entidades, que em São Paulo foram representadas por Deborah e Thais, na entrega de documento de deúncia ao Ministério Público federal.

11 de março de 2010

Sábado

Tem panfletagem no parque Salvador Arena, em São Bernardo do Campo, às 14h. Trata-se da ação prevista para o sábado que passou, cancelada devido ao tempo ruim.

Estaremos no parque para divulgar o direito da mulher de ter um acompanhante de sua escolha durante o trabalho de parto, o parto e o pós-parto imediato. Reiterando: a mulher que vai dar à luz tem o direito de escolher uma pessoa para ficar ao seu lado o tempo todo. Não importa o sexo, o grau de parentesco, tampouco o tipo de hospital. E um dado importante: a maternidade não pode cobrar para permitir a entrada do acompanhante. Companhia, sim, mas sem taxas extras, portanto!

A lei já existe faz tempo, mas é desrespeitada sistematicamente em todo o país e por isso a Parto do Princípio está promovendo essa ação. Na segunda, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o Ministério Público foi acionado em diversos Estados para que tome providências a respeito dessa situação.

Leia mais sobre a lei do acompanhante aqui.

***
Panfletagem em defesa do direito ao acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato
Sábado, 13 de março, às 14 hroas
Parque Salvador Arena
Av. Caminho do Mar, 2.980 - São Bernardo do Campo

10 de março de 2010

Relato de parto do Murilo - por Denise

Estou cansada, muito cansada. Mas agora carrego dentro do peito algo tão gigantesco que supera qualquer outro sentimento. Isso porque sou mãe há nove dias.

Lucio, meu marido, nunca escondeu sua enorme vontade de ser pai. Mesmo quando ainda namorávamos, ele comemorava cada vez que a menstruação atrasava e decepcionava-se quando eu, aliviada, dizia que “tinha descido”. Até que, no ano passado, em mais um desses episódios, eu senti um frio na barriga ao pensar “será?”. E vi-me em lágrimas ao perceber o fluxo menstrual algumas semanas mais tarde. O “susto” fez com que eu acordasse: eu descobri que queria ser mãe.

Pouco tempo depois engravidamos. Juntos, eu e o Lucio curtimos cada momento da gestação. Cuidamos da alimentação, acordamos cedo todos os sábados para praticar yoga e decidimos, já no último trimestre, procurar uma assistência mais profissional e humana, mesmo que isso significasse economizar em mimos para o bebê. Foi a melhor escolha que poderíamos ter feito.

Com o apoio da Dra. Andréa, da doula Ana Cris e da lista de discussão virtual Materna SP chegamos até a 40ª semana de gestação. Lucio, não dispondo do privilégio da licença antecipada, teve de ouvir muitos diagnósticos, conselhos e questionamentos, o que fez crescer sua ansiedade. Veio o feriado de 7 de setembro, nossa médica foi viajar, prometendo que viria o mais rápido possível caso o nenê decidisse nascer. Nós ficamos na expectativa, eu me senti bastante insegura nesses dias. Quando completamos 41 semanas ela já estava de volta, que alívio! Então, vieram umas contrações bem diferentes das de Braxton-Hicks, um pouco doloridas. Mas ainda estavam espaçadas demais e, mais tarde, pararam totalmente. O jeito era esperar. Dois dias depois, a Dra. Andréa realizou o descolamento da membrana, na expectativa de que, assim, eu entraria em trabalho de parto. Dito e feito!

Como fazia todos os dias, esperei o Lucio chegar do cursinho e conversamos um pouco na cama. Assim que eu apaguei a luz, à meia-noite, comecei a sentir as contrações. Temendo que fosse mais um alarme falso, fiquei bem quietinha na cama, dormindo entre uma contração e outra. Não sei se pela ansiedade ou pelo incômodo, à 1h já não aguentava mais ficar deitada e fui para a sala. Fiquei andando para lá e para cá no nosso apartamento gigantesco, que pode ser atravessado com menos de dez passos. Assim fiquei até as 4h da madrugada, quando as contrações já estavam relativamente fortes e frequentes. Chamei o Lucio, pedi a ele que ligasse para a Dra. Andréa. Eu estava assustada e ao mesmo tempo muito empolgada – meu filho estava chegando!

Depois de perambular feito uma barata tonta do quarto à sala e da sala ao banheiro, o Lucio finalmente achou seu caminho, arrumou sua mala como pôde e nós saímos para a maternidade. Durante o caminho, tudo o que eu dizia era “vai mais devagar, mais devagar”! E ele, como me disse mais tarde, sentia uma vontade enorme de acelerar ao máximo, no percurso mais longo de sua vida.

Felizmente a Ana Cris logo veio me encontrar, seu rosto familiar e sempre tranquilizador me deu muita segurança. Estava com 6 cm de dilatação, o que me surpreendeu e alegrou bastante. “Metade já foi”, pensei, “acho que não vai demorar muito”. Ah, ledo engano!

Fiquei no chuveiro, em pé, durante um bom tempo. Quando passei por novo exame, estava com 8 cm. “Puxa vida, só?”, decepcionei-me. Mas não fiquei muito tempo pensando nisso, pois as contrações estavam ficando intensas e eu não conseguia mais relaxar nos intervalos, cada vez mais curtos.

Nem sei ao certo quanto tempo se passou, a certa altura eu não estava mais no meu controle. Agarrava-me no Lucio, chorava feito criança, resmungando “tá doeeeeeeno”. Dizem que durante o parto questões mal resolvidas com a mãe ou com o marido às vezes afloram. No meu caso, vieram à tona sentimentos e comportamentos infantis, fazendo com que eu recusasse até mesmo umas gotinhas de homeopatia oferecidas pela doula: “eu não vou tomar”, disse, fazendo beicinho. Fico imaginando o que teria acontecido se minha mãe aparecesse lá e me repreendesse “fica quieta, menina, e termina logo com isso”. Será que funcionaria?

