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12 de setembro de 2013

É preciso uma aldeia!

Voltando de uma visita a uma mulher parida, muitos pensamentos  me assaltando. Tinha ido lá para passar uns minutos, agenda apertadíssima - cronograma de estudos estourado, aniversário da filha no dia seguinte, mãe visitando, a casa de pernas para o ar (como sempre, aliás!)...
Havia combinado com outra companheira de jornada e vizinha da moça, e lá fomos nós, a pequena dela literalmente a tiracolo no sling. 

Importante dizer que a mulher parida, no penúltimo minuto da prorrogação, ganhou a partida sem ir para os pênaltis: correu da assistência tradicional e do maravilhoso convênio no finalzinho da gestação e foi parir na Casa de Parto de Sapopemba.


Mas lá estávamos nós, conversando em três mulheres, uma criança e um recém-nascido, e chega uma amiga gestante. Conversa vai, conversa vem, chega o recém-pai. Muitos olhares diferentes sobre a mesma situação, muitas dúvidas, muitas esperanças. Meu cronograma de doutorado, minhas tarefas da vida de mãe de pré-adolescente aniversariante, minha casa por limpar... tudo foi pro espaço. Impossível sair correndo. Olho em volta e me vejo um pouco em cada uma das pessoas. E olhando para nós ali, um pequeno grupo, me veio a imagem de um relato que vi uma vez, sobre como é praticamente impossível criar filh@s sem o apoio de muit@s. E conversamos sobre isso.

Mulheres, crianças, adolescentes e um homem - cuidados compartilhados
na aldeia - imagem daqui
No caminho de volta, como dizia ao começar esta postagem, enquanto voava baixo de volta aos meus - outros - compromissos, eu me lembrava dos sofrimentos ocultos do meu pós-parto. Da necessidade de parecer infinitamente feliz todo o tempo, sorridente, enquanto terrores antes inexistentes me tomavam. De ter que lidar com o adoecimento do companheiro - capítulo à parte - que enlouquecia com ruídos vizinhos e nos fazia sair de casa e acampar na sogra. De esperar a visita daquela amiga com TOC, sem ter tido condição de aspirar o chão. De vê-la chegar e perceber seu incômodo com o "rolinho" de pó que o vento levava de cá pra lá, embaixo da mesa. De voltar a trabalhar com bebê em aleitamento exclusivo em livre demanda. De trabalhar mais de 50 horas por semana em média. De deixar meu bebê na creche com 3 meses e meio. E, no meio disso tudo e muito mais, fichinha perto do que você, amiga, pode ter passado ou estar passando, imaginar que minha filha pudesse ser prejudicada por cada uma dessas atitudes MINHAS.

Pois então... Por que tudo recai sobre nós? Onde está nossa aldeia? Certamente que nosso entorno não está preparado para nos apoiar do jeito que precisamos. E nós também dificilmente nos damos conta ANTES do que vamos precisar. Aprendemos desde sempre que, se vamos ter um bebê, precisamos ter um quartinho preparado e lindinho, um enxoval beeeeem farto, equipamentos sofisticados y otras cositas más. Gastamos o que temos e o que não temos com itens, muitas vezes, inúteis. Ou de utilidade relativa. Ou com relação custo-benefício prejudicada.

Gastamos tempo preparando todo esse ambiente e, ah, claro! O chá. Pois chame suas amigas e seus amigos para o chá. E diga a tod@s que venham a esse encontro sem presentes de enxoval. Quando chegarem, diga-lhes o que você quer de presente para si e sua família: tempo. Tempo precioso para cuidar de si e se (des)embaralhar em seu novo papel. Arrume um calendário e vá arregimentando presentes em forma de ajuda com a casa e seus afazeres (não se esqueça de fazer essa importante conversa também com seu/sua companheir@). Com companhia agradável. Com ajuda daquela amiga que sabe tão bem fazer mão e pé. Não faz mal se as pessoas tiverem pouco tempo a dar para você, quaisquer 10 minutos farão diferença em um dia de solidão, desde que você não tenha que se embonecar para receber "visita" e "fazer sala". Nada melhora tanto a autoestima de uma puérpera do que poder tomar um banho mais demorado e lavar os cabelos. Olhar para unhas feitas também  faz um bem enorme!

E, se você é daquelas que tem o privilégio de ter amigas que tiveram bebês bem perto (tanto no tempo quanto no espaço), ajuntem-se em uma casa só a maior parte do tempo. Vai fazer uma imensa diferença na sua vida. Não se acanhe de contar que o sonho idealizado de pós-parto "feliz" caiu por terra. Ao invés de se calar e se sentir inadequada sozinha, construa sua aldeia. E, juntas, revolucionem o jeito de viver e criar crianças na cidade grande.
Obra de Margarita Sikorskaia

2 comentários:

Carol Valente disse...

Texto maravilhoso... me lembro desses momentos como se fosse hoje. Periodo da minha vida tão forte e intenso, tao triste e feliz ao mesmo tempo. Esses dias eu estava lendo um texto que escrevi pra esse blog aqui mesmo (saudades de quando eu escrevia nele e não sei até hoje porque decidi parar de escrever nele, auto-sabotagem das boas), e me dei conta de que minhas dificuldades me deram um gás danado pra escrever, porque eu estava muito inspirada! rs

Sou grata a Deborah e Denise pelo espaço. E grata a todas as mulheres que conheci e que ainda tenho conhecido, tornando minha caminhada menos pesada. Menos dificil. E eu tambem sei que ajudei a muitas delas - e isso me fortalece. <3

Deborah Delage disse...

Grata, Carol! Nos fortalecemos umas às outras, com nossas experiências e afetos! A porta para escrever aqui está sempre aberta para você!

 

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