Desde
que me descobri grávida, já comecei a pensar no meu parto. Sempre
admirei mulheres que pariram naturalmente, minha mãe sendo uma delas
(que me pariu de cócoras e sempre me contou com orgulho sobre seu
projeto de conclusão da universidade : uma cadeira para parto de
cócoras).
Na minha primeira visita a uma livraria, depois do
teste positivo, comprei alguns livros, um deles o “parto com amor”
através do qual descobri que um parto normal não seria tão simples
quanto somente informar a médica sobre o meu desejo.
Procurei
então um grupo de apoio ao parto ativo no ABC, e tive o privilégio de
conhecer mais algumas mulheres para admirar, e a sorte de então receber
uma lista com os nomes dos médicos com quem seria possível ter um parto
natural, sem dúvidas ou enrolação.
Como já era esperado, a
médica que estava me acompanhando declarou ser “tradicional” e não
adepta ao parto natural sem intervenções, e a consulta em que ouvi isso,
foi a última com essa médica.
Consegui então marcar uma
consulta com a dra. Andrea, depois de conversar com meu marido e
concluirmos que, se fosse necessário, até venderia meu carro para pagar o
parto.
O pré-natal foi tranquilo, até que na 35a semana
comecei a ter pressão alta. No segundo dia com dor de cabeça e mínima de
10, comecei a tomar remédios, parei de trabalhar, de dirigir, de
passear com meus cães... Aumentamos a dose, fiz repouso... e na 38a
semana depois de muito remédio e alguns picos de pressão, a Dra resolveu
induzir o parto.
Demos entrada no São Luis no domingo 15 de
abril após as 22:00. Dra Andréa nos encontrou no saguão e na sala de
primeiro atendimento me fez uma massagem no colo do útero que foi a
maior dor que senti durante todo o processo de parto! Introduziu um
comprimidinho que prepararia o meu colo para o TP, e eu e Ricardo nos
recolhemos no quarto onde ficaríamos.
A segunda-feira foi dia
de medir contrações, continuar com os comprimidos, avisar a família que o
Caio ia nascer, etc. A noite, quando minha mãe foi me visitar, vomitei e
tive uma dor de estômago tão intensa, que precisei tomar buscopan na
veia pra acalmar. Sempre que me perguntam hoje, sobre as dores do parto,
comento que a dor de estomago que senti no dia anterior, foi muito
pior...
Na terça-feira, dia 17, às 7 da manhã a Dra Andrea veio
iniciar a indução, estourou a minha bolsa e me colocou na ocitocina. Eu
estava com 1 cm de dilatação. As contrações começaram a ficar um pouco
mais doloridas. Avisei a doula, que já estava indo e vindo por conta do
parto da irmã dela no mesmo hospital, e Ricardo e eu concluimos a
escolha do nome completo do Caio, agora sabendo melhor a data e então
estudando a numerologia.
A doula trouxe a bola pra eu já
começar a relaxar... mas tinha um entra e sai de enfermeiras medindo
minha pressão.. e a ansiedade para irmos para o delivery room era
grande. As enfermeiras do hospital queriam que eu fosse pro CO, mas a
dra insistia que eu só deveria descer quando eu estivesse em franco
trabalho de parto.
Por volta das 11 da manhã a assistente da
dra ligou pra minha doula e disse que estava nos esperando no delivery
room. Minha dilatação estava ainda em 2 cm, e nós achamos que o TP ia
até altas horas... As contrações ainda estavam leves e nós conversamos
entre uma medição de pressão e outra. Sentei na bola e comecei a sentir
as contrações mais fortes. O almoço chegou mas eu não consegui comer
quase nada. Lembro que quis comer um salgadinho de polvilho que estava
alí dando sopa mas a obstetriz me deu uma bronca por que aquilo
aumentaria a minha pressão. Meu marido então foi almoçar fora do
hospital e eu entrei na banheira. A água quente e as massagens da
doula eram uma benção... fiquei apoiada em um travesseiro de ar e de
joelhos na banheira. Entre uma contração e outra conversava
tranquilamente. Cada pausa era um grande alivio. Durante as contrações,
soltar um AAAAA bem grave e forte também ajudava a passar a dor mais
rápido. Um certo momento percebi que o Ricardo ainda não tinha voltado
do almoço e pedi pra doula ligar pra ele. Ele tinha ido pro quarto tirar
uma soneca, achando que o TP ainda ia longe...
Acho que perto
de umas 14:30, saí da banheira para fazer outro cardiotoco, medir
pressão e verificar a dilatação que já estava em 6 cm! Lembro de ter
ficado muito feliz em ouvir que já estava com 6 cm e pensar: “Agora não
tem volta! Vai ser normal mesmo!!” e perguntei: “Já posso pedir
anestesia??”... e a enfermeira sorriu e me ofereceu um picolé. O Ricardo
chegou, pra descobrir que o Caio nasceria bem antes do que ele
esperava!
Voltei para a banheira, tomei suco, pedi anestesia de
novo e disseram que o anestesista estava a caminho, assim como a
obstetra e o pediatra, que tinham sido avisados as pressas que o TP
estava evoluindo mais rápido do que imaginávamos. A obstetra e o
pediatra estavam a caminho sim, mas o anestesista era balela.