Estourar a bolsa, quando eu já estava há tempos na piscininha inflável, não resolveu. Para ser sincera, acho que nada mais resolveria, porque eu estava tomada pela dor. No intervalo entre as contrações, sentia muita pressão no ventre e na região lombar, o que era irritante. Assim, relaxar tornava-se impossível. Comecei a pedir algo que aliviasse essa sensação. Lucio, sempre muito carinhoso, dizia baixinho que eu era forte e que aguentaria sem analgesia. De tempos em tempos, alguém aparecia na porta do banheiro para me dizer que estava acabando, que faltava só mais um pouquinho. Então eu comecei a ficar brava, “faz muito tempo que falta só mais um pouquinho”... Não tinha mais jeito. Fui para a cama, colocaram umas cintas muito apertadas e incômodas em mim, para monitorar as contrações e os batimentos cardíacos do bebê. Era o primeiro passo para a analgesia.

A partir daí as contrações foram ficando cada vez mais fortes, em intervalos que pareciam cada vez mais curtos. Sentia que elas não estavam de acordo com as demais “variáveis” – e eu estava certa, pois ainda não saíra dos 8 cm de dilatação, o colo ainda não estava totalmente apagado e o bebê ainda estava alto. Não sei quanto tempo se passou até que a analgesia finalmente fosse aplicada, para mim pareceu uma eternidade. Cheguei a perguntar algumas vezes “cadê o anestesista?”, achando que estavam me enganando. Mas ela enfim apareceu, fazendo um questionário imenso, ao qual eu não tinha a menor vontade de responder. Diante do meu silêncio, ela chegou a perguntar se eu falava português! Tive vontade de soltar “falo sim, pqp”, felizmente tudo o que saiu da minha boca foi (mais) um gemido.

Tomei a dita cuja, deitei-me na cama e fiquei lá, quietinha, completamente grogue, só curtindo o efeito da droga. Não queria saber de mais nada, estava cansada. Ao meu redor, as coisas pareciam acontecer em câmera lenta. Mas já era meio-dia (ou até mais!) e as pessoas começaram a se movimentar para almoçar. A certa altura, até o Lucio saiu. E demorou muito para voltar, o que estava me deixando apreensiva. Depois ele me contou que fora até o shopping e comera uma baita feijoada!

Dois exames de toque mais tarde, a Dra. Andréa decidiu que já estava na hora de eu começar a fazer força. Eram aproximadamente 14h. Fiquei deitada por uns instantes, depois sentaram-me na banqueta de parto, sobre a cama. É muito esquisito fazer força com uma parte do corpo que você não sente. Mas assim os minutos se arrastaram. Como as contrações estavam muito espaçadas, precisei de um pouquinho de oxitocina. E as coisas foram evoluindo bem devagarinho, o bebê parecia estar com preguiça de nascer.
Quando ele finalmente coroou, pude passar os dedos em sua cabeça, o que me deixou muito emocionada. Vi seus cabelos no espelho e pensei “vamos nascer, meu filho!”. A essa altura, eu já sentia as contrações novamente e tinha relativa sensibilidade do “anel de fogo”. Essa expressão é perfeita: sentia dor por causa da pele que se esticava, mas a percepção maior era de queimação na região. Além disso, a emoção de saber que o bebê já está para nascer suplanta qualquer sensação desagradável. Então, fiz força como nunca, fechei os olhos e, quando os abri, ele já tinha nascido. Peguei-o no colo, olhei para o seu rosto, abracei-o. Eu nem consegui chorar, de tão emocionada que fiquei.

Há tempos já não enxergava o que se passava ao meu redor. Via apenas a médica, o Lucio e o meu filho pelo espelho. Quando finalmente o peguei no colo, então, passei a outra dimensão. Logo o Lucio veio ao meu lado e começou a falar com o bebê, que abriu os olhos e procurou aquela voz conhecida. Não há como descrever o que se sente nesse momento. Tudo, absolutamente tudo fica para trás.

O Lucio cortou o cordão umbilical, o que muito nos emocionou. O que veio depois ficou registrado na minha memória de forma um pouco nebulosa. A placenta saiu, eu a vi e a achei enorme (mas pelo visto não era das maiores). O bebê foi tirado dos meus braços e percebi que ele havia feito cocô em mim! Foi uma bela cagada. O Lucio me disse, mais tarde, que seguiu o pediatra (responsável pelo sequestro do pimpolho), viu nosso filho ser aspirado e examinado, além de receber as gotinhas de colírio de praxe. Ele não precisava de nada disso, mas assim foi feito.

Logo o bebê estava de volta, enrolado em um pano e com uma touquinha branca. Fiquei com ele enquanto a Dra. Andréa me examinava. Não foi feito um corte sistemático (a famigerada episiotomia) e as lacerações foram todas superficiais. No total, tomei três pontos. E só.

Quando as enfermeiras finalmente estavam tirando todos os tubos e aparelhos que haviam conectado a mim, passei um pouco mal. Só tive tempo de dizer “acho que eu estou com um pouco de tontura”. E na piscada seguinte eu já estava deitada de novo, com uma delas ao meu lado. Felizmente o Lucio estava lá, com o bebê no colo, no maior papo com ele. A visão dos dois me tranquilizou, mas tive de permanecer deitada. A pressão havia caído. Ainda assim, isso pouco interferiu na minha alegria. Logo fomos para o quarto, o Lucio foi acompanhar o bebê ao berçário, fotografou seu primeiro banho, ficou babando pelo vidro até que finalmente ele viesse para nossos braços. Exaustos, dormimos todos em um instante. E acordamos no dia seguinte como uma nova família.

