Em 28 de março, convidamos mulheres que foram acompanhadas por doulas durante sua gestação e parto a compartilharem conosco suas experiências a respeito desse evento, por meio de um questionário eletrônico.
Menos de 48h depois da publicação do convite no Facebook, já temos 268 respostas. Assim, já é possível fazer uma leitura inicial sobre a importância da doula durante o trabalho de parto e parto para esse primeiro grupo de mulheres que respondeu à pesquisa.
Quem são essas mulheres?
Responderam ao questionário mulheres de diferentes Estados, contemplando as Regiões Sudeste, Sul, Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil. Entretanto, como era de se esperar, houve uma grande concentração de mulheres que residem na região da Grande São Paulo. Metade das que relataram suas experiências vive e teve seu parto nessa região.
Quando e onde seus partos ocorreram?
Apenas 53 das 268 mulheres relataram partos acompanhados por doulas que ocorreram antes de 2012. A maior parte das respostas é referente a experiências vividas de 2013 até a atualidade, com muitos relatos, inclusive, de 2016.
Com relação ao local do parto, quase 43% das mulheres responderam que foram assistidas em um hospital particular. Outras 30% pariram em seu domicílio. Apenas 20% das mulheres deram à luz em um Hospital Público e as 7% restantes, em uma Casa de Parto.
Isso mostra que grande parte das mulheres que se prontificou a responder o questionário recebeu assistência privada e paga, e menos de um terço dessas mulheres foi atendida pela rede pública de saúde.
Qual foi a importância da doula durante o parto, para essas mulheres?
Analisando as respostas espontâneas sobre a importância da doula durante o parto, todas colocaram a presença da doula como um aspecto que contribuiu de forma positiva para sua experiência antes, durante ou após o parto. As palavras “fundamental”, “essencial” e “importante” repetem-se exaustivamente nos relatos.
Várias mulheres referiram-se à importância da doula já durante a gestação, oferecendo informações baseadas em evidências, esclarecendo dúvidas e apoiando a elas e a seus parceiros com relação a medos e inseguranças vivenciados durante esse período. Muitas falaram sobre o papel da doula como fundamental para o desenvolvimento de sua autoconfiança como mulheres que seriam capazes de gestar e parir.
Durante o parto, a doula é lembrada como alguém que auxilia no alívio das dores, por meio de técnicas de massagem, evitando muitas vezes que seja necessária a aplicação de algum anestésico. A doula também é aquela que fornece apoio emocional à mulher, com postura acolhedora, discreta e tranquilizadora. Esse apoio foi relatado como importante por mulheres que sentiram a necessidade de auxílio para se manterem firmes em suas escolhas em relação ao parto, em especial nos momentos de dor intensa ou de insegurança. O amparo também foi relevante para aquelas que passaram por alguma adversidade durante o processo, como a perda do filho ou a necessidade de transferência para um hospital segundo essas mulheres, a doula foi a figura que as ajudou a enfrentar esses momentos de luto, angústia e mudança de planos de forma mais equilibrada.
Muitas percebem a doula como alguém que cuidou delas em momentos em que o restante da equipe tinha que dar conta de outras funções, permitindo que a mulher continuasse assistida em suas necessidades, em situações em que a equipe médica ou as obstetrizes estavam ocupadas com outras tarefas essenciais para o bom andamento do parto ou pós-parto.
Em vários relatos atribui-se à presença da doula a possibilidade de realização do parto natural, com um mínimo de intervenções. A doula também é lembrada como alguém importante para dar apoio e tranquilizar a mulher nos casos em que intervenções, ou até mesmo a realização de uma cesárea, foram necessárias.
Selecionamos abaixo um relato, de uma mulher que pariu em 2015, acompanhada de sua doula, no Hospital da Mulher Maria José dos Santos Stein, em Santo André:
“A doula no meu parto foi imprescindível. Ela ofereceu todo suporte emocional que eu e meu marido precisamos. Eu escolhi a maternidade Hospital da Mulher de Santo André, inclusive por eles terem compreendido que a doula tem que ficar no quarto durante o trabalho de parto junto com o pai. Chegamos no Hospital da Mulher por transferência de parto domiciliar. E a minha doula ficou comigo o tempo inteiro, enquanto meu marido providenciava o cadastro para ir pro PS. Quando chegamos na suíte de parto, ela ficava sorrindo pra mim, me informando sobre o que acontecia e me confortando. A médica me informou que no hospital não tem anestesia pra parto normal devido a ter apenas um anestesista e ele fica no centro cirúrgico. A doula fazia massagens na minhas costas pra aliviar a dor. Durante toda gestação eu disse para ela que queria parto normal, sem intervenções. Porém, no meu caso não foi possível, pois desde o início do trabalho de parto eu estava com 4 cm de dilatação. Mesmo depois de 12h de contrações efetivas e regulares não saía dos 4cm. No hospital, romperam a bolsa e mesmo assim depois de 2h, continuava com os 4 cm. Eu fui encaminhada para cesárea. O que pra mim seria um sofrimento enorme, passar por toda aquela dor e ainda ter que fazer cesárea. O que poderia até ter se tornado uma depressão pós-parto, como tive na minha primeira gestação que foi cesárea, pois o médico me enganou com [o argumento de que] o cordão estava em volta do pescoço. Ela [a doula] conseguiu conversar comigo e me acalmar, me fazendo entender que dessa vez eu entrei em trabalho de parto, meu bebê já estava pronto pra sair e eu estava ciente do que acontecia ali. E essa dor que eu senti serviu como uma preparação do sistema dele. E assim veio meu bebê com 52 cm e 3,9 kg.”
Como dissemos, esta é apenas uma análise inicial das primeiras respostas. O questionário continuará aberto durante o mês de abril, e pode ser acessado por meio do link: https://pt.surveymonkey.com/r/2SQBR86. Se você pariu acompanhada por uma doula ou conhece alguém que passou por essa experiência, por favor, conte-nos se e de que modo a doula foi importante para esse parto!
PS: A nuvem de palavras que ilustra o topo deste texto foi gerada a partir dos relatos das mulheres que tiveram seus partos acompanhadas por doulas no Hospital da Mulher Maria José dos Santos Stein.