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14 de setembro de 2011

Meia dúzia de sete

"Hoje é meu aniversário, hoje é meu aniversário!"

Foi assim que o meu guri anunciou sua chegada na escola hoje cedo. Pulando na frente de cada um dos funcionários, ele cobrou os parabéns de todos eles. "É feliz aniversário", dizia ele, para logo em seguida sair correndo em busca de outras parabenizações. Bem, entre tantas coisas impagáveis neste mundo, a alegria do meu filho é, sem dúvida, algo que não tem preço.

É lugar comum demais dizer que, como mãe, faço de tudo por ele. Mas é exatamente assim e assado, desde que me descobri grávida. E é por isso também que tento auxiliar minha parceira Deborah no Grupo MaternaMente. Porque acredito que a maternidade pode ser uma experiência incrivelmente enriquecedora e transformadora, a partir da qual podemos mudar o mundo. Sim, eu ainda acredito que nós podemos mudar o mundo. "Nós" obviamente não quer dizer "eu e Deborah", mas nós, mulheres, mães.

Eu particularmente comecei a enveredar por esse caminho na busca por um parto sem episiotomia. Era tudo o que eu queria. E consegui. Mas verdade seja dita, consegui muito mais do que isso. Consegui amizades, conhecimento, informação, motivação, colaboração, incentivo, toda sorte de força positiva para tomar conta do meu próprio corpo.

Obviamente ainda tenho mil inseguranças e dúvidas. A diferença é que, agora, sinto-me mais à vontade para procurar ajuda e perguntar. Sempre tem alguém disposto ou disposta a ajudar. Isso é simplesmente fantástico. Nesse caminho, a Ana Cris foi a primeira pessoa que me estendeu a mão e disse que era possível dar à luz sem ganhar um corte na vulva, e ela foi honesta ao dizer que "era possível", mas que eu mesma precisaria trabalhar por isso.

Alguns meses depois de dar à luz, estava lendo um livro da Sonia Hirsch, jornalista que entende muito de medicina tradicional chinesa e que é adorada por quase todas as vegetarianas que conheço, quando me deparei com um trecho que falava sobre parto. Dizia o livro que, no parto normal, uma episiotomia poderia ser necessária. Imediatamente escrevi à autora pedindo que alterasse essa passagem, já que há evidências sólidas de que a episiotomia não deve ser praticada de rotina e que há inclusive dúvidas sobre sua eficácia (já que nunca se compararam partos com e sem episiotomia). Qual não foi minha surpresa ao receber sua resposta: segundo ela, o livro dizia claramente que uma episiotomia "poderia" ser necessária, e que isso não quer dizer que o corte deve ou não deve ser feito.

Fiquei chateada com a resposta, porque acreditava que a escritora enxergaria na minha mensagem uma oportunidade de atualizar sua obra. Além de não mudar uma vírgula sequer de seu livro, ela ainda adotou a mesma postura da maioria dos médicos brasileiros. Dizer que uma episiotomia "pode ser necessária" significa, na realidade nacional, dizer que mais de 70% das mulheres que têm filho por via vaginal têm o períneo cortado, segundo dados da PNDS. Necessária ou não, a verdade é que parir no Brasil sem ganhar um corte na vulva e na vagina é coisa para poucas mulheres.

Jamais voltei a escrever para Sonia Hirsch. Mas essa experiência foi marcante. Para mim, o livro reforçava a episiotomia como um procedimento normal e aceitável, desejável até. Ao mesmo tempo, não podia deixar de dar razão à jornalista: não se podia afirmar que ela defendia a realização do famigerado "pique". Desses meandros escorregadios impressos nas entrelinhas de um livro para mulheres nasceu o meu projeto de pesquisa para o mestrado.

Pois bem. Meu filho tem seis anos e a busca por um atendimento respeitoso para o seu nascimento já me rendeu mais algumas crias! Citei aqui o grupo e o mestrado, mas nessa meia dúzia de anos, as mudanças foram tantas e tão significativas que minha gravidez já parece distante no tempo. E olha que ainda ontem eu babava em cima desse banguela lindo!

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