Pós-parto
Para minha surpresa, as únicas coisas que me incomodaram após o parto foram a hemorroida (que já se apresentara durante a gravidez) e o local onde fora aplicada a anestesia, que ficou inchado e dolorido. Obviamente “a periquita” também ficou sensível, mas nada que uma compressa de gelo não aliviasse. Ademais, antes mesmo de receber alta do hospital isso já estava resolvido. Os pontos ainda não foram reabsorvidos, mas não incomodam, e passada a tontura por causa da pressão baixa, movimento-me sem qualquer dificuldade. Viva a natureza!

Denise Niy, mãe do Murilo, nascido de parto normal hospitalar.
Leia também outros relatos de parto.

***
Leia essa e outras histórias vividas durante a gravidez no meu livro, Lembranças fecundas. Todo o lucro obtido com as vendas é revertido para a Parto do Princípio – Mulheres em rede pela maternidade ativa. Compre aqui!

9 de março de 2010

A importância do grupo - por Agnes

Eu tive meu sonhado parto natural graças aos grupos de apoio que eu mantive desde a pré-concepção até o parto em si. Comecei a me empoderar através das listas de discussão de maternidade ativa, conhecer mais o que era um parto humanizado, entender como funcionavam os procedimentos durante o trabalho de parto, familiarizando-me com os termos médicos e rotinas hospitalares. Fui me ambientando à realidade nacional de nascimentos no país e me sentindo mais segura do que eu queria para mim, com a ajuda de outras mulheres das listas de discussão. Mas sentia falta de um grupo físico, eu moro longe das reuniões onde as mulheres que eu conhecia frequentavam e eu sentia que contato humano é muito importante para que eu pudesse tirar minhas dúvidas, me sentisse acolhida nesta empreitada meio isolada que é o empoderamento, que nos faz remar contra a maré de cesáreas agendadas nos hospitais particulares. Consegui ao final da gravidez conhecer um grupo na minha região, o qual pude frequentar e me sentir mais segura ainda nas minhas decisões. Hoje sou grata a todas as mulheres que me inspiraram com seus relatos de parto, suas experiências e conhecimentos para que eu pudesse lutar contra os procedimentos rotineiros, e poder buscar um médico que confiasse no meu poder de parir e me acompanhar durante o processo todo. Os grupos de apoio - tanto os virtuais quanto o físico- foram essenciais na busca do meu sonho de ter um parto do jeito que eu sonhava.

***
Agnes Tanchéla, mãe do Bruno, nascido de parto natural hospitalar.
Leia também o relato de parto do Bruno.

8 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher

Direito ao acompanhante no parto:

Mulheres denunciam ao Ministério Público descumprimento da lei



A rede de mulheres Parto do Princípio aproveita o dia 8 de março, data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, para denunciar ao Ministério Público abuso do poder médico e das instituições hospitalares privadas e públicas, em descumprimento sistemático da lei que garante o direito a um acompanhante no processo do parto. Simultaneamente, a Parto do Princípio divulgará os benefícios e o direito da mulher a um acompanhante no processo do parto.

A Rede Parto do Princípio, juntamente com outras organizações civis, entrega no dia 8 de março ao Ministério Público de vários estados um documento que denuncia o descumprimento sistemático da Lei que garante à mulher o direito de ter ao seu lado um acompanhante de sua escolha durante o trabalho de parto, no parto e no pós-parto.

O quadro do desrespeito à lei em todo território nacional é alarmante e a desinformação é geral.

Eu fui colocada para fora da sala de cirurgia durante a cesárea da minha irmã, pelo anestesista de plantão! Quando fui agradecer por ter permitido que eu entrasse, ele disse que era contra a presença de acompanhantes, que um centro obstétrico não é um circo onde médicos dão espetáculos para estranhos assistirem, e que eu deveria sair imediatamente.", diz Vânia C. R. Bezerra.

Eu não sabia que existia essa lei, meu marido ficou do lado de fora pedindo ao médico para entrar por horas, disseram a ele que somente mulheres podiam entrar.” - denúncia anônima.

Sinto muito, mas ela não pode ficar na enfermaria com você. E também já está na hora de você crescer e aprender a fazer as coisas sozinha, já vai ter um bebê, já é bem crescidinha.” - G., de Fortaleza-CE

A mulher que nos recebeu foi muito agressiva quando insistimos para que eu pudesse ter um acompanhante e citou o caso de outro hospital grande da cidade que também não aceitava acompanhante, como se isso tirasse a responsabilidade dela.” - A., de Fortaleza-CE


Apesar da lei, a cada dia milhares de mulheres em todo Brasil sofrem esse tipo de abuso do poder médico e das instituições hospitalares privadas e públicas.

A Parto do Princípio, neste dia 8, toma duas frentes de ação:

- Entrará com as denúncias no Ministério Público de diversos estados.

- Iniciará uma campanha de divulgação da lei e do direito que ela protege.

A denúncia

Buscamos levar ao conhecimento do Ministério Público Federal um panorama do que acontece em todo o Brasil em relação à Lei do acompanhante no parto, apresentando as graves implicações para as saúdes materna e neonatal.

Denunciamos o abuso do poder médico e das instituições públicas e particulares, demonstrando que existe um boicote em divulgar e respeitar a lei tanto nas instituições do Sistema Único de Saúde (SUS) como nas particulares. Abordamos também a completa omissão da Agência Nacional de Saúde (ANS) na regulamentação do direito e sem restrições.

