Hoje posto um depoimento que escrevi na segunda-feira, muito emocionada após perceber as coisas boas que têm nascido no meio de momentos difíceis, e resolvi dividir com vocês, pois o Grupo MaternaMente é um dos "culpados" por eu estar me sentindo tão acolhida :)
Imagem retirada do Facebook, autor desconhecido (quem souber, pode falar!) |
Com a notícia da minha gravidez, apesar de tão esperada, o baque foi imenso. Ao mesmo tempo em que crescia em meu ventre esse serzinho, muitas coisas cresceram dentro da cabeça e do coração. E muitas coisas morreram também. Grandes amigos se foram, seja porque morreram, seja porque a vida quis que nos afastássemos. Mas, ah... que saudades eu senti, e ainda sinto de todos eles. Eu até tentei guardar rancor, mas não consegui. O que eu sinto é saudade. Daquela que dói lá dentro. E me perguntava: porque a vida tem que levar as pessoas desse jeito? Porque, mesmo vivas, as pessoas tem que se afastar?
Comecei a sentir, ao mesmo tempo em que a vida crescia dentro de mim, uma profunda tristeza de tantas coisas que construí morrerem desta forma, Ao mesmo tempo em que eu percebia o recado da vida: "pra nascer uma vida, é preciso morrer outra, o outras. É essa a lei."
Nos mudamos para este apartamento com 4 meses de gravidez. Não conhecíamos absolutamente ninguém, viemos para cá porque era perto do trabalho dele, e só. Tudo no escuro.
Comecei a frequentar grupos de gestantes em São Paulo (Gama) e aqui no ABC (MaternaMente). Aos poucos fui percebendo que além de todas as mortes que ja estavam ocorrendo, poderia acontecer mais uma, a do meu parto. A morte do meu parto, a morte do meu direito de escolha em ter a minha filha da forma como eu quisesse. Foi então que encontrei um grupo de mulheres, em SP e no ABC, que me ensinaram muitas coisas, mas a principal, foi: autonomia. Autonomia do corpo, do parto, da cabeça, da vida. E acho que, porque justamente vivia um momento tão dificil, me fortaleci no meio daquela tribo de mulheres. Algumas com boas experiências de parto, outras o oposto disso, mas todas, sem excessão, com uma coisa em comum: guerreiras. Mulheres que buscam a sua autonomia.
Fui me fortalecendo dessa ciranda linda do quarto mês de gravidez em diante. Me sentia sozinha, por tudo o que havia acontecido, mas ao mesmo tempo, estar ali com aquelas mulheres me dava uma força que vinha das entranhas, que vem de lá de dentro, meio sem explicação. Passei a me sentir, como nunca antes, parte do mundo, da natureza, parte da vida. E pela primeira vez, me senti realmente parte de algo. Não, eu nunca havia sentido isso em momento algum da minha vida. Sempre me senti o peixe fora d´água, onde quer que eu estivesse.
O tempo passou, Elis nasceu da forma mais autônoma possível, e eu continuei a estar com essas mulheres. Aos poucos, a rede foi se tecendo, aumentando, mais e mais mulheres entravam na nossa ciranda, para tornar nossas experiencias ainda mais ricas e fortes.
Meu marido foi dispensado do trabalho, e, ao mesmo tempo em que batia o desespero de grana, batia também a vontade de sair para o mundo, sabendo que agora ele poderia ficar com ela, já que não tínhamos ninguém para ficar com ela. Peguei umas aulas de inglês em uma escola, mais a título de "sair da toca" do que propriamente pela grana (porque paga mal pra caramba...), e ver como me porto tendo um compromisso fixo, tendo que me virar, deixar a Elis sempre com alguém neste momento da aula, enfim. Foi mesmo pra me forçar sair da toca e voltar a viver a vida "lá fora", o que não fazia ha 3 anos e meio, desde a cirurgia.
Foi então, ao abrir-me ao inesperado, que percebi. Aquelas mulheres que participavam comigo de tantas discussões sobre maternidade, tornaram-se minha família. Uma família que eu escolhi. E aos poucos, essa família vai aumentando e se tornando algo tão grande e bonito, tão cheio de significado, de tantas historias bonitas e tristes, que fazem parte dessa colcha de retalhos.
Hoje, voltando pra casa, depois de deixar a Elis pela primeira vez na casa de uma dessas mulheres tão especiais que conheci nesses dois anos, chorei. Chorei e agradeci. Agradeci por sentir que essas flores começam a crescer. Essas sementes que foram plantadas com tanta dor e com tanto amor, aos poucos, começam a se tornar flores lindas e coloridas. Pensei em cada pessoa que esteve ao meu lado, e agradeci à vida por ter me dado coragem, mesmo depois de tanta coisa ruim ter acontecido. Eu cheguei a achar que nunca mais sentiria esperança denovo. Mas a vida é tão sábia, e como diz Clarissa Estés em A Ciranda das Mulheres Sábias, nós somos como árvores. Pode-se cortar o galhos, o tronco, mas mesmo assim, a árvore continua crescendo. Porque ela tem sede de vida. E eu tenho sede de vida. E eu amo estar viva. Gratidão a todas vocês. Gratidão ;)
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