Saí da banheira mais uma vez, e as lembranças vão ficando mais
distantes... A doula e meu marido faziam massagens e a enfermeira queria
medir a pressão mas as contrações estavam muito próximas umas das
outras... então eu avisava quando vinha outra e a enfermeira não podia
medir no meio de uma contração.. Alguém estava massageando os meus
ombros e eu só lembro de pensar: “a dor é lá embaixo, por que a massagem
no meu ombro??” e dizia: “Na lombar! Na lombar!” acho que fiz outro
cardiotoco porque lembro que estava de lado e durante uma contração fiz
xixi e avisei. A obstetriz mediu minha dilatação novamente e gritou:
“Opa! Dilatação total! Volta pra banheira que vai nascer!
Só me
lembro então de já estar na banheira, luzes apagadas, eu estar deitada e
fazer xixi novamente... numa das contrações até engoli água. Tive a
sensação de estar completamente sozinha ali. Tinha vontade de fazer
força mas tinha medo que o Caio nascesse antes dos médicos chegarem..
principalmente o pediatra, por que não queria que levassem ele (o Caio)
dalí...
A obstetriz avisou que a Dra Andrea já estava se
trocando, e eu perguntei: “E o Douglas??”. Era muito importante pra mim
que o Caio não fosse levado pro berçario como mandava o protocolo do
hospital.. e eu sabia a importância do pediatra.
Então me
lembro de já ver a dra apoiada na banheira, mandou meu marido entrar na
banheira comigo e ele hesitou... eu disse: ”entra logo, tá com medo de
se molhar??” na mesma hora me lembrei dos relatos que li onde o marido
sempre leva bronca da esposa que está parindo... A dra me disse pra
fazer força durante as contrações, sem fazer barulho com a boca ou com a
garganta. Eu já não sentia mais as contrações... e fazia força por puro
instinto, apoiada nos joelhos do Ricardo.
Ela sugeriu que eu
colocasse a mão e sentisse a cabecinha dele, fiquei com medo de ver que
ainda faltava muito, mas coloquei mesmo assim.. e notei que ele estava a
uns 5 cm de nascer...o que na hora me pareceu 30!!!
Mudamos de
posição e quando olhei pra médica percebi que tinha algo errado... a
tela do computador do Ricardo, que estava tocando Enya e estava atrás
das cabeças dele e da dra, formava uma luz que me confundia.. e eu
enxergava metade do rosto das pessoas.. a outra metade era a foto do
Ricardo em Machu Pichu. Avisei a dra e na mesma hora ela disse: “mede a
pressão dela”, me falou pra não fazer força mas eu fiz mesmo assim, e
tudo se apagou.
Em minha próxima lembrança eu estou deitada na
maca, as luzes estão acesas, e alguém está segurando o Caio, enrolado em
um pano azul na minha frente.. eu disse: “meu filho! Que lindo!” e
alguém me disse que ele teria que ir porque não estava respirando bem...
ouvi a dra dizer: ”olha a
placenta!” e me mostrar aquela que
foi responsável por alimentar o meu filho por 9 meses, mas também por
ter acabado de mudar todo o meu tão desejado parto pra sempre... também a
ouvi dizer que tinha tido apenas 2 pontos de laceração.. não sei se
nessa mesma ordem... tinha muita sede e pedi água, mas um médico me
dizia que eu não poderia beber água, e a doula passava uma gase úmida na
minha boca...
Tinha muita gente alí... e as minhas lembranças
são um misto de fantasia e realidade.. eu acho que notei que as
toquinhas da equipe eram estampadas com bichinhos e personagens de
desenho animado, mas segundo o Ricardo isso foi minha imaginação me
remetendo a um episódio de Grey's Anatomy...
Dalí fui pra UTI
para ficar em observação.. assim como o Caio.. e o resto não faz mais
parte do parto.. mas resumindo a ópera, eu fiquei 24 horas em observação
e o Caio ficou 48... Minha primeira visão totalmente consciente do meu
filho foi dentro de uma encubadora, com uma sonda na boquinha, um acesso
enorme na mãozinha e um elástico apertando o pézinho para medir os
batimentos cardíacos...
Ficamos no hospital até sábado 21/4... e a novela da pressão alta ainda nos deu alguns sustos.
Ainda estou trabalhando a minha frustração em terapia... ainda não
consigo, depois de 7 semanas, dizer que aquele, foi o dia mais feliz da
minha vida... talvez o dia seguinte, quando pude finalmente pegar o Caio
nos meus braços, tenha sido o dia mais feliz de todos, ainda com o
coração apertado... mas feliz por estarmos os 3 juntos, vivos.
Hoje, acredito que, por mais que eu tenha desejado um parto prazeroso
pra mim e um nascimento respeitoso pra ele... só consegui controlar a
parte que me cabia, por que ele, sendo um ser humano independente de
mim, tinha o seu próprio magnetismo, o seu próprio destino, que
aparentemente era nascer com as luzes acesas, vozes alteradas de fundo,
num parto onde a protagonista foi a médica e não a mãe dele.. e ser
acariciado pela mãe, não 6 horas depois do parto por que teve que entrar
na fila do berçário, mas mais de 24 horas depois... por que a mãe dele
não podia levantar da cama e precisava ficar em observação...
Ainda estou digerindo tudo isso... hoje estou muito mais conformada, mas
ainda tenho muito pra digerir... Mesmo tendo feito a minha escolha com
toda a informação disponível em mãos, mesmo com o apoio de tanta gente,
ainda assim o universo veio nos ensinar a lição que é tão difícil de se
aprender: “Não existem garantias”.
Aqui você encontra material sobre evidências e boas práticas relativas à saúde e ao bem-estar da dupla mãe-bebê. Fique à vontade e entre em contato, adoramos uma boa conversa! Envie um e-mail para grupomaternamente@gmail.com ou entre no grupo do Facebook.
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