Fatos sobre a lei

No dia 7 de abril de 2005, entrou em vigor a Lei 11.108 que garante às parturientes o direito à presença de um acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS.

No dia 3 de junho de 2008, a ANVISA, através da Resolução da Diretoria Colegiada nº 36, no item 9.1 prevê que "O Serviço deve permitir a presença de acompanhante de livre escolha da mulher no acolhimento, trabalho de parto, parto e pós-parto imediato" reiterando o direito para os atendimentos particulares.

Já se passaram quase 5 anos desde que a Lei 11.108 entrou em vigor. A grande maioria dos serviços de saúde ainda não permite a entrada de acompanhante, restringe o seu tempo de permanência, cobra uma taxa para sua entrada, ou limita a escolha da parturiente.

Apesar de ser de conhecimento da classe médica que o acompanhante traz muitos benefícios para a saúde da mulher e do bebê, esse direito continua a ser negado ou cerceado!”, afirmam membros da rede Parto do Princípio.

Uma questão de saúde

Os benefícios da presença de um acompanhante para a parturiente e para o recém-nascido foram amplamente demonstrados. Entre outros, a presença do acompanhante foi relacionada à diminuição do tempo do trabalho de parto e parto e a melhores índices de Apgar no bebe.

A Organização Mundial de Saúde recomenda a presença de um acompanhante de escolha da mulher desde 1996 (OMS).

Nossas propostas

Junto ao documento, várias propostas de soluções foram apresentadas, entre elas:

- Exigir que a Lei seja afixada em quadro de informações na recepção das maternidades públicas e privadas.

- Que as mesmas informações estejam impressas no Cartão da Gestante.

- Estabelecimento de uma multa a ser paga pela instituição em caso de denúncia de descumprimento da Lei.

- Que seja criada campanha de veiculação do direito na mídia, orientando para os meios de fazer valer este direito ou denunciar casos em que tenha sido negado.

A divulgação

Divulgaremos a Lei do Acompanhante para que as usuárias do sistema de saúde tomem conhecimento do seu direito e possam exigir que ele seja respeitado no estabelecimento em que elas vão dar à luz. A tomada de consciência da população deste direito é o caminho para obtermos mudanças na postura dos médicos, hospitais e maternidades que continuam negando ou cerceando esse direito às mulheres.

A Parto do Princípio é uma rede de mulheres, consumidoras e usuárias do sistema de saúde brasileiro, que oferece informações sobre gestação, parto e nascimento baseadas em evidências científicas e recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). Conta hoje com mais de 250 pessoas trabalhando, voluntariamente, em 16 estados e no Distrito Federal, na divulgação dos benefícios do parto ativo.

7 de março de 2010

Relato de parto do Bruno - por Agnes

É incrível que eu esteja aqui, escrevendo o MEU relato de parto, depois de tantos outros que me inspiraram na luta para ter meu parto normal!

Estava com 37 semanas e com muita coisa por fazer ainda no quartinho dele, nem sonhava que ele pudesse adiantar... eu estava super bem, fui a São Paulo na noite anterior dirigindo sozinha, nem imaginando o que estava para acontecer nas próximas horas.

Acordei 3h30 igual todo dia pra fazer xixi, tinha ido dormir quase 1h por causa de um evento que eu havia participado, daí cheguei no banheiro e saiu um marronzinho igual início de menstruação. Meu olho estalou na hora, pensei: "meeeeuuu, é o tampão!!!!". Meu marido estava jogando video game, falei pra ele que estava com um pouquiiiinho de cólica e o tampão estava saindo. Ele disse: "ferrou, não terminamos as coisas dele!"... Daí nem fui dormir, pq nem a mala do bebê eu havia feito... meu marido foi correndo dormir um pouco enquanto eu fazia a minha mala e a do meu filho, naquele esquema: 'caso precise...". Eu não estava acreditando muito que era a hora P, era muuito cedo ainda (37 semanas). Aí arrumei as malas daqueeeele jeito, pq estava com sono... esqueci várias coisas...hahaha... tinha que ser eu!!!

Terminei e deitei, pra dormir de novo, mas a cólica estava chatinha e eu fui ver TV. Mas tb num estava confortável, então vim na Net, mandei um email pra lista Invitare e outro pra mulher das lembrancinhas pra ela enviá-las o mais rápido possível, pq o meu amado bebê Bruno estava pra chegar a qq momento. Entre 5h e 6h da manhã, vi que as cólicas apresentavam uma certa frequência e cronometrei por uma hora. Algumas estava super leves, outras mais fortes que me faziam ir ao banheiro, eu acabava fazendo "number 2" toda vez! Comecei a contar os minutos para amanhecer e ligar para o médico e para a doula, não queria despertá-los a toa, afinal, eram apenas cólicas... Então 6h00 liguei pro médico e deu caixa postal. Liguei pra doula e ninguém atendeu. Mandei mensagens e deixei recados e ambos não me retornaram, então fui tomar banho, que já tinha lido que amenizam as dores. Fiquei no chuveiro das 6h00 e pouca até umas 6h30, foi uma delícia, mas quando saí parecia que as cólicas estavam bem piores. Acordei meu marido, falei que era melhor ir pro hospital para checar, já que nem o médico, nem a doula atendiam ao telefone. Então decidimos ir para avaliação... "just in case..."...hahahah. Liguei no Santa Catarina pra saber se a suite de parto natural estava livre, a recepcionista da maternidade disse: "qual?? Aquela que tem banheira??? Claaaaaro que tá livre" (como quem diz: "ninguém usa!!!)...hhaahahahahahaha. Daí eu pedi pra falar com uma obstetriz no telefone, pedindo se ela tinha o telefone da casa do médico, e expliquei como estava meu processo. Ela pediu pra eu realmente ir pra lá, pra fazer uma avaliação, enquanto isso o próprio hospital entraria em contato com o médico, já que ele é conhecido por lá. Eu e meu marido achamos melhor irmos mesmo, porque sem trânsito o hospital está a uns 40 minutos da minha casa.

