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27 de agosto de 2014

O poder da articulação

Em 2009, quando o Grupo MaternaMente começou a funcionar, a estrada a nossa frente era ainda um tanto incógnita em termos de extensão e possibilidades. Assistência ao parto com base em evidências científicas e cuidado centrado na mulher não eram assuntos palatáveis nem para a mídia nem para os gestores públicos, quanto mais para as instituições de saúde e os respectivos profissionais.

Felizmente nós somos um tanto teimosas e obstinadas! Enfrentamos mudanças na vida pessoal, sobrevivemos a encontros do grupo sem uma participante sequer, lutamos contra o fechamento de casas de parto, reivindicamos a manutenção do curso de obstetrícia, apoiamos o lançamento mundial do filme Liberdade para Nascer, apenas para mencionar algumas das atividades em que nos envolvemos com o grupo e pelo grupo.

O combustível para persistir mesmo nas horas difíceis origina-se das bases da sociedade brasileira. Vivemos em um Estado de direito e temos uma Constituição cidadã, para a qual muitos movimentos populares e sociais deram sua contribuição, com muito sangue, suor e lágrimas. E nós havemos de bem usufruir essa herança.
No caso da assistência ao nascimento, muitas vezes apontam-se a burocracia ou a falta de vontade política como os maiores entraves às melhorias. Nós não partilhamos dessa visão, pois se fosse assim, não haveria instrumentos legais e infralegais a nosso favor. 

O grande nó relaciona-se à mudança de práticas, à reestruturação de micropoderes dentro de equipes e entre elas e as mulheres. E isso tudo é relacional, demanda tecnologias leves e seu domínio para promover mudança. 

Acreditamos que as ações judiciais são importantes e têm seu papel, principalmente em causas coletivas e emblemáticas como a que rendeu recentemente a audiência pública na Justiça Federal (em ação civil pública do Ministério Público Federal contra a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS pelo excesso de cesáreas nesse setor). Essa via, entretanto, é insuficiente, porque mudanças de práticas não se dão por decreto ou sentença.

Confiamos nos movimentos que pressionam daqui e dali, que propõem ou forçam o diálogo entre as diversas forças e atores, que expõem tensões e provocam aproximações e transparências. Nesses momentos de articulação, temos a oportunidade de vivenciar a cidadania em sua plenitude, o que, por sua vez, continua a alimentar nossa sede por mudança. E você? Está a fim de construir cidadania com a gente?

*** Em tempo: texto escrito pela Deborah e editado pela Denise.

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