Havia combinado com outra companheira de jornada e vizinha da moça, e lá fomos nós, a pequena dela literalmente a tiracolo no sling.
Importante dizer que a mulher parida, no penúltimo minuto da prorrogação, ganhou a partida sem ir para os pênaltis: correu da assistência tradicional e do maravilhoso convênio no finalzinho da gestação e foi parir na Casa de Parto de Sapopemba.
Mas lá estávamos nós, conversando em três mulheres, uma criança e um recém-nascido, e chega uma amiga gestante. Conversa vai, conversa vem, chega o recém-pai. Muitos olhares diferentes sobre a mesma situação, muitas dúvidas, muitas esperanças. Meu cronograma de doutorado, minhas tarefas da vida de mãe de pré-adolescente aniversariante, minha casa por limpar... tudo foi pro espaço. Impossível sair correndo. Olho em volta e me vejo um pouco em cada uma das pessoas. E olhando para nós ali, um pequeno grupo, me veio a imagem de um relato que vi uma vez, sobre como é praticamente impossível criar filh@s sem o apoio de muit@s. E conversamos sobre isso.
Mulheres, crianças, adolescentes e um homem - cuidados compartilhados na aldeia - imagem daqui |
Pois então... Por que tudo recai sobre nós? Onde está nossa aldeia? Certamente que nosso entorno não está preparado para nos apoiar do jeito que precisamos. E nós também dificilmente nos damos conta ANTES do que vamos precisar. Aprendemos desde sempre que, se vamos ter um bebê, precisamos ter um quartinho preparado e lindinho, um enxoval beeeeem farto, equipamentos sofisticados y otras cositas más. Gastamos o que temos e o que não temos com itens, muitas vezes, inúteis. Ou de utilidade relativa. Ou com relação custo-benefício prejudicada.
Gastamos tempo preparando todo esse ambiente e, ah, claro! O chá. Pois chame suas amigas e seus amigos para o chá. E diga a tod@s que venham a esse encontro sem presentes de enxoval. Quando chegarem, diga-lhes o que você quer de presente para si e sua família: tempo. Tempo precioso para cuidar de si e se (des)embaralhar em seu novo papel. Arrume um calendário e vá arregimentando presentes em forma de ajuda com a casa e seus afazeres (não se esqueça de fazer essa importante conversa também com seu/sua companheir@). Com companhia agradável. Com ajuda daquela amiga que sabe tão bem fazer mão e pé. Não faz mal se as pessoas tiverem pouco tempo a dar para você, quaisquer 10 minutos farão diferença em um dia de solidão, desde que você não tenha que se embonecar para receber "visita" e "fazer sala". Nada melhora tanto a autoestima de uma puérpera do que poder tomar um banho mais demorado e lavar os cabelos. Olhar para unhas feitas também faz um bem enorme!
E, se você é daquelas que tem o privilégio de ter amigas que tiveram bebês bem perto (tanto no tempo quanto no espaço), ajuntem-se em uma casa só a maior parte do tempo. Vai fazer uma imensa diferença na sua vida. Não se acanhe de contar que o sonho idealizado de pós-parto "feliz" caiu por terra. Ao invés de se calar e se sentir inadequada sozinha, construa sua aldeia. E, juntas, revolucionem o jeito de viver e criar crianças na cidade grande.
Obra de Margarita Sikorskaia |
2 comentários:
Texto maravilhoso... me lembro desses momentos como se fosse hoje. Periodo da minha vida tão forte e intenso, tao triste e feliz ao mesmo tempo. Esses dias eu estava lendo um texto que escrevi pra esse blog aqui mesmo (saudades de quando eu escrevia nele e não sei até hoje porque decidi parar de escrever nele, auto-sabotagem das boas), e me dei conta de que minhas dificuldades me deram um gás danado pra escrever, porque eu estava muito inspirada! rs
Sou grata a Deborah e Denise pelo espaço. E grata a todas as mulheres que conheci e que ainda tenho conhecido, tornando minha caminhada menos pesada. Menos dificil. E eu tambem sei que ajudei a muitas delas - e isso me fortalece. <3
Grata, Carol! Nos fortalecemos umas às outras, com nossas experiências e afetos! A porta para escrever aqui está sempre aberta para você!
Postar um comentário