Daí meu marido foi tomar um banho, já que eu estava tão tranquila, enquanto eu continuei marcando as cólicas e elas vinham a cada 5, 6, 3, 4 minutos. Estavam mais doloridas, eu tinha que parar o que eu estava fazendo quando vinha uma. O Carlos terminou de tomar banho, eu quis tirar uma foto da barriga, vá que fosse o dia mesmo (eu não estava botando uma fé, era meio surreal aquilo tudo). Fui me trocar pra tirar uma foto com a roupa de sempre (nessa hora eu já estava pronta pra ir pro hospital). O dia estava lindo, ensolarado, tiramos fotos na varanda, depois da foto que eu percebi que minha barriga estava baixa... peguei o computador pra ouvir música na sala LDR se realmente fosse o dia do parto!

Nesse meio tempo, eu estava ligando a cada 5 minutos pra doula e pro médico, e nenhum atendia....... que saco!!! Sorte que eu sou paciente e estava tranquila, se fosse uma pessoa mais agitada ou ansiosa teria pirado nessa hora!

Fizemos o caminho do hospital, parecia que era de terra, cada buraco foi uma tortura, e o percurso leva em média 40 minutos... o Carlos ia bem devagar pra não me incomodar, e ele cronometrava cada cólica no relógio. Entre elas, batíamos maior papo....

Cheguei no hospital 8h15 mais ou menos. A médica foi fazer o tal toque. Credoooooooo. Horrível!!!!!!!!!! Até chorei, um horror. Eca. Eu estava com 3,5cm e a cabeça do bebê bem encaixada. Ela disse que provavelmente eu ficaria. Na verdade, ela disse que se eu morasse perto, provavelmente seria liberada porque 3,5cm é pouco para internação, mas como morava muito longe, provavelmente eu ficaria. Ela colocou o cardiotoco por 15 minutos- que foi uma eternidade, pq eu tinha que ficar deitada. Enquanto isso, ela saiu e foi correr atrás do médico, pq nem o hospital conseguia contato.

Ah, uma coisa: cheguei no hospital e o Carlos quis me deixar na porta. Eu disse: “não mor, não precisa!”. Fui com ele pelo estacionamento, e cheguei na recepção do hospital Santa Catarina, e disse: “moço, preciso ir pra maternidade, acho que estou em TP”. O segurança ficou atordoado, chamando o outro: “traz a cadeira de rodas, traz a cadeira de rodas, mulher em TP!!!”...huhauhuahuauahuahuahuaha. Eu disse: “calma, moço, não precisa não, eu quero ir andando!”. Ele disse: “jura???????????????”. Eu tive que jurar.......huhauahuahuhaua. E fui andando!

Voltando agora ao cardiotoco. Expliquei pro Carlos o que era aquilo, como funcionava, daí vinha uma contração (a essa altura do campeonato já não eram mais cólicas!) e eu tinha que respirar fundo. Depois continuava explicando e conversando.

15 minutos do cardiotoco e a médica volta, dizendo que o médico sumiu, mas que tinha um médico da equipe dele de plantão naquela manhã e ele topou fazer meu parto natural. Eu pensei: “ferrou, sem médico, sem doula...Deus me ajude!”. Eu quis falar com o médico plantonista antes. Chamaram ele e eu disse: “olha dr, eu aceito que vc faça meu parto (eu aceito foi boa...hahahhahhahah, como se eu tivesse escolha naquela hora...hahahaha), contanto que vc faça exatamente como meu médico faria: sem intervenções, ou seja: sem tricotomia, sem episiotomia, sem enema, sem cardiotoco, sem nada. Pode ser?". Ele, super calmo e bonzinho, disse que tudo bem. Então eu aceitei e entreguei na mão de Deus, Ele sabe o que faz!

Daí a médica disse que eu realmente teria que ficar, que o Carlos podia ir fazendo minha internação, enquanto ela ia comigo à suíte de parto natural. Ela perguntou se eu queria uma cadeira eu recusei, quis ir andando. Ela falou que tudo bem, foi ao meu lado, me dava a mão, ia ma acalmando – apesar de eu estar calma, é ótimo ter alguém assim ao lado. Ela foi um amor. Parei no percurso algumas vezes durante uma contração e outra e cheguei à LDR (a tal suíte).

Ela saiu e vieram duas enfermeiras, perguntando se eu tinha comido, se queria café da manhã, como eu só tinha comido uma maçã em casa, aceitei, mas quando chegou (uns 3 minutos depois), só quis o suco. Não estava conseguindo comer, a essa altura as contrações estavam bem próximas e doloridas. As duas enfermeiras saíram ao mesmo tempo e eu fiquei sozinha. Deu um medo!!! Nada do Carlos voltar da papelada da recepção e eu com dor! Essa hora deu uma raiva da doula!!! E o pior é que o Carlos estava com meu celular no bolso dele e eu não conseguia ligar pra minha mãe, q ela estava na praia e eu tinha que avisá-la para ela subir a serra, pois o netinho estava chegando. Aqueles minutinhos sozinha me deixaram mais tensa, pareceram uma eternidade.

Cena patética, meio desesperadora: eu queria sentar na bola de pilates, estava doendo muito (isso já eram umas 8h45 da manhã) e tinha um plástico (tipo papel filme) envolvendo a bola. Então, a enfermeira havia colocado um lençol em cima para eu não sentar num plástico, para ser mais confortável. Então, na hora que eu estava sozinha e a dor havia aumentado bastante, eu quis sentar na bola, mas ao chegar perto, o lençol caiu e eu não conseguia abaixar, por causa da dor, pra pegar o lençol. Nessa hora fiquei com medo por estar sozinha, não ter a doula e o Carlos não terminar nunca a entrada burocrática no hospital. E, pior, estar sem o celular pra ligar pra minha mãe. Ngm merece.

Por Deus, consegui sentar na bola depois de umas 3 contrações e me senti um pouco melhor. Nesse meio tempo a enfermeira veio ver se eu tinha tomado o café da manhã e o Carlos chegou. Ela quis que eu comesse pra poder fazer outro exame com o cardiotoco. Eu disse: “outro? Na cama? Nem a pau que eu vou deitar lá, vai doer mais ainda!!!” Ela disse: “é necessário, mas antes vc precisa comer, pq se não dá alteração no exame”.

Eu concordei, mas pensei: “é só eu não comer que não precisarei fazer o exame...hahahaha”. Mas mesmo que eu quisesse, estava doendo bastante e eu só consegui ingerir o suco de pêssego, não dava pra comer nada. O Carlos querendo me ajudar, coitado, deve ser duro ver alguém que se ama com dores e não poder fazer nada para aliviar!!! E as contrações foram ficando cada vez mais próximas, acredito que estavam vindo a cada minuto, era como se não houvesse folga entre elas.

Daí a dor ficou punk de vez. Eram umas 9h00 eu acho. Eu não conseguia mais suportar, nem conversar quase nada. Quis a banheira. Ele chamou a enfermeira e ela começou a enchê-la, parecia que estava levando uns 45 dias pra encher, de tanto que demorou... Ela terminou de encher, eu fui pro banheiro com o Carlos, vi que tinham umas luzes lindas no fundo, adorei. Tirei a roupa e entrei e a enfermeira baixou a luz do banheiro e saiu, ela deve ter achado que ia demorar horas...hahaha... , disse que voltava mais tarde. Deu um alívio!! Mas durou uns 3 minutos e me deu vontade de fazer cocô. Falei pro Carlos da vontade e ele disse: “é cocô ou bebê, mor???”. Respondi que "num sei, nunca tive um bebê, mas prceiso ir ao vaso". Ele me ajudou a sair e eu sentei. E não veio nada. Então pensei: “vixi... será que é o bebê, tão rápido assim?’....

Voltei pra banheira. O Carlos saiu do banheiro e finalmente foi ligar pra minha mãe do quarto, pq eu tava gemendo muito e ele não quis apavorá-la. Foi o tempo dela atender e ele dizer: “A gente está no hospital, o Bruno tá chegando” E eu gritei. Senti que era a hora. Falei: “Caaaaaaaaaarlos, ta vindo!!!!!!”. Ele desligou correndo, correu pra chamar as enfermeiras e o médico, que nem estava paramentado ainda, foi uma correria, gente entrando e saindo, ngm imaginava que ia ser tão rápido.

Daí o médico entrou e pediu pra eu sair da banheira. Não sei se ele não queria ou não podia fazer o parto na banheira, só sei que eu disse: “não dá pra me mexer, tem algo aqui embaixo e a dor é insuportável”. Ele ficou com medo do Bruno nascer ali e mandou esvaziar a banheira. Eu pensei: "como assim???? Esvaziar a banheira??!?!!?". Mas eu não disse nada, só gritava de dor. O Carlos disse: “mor, vamos pro quarto, eu te ajudo”. Tadinho, ele devia estar muito assustado, ngm pra dar apoio pra mim, nem pra ele... Então ele e a enfermeira me ajudaram a sair da banheira, no que eu saí, veio uma dor pavorosa, achei que fosse nascer e eu agachei de cócoras no corredor durante a contração. Me ajudaram a chegar na cama e, por incrível que pareça, adorei ter ido pra maca, foi o lugar mais confortável!!! Justo eu que vivia dizendo que a cama é péssima pra parir, foi o melhor pra mim!! Mais confortável até que a banheira!

Deitei e vieram umas 5 ou 6 contrações até o Bruno nascer. Eu devo ter acordado o hospital todo, de tanto que gritei. Foi completamente involuntário, era meu corpo que pedia. Antes do parto, eu achava que dava pra escolher se gritaria ou me concentraria na respiração, afinal u havia feito yoga, iria me concentrar e seria uma lady... Ledo engano. Não dá pra pensar, só pra agir. Seguir o instinto. Só. E meu instinto era gritar igual uma desgovernada...hahahaha

E então, senti a cabeça coroar. E mais uma dor, o corpinho nasceu. E a dor, sumiu, deixando só o alívio e a maior emoção que eu já pude sentir em toda a minha vida. Ele veio direto pro meu colo. Não mamou, só lambeu. E eu chorei. E o Carlos chorou. E a vida mudou. Pra sempre.

Uns 15 ou 20 minutos depois a placenta saiu sozinha, nem senti. Depois ele deu uma anestesia local para dar os 6 pontos da laceração de 2. grau que eu tive. Doeu um pouco, mas eu estava em êxtase, não parava de falar. O Carlos foi com o médico para os procedimentos com o Bruno e voltou em seguida.

Enquanto eu era transferida para o quarto, ele foi dar o primeiro banho no nosso gatinho. Deve ter sido emocionante! Só faltou a câmera fotográfica pra ter registrado tudo. Ficou na mala, não deu tempo de ir buscar. Sem registros do banho ou do parto em si. Mas está gravado na nossa memória. Para todo o sempre.

Enfim, melhor impossível. Mais perfeito do que nos meus melhores cenários de parto. Doeu muuuuuuuuito, mas foi apenas durante uma hora, e passou na hora. Ele nasceu 9h33, 10h30 eu estava tomando café da manhã, pq estava morta de fome, estava até fraca, parecia bêbada. Lembro de eu tentar falar a palavra molhado e não saía, igualzinha bêbada...hahahaha... mas depois do café fiquei 100%. 11 e pouco da manhã eu já fui ao banheiro sozinha. Uma e pouco da tarde fui tomar banho. 48h depois, tivemos alta. Perfeito. Mesmo sem meu médico, mesmo sem minha doula, apenas meu marido, que foi excelente. Ele não era a favor do parto normal, sempre achou que não havia necessidade deste sofrimento. Agora, tadinho, disse que parto normal é um horror, pq eu gritei muito e ele ficou meio traumatizado. Mas viu os benefícios da recuperação e entende o pq de eu querer um parto natural, sem intervenções.

Se a doula tivesse aparecido, ela o teria confortado e talvez a coisa tivesse sido mais light, eu não teria ficado sozinha nem um minuto, teria tido mais massagens (eu tive uma massagem, que a própria enfermeira me aplicou, ela foi minha doulinha!). Mas não posso reclamar de nada, apenas que eu tive o parto dos meus sonhos - num sábado de sol, com meu marido ao lado, e meu filho rapidinho em meus braços. Foi mágico.

Agradeço às listas e aos relatos todos que eu li durante a gravidez, que me ajudaram a passar por tudo isso de maneira digna e ter um parto natural decente, sem intervenções. Ao meu marido, por me apoiar e estar ao meu lado naquela hora tão mágia, mesmo sendo contra o parto normal. E, acima de tudo, a Deus, que me proporcionou a benção e a alegria de ser mãe.

***
Agnes Tanchéla, mãe do Bruno, nascido de parto natural hospitalar.
Leia também o depoimento da Agnes sobre a importância do grupo.
Leia também outros relatos de parto.

6 de março de 2010

Região tem cesarianas acima da média

Do ABCD Maior
Por: Camila Galvez  (camila@abcdmaior.com.br)

OMS indica percentual máximo de 15%; São Caetano lidera com 74% dos nascimentos por cesarianas


Encontro promovido na Região pelo grupo MaternaMente. Foto: Antonio Ledes
Encontro promovido na Região pelo grupo MaternaMente. Foto: Antonio Ledes
O parto normal é mais seguro para a mãe e para o bebê. Mesmo assim, 64% dos partos realizados no ABCD em 2008 foram cesarianas, de acordo com pesquisa mais recente da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados). A cidade que lidera o ranking é São Caetano, com 74% de cesarianas, seguida de Ribeirão Pires (70%), Mauá (65,3%), Santo André (65%), São Bernardo (60,2%), Rio Grande da Serra (60%) e Diadema (53%). No Estado de São Paulo, a taxa foi de 57%.  
No País, dados de 2009 do Ministério da Saúde apontam que as cesarianas correspondem a 35% dos partos na rede pública. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a taxa ideal deve ficar em torno de 7% a 10%, não ultrapassando 15%. Na Holanda, essa proporção é de 14%, nos Estados Unidos 26%, no México 34% e no Chile 40%.
Foi tentando mudar essa realidade que a educadora perinatal Deborah Delage criou o grupo MaternaMente, que se reúne todos os meses na Região para discutir e incentivar o princípio do parto ativo. “O objetivo principal é disseminar informações de qualidade e de modo acessível, para que as mulheres e suas famílias possam compreender e viver a gestação e o parto como eventos naturais, que demandam atenção e apoio, e não intervenções desnecessárias.”
A própria Deborah foi vítima de uma sucessão de intervenções desnecessárias que fizeram com que o sonho de ter a filha por meio do parto normal não fosse realizado. Deborah é dentista de formação, mas sua mãe é enfermeira obstetriz e sempre acompanhou de perto esse trabalho. Após a experiência frustrada, Deborah resolveu assumir aquilo que chama de “militância pelo parto ativo”.
Em uma das reuniões do MaternaMente realizada em São Bernardo, a educadora trouxe a experiência da fonoaudióloga Aline Elise Gerbelli Belini, 30 anos, que teve o segundo filho, Pedro, por parto normal feito em casa, para tranquilizar a publicitária Erika Mattes Bittencourt, 28 anos, e seu marido, Rodrigo Bittencourt, que estão a espera do primeiro bebê, a pequena Alicia. “Quero fazer parto normal também, mas em hospital. Visitei um deles em São Bernardo, mas não me senti à vontade. O funcionário que me apresentou o complexo enfatizou demais a infraestrutura, e de menos a questão humana. Chegou a me dizer que o médico decide, a partir do oitavo mês, se a criança nascerá de parto normal ou de cesariana.”
Deborah é crítica quanto ao hábito de médicos que indicam cesáreas sem necessidade. “É uma questão de conveniência para eles. O que acaba acontecendo é que a maioria das vezes a mulher é submetida a uma cirurgia desnecessária e tem de lidar com as consequências da anestesia e do pós-operatório”, afirmou.
O procedimento cirúrgico só é indicado, durante o pré-natal, em casos de placenta previa, herpes genital com lesão ativa na hora do parto, bebê transverso (atravessado no útero) e no caso de mulheres com algum tipo de cardiopatia. Durante o parto, também é possível identificar a tempo, de acordo com Deborah, casos em que se faz necessária a intervenção cirúrgica, tais como prolapso de cordão (quando o cordão umbilical sai antes da cabeça do bebê), descolamento prematuro da placenta, eclâmpsia (perda de proteína que só pode ser revertida ao cessar a gravidez) e ruptura de vaso uterino de grande calibre.
Após passar pela experiência de um parto normal no hospital, Aline resolveu ter o segundo filho em casa. Para evitar comentários desagradáveis de familiares e amigos, não comentou com quase ninguém sobre a decisão. Apesar de ter nascido com o cordão enrolado no pescoço, Pedro não teve problemas em vir ao mundo em seu novo lar. “Se você tem ao lado uma pessoa experiente, que te tranquiliza, tudo é mais bonito. Aproveitei cada segundo do parto e recomendo.” 
Incentivo - De acordo com o Ministério da Saúde, estudos demonstram que fetos nascidos entre 36 e 38 semanas, antes do período normal de gestação (40 semanas) têm 120 vezes mais chances de desenvolver problemas respiratórios, que necessitam de internação. Além disso, no parto cesárea há uma separação abrupta e precoce entre mãe e filho, num momento primordial para estabelecimento de vínculo.
Para as mães, as cesáreas significam mais chances de sofrer hemorragia ou infecção no pós-parto e uma recuperação mais difícil. Por essas razões, o Ministério incentiva o parto normal. Apesar disso, ainda há muita resistência do sistema de saúde, que prefere a cesariana por ser mais conveniente, e mesmo das mulheres, que têm medo da dor do parto e preferem se submeter a cirurgias.

Panfletagem hoje

Como parte das comemorações pelo Dia Internacional da Mulher, promovemos hoje uma panfletagem no Parque Salvador Arena, em São Bernardo. No período da tarde distribuiremos folhetos divulgado o direito ao acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, ação que ocorrerá em diversos pontos do país no final de semana e também na segunda-feira, como iniciativa da Parto do Princípio. No dia 8, então, entregaremos ao Ministério Público Federal um documento que denuncia a situação atual de desrespeito sistemático à lei e solicita a atuação desse órgão. Participe!

***
Devido às chuvas, a panfletagem foi cancelada! Será realizada em breve, em data e local ainda a definir. Mais informações aqui mesmo!

5 de março de 2010

Que se cumpra a lei

Toda mulher tem direito a um acompanhante de sua escolha durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. Trata-se de direito garantido pela Lei 11.108/05 em todo o Brasil, cujo prazo dado para a adequação das maternidades acabou em 2006, e, no Estado de São Paulo, esse direito é assegurado pela lei há mais de uma década.

Verifique antes se a instituição onde você pretende dar à luz erspeita de fato esse direito, para não correr o risco de ficar sozinha na hora P (do parto).

Sábado, dia 6, estaremos no período da tarde no Parque Salvador Arena, em São Bernardo, para divulgar esse direito. Apareça e participe desta comemoração pelo Dia Internacional da Mulher, promovida pela Parto do Princípio.

2 de março de 2010

Encontro de fevereiro

Reinauguração
Carlos Drummond de Andrade

Entre o gasto dezembro e o florido janeiro,
entre a desmistificação e a expectativa,
tornamos a acreditar, a ser bons meninos,
e como bons meninos reclamamos
a graça dos presentes coloridos.

Nossa idade - velho ou moço - pouco importa.
Importa é nos sentirmos vivos
e alvoroçados mais uma vez,
e revestidos de beleza,
a exata beleza que vem dos gestos espontâneos
e do profundo instinto de subsistir
enquanto as coisas ao redor se derretem e somem
como nuvens errantes no universo estável.

Prosseguimos. Reinauguramos.
Abrimos os olhos gulosos
a um sol diferente que nos acorda para os descobrimentos
Esta é a magia do tempo
Esta é a colheita particular
que se exprime no cálido abraço e no beijo comungante,
no acreditar na vida e na doação de vivê-la
em perpétua procura e perpétua criação.
E já não somos apenas finitos e sós.

Somos uma fraternidade, um território, um país
que começa outra vez no canto do galo de 1º de janeiro
e desenvolve na luz o seu frágil projeto de felicidade.

***

Gosto muito dessa poesia de Drummond e depois dela fica difícil escrever algo que não seja repetição malfeita das palavras do grande autor. Assim sendo, limito-me a expressar aqui o meu desejo incomensurável de que 2010 seja um ano fantástico para todas nós!

***

Continuo o post, então, divulgando aqui um pequeno registro do primeiro encontro do ano do Grupo MaternaMente, que aconteceu em 27 de fevereiro. Deborah mediou o bate-papo entre Aline, Érika e o seu companheiro, estes grávidos e repletos de expectativas, aquela mãe pela segunda vez. Das duas ainda darei notícias aqui, falta dizer que a reunião ainda contou com a presença da jornalista Camila Galvez, do ABCD Maior, e do fotógrafo Antônio Ledes, que clicou esse momento especial.


Foto:
Antônio Ledes/ABCD Maior.
 

Apoio

Aqui você encontra material sobre evidências e boas práticas relativas à saúde e ao bem-estar da dupla mãe-bebê. Fique à vontade e entre em contato, adoramos uma boa conversa! Envie um e-mail para grupomaternamente@gmail.com ou entre no grupo do Facebook.

Território

Atuamos principalmente em Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra (o ABC paulista), mas também na capital paulista e em outros municípios do Estado de São Paulo.

Articulação

Procuramos nos articular com outros movimentos sociais e com as instâncias gestoras, com o fim primordial de defender os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e de instaurar um novo paradigma de assistência à saúde da